Rotas e Embarcações

A TIPOGRAFIA MISSIONÁRIA PORTUGUESA NO SUL DA CHINA NOS SÉCULOS XVI E XVII

Manuel Cadafaz de Matos*

São Miguel Arcanjo. Atribuído a um discípulo japonês do pintor Giovanni Nicollo. Trabalho sino-português de influência namban da primeira metade do século XVII. Óleo sobre madeira, 202×133cm. Diocese de Macau, Seminário de São José. Trata-se da única obra de arte que chegou até aos nossos dias proveniente do chamado Colégio de S. Paulo. Macau: As Ruínas de S. Paulo: Um Monumento para o Futuro, Macau, Instituto Cultural, [1994], p.147.

Tendo sido elevado ao nível da universidade em 1594, em Macau, o Colégio de São Paulo da Companhia de Jesus, esta instituição desempenhou, logo a partir dessa data, um papel da mais relevante importância (contexto civilizacional, cultural e religioso) na difusão dos valores cristãos.

Importará salientar, porém, que alguns dos religiosos ─ que vieram a agigantar-se na sua acção neste histórico Colégio, ou numa acção missionária dependente de alguma forma dele ─ já antes desta data tinham desempenhado uma acção singular. Haviam contribuído para a difusão, nessa região chinesa, de importantes obras de inspiração cristã e humanística, servindo-se da arte tipográfica.

ENCONTRO DE RELIGIOSOS E DE CULTURAS

A análise da presença dos portugueses no Sul da China em meados do século xvI exige um recuar até às primeiras décadas do século XIII. Na perspectiva do P.e Benjamim Videira Pires, já em 24 de Agosto de 1246 o leigo franciscano Fr. Lourenço assistiu, em terras da China, na presença de Fr. Giovanni da Pian di Carpine, à coroação de Kuyuk, Cã da Mongólia. Com este facto ele poderia ter-se tomado, assim, no primeiro português de que há registo a ter entrado na China. Juan Gil, porém, não perfilha esta opinião (e com ele estamos de acordo), quando regista que "Frei Lourenço, por razões desconhecidas, não chegou a pôr-se a caminho (desde Roma e levando consigo a bula papal Dei Patris Immensa, de 5 de Outubro de 1245) ou encontrou algum obstáculo que pôs fim prematuro à sua viagem".

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: estátua em bronze a representar o beato Luís Gonzaga (nicho da extremidade direita, 2.a fileira). Xie Ronghan: fotografia, 1991.

Não deixa de ser significativo, no entanto, que, com o desenvolvimento da cartografia peninsular em fins da Idade Média, vários viajantes ocidentais tenham contribuído, de forma significativa, para uma aproximação entre e daquele subcontinente asiático.1

Apenas em meados do século XVI, porém, a presença dos portugueses na China se revestiria de carácter mais sistemático. Pairando ainda muita névoa, apesar de tudo, sobre a vivência de Fernão Mendes Pinto em terras do Extremo Oriente, entre 1537 e 1558, a sua permanência em terras da China também continua a dar-se como documentalmente comprovada.2 Mais segura, de um ponto de vista documental, é a Informação de Algumas Coisas Acerca dos Costumes e Leis do Reino da China, que um Homem Honrado, que lá Esteve Cativo Seis Anos Contou no Colégio de Malaca ao Padre Mestre Belchior, em 1554.3 A partir daí estariam relativamente abertas as portas da China, se se pretendesse esquecer todas as dificuldades de penetração missionária (e cultural), por parte dos europeus, nesse território, quando o Padroado Português do Oriente fez levar bem longe, através de todos os continentes, o nome do País das Quinas.

l. OS PRIMEIROS MISSIONÁRIOS EUROPEUS QUE EVANGELIZARAM A CHINA. A ACÇÃO PRECURSORA DO PADRE BELCHIOR NUNES BARRETO, S. J.

O códice que presumivelmente ainda nos anos 30 existiu na revista francesa "Études" ─ e que se conserva no Arquivo da Cúria da Companhia de Jesus, em Roma, (ARSI) ─ constitui, ainda hoje, uma das fontes de maior importância para o estudo dos primeiros missionários de Portugal e de outras nações que, desde meados do século XVI, evangelizaram a China. Esse códice, em papel de linho forte, intitula-se Notícia dos Primeiros Missionários que Entraram na China.

Nessa fonte regista-se, a dado passo:

"O prim.ro Pregador Euangelico entrou na China pouco depois (da morte) do S. Xavier sucedeu no anno 1552, foi o P. Belchior Nunes Barreto da Companhia de lesu, que entrou na Prou.a de Cantam aonde esteue por hum so mes, nam sem fruito."

Esta informação está em conformidade, regista o P.e Serafim Leite, com a do P.eAntónio Franco, sublinhando que Belchior Nunes Barreto, ao que se conclui das suas epístolas escritas da China, deslocou-se por duas vezes a Cantão. A primeira vez ocorreu quando, estando em Malaca, daí partiu para a ilha de Sanchoão [上州 Shangzhou] e de lá para Cantão. Em Junho de 1560, por seu turno, também se encontrava em Cantão (de onde partiu para o Japão). Em cada uma das vezes que esteve nessa cidade portuária do Sul da China, aí permaneceu cerca de um mês.4 É sabido que, em Setembro de 1557, os mandarins de Cantão deram Macau aos portugueses.

