Rotas e Embarcações

O COLÉGIO DE SÃO PAULO DE MACAU E A IGREJA DO JAPÃO

Diego Yuuki*

VALIGNANO, Alexander, Il Cerimoniale per i Missionare del Giappone, ed. critica, introd. e note di Giuseppe Fr. Schütte, Roma, Storia e Letteratura, 1946. Arquivo Histórico de Macau. Macau: As Ruínas de S. Paulo: Um Monumento para o Futuro, Macau, Instituto cultural, [1994], p.135.

Há mais de trinta anos que habito em Nagasáqui e que me venho dedicando ao estudo da sua história. Como é sabido, esta história tem a sua origem relacionada com Macau. O porto de Nagasáqui foi aberto em 1570 para receber e abrigar os navios provenientes de Macau. De vez em quando, deixo Nagasáqui e vou em peregrinação até Macau. Aí, à sombra das Ruínas de S. Paulo, ou no meio do ambiente ruidoso e vivo do Porto Interior, ou das muralhas da fortaleza, tenho repensado a história de Nagasáqui, agora do outro lado do mar.

Pediram-me para escrever sobre essa história, com destaque para dois aspectos: o Colégio de S. Paulo com tudo aquilo que representa, e Nagasáqui, centro da Igreja japonesa durante o "Século Cristão". Trata-se de uma história demasiado longa para ser narrada em poucas páginas. Por esse motivo, decidi seleccionar apenas alguns capítulos, símbolos e elos, algumas vezes invisíveis, que ainda hoje nos unem.

Hostiário. Laca preta e dourada sobre madeira com incrustações de madrepérolas, 9x11cm. Igreja de Toquei, Canagava, Japão. OKAMOTO, Yoshitomo, The Namban Art of Japan, New York, Tokyo Weatherhill, Heibonsha, cop. 1972 (The Heibonsha Survey of Japanese Art, 19), p. [57].

Decorria o ano de 1672. A Igreja de Nagasáqui havia resistido heroicamente à cruel perseguição que se prolongara por mais de treze anos, mas estava agora a desmoronar-se às mãos férreas do novo "Búgio" (Governador), Mizuno Cavachi. Este instrumento fiel dos desígnios de Tocugava Iemitsu desencadeara um regime de terror, e o seu principal objectivo era a supressão dos líderes religiosos da igreja. A prisão de "Crusmachi" (Rua da Cruz) estava pejada de missionários; os últimos cristãos Otona, João Machida Soca e Tomé Goto Soim foram enviados com as respectivas famílias para Edo, para aí serem julgados; e um grupo de samurais, pertencentes às famílias dos cristãos dáimios Agostinho Conixi loquinaga e Tacaiama Ucom, foi exilado para Macau. Aportaram aí nos galeões de Luís Pais Pacheco, mas os sofrimentos infligidos na prisão, a dureza da viagem e a mudança de clima foram demasiados para os seus corpos exaustos. Todos eles pereceram alguns meses após a chegada.

Os nomes dos samurais exilados eram os seguintes: Leo Conixi Iazaimom, neto de Diogo Hibia Rioquei, em cuja casa S. Francisco Xavier encontrou refúgio em 1551; Jacob Conixi Chujiro, filho do capitão do castelo de Iatsuxiro, de seu nome Diogo Mimasaca; Tomé Conixi Geniemom e Bento Sadaio, o último da família de Tacaiama Ucom, e casado com uma sobrinha do mártir Diogo Cagaiama Haiato. Todos eles eram membros da Confraria da Misericórdia de Nagasáqui, e foram sepultados com o hábito da Misericórdia na Igreja de Nossa Senhora da Assunção, perto do Colégio de S. Paulo.1 Este acontecimento constitui uma espécie de ápice e também um símbolo da história que pretendo apresentar nesta ocasião. O Colégio de S. Paulo e a sua igreja estão interligados através de uma bela história de amizade, intercâmbio cultural e igualmente por laços de sangue com a Igreja japonesa. O espírito da "Confraria da Misericórdia" é a atmosfera a partir da qual todas as outras actividades floresceram.

Os três Colégios que ostentam o nome de S. Paulo são marcos importantes nas rotas traçadas pelos missionários jesuítas na Ásia: S. Paulo de Goa, S. Paulo de Macau e S. Paulo de Nagasáqui. O primeiro teve início em Goa à data da chegada de S. Francisco Xavier à Índia, por volta de 1540. Comemora-se este ano o quarto centenário da fundação do Colégio de Macau. O colégio em Nagasáqui começou no ano de 1597, mas as suas raízes recuam a quase mais de vinte anos dessa data. Foi inaugurado em Funai pelo P.e Alexandre Valignano em 1580; o seu período mais activo, como centro educacional, situa-se entre 1590 e 1597 em Cavachinoura (Amacuça), tendo sido transferido para Nagasáqui após o martírio dos 26 Santos. Aqui o Colégio atingiu dias de glória como centro religioso e cultural sob a direcção do P.e Diogo de Mesquita até 1614. Em Novembro daquele ano, tanto o P.e Mesquita como o colégio morreram, vítimas da perseguição.

Considero que, ainda mais do que as datas de fundação do colégio, os homens que ali viveram e trabalharam constituem os verdadeiros laços entre os dois colégios de Macau e de Nagasáqui. Dado ser impossível apresentar aqui todos os acontecimentos, tentarei apresentar algumas das personalidades mais representativas, deixando ouvir os seus testemunhos.

1. OS QUATRO ENVIADOS DA ERA TENSHO (1582-1590)

Os seus nomes são familiares no Japão: Mâncio Ito, Miguel Chijiva, Martim, Hara e Julião Nacaúra, com os seus companheiros Jorge de Loiola e Constantino Dourado, todos eles japoneses. Inspirados pelo P.e Alexandre Valignano, Visitante das Missões da Companhia de Jesus no Extremo Oriente, três cristãos dáimios de Ximo, Francisco Otomo Soim, de Bungo, Protásio Arima Harunobu, de Arima, e Bartolomeu Omura Sumitada, de Omura, decidiram enviar uma Embaixada ao rei de Portugal e ao Papa. Escolheram como embaixadores quatro jovens, de idades compreendidas entre os treze e os quinze anos, que se encontravam a estudar no Seminário de Arima. Esta legação, quase sem importância no início, foi recebida com grande interesse na Europa, e tornou-se um símbolo das relações culturais entre o Japão e os povos do Sul da Europa durante os séculos XVI e XVII. A literatura sempre crescente sobre a legação, nos tempos modernos, demonstra que as indicações acima referidas não são gratuitas.2 Os enviados estiveram em Macau por duas vezes: de 9 de Março a 31 de Dezembro de 1582, antes de seguir viagem para a Europa, e de 28 de Julho de de 1588 a 23 de Junho de 1590, durante a viagem de regresso ao Japão. Em 1582 estiveram a viver na Casa Jesuíta; eram crianças, e passaram o tempo a aprender latim e português. Mas, quando chegaram a Macau pela segunda vez, já não eram estudantes do Seminário mas homens jovens que, como delegados, tinham contactado com duques, reis e papas; foram agraciados com o título de Cives Romani concedido pelo Senado de Roma e armados "Cavaleiros de S. Pedro" pelo Papa Sisto V.

Devido a todos estes motivos, foram recebidos numa casa especialmente preparada para eles na propriedade de S. Paulo, separada da Residência Jesuíta, mas com uma entrada comum. Nessa ocasião, as circunstâncias forçaram-nos a ficar em Macau durante dois anos, e as suas actividades foram escrupulosamente anotadas nas cartas dos jesuítas de Macau. O cronista principal é o P.e Lourenço Mexia, antigo secretário do P.e Valignano, que viera para Macau proveniente de Nagasáqui em 1582, conjuntamente com os enviados, a bordo de um navio de Inácio de Lima. Seleccionámos alguns parágrafos das cartas do Pe Mexia, cujo conteúdo é, aliás, bastante ingénuo. Em primeiro lugar, é manifesta a alegria em encontrá-los de novo:

"O Padre Visitante chegou aqui a 28 de Julho, com 16 membros da Companhia e os nobres japoneses (Senhores); todos se encontravam de boa saúde, graças a Deus. A nossa alegria e consolação foram grandes, dado que estávamos à espera deles há mais de um ano. Os nobres ficaram alojados numa casa, dentro da nossa propriedade, bem equipada para seu usufruto: estão a morar ali, mas algumas vezes vêm comer aqui ao nosso refeitório; empregam bem o seu tempo, porque têm-no distribuído de acordo com um plano estabelecido pelo P.e Diogo de Mesquita, que se encontra sempre ao lado deles. Vão à confissão e recebem a Comunhão frequentemente, como se fossem religiosos; e eu penso que, com o tempo, se converterão." 3

FRÓIS, Luís, Carta do Padre Luís Fróis da Companhia de Jesus..., [Lisboa], António Álvares, 1589. Biblioteca Nacional de Lisboa. O Japão Visto pelos Portugueses, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1993, p. 109.