O segundo conjunto de missionários que passou à China, ao que testemunha essa mesma fonte ─ embora estes dados nem sempre sejam coincidentes com os registados na Bibliografia de Pfister -, entrou em Fucheu [褔州, Fuzhou], na província de Fuquiém no ano de 1575. Tratava-se dos religiosos da Ordem de Santo Agostinho, Fr. Martinho de Rada e Fr. Jerónimo Marin. Importará precisar, porém ─ e presumivelmente em virtude de o autor do códice a que nos cingimos não ser português -, que esta fonte não menciona, antes destes missionários, o facto de Fr. Gaspar da Cruz ter chegado à China poucos meses depois de Nunes Barreto.

Entretanto em 1575 passaram a esse território, entrando por Cantão, quatro franciscanos. Foram eles Fr. João Baptista Pissarro, italiano, minorista; Fr. Pedro de Alsaro (sic); Fr. Sebastião de S. Francisco e Fr. Agostinho de Tordissella. Estes três últimos provinham de Castela e eram frades descalços.

Estes quatro franciscanos terão permanecido em Cantão durante cerca de seis meses. O fruto do seu trabalho de evangelização terá sido praticamente nulo, na medida em que o documento a que nos circunscrevemos regista que os cidadãos de Macau, tendo verificado como o trabalho daqueles era dificultado pelos chineses ─ ou seja, devido a serem "desprezados dos Chineses" -, os trouxeram de volta a esse território português.

Mais importante do que isso é o facto de aí se referir que, tendo estes quatro franciscanos chegado a Macau presumivelmente na segunda metade de 1579, ou já nos começos de 1580, aí "edificaram um convento". Este dado afigura-se-nos sobremaneira importante na medida em que o edifício, ou seja, a obra jesuítica de São Paulo, em Macau, em que se empenhou o P.e Carlos Spinola da Companhia de Jesus, se iniciará apenas na mudança do século.5

Um dos primeiros momentos de maior significado, no que concerne à evangelização da China pelos religiosos ocidentais, verifica-se com a chegada à China dos missionários Miguel Ruggieri, Mateus Ricci e Duarte de Sande.

2. OS TESTEMUNHOS MAIS MARCANTES DE UMA GESTA EVANGELIZADORA E CIVILIZACIONAL: OS PADRES MIGUEL RUGGIERI, MATEUS RICCI E DUARTE DE SANDE

Acima desses três religiosos ─ que se notabilizaram de facto, a par de tantos outros, quer na evangelização da China, quer na produção de trabalhos intelectuais de grande importância referentes à missionação (mas não só) ─ importa situar o P.eAlexandre Valignano, enviado pela Cúria para o Extremo Oriente como Visitador de todas as cristandades localizadas para além da costa leste africana.

Depois de ter chegado a Goa em 6 de Setembro de 1574 e de ter permanecido algum tempo na Costa da Pescaria, Valignano chegou a Macau em 6 de Setembro de 1578. Durante a sua permanência nesse território português ─ manteve-se aí, nesta primeira fase, até 7 de Julho de 1579 ─ o Visitador apercebeu-se da importância, não só da necessidade de um cada vez maior número de missionários europeus ser para ali canalizado, como também da necessidade de apoiar os potenciais catecúmenos indígenas no seu próprio terreno, ou seja, proceder aos ensinamentos da lei de Cristo nas próprias línguas e dialectos nativos. Nesse âmbito, logo se apercebeu como, para a China e para o Japão, a acção tipográfica missionária desses padres europeus, divulgando textos básicos do cristianismo, se podia revestir de capital importância.

Já imbuído desse espírito chega a Macau (cerca de dez meses depois de Valignano), em 20 de Julho de 1579, o P.e Miguel Ruggieri, italiano, e (cerca de quatro meses depois do mesmo Visitador) o P.e Mateus Ricci, da mesma região italiana, em 7 de Agosto de 1582.

O P.e Ruggieri, pouco depois de chegado à China, instalou-se na cidade de Cantão, regista o códice romano atrás identificado, em 1581,6 não sem antes ter fundado em Macau o catecumenato de S. Martinho, para conversão dos chineses.

Aspecto pertinente é o facto de ter chegado até aos nossos dias uma fonte, de suma importância, referente à evangelização das populações da região de Cantão por Miguel Ruggieri. Trata-se do códice em que se contêm vários escritos (autógrafos) presumivelmente da autoria daquele religioso ─ designadamente o texto latino De Abiuratio Re Canonica, contendo regras de direito eclesiástico, seguido de uma recolha intitulada Sententiae siue Pronunciata Diversorum Autorum ex Diversis Libris Excerpta; um pequeno manual de confessores, em língua portuguesa (que começa com esta frase: "O milhor remedio que hum peccador tem para se reconciliar com deos he cobrar a graça que depois do baptismo perdeo pollo peccado mortal, he o sacramento da penetemçia que he a confição..."); umas Normas como se Ensina a Fazer Testamento, Como se Haverá um Padre com Aproveitamento que Quer Fazer Testamento; um outro pequeno tratado prático para uso de confessores, Resposta de Algumas Dúvidas Manuais e Quotidianas se Oferece aos Confessores Máximos em Terras de Infiéis (que principia com: "Caso I: De que idade am de ser as pessoas pera podere casar"; e que termina com: "Não podemos administrar as ditas cousas a infieis sabendo ou duujando que am de usar dellas mal em seus sacrifícios").7

A dúvida quanto à autoria dos textos que comporta este códice, tudo indica já se encontrar desfeita. Esta matéria foi consolidada na sua importância quando Pellizari se apercebeu que a secção do códice onde se contém o texto Sententiae siue Pronunciata Diversorum Autorum ex Diversis Libris Excerpta apresenta esta indicação a todos os títulos conclusiva: "Die 27 octubris 1581 in vigilia sanctorum Apostolorum Simonis et Judas in ciuitate Quantum Regny Sinarum", tudo indicando tratar-se de Cantão, na China.