A alegria do regresso viria a ser obscurecida pelas notícias recebidas sobre a perseguição desencadeada no Japão por Toiotomi Hideióxi. Surgiram também alguns problemas relacionados com o alojamento e a alimentação devido ao número avultado de jesuítas que chegaram simultaneamente com Valignano.

"Esta moradia, com a chegada do Padre Visitante e dos nobres japoneses conjuntamente com muitas outras pessoas, estava repleta nesse ano, com mais de uma centena de pessoas, e, embora o Padre Visitante contribuísse com metade das despesas, não foi fácil encontrar as almas necessárias. O território é pequeno, já que não existem mais de duas centenas de portugueses casados, e eles já apoiam um hospital e 44 lázaros (leprosos), a Misericórdia, os que se encontram na prisão, e três ordens medicantes, além de nós próprios, nomeadamente franciscanos, dominicanos e agostinianos; por outro lado, o rendimento é pequeno dado a única fonte ser um navio que se desloca ao Japão todos os anos carregado de sedas, e traz prata, e eles não possuem outra fonte a não ser a que o navio transporta, e, por isso, impusemos sobre eles uma pesada carga com a presença destas almas." 4

Não era apenas a presença do jesuíta e dos enviados que representava um problema; após narrar o desapontamento dos enviados por se terem visto impossibilitados de atravessar nesse ano para o Japão, Mexia faz o seguinte comentário com um certo humor:

"Os nobres japoneses sentem-se também abatidos, mas não estão a perder uma única hora, porque estão sempre ocupados com os seus estudos de latim, música e por aí fora. São realmente boas pessoas e nunca causam problemas. Apenas os cavalos que o Padre Visitante traz para o Tirano é que constituem uma fonte de trabalho, porque estão sempre à entrada da casa; mas, olhando para as boas intenções do Padre Visitante, temos de o aceitar." 5

Pobre irmão porteiro! Os cavalos tratavam-se de dois esplêndidos espécimes árabes, dos quatro que D. Duarte de Meneses fornecera em Goa para os enviados. De Goa a Cochim e dali, via Malaca, para Macau. Um dos cavalos morreu em Macau, mas o outro foi para Nagasáqui e daí para Quioto, onde atraiu as atenções das pessoas com o seu passo arrogante, e, finalmente, com os seus saltos e dança, sob a batuta de um português, mestre de equitação. O espectáculo conquistou o coração de Hideióxi. Um dos enviados, Mâncio, fazia de intérprete durante a cerimónia: "Do Portal do Colégio de S. Paulo aos Estábulos de Taicosama", poderia ser o título para uma biografia deste famoso cavalo.6

Mas nem tudo era um problema e um fardo. O mesmo Mexia fala-nos sobre a apresentação dos quatro enviados no primeiro dia de Janeiro de 1589. O concerto realizou-se provavelmente no Refeitório de S. Paulo, após a refeição na qual a comunidade celebrava a festa titular da Companhia de Jesus.

"Durante a viagem eles [os quatro enviados] não perderam tempo, já que aprenderam a tocar diversos instrumentos musicais, com os quais, no dia da Festa da Circuncisão, apresentaram boa música, que disfrutaram in utroq homine. Um deles tocou harpa, outro clavicórnio, um outro alaúde e um outro violino. O irmão Jorge de Loiola também ele está bem actualizado com muitas coisas que aprendeu enquanto viajou." 7

Se recordarmos que os enviados passaram os últimos meses em Portugal, enquanto aguardavam a partida do navio, a aprender música sob a direcção do melhor professor de Lisboa, poderemos imaginar que o concerto incluiu algumas composições portuguesas que traziam a nostalgia aos corações de mais de uma velha mão da Missão de Macau. As actividades dos enviados em Macau não se limitaram ao estudo e à música: escreveram cartas de agradecimento a algumas pessoas importantes na Europa, fortalecendo laços de amizade e legando-nos documentos históricos importantes. Os seus diários e notas sobre a viagem forneceram material ao P.e Valignano para preparar um livro em forma de diálogo sobre a Legação, traduzido numa forma requintada para o latim pelo P.e Duarte de Sande. Finalmente, a impressora adquirida em Lisboa pelo P.e Mesquita produziu alguns livros importantes em Macau, graças à obra de Jorge de Loiola, Constantino Dourado e de um jovem chamado Agostinho. Aqui também Mexia nos faculta informações:

"Este ano foi imprimido aqui o livro de Bonifácio, De Honesta Pueror Institutione, e a obra corrigida de Sanazaro. O Diálogo sobre a viagem dos nobres japoneses está a ser imprimido. Esperemos que todo este trabalho ajude imenso os Seminários do Japão." 8

Como um dedicado secretário, Mexia transmite-nos os objectivos de Valignano. Toda esta actividade tipográfica foi dirigida à formação dos jesuítas japoneses, catequistas e outros auxiliares. Esta foi uma das obras que Valignano levou mais a peito e que, como veremos mais tarde, ligou mais estreitamente o Colégio de S. Paulo à Igreja japonesa. Mas, como sempre acontece, este trabalho importante exigiu um sacrifício ainda mais doloroso: desta vez, a vítima foi o irmão Jorge de Loiola. Quando deixou Portugal, já se encontrava enfermo; a dureza da viagem não o ajudou, e o trabalho sob o clima húmido de Macau esgotou as forças que lhe restavam. Veio a falecer a 16 de Setembro de 1589. Desta vez, o seu companheiro Miguel Chijiva foi o cronista:

"Há um mês atrás, Sua Divina Majestade levou para o seu seio o nosso velho companheiro, o irmão Jorge de Loiola. Contraiu tuberculose nos pulmões, vomitava sangue e, finalmente, morreu aqui na China. A sua morte, assim como as obras da sua vida, foram muito edificantes; por esse motivo, e porque nós esperávamos que fosse fazer um trabalho extraordinário no Japão com os seus sermões, sentimos profundamente o seu desaparecimento." 9

Em Março de 1589, o navio de Jerónimo Pereira aportou a Macau após ter passado o Inverno em Nagasáqui. Segundo Mexia, mais de um milhar de pessoas chegaram naquele navio. Decidiram abandonar Nagasáqui, com receio de Toiotomi Hideióxi, o qual, depois de ter proibido o Cristianismo, conquistou a cidade de Nagasáqui e incorporou-a nos territórios sob a sua directa jurisdição.

A chegada de tantos refugiados teve como consequência uma epidemia da qual muitas pessoas pereceram, entre elas um jesuíta, P.e Prenestino, que chegou no mesmo navio, e que era suposto ensinar Gramática às crianças portuguesas em Macau. Provavelmente, como consequência de todo aquele transtorno, o capitão Jerónimo Pereira suicidou-se, saltando pela borda do seu navio para as sombrias águas do Porto Interior. Esta foi a principal razão pela qual o P.e Valignano e seu séquito não puderam atravessar para o Japão naquele ano.

A partida, longamente aguardada, teve lugar a 30 de Junho de 1590. Naquele dia, Valignano celebrou missa na Igreja de Nossa Senhora da Assunção, e, depois, com um grande grupo de missionários e os quatro enviados, foi de S. Paulo para o Porto Interior e embarcou no navio de António da Costa. O cavalo árabe já se encontrava no seu lugar, entre as queixas de alguns dos passageiros.

Três dos enviados regressariam a Macau alguns anos mais tarde, alguns deles como estudantes ou como exilados; mas essa história pertence a um capítulo diferente. Não obstante, o P.e Valignano já estava a pensar num novo projecto para a formação dos jesuítas japoneses. Esse projecto serviria de pretexto para as viagens entre Macau e o Japão e fortaleceria o contacto entre S. Paulo e a Igreja japonesa.