3. OS PRIMÓRDIOS DA IMPRENSA CRISTÃ NO REINO DA CHINA

Com o P.e Miguel Ruggieri principia, por assim dizer, a história da imprensa cristã em terras da China. Uma imprensa missionária, virada, já se vê, para os problemas e temas da cristianização na sua primeira fase, em breve virá a ampliar os seus horizontes, com o P.e Mateus Ricci, passando este inclusivamente a interessar-se por temas filosóficos e até científicos.

Os primórdios desta acção tipográfica missionária ainda se encontram longe de estar cabalmente esclarecidos. Num dos códices da Biblioteca da Ajuda o P.e Francisco Pires regista que "em Macao, o Padre Ruggieri preparou um catecismo que foi escrito em caracteres chineses por um mestre chinês. O Padre Ruggieri imprimiu este catecismo em caracteres chineses e distribuiu-o pela China".8

Sendo esta obra dada como impressa em 1584,9 o problema que terá de se colocar, em toda a sua objectividade, é a demarcação do período em que o P.e Ruggieri "escreveu o texto" para ser impresso, em Shiuhing [肇慶, Zhaoqing], desse outro período em que o mesmo livro passou a língua chinesa, e foi consequentemente "impresso", em Macau, mas podendo também tê-lo sido em Zhaoqing.

Joseph Dehergne é bem claro quando regista que a estadia (ou eventualmente estadias) de Ruggieri em Cantão se verificou entre Abril de 1580 e Outubro de 1581, altura em que poderão ter sido escritos os documentos do códice napolitano atrás aludido.

Este orientalista estabelece, ainda, que considera que essa obra, o Catecismo, é de 1581. Em nossa convicção tal só poderá ter acontecido depois da chegada do padre de Apúlia a Zhaoqing, a partir de Outubro de 1581 e até fins de Dezembro desse ano. Assim sendo ─ e a considerar-se como hipoteticamente válida a afirmação colhida por José Maria Braga de que a obra poderá ter sido impressa em 1584 -, distarão pelo menos dois anos e meio entre a redacção do texto e a sua impressão, em Macau ou noutro ponto do Sul da China.

Sabendo-se que Mateus Ricci só desembarcou no porto de Macau em 7 de Agosto de 1582, as duas perguntas que hoje se podem colocar são estas:

Se ao acto de redacção do texto, por Ruggieri, em fins de 1581, se seguiu o pedido que fez a um letrado chinês para traduzir esse Catecismo para chinês (e o mesmo pedido foi prontamente atendido), então o primeiro livro cristão de que há notícia ter sido impresso pelos missionários ao serviço do Padroado Português do Oriente, em terras da China, verificou-se antes da chegada de Mateus Ricci ─ o grande dinamizador da gesta tipográfica quinhentista no Sul da China ─ a essa região.

Se porventura (e dando razão ao P.e Francisco Pires e ao referido códice da Biblioteca da Ajuda) esse livro só veio a ser impresso, em Macau, em 1584 ou eventualmente em 1585, então tal já sucedeu durante a permanência do jesuíta de Macerata na região, não sendo de desprezar até a hipótese de ter sido ele o implementador dessa acção. Ele reconhecia na tipografia, com efeito, um prodigioso papel, tendo até, durante a sua preparação como religioso em Roma, sido iniciado nos rudimentos da arte gutemberguiana.10

Só a partir da base desta dualidade de informação se poderá hoje apreciar, cientificamente e com a objectividade indispensável, esta matéria. Na raríssima obra De Christiana Expeditione apud Sinas Suscepta ab Societate Iesu, ex P. Matthaei Riccij; Eiusdem Societatis Comentarijs, Lihri V 11 ─ livro que é o resultado dos esforços tanto de Mateus Ricci como do belga Nicolau Trigault (que chegou à China em 1610) -, é possível encontrar já alguma luz em relação a esta matéria. No capítulo intitulado "Como os Livros do Padre Mateus (Ricci), Impressos neste Tempo, Trouxeram Reputação à Fé Cristã" é conclusiva a afirmação de que "a primeira redacção do texto condensado da doutrina cristã tinha sido publicada pelos nossos, ainda novos nesta língua e fazendo fé de intérpretes; assim, pareceu aos nossos, quando começaram a ver mais claro, ser um texto com erros em várias passagens. Por isso o Padre Mateus fez uma revisão exacta desse opúsculo e, tendo suprimido todos os outros, publicou este isoladamente...12

3.1. A Produção Tipográfica Xilográfica do Padre Mateus Ricci

Atendendo ao facto de a Igreja de S. Paulo, em Macau, ter principiado a ser concebida e erigida com a transição do século XVI para o século XVII, iremos agora tecer algumas considerações sobre a evolução da obra desenvolvida pelo P.e Mateus Ricci que mereceu, até aos fins desse mesmo período de Quinhentos, as honras de ser impressa tipográfica e xilograficamente.

É hoje bem conhecido dos especialistas que, cerca de um ano depois de ter chegado a Macau, o padre de Macerata fundou residência da Companhia de Jesus em Zhaoqing, em Setembro de 1583, acompanhado de Miguel Ruggieri. Nesse período já Ricci dispunha dos seus esboços da representação do mundo. Esses elementos foram do conhecimento de responsáveis locais que, mesmo sem estarem autorizados para o efeito, procederam à sua impressão xilográfica nesse mesmo local em Outubro de 1589, três meses depois de Ricci ser afastado da região.

Em 26 de Outubro de 1589, com efeito, já Ricci se encontrava no novo local que escolhera para ser objecto de evangelização, Siuchow [韶州, Shaozhou, actualmente 韶關, Shaoguan]. Aí, em Dezembro de 1591 e sensibilizado já por alguns aspectos da cultura e da religiosidade dos chineses, principiou o religioso a traduzir o clássico chinês Os Quatro Livros. Em Julho do ano seguinte, porém, a sua missão continuava a sentir as mais diversas contrariedades, quando lhe foi atacada a residência, do que lhe resultaram inclusivamente alguns ferimentos.

Em 18 de Abril de 1595 estava tomada a sua definitiva decisão de deixar Shaozhou. Em 21 de Maio seguinte, com efeito, já se encontrava em Nanquim. Era uma aproximação, no sentido sul-norte, e gradualmente ia-se estreitando a separação geográfica de Pequim, a cuja corte imperial estava no seu espírito, de há muito, chegar.

Foi durante a sua estadia nessa região que lhe terá nascido a necessidade de organizar alguns dos seus apontamentos sobre ideias de autores clássicos, em redor de alguns topica de maior representatividade no seu espírito, designadamente em torno da Amizade.

Efectivamente, em Novembro de 1595, o P.e Mateus Ricci compôs ─ a partir de diversa informação que trouxera da Europa retida no espírito (e proveniente das diversas leituras que amiudadamente fazia) ─ o Tratado sobre a Amizade. Daí à sua impressão foi apenas um passo.

BONIFÁCIO, João, Christiani Pueri lnstitutio..., Portu Macaensi, Societatis lesu,1588. Biblioteca da Ajuda. Macau: As Ruínas de S. Paulo: Um Monumento para o Futuro, Macau, Instituto Cultural, [1994], p. 150.

3.2. A Produção por Ricci do De Amicitia de Inspiração Ciceroniana

São conhecidas as circunstâncias em que decorreu a preparação desta obra de Ricci, sobretudo graças aos vários estudos desenvolvidos a esse respeito pelo especialista sobre o autor, P.e Pasquale d'Ellia.

Mateus Ricci, na preparação desta obra, regista Jonathan D. Spence, "serviu-se abundantemente da sua memória. Ele tinha decorado, sem dúvida, citações livres de uma dúzia de autores clássicos reunidos por André de Resende".13

Este investigador equivocou-se a este respeito talvez ─ e compreensivelmente ─ por não conhecer suficientemente o período de Quinhentos português e as ideias humanísticas que então circularam. O que sucedeu, concretamente, é que um outro humanista, André Rodrigues, também conhecido por André Eborense ─ daí, presumivelmente, que Spence o tenha confundido com André de Resende -, dedicou uma das partes da sua obra, Sententiae & Exempla,14 ao tema Amizade, inspirado nas máximas que na altura mais circulavam entre intelectuais. Tais máximas encontravam-se reunidas em três grandes grupos, atendendo às fontes de proveniência: ex graecis (num total de 51); ex latinis (num total de 47); e ex sacris (num total de 42 máximas).

Uma parte dessas máximas era, naturalmente, recolhida da obra de Cícero, De Amicitia, e o problema que se levanta hoje aos investigadores é se Ricci transportava, nos livros da sua biblioteca, essa obra de André Rodrigues, ou se a tinha lido durante a sua permanência em Portugal ou ainda na Itália. Sabendo-se que o jesuíta de Macerata estivera algum tempo em Coimbra, no Verão de 1577, e que essa mesma obra de Rodrigues (depois da sua edição de 1554 e 1567) fora aí reimpressa ─ no prelo de João Barreira, em 1569 -, não nos repugnaria aceitar a hipótese de que então o religioso a tivesse lido na cidade do Mondego e, dado ser dotado de uma prodigiosa capacidade mnemónica, ter registado no seu espírito algumas dessas máximas que passou a letra de forma já em terras da China, na região de Nanchang [南昌], em 1595. (Nada nos permite concluir que o exemplar da edição de 1590, da quinta edição, de Paris, que hoje integra a Biblioteca do Beitang, em Pequim, tenha sido o que esteve em poder do missionário de Macerata e foi por si utilizado).

A obra de Ricci prolongar-se-ia, em toda a sua grandeza, por via da técnica tipográfica e xilográfica até à sua morte, em Pequim, em 11 de Maio de 1610.

4. A ACÇÃO DO PADRE DUARTE DE SANDE EM MACAU E A IMPRENSA CRISTÃ PORTUGUESA

Tendo-se observado, atrás, que Ricci chegou a Macau em começos de Agosto de 1582, debrucemo-nos agora sobre o papel de um outro ilustre jesuíta, o vimaranense P.e Duarte de Sande, chegado a Macau cerca de três anos depois, mais precisamente em 31 de Julho de 1585.

Após ter estado a desempenhar as funções de Reitor do Colégio da Companhia de Jesus em Baçaim, na Índia, e ter chegado a Macau naquela data, o P.e Duarte de Sande desde muito cedo passou a desfrutar da admiração dos outros religiosos seus pares, pelo manifesto interesse pela sua actividade incentivadora do espírito cristão e, designadamente, pela actividade intelectual como autor, em que se empenhava.

Esse seu exemplo como missionário contribuiu, decisivamente, para que fosse empossado em Macau, nesse mesmo ano de 1585 da sua chegada, como Superior da missão da China.

Este neto de uma cristã nova desempenhava tais funções em Macau quando, no Verão de 1587, chegaram àquele porto os jovens embaixadores nipónicos que regressavam da Europa. Tinham ido não só apresentar o testemunho da sua fé ao Papa como render preito ao rei Filipe, de Espanha e Portugal, senhor de tão vasto império.