Poderemos acrescentar aqui um outro laço que unia os enviados da era Tensho ao Colégio de S. Paulo. Quando Valignano regressou de Nagasáqui a Macau em 1593, depois de ter confiado o cavalo árabe aos cuidados de Hideióxi, e de ter abençoado os quatro enviados já ordenados como noviços na Companhia de Jesus em Cavachinoura (Amacuça), levou desta vez consigo como acompanhante o ancião P.e Luís Fróis. Durante os dois anos que passou em S. Paulo, Fróis não só reuniu material para os últimos capítulos da sua História do Japão, como também compôs o esplêndido tratado sobre a Embaixada dos quatro enviados, o qual tem servido de fonte de quase todas as obras e artigos sobre a Legação.10

Apesar da idade avançada e das enfermidades de que padecia, Fróis decidiu regressar ao bem-amado S. Paulo da sua bem-amada Nagasáqui. Chegou em 1595, precisamente a tempo de escrever sobre um dos mais importantes acontecimentos da sua vida. No dia 5 de Fevereiro de 1597, os 26 Santos do Japão morreram crucificados na colina de Nixizaca. A 15 de Março, Fróis deixou a sua assinatura na última página da sua Crónica do Martírio, e, três meses mais tarde, a 6 de Julho, falecia na sua cela em S. Paulo, acabando por ser sepultado num cemitério das redondezas, pertencente aos jesuítas. Em 1997, iremos comemorar o quarto centenário dos Mártires e do falecimento de Luís Fróis.

2. SÃO PAULO DE MACAU NO PROJECTO DE VALIGNANO PARA A PROVÍNCIA JAPONESA

Como afirmámos atrás, a formação do clero nativo, e com certeza a dos jesuítas japoneses, constituiu uma pedra de toque na visão do P.e Valignano para a Igreja japonesa. Os Seminários de Arima e de Azuchi, o Colégio de Funai, o Noviciado, a Imprensa, todos tiveram a sua origem na mesma ideia. Mas, então, naquela época, o sucesso da Legação, por um lado, e a perseguição, por outro, forçaram-no a repensar o seu projecto. Valignano não era homem que recuasse quando confrontado com um problema ou qualquer oposição, fosse esta de maior ou de menor importância. Repensaria tudo e seguiria em frente utilizando um outro caminho.

A acrescentar aos dois factos referidos, surgiu uma situação nova porque, durante a ausência de Valignano, o optimista P.e Gaspar Coelho tinha recebido um bom número de japoneses no seio da Companhia de Jesus, e o Seminário estava a fervilhar com jovens que desejavam tornar-se "Irmãos" da Companhia. Todos estes factos constituíam boas notícias, mas envolviam um perigo: tornava-se necessário formar aqueles jovens japoneses numa espiritualidade católica autêntica e no espírito genuíno da Companhia. Seria isto possível na remota aldeia de Cavachinoura, sujeita sempre ao perigo de uma visita dos favoritos de Hideióxi?

Em 25 de Julho de 1591, precisamente no dia em que, quatro anos antes, Hideióxi tinha intimado o P.e Coelho a submeter-se ao édito de expulsão, os quatro enviados foram admitidos no Noviciado em Amacuça. E, alguns meses mais tarde, Valignano, que tinha sido forçado a permanecer inactivo aguardando a resposta de Hideióxi à Embaixada do falecido Vice-rei da Índia, D. Duarte de Meneses, apresentou o seu novo projecto. Um grupo numeroso de "irmãos" japoneses deslocar-se-ia a Roma, desta vez não como Embaixadores, mas como escolásticos da Companhia. Em Roma, aprenderiam o que era necessário para se formarem e se tornarem nos homens que, no futuro, iriam dirigir a Companhia de Jesus japonesa. Uma carta de Mâncio Ito comunicava não só as grandes novidades mas incluía até os nomes de algumas das pessoas designadas; o seu jovem irmão, Justo Ito era um deles.11

A reacção de um bom número de missionários foi repentina, e os seus argumentos fortes. Opunham-se não à ideia, mas à calendarização. E, confrontado com a evidência dos argumentos, Valignano suspendeu a execução do projecto, ou, melhor, preferiu um compromisso: como Roma se situava demasiado longe, mandaria pouco a pouco os irmãos japoneses para S. Paulo de Macau. Lá, e esta era outra ideia, e bastante feliz, eles poderiam estudar teologia e levar as suas vidas religiosas em paz, conjuntamente com os jovens jesuítas que tinham chegado da Europa e que foram ordenados pela Província Japonesa.

Um dos missionários que se opôs ao envio dos jovens jesuítas para Roma foi o antigo Mestre de Noviços, Pedro Ramón, o qual, na sua famosa carta datada de 1587, escrita de Iquitsuqui, ainda sob a influência do choque da perseguição, criticava fortemente todas as ideias de Valignano e, em particular, a Legação. Nessa carta, Ramón apresentava ao Padre Geral, Cláudio Acquaviva, um plano utópico destinado a manter as instituições educativas no Japão, apesar da perseguição. O plano consistia em instalar todas essas instituições num castelo. Mas até o próprio Ramón admitia na época que o problema não era edificar o castelo, mas sim mantê-lo. Então, quando Valignano renunciou ao projecto de enviar pessoas para Roma, Pedro Ramón elogiou com estas palavras que reflectem a sua animosidade contra Valignano: "Parece que Deus lhe concedeu a luz que ele não possuía de modo algum."12 Quanto à questão de enviar irmãos para Macau, não temos a opinião de Ramón, mas desta vez Valignano estava certo. Não existia melhor lugar do que Macau naquela época, e o facto de se encontrarem juntos japoneses e estrangeiros numa mesma comunidade constituía um grande passo para a edificação da Província Japonesa.

A execução do projecto teve início após Valignano ter regressado a Macau em 1593; do grupo inicial possuímos os nomes de dois homens extraordinários: o bem-aventurado Sebastião Quimura, neto do samurai que concedeu abrigo a S. Francisco Xavier em Hirado em 1550, e Luís Niabara. Uma vez regressados ao Japão, foram ordenados padres por Monsenhor Luís Cerqueira na nova Igreja de Nossa Senhora da Assunção em 1601. Quimura faleceu martirizado em 1622, e Niabara, um missionário heróico cujas actividades apostólicas ultrapassaram até as do bem-aventurado Quimura, pereceu num naufrágio ao tentar reentrar no Japão em 1615.

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: nicho central superior (4.a fileira) onde se encontra a estátua em bronze a representar Jesus, ladeado pelos instrumentos da Paixão e encimado pelo tímpano cuja figura principal, a pomba, representa o Espírito Santo, e que, por sua vez, é ladeada pelo Sol, Lua e estrelas. Xie Ronghan: fotografia, 1991.

No Outono de 1601, depois de ter assistido à ordenação de Quimura e de Niabara, um outro grupo foi para Macau. Entre eles encontravam-se Mâncio Ito e Julião Nacaúra, dois dos enviados. Passaram três anos em S. Paulo a estudar teologia; com eles estavam também outros japoneses, como Martim Xiquime e Mâncio Hirabaiaxi, e, entre os seus companheiros europeus, podemos contar os nomes de João Adami, João Baptista Zola, Bento Fernandes, João da Costa, Cristóvão Ferreira. São todos estes homens que, durante os primeiros vinte anos da perseguição do Xógum Tocugava, irão carregar o fardo do trabalho no Japão, e a maioria deles acabará por sucumbir como mártires.

A atestar como exemplo da amizade forjada durante aqueles anos em Macau, possuímos a história da morte do P.e Bento Fernandes e do P.e Paulo Saito. Ambos foram submetidos à tortura do "fosso", na colina de Nixizaca; mas os torcionários foram demasiado longe com o P.e Saito, e, decorridas algumas horas, foi removido quase moribundo e colocado numa cabana nas proximidades. As horas passavam e Saito não sucumbia; exaustos com a espera, os torcionários perguntavam-lhe impacientemente: "Quando é que morres?" O P.e Saito respondia-lhes: "Estou a aguardar pelo meu companheiro." Quando, dois dias mais tarde, o P.e Bento morreu no "fosso", os favoritos deslocaram-se à cabana onde Saito jazia e descobriram que ele tinha morrido momentos antes. O facto é testemunhado no Processo conduzido em Macau em 1634. O seu falecimento deu-se a 2 de Outubro de 1633.13

Mas regressemos a S. Paulo. Quando Nacaúra e os seus companheiros chegaram a Macau, descobriram que a igreja que conheceram tão bem fora completamente destruída por um incêndio em Novembro do ano anterior. Contudo o projecto de reconstrução estava já em curso sob a direcção de um jovem missionário italiano, Carlos Spinola, que havia chegado uns meses antes do incêndio na sua viagem a caminho do Japão. O Reitor de S. Paulo, P.e Manuel Dias, solicitou a Spinola, um óptimo matemático, que concebesse o plano para a nova igreja, e, em 1601, o Vice-provincial nomeou Spinola Procurador da Província Japonesa em Macau, a fim de ele poder completar a sua obra. Spinola não chegou a ver o seu projecto concretizado. Em Julho de 1602 alcançou o seu destino no Japão. Mas Ito, Nacaúra e os seus três companheiros assistiram à inauguração solene da nova igreja em vésperas do Natal do ano de 1603.