Não são suficientemente conhecidas todas as motivações do facto, mas foi nesse segundo semestre de 1587 que os referidos embaixadores influenciaram o P.e Duarte de Sande a que fosse impresso em 1588, nesse território, um dos livros que porventura traziam nas suas bagagens, o Christiani Pueri Institutio, do padre salamantino João Bonifácio, ou Ioannes Bonifacius na referência latina. Tudo indica, de facto, que esses jovens embaixadores tenham trazido consigo da Europa tal livro (não sendo de excluir, embora, também a hipótese de que o livro já ali existisse no convento da Companhia que antecedeu a Igreja de S. Paulo e que lhes fosse indicada aquela obra, como exemplo, para ser impressa).

Mais seguro é, com efeito, esses meninos embaixadores ali terem chegado com um prelo que traziam da Europa. Desconhecendo-se até hoje, que saibamos, a proveniência desse histórico prelo que a partir de 159115 foi utilizado, por sua vez, em casas da Companhia no Japão ─ designadamente em Amacuça, Catisuça e Nagasáqui -, cremos só poder chegar-se à sua identificação a partir de exames tipométricos periciais (a partir de outros corpos de letra, com que foram compostas obras no terceiro quartel do século XVI).

Não deixa de ser curioso observar que, cinco anos depois de Ricci ter chegado a Macau, oito anos antes de o mesmo jesuíta publicar o seu tratado De Amicitia - e sabendo-se ainda, graças ao P.e Humbertclaude, que os discursos de Cícero "foram impressos no Japão"16 -, a obra Christiani Pueri Institutio inicia-se, aliás numa das suas passagens mais sugestivas, com Tusculanae, n.o III, de Cícero.

Ainda aproveitando a presença dos embaixadores nipónicos em Macau com o seu histórico prelo, o P.e Duar te de Sande, presumivelmente incentivado pelo visitador P.e Alexandre Valignano, contribui para que ganhe vida o Relato dos mesmos embaixadores. Nasce assim a obra De Missione Legatorum Iaponensium ad Romanam Curiam, cuja autoria tem dividido diversos investigadores. Mesmo arriscando contrariar uma autoridade (Schütte, 1954), cremos dispor de elementos ─ e corroborando o abalizado parecer do Prof. Américo da Costa Ramalho, que procedeu a uma criteriosa tradução de todo o original (em vias de publicação) ─ para poder atribuir a verdadeira autoria material do texto não ao Visitador da Índias Orientais mas ao padre vimaranense. Desse nosso parecer demos notícia recentemente em Congresso na Universidade de Coimbra.17

Nem todo o conhecimento científico já estabelecido quanto à acção tipográfica cristã em Macau entre 1588 e 1590 ─ data da saída do referido prelo do Sul da China para o Japão ─ é de fácil consolidação. Assim, ao nível de um "estado de ciência", de momento, de 1994, nesta matéria, cremos ainda não ser possível aceitar-se como documental e irrefutavelmente comprovada a publicação em caracteres móveis, nesse mesmo porto macaense, de um outro livro e de uma carta diplomática de amplas dimensões. O livro, a que autores como Monsenhor Teixeira têm aludido, é um hipotético Sanazaro, em linguagem que, a um nível metodológico, não poderemos, ainda hoje, deixar de considerar senão como uma fonte indirecta, ou seja, de que não chegou qualquer exemplar até aos nossos dias.

A carta impressa (uma cópia da original) foi enviada pelo Papa Sixto V ao imperador da China. Sendo a cópia datada de Goa, de 1590, algumas perguntas pertinentes poderão, sumariamente, também ser aqui levantadas. A mais relevante de todas elas poderá centrar-se no facto de este documento, por apresentar caracteres chineses (é, por assim dizer, uma tradução para chinês dessa missiva), poder ter sido impresso em Macau, com caracteres móveis. Encontrando-se este documento depositado na Biblioteca Nacional, em Paris,18 solicitámos ao orientalista J. P. Drège, do Institut d'Extreme Orient, Collège de France, um parecer a tal respeito. A opinião deste especialista fundamenta-se nos seguintes pontos:

"II y a, me semble-t-il, une différence notable entre cette lettre et les deux ouvrages imprimés à Macao au XVIe siècle: il n'est pas certain que la dite planche ait étè gravée a Macao; ce n'est qu'une hypothèse non étayée. L'impression elle même aurait pu être effectué à Goa. II s'agit d'une planche xylographique dont le principe de reproduction et d'impression, d'inspiration typiquement chinoise, est très different de celui utilisé pour les deux ouvrages en latin, imprimés en caractères mobiles."

Quando decorrem estudos tendentes à recuperação das Ruínas da Igreja de S. Paulo, em Macau, a evocação dos primórdios quinhentistas e seiscentistas da missionação e da acção tipográfica luso-chinesa não deixa de revelar novas facetas que se abrem constantemente ao historiador como novos universos a descobrir.

5. PARA UM LEVANTAMENTO DA PRODUÇÃO TIPOGRÁFICA AO SERVIÇO DO PADROADO PORTUGUÊS NA CHINA DO SÉCULO XVII

No que respeita a produção de obras impressas pelos missionários portugueses e outros europeus, no império da China, nos séculos XVI-XVII, ela pode ser enquadrada em sete subgrupos linguísticos: 1) latim; 2) latim-chinês;3) chinês; 4) português; 5) português-japonês; 6) português-espanhol; e 7) espanhol. Tal deve-se à necessidade sentida por parte dos missionários europeus, no sentido de melhor se darem a conhecer então àqueles gentios, ao nível da missionação. Vão dirigindo assim aos potenciais leitores os seus escritos, as obras que vão imprimindo.

No que respeita às Filipinas ─ e sabendo-se como tal território estava incorporado já nessa época na coroa espanhola ─ é perfeitamente compreensível, também, que as obras de autores portugueses (ou de interesse para a história de Portugal) aí impressas o tivessem sido em língua espanhola.

Importa sublinhar, no entanto, que não se torna possível conhecer todos os títulos impressos, quer na China, quer nas Filipinas, em língua portuguesa ou de interesse para a história de Portugal neste período. Em termos de registo catalográfico dever-se-á apenas incluir, com efeito, e nesse espírito, 15 obras impressas na China nessas diversas áreas linguísticas. Reconhecemos que esse conjunto apenas cobre, no entanto, uma reduzida parte do espectro da vasta produção tipográfica na região em tal período.

5.1 Espécies Bibliográficas em Latim

No período cronológico a que se limitam as nossas investigações, a mais antiga edição seiscentista que se nos oferece apenas em latim é a Epistola P. Ferdinand Verbiest, Vice-Provincialis Missionis Sinensis Anno 1678 Die 15 Augusti, ex Curia Pekinensi in Europam ad Socios Missa. Esta obra foi impressa em Pequim, em 1678.

Entre os missionários da Companhia de Jesus, provenientes da Flandres, que missionaram no Oriente, Ferdinando Verbiest é, seguramente, um daqueles que mais contribuiu para propagar a fé cristã ─ nas terras do Padroado Português da China ─ com convicção e firmeza. Tendo nascido nas imediações de Courtrai, em Outubro de 1623, muito cedo tomou o caminho de Lisboa para rumar ao Oriente, dando cabimento à sua fé e vocação missionária.19

Da sua vasta obra ─ produzida entre a chegada a Macau, em começos de 1659 e a morte em Pequim, em Janeiro de 1688, num total de praticamente três décadas ─ ressaltam títulos que tiveram a oportunidade de vir a ser impressos, quer na China, quer na própria Europa. Detendo-nos, aqui, apenas nos primeiros, isolamos dois cujo conteúdo documenta de forma significativa a sua extraordinária vitalidade criadora.

Dada a extraordinária capacidade que detinha no que respeita à acção empreendedora das missões ─ vocacionadas para a propagação da fé, mais do que para um vincado diálogo civilizacional -, ainda não decorria uma década quando o P.e Ferdinando Verbiest foi nomeado Vice-Provincial da Companhia. E, já nesse (novo) cargo, uma das primeiras incumbências a que se votou foi editar ─ pela usual via xilográfica ─ uma carta que fez circular pelo mundo culto do Ocidente. Tratou-se precisamente da obra Epistola P. Ferdinand Verbiest (...) ad Socios Missa, de 1678, datada de Pequim, em 15 de Agosto desse ano. Segundo especifica Louis Pfister, "tratava-se de uma carta de apelo a todos os Jesuítas da Europa, em latim (...) e traduzida em francês, Paris, (Gabriel) Martin, 1682, na qual ele convida os seus irmãos de fé, pelos mais preocupantes motivos, a ir em socorro da missão da China".20

Também da autoria de Verbiest é a obra I'siang T'ou, ou seja, Para um Novo Esferograma (Instrumentos do Observatório Astronómico de Pequim), de 1683, já porém em língua chinesa.

De igual modo em língua latina é a edição Relatio Sepulturae Magno Orientis Apostolo S. Francisco Xauerio, obra impressa (em Pequim?, em Cantão?), em 1700. Dos dados constantes deste pequeno trabalho, somos levados a concluir que terá sido escrito, no todo ou em parte, pelo P.e Gaspar Castner, da Companhia de Jesus.

Este religioso, que nasceu em Munique em 1665, foi precoce nos seus estudos de Teologia e, logo após concluir a sua formação religiosa, foi nomeado Professor da Universidade de Ratisbona, nos fins de 1694 ou começos de 1695. Tal magistério foi aí, porém, de curta duração, na medida em que em 1696 se encontrava em Lisboa para embarcar para as missões do Oriente.21

O P.e Gaspar Castner ─ e refira-se, de passagem, que Pfister privilegia, ortograficamente, o nome Kastner ─ já se encontrava em Macau em 1697. Este religioso alemão não se manteria, porém, aí muito tempo, na medida em que em 19 de Março de 1700 já se encontrava a dar assistência à comunidade cristã de Fuzhou. Como padre dessa região ele dirigia, também, no dizer de Pfister,22 os trabalhos da capela edificada na ilha de Sanchoão, no local onde havia falecido S. Francisco Xavier.

Mantendo-se com essas responsabilidades até 12 de Junho de 1700, foi precisamente nesse período que o P.e Castner preparou a referida edição (xilográfica), subordinada ao título Relatio Sepulturae Magno Orientis Apostolo S. Francisco Xauerio. E como se encontrava no próprio local, teve a possibilidade de traçar ─ e incluir ele próprio na obra que logo de seguida estampou em Pequim ou em Cantão ─ uma planta do próprio local (sacralizado) da sepultura de S. Francisco Xavier. Admitimos, no entanto, que alguns anos antes desta estadia ─ ou série de estadias ─ do P.e Castner nessa ilha, já ali tivesse deambulado um outro europeu, o P.e Luís Le Comte, da Companhia de Jesus e matemático ao serviço do rei de França.