Valignano esteve igualmente presente, aquando do retorno da sua terceira e última visita ao Japão. A partir de então, o ancião iria consagrar a sua atenção maioritariamente à missão da China, e viria a falecer no Colégio de S. Paulo a 20 de Janeiro de 1606. Todavia não se esqueceu da sua ideia mais acalentada, a formação dos jesuítas japoneses, e apenas três dias antes do seu falecimento, no meio de grande sofrimento, ditou um documento que pode ser considerado como o seu testamento. Nele encontramos explanado o seu pensamento e o seu desejo relativamente ao projecto de enviar os irmãos japoneses para S. Paulo:

"Considerei sempre ser um assunto muito importante que o maior número possível de irmãos escolásticos japoneses pudesse ser enviado para este Colégio, de forma a progredirem nas ciências e na senda da virtude, e para que, ao mesmo tempo, convivessem, de alguma forma, com os escolásticos provenientes da Europa; e, graças à Misericórdia de Nosso Senhor, até agora tudo decorreu bem. Por conseguinte, solicito ao Padre Provincial o envio, tão cedo quanto seja possível, do maior número de escolásticos japoneses para este Colégio; eles deverão permanecer aqui quatro a cinco anos a fim de se instruírem sobre a virtude e as ciências; ainda que alguns dos nossos Padres ou Irmãos ponham objecções, este projecto deve prosseguir." 14

Valignano foi ele próprio até ao último momento, e o seu projecto continuou até à perseguição de 1614.

3. EXILADOS DO JAPÃO

Em Janeiro de 1614, a promulgação do decreto de Tocugava Ieiasu imprimiu uma nova feição às relações de S. Paulo com a Igreja do Japão. Em Novembro deste ano, o navio de João Serrão da Cunha chegou a Macau com sessenta e dois jesuítas; entre os exilados encontravam-se Martim Hara e Constantino Dourado, e um grupo dos "irmãos pintores", formado na oficina do P.e João Cola (Nicolau). No mesmo navio, na companhia dos missionários, seguia um bom grupo de dojuku **.

Muitos daqueles jesuítas tentaram e conseguiram reentrar no Japão, para aí trabalharem como missionários na clandestinidade; mas aqueles que padeciam de problemas de saúde ou de velhice, e ainda aqueles que pelas suas posições eram bem conhecidos pelas autoridades de Nagasáqui, permaneceram o resto das suas vidas em Macau. Um deles era Martim Hara; tinha bons conhecimentos de português e não teve nenhum problema em adaptar-se à vida em S. Paulo. O seu nome então era Martim do Campo, e, como em Nagasáqui, colaborou com o seu bom amigo João Rodrigues Tçuzzu, o qual, por razões diferentes, fora expulso de Nagasáqui alguns anos antes.15 Constantino Dourado viu cumprido o seu sonho de se tornar padre, e foi nomeado Reitor do Seminário de Macau, uma posição que manteve até à sua morte em 1620. O grupo de "irmãos pintores", com o seu Mestre Nicolau, tinha as mãos ocupadas com a decoração da Igreja de Nossa Senhora da Assunção. Desde 1603 que o irmão Jacob Niva vinha desempenhando aquelas funções. Era um sinal de gratidão por parte dos jesuítas japoneses em relação ao Colégio de S. Paulo.

GIRÃO, João Francisco, [Carta Ânua Escrita pelo Padre Jesuíta João Rodrigues Girão Acerca do Japão...]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Manuscrito. O Japão Visto pelos Portugueses, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1993, il. 16.