Afirmamo-lo, com segurança, na medida em que, no ano de 1697 ─ precisamente aquele em que o P.e Castner chegava a Macau proveniente da Europa -, já o P.e Le Comte, depois de ter deixado o Oriente, fazia imprimir na cidade de Paris a conhecida obra Nouveaux Mémoires sur l'État Present de la Chine (nas oficinas de Jean Annisson e com privilégio real) e, logo no segundo volume, fazia incluir uma minuciosa planta dessa mesma ilha de Sanchoão. Nessa planta especificam-se os quatro mais importantes pontos da ilha para qualquer visitante, e um deles é precisamente o túmulo de "Saint-Xavier"23 cuja simplicidade de outrora é hoje substituída por um (quase) ponto obrigatório de romagem turística.24

Igualmente em língua latina é a edição finalizada (em Pequim?), em 1717, intitulada: Informatio pro Veritate Contra Iniquiorem Famam Sparsam per Sinas cum Calumnia PP. Soc. Iesu. Esta obra terá sido impressa, segundo Charles Boxer, na cidade de Pequim(?), naquele ano, embora não se saiba, concretamente, qual o autor que contribuiu para a reunião de todos os documentos que nela se publicam, respeitantes à perseguição movida aos missionários portugueses, franceses, italianos e espanhóis, na região do Sul da China, neste período.

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: exemplar dos painéis com palmeiras que ladeiam a janela central (2." fileira).

Xie Ronghan: fotografia, 1991.

O que se sabe, mais em concreto, é que, pelo menos há mais de cinquenta anos antes da publicação da obra, se vinham registando as mais cruéis perseguições aos religiosos europeus que missionavam nestas paragens do Sul da China. Segundo regista Júlio Firmino Júdice Biker,25 fora já em 1664 que se havia declarado "uma perseguição geral contra os missionários". E nessa altura, "o Padre Intorcetta e vinte e quatro dos seus companheiros foram mandados presos de Pequim para Cantão".26

Alguns religiosos europeus ─ inteiramente reduzidos a uma verdadeira neutralização na sua gesta evangelizadora -, sentindo a iniquidade de tais medidas, tomaram a decisão de fazerem imprimir alguns dos seus argumentos. Importava dar a conhecer ao mundo, através dos mecanismos da imprensa xilográfica de que dispunha a Companhia de Jesus, os legítimos argumentos desses padres que, sacrificando muitas vezes as suas próprias vidas, estavam essencialmente empenhados na divulgação da mensagem da fraternidade cristã. E entre esses padres contavam-se (além de outros): Bernardo Stumpf, Visitador; Joaquim Bouvet, S. J.; Domingos Parrenim, S. J.; Pedro Vicente de Tartre, S. J.; Francisco Cardoso, S. J.; José Soares, S. J.; João Francisco Foucquet, S. J.; Pedro Jartoux, S. J.; Mateus Ripa, secular; e Jacob Brocard, S. J.27

Algumas dúvidas se têm colocado, ao longo das últimas décadas, quanto ao local em que terá sido impresso este trabalho, se em Pequim, se em Cantão. Cremos que o estado actual deste caso se pode colocar nesta conclusão de Boxer:

"Regarding Cordier's attribution of the work to Canton, this seems to rest on a misreading of one of the documents printed therein; for others are explicitly stated to be 'quod originale... in Archivo Collegij Pekinensis Soc. Iesu', and from the context it seems obvious that the work was printed at Peking and not at Canton."28

Assim, até que novos documentos sejam conhecidos acerca desta problemática, inclinamo-nos a aceitar, em termos prioritários, que este documentário terá sido impresso em Pequim.

Vamos deter-nos, ainda, numa espécie que se apresenta, simultaneamente, em latim e chinês.

A mais antiga edição de que dispomos ─ do século XVII ─ neste âmbito é a Sapientia Sinica. Esta obra foi impressa em Quiaucheu [ 膠州, Jiaozhou], pelos padres da Companhia de Jesus, servindo-se, como habitualmente, do processo xilográfico.

Trata-se de uma obra que é da responsabilidade de dois autores, o P.e português Inácio da Costa e o P.e Próspero Intorcetta.

Quanto ao religioso português sabemos, graças a Louis Pfister,29 que nasceu na ilha do Faial, nos Açores, em 1599, e que, com a idade de 35 anos, chegou à China, disposto a entregar-se à humanitária missão de fazer chegar a fé cristã aos gentios. Contava, pois, 63 anos de idade quando viu estampado este seu trabalho (tipográfico) em território chinês. Quanto ao P.e Próspero Intorcetta, 26 anos mais novo que aquele religioso português, sabe-se que nasceu em 1625 na ilha de Piazza, na Sicília, e que partiu para a China em 1627, na companhia do P.e Martinho Martini.30

Comunicação apresentada no Simpósio Internacional "Religião e Cultura", comemorativo do IV Centenário da Fundação do Colégio Universitário de S. Paulo, realizado pelo Instituto Cultural de Macau, Divisão de Estudos, Investigação e Publicações, entre 28 de Novembro e 1 de Dezembro de 1994, em Macau.

Revisão de texto por Fernando Lima; revisão final de Júlio Nogueira.

NOTAS

1D'AVEZAC, "Voyage de Jean du Plan Carpin", in Recueil des Voyages et Memoires de la Société de Géographie de Paris, Paris, 1839, t. 4; RICHARD, J., Sur les Pas de Plancarpin et de Rubrouck: La Lettre de Saint Louis a Sataq, "Journal des Savants", 1877; PIRES, Benjamim Videira, "China: Aspectos Religiosos", in Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Lisboa, Verbo, 1967; KAMERER, Albert, La Découverte de la Chine par les Portugais au XIVe Siècle et la Cartographie des Portulans, Leiden, 1944; GIL, Juan, Em Demanda del Gran Kan: Viajes a Mongolia en el Siglo XIII, Madrid, Alianza, 1993, p. 70.

2 CATZ, Rebecca, Cartas de Fernão Mendes Pinto e Outros Documentos, Lisboa, Presença, 1983 (Método).

3 D'INTINO, Raffaella, Enformação das Cousas da China: Textos do Século XVI, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1989.

4 FRANCO, António, Ano Santo, Porto, 1931; LEITE, Serafim, Notícia dos Primeiros Missionários da China, "Anais das Bibliotecas e Arquivos", Lisboa, 15 (57-60) 1941.

5 SPINOLA, Fabio Ambrosio, Vita del P. Carlo Spinola della Compagnia de Giesu Morto pela Sancta Fede nel Giappone, Roma, Francesco Corbeletti, 1628; PEREIRA, Fernando António Baptista, "Ocidente e Oriente na Obra Jesuítica de São Paulo (Macau)", in Actas do Congresso Internacional de História: Missionação Portuguesa e Encontro de Culturas, Braga,1993, vol. 3 (com o apoio da C. N. C. D. P.).

6 DEHERGNE, Joseph, Repertoire des Jésuites de Chine de 1552 a 1800, Roma, Institutum Historicum Societatis Iesu (Paris, Letouzey et Ané?), 1973, p. 235.

7 PELLIZARI, Achille, Portogallo e Italia nel Secolo XVI: Studi e Ricerche, Nápoles, s. d.

8 Jesuítas na Ásia, Biblioteca da Ajuda, Cód. 49-IV-3.

9 José Maria Braga, 1965 (numa dualidade de critérios, o autor refere, na página 10, ter o livro sido impresso em Macau em 1584 e, nas páginas 20-21, extratexto, regista ter sido em 1585)

10 SPENCE, Jonathan D., Le palais de Mémoire de Matteo Ricci, Paris, Payot, 1986, p. 155.

11 Existe hoje um exemplar na Livraria Humanística da História da Tipografia de Expressão Cultural Portuguesa, LHITPOR, da edição de Lião, Horatii Cardon, 1616, por deferência do livreiro parisiense Paul Jammes.

12 Matthieu Ricci, S. J., Nicolas Trigault, S. J.: Histoire del'Expedition Chrétienne au Royaume de la Chine, Paris, Desclée de Brouwer-Belarmin, 1978, p. 36-541, edição em língua francesa, introdução de Joseph Shih, estabelecimento de texto por Georges Bessiere e índice de Joseph Dehergne.

13 SPENCE, Jonathan D., ob. cit, p. 143.

14 Da edição desta obra de Lião, do prelo de Theohaldum Paganum, de 1557, também se conserva um exemplar na Livraria Humanística, LHITIPOR.

15 MATOS, Manuel Cadafaz de, "A Propósito do Quarto Centenário do Primeiro Livro Impresso em Macau com Caracteres Tipográficos Móveis: O Christiani Pueri Institutio de João Bonifácio (1588)", in BONIFÁCIO, João, Christiani Pueri Institutio: 1588, edição anastática do exemplar da Biblioteca da Ajuda em Lisboa, Macau, Instituto Cultural, 1988, também em separata;"A Tipografia Quinhentista de Expressão Cultural Portuguesa no Oriente, Veículo de Propagação dos Ideais Humanísticos (No Quarto Centenário da Introdução da Imprensa Jesuítica no Japão)", in Actas do Congresso Internacional "Humanismo na Época dos Descobrimentos", Coimbra, Faculdade de Letras, 1993, separata do número especial da revista "Humanitas"; ver, ainda, SANTOS, Domingos Maurício Gomes dos, Macau, Primeira Universidade Ocidental do Extremo Oriente, "Anais da Academia da História", Lisboa, 2 (17) 1968.

16 HUMBERTCLAUDE, S. M., Investigações sobre um Catálogo de Livros Pertencentes à Procura do Japão em Macau, em 1616, "Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau", 38 (442) Jan. 1941 (fonte que nos foi cedida, por especial deferência, pelo Monsenhor Manuel Teixeira).

17 MATOS, Manuel Cadafaz de, ob. cit (ver nota 15).

18 CORDIER, Henri, L'Imprimerie Sino-Européenne en Chine: Bibliographie des Ouvrages Publiées en Chine par les Européens au XVIe et au XVIIe Siècle, Paris, Imprimerie Nationale, 1901.

19 CORDIER, Henri, Biliotheca Sinica, vol. 2, cols. 1098-1100.

20 PFISTER, Louis, Notices Biographiques et Bibliographiques..., t. l, p. 361.

21 Id., p. 487.

22 Id., ibid.

23 LE COMTE, Louis, Nouveaux Memoires sur l'État Presentde la Chine, Paris, 1697, t. 2, p. 170.

24 Ver CARMO, António do, Sanchoão: A Antepenúltima Morada, "Macau", (20) Fev. 1990, pp. 41-8.

25 BIKER, Júlio Firmino Júdice, Memória sobre o Estabelecimento de Macau Escrita pelo Visconde de Santarém: Abreviada Relação da Embaixada que El Rei D. João V Mandou ao Imperador da China e Tartária: Relatório de Francisco de Assis Pacheco de Sampaio a El Rei D. José I Dando Conta dos Sucessos da Embaixada a que Fora Mandado à Corte de Pequim no Ano de 1752, Lisboa, Imprensa Nacional, 1879, p. 20.

26 Id, ibid.

27 Informatio Pro Veritate..., ed. xilografada, p. 13, recto.

28 BOXER, Charles Ralph, Some Sino-European Xylographic Works, 1662-1718, "Journal of the Royal Asiatic Society", 1947, p. 208.

29 PFISTER, Louis, ob. cit., t. l, p. 218.

30 Id., p. 321.

* Professor na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. Publicou, entre outros trabalhos, A Tipografia Quinhentista de Expressão Cultural Portuguesa no Oriente, Veículo de Propaganda dos Ideais Humanísticos e O Elogio da Pobreza: Missionários, Tipógrafos e Livros no Oriente do Século XVI.

desde a p. 31
até a p.