A história do grupo de exilados dojuku reveste-se de especial interesse para nós. Eles formavam uma pequena comunidade dentro da própria comunidade em S. Paulo. Não sabiam falar bem português, e não desempenhavam nenhum trabalho especial em Macau, à parte prosseguirem os seus estudos. Mais de um missionário veterano criticou a atitude do Vice-provincial Valentim de Carvalho, o qual trouxera tantos dojuku do Japão, muitos deles "perfeitos catequistas", segundo as palavras do P.e Mateus de Couros. Um irmão japonês, Nicolau Fucunaga de seu nome, era o responsável pelo grupo, e teve de sofrer imenso devido ao carácter duro de Carvalho, que afirmava que os dojuku já não eram mais necessários e que nunca seriam admitidos na Companhia. Esta situação criou uma pequena revolução entre os dojuku e os irmãos japoneses; alguns deles regressaram ao Japão, outros viajaram para Manila e aí se tornaram membros de outras ordens religiosas; por fim, alguns deles foram para Roma a fim de cumprirem a sua vocação na Companhia de Jesus.

Se acompanharmos a via seguida por aqueles dojuku, poderemos compreender o grande erro que Carvalho cometeu. Entre aqueles que foram para Nagasáqui, encontravam-se os cinco que se tinham tornado eremitas no monte Himi, e dali ajudaram os cristões perseguidos até eles próprios terem sido feito prisioneiros no cárcere de Suzuta (Omura). Nesse local, o P.e Carlos Spinola trabalhou investido das funções de Mestre dos Noviços durante mais de dois anos, recebendo-os na Companhia, com permissão do Vice-provincial. Todos eles morreram como mártires no Grande Martírio de 10 de Setembro de 1622. Spinola e os cinco dojuku eremitas são actualmente considerados os "Abençoados da Companhia de Jesus". Entre aqueles que entraram para outras ordens temos S. Vicente Xiozuca, S. Tomás Nixi, e o extraordinário Tomás de Santo Agostinho Quintsuba. Os que foram para Roma são Pedro Quibe Casui, Miguel Minões e Mâncio Conixi. Os seus nomes pertencem agora à Igreja Universal, mas estão profundamente associados ao Colégio de S. Paulo. Lá viveram, sofreram e decidiram a via das suas vocações.16

Para os jesuítas que regressaram ao Japão, S. Paulo foi ao mesmo tempo um refúgio e uma base de lançamento para o sacrifício. Quando o grupo de dojuku dispersou, o irmão Nicolau Fucunaga também regressou ao Japão. Nascido no seio de uma família de samurais em Nagavara, nas margens do lago Biva, passou os últimos anos nas povoações das redondezas da baía de Omura. Os catálogos jesuítas afirmam apenas uma coisa sobre ele: "Ele prega", "ele prega muito bem em japonês". O último aditamento é o seguinte: "Morreu, porque ele pregava a doutrina de Cristo." No dia 29 de Julho de 1633, foi submetido à tortura do "fosso" nos campos de execução de Nixizaca. Foi o primeiro missionário a sofrer esta tortura. Durante três dias permaneceu naquele local pendurado de cabeça para baixo num fosso estreito. O Processo que abriu em Macau em 1634, após dar conta desses pormenores, conclui com estas palavras: "Faleceu a 31 de Julho, dia da Festa de Santo Inácio de Loiola, durante a Missa Solene." Essa Missa Solene era, certamente, a que foi celebrada na Igreja do Colégio de S. Paulo.17

A maioria dos missionários que não podia regressar ao Japão morreu em Macau. Alguns deles fizeram um bom trabalho, como por exemplo P.e Pedro Morejón, o qual durante muitos anos foi Reitor de S. Paulo e, como Promotor da Beatificação dos Mártires, fez um trabalho notável. Nesses anos, a Igreja de Nossa Senhora tornou-se uma espécie de panteão dos jesuítas do Japão. Quando a Igreja foi inaugurada em 1603, os ossos dos jesuítas que morreram em Macau antes daquela data, a começar pelo Bispo Melchior Carneiro, foram transladados para a igreja; entre eles estavam os ossos do irmão Jorge de Loiola. Naquele ano, o primeiro jesuíta a ser sepultado foi um jovem irmão japonês chamado Agostinho.

Ler a lista dos jesuítas do Japão que jazem em S. Paulo é como fazer uma revisão romântica da história da Igreja japonesa daquela época. Não pretendo apresentar o catálogo completo nesta ocasião, mas apenas recordar alguns dos jesuítas mais representativos.18

P.e Alexandre Valignano é o primeiro da lista. Foi sepultado no presbitério do altar principal, em direcção ao lado do Evangelho, e, um pouco abaixo dos três bispos, jaz o bom Bispo Carneiro, humilde e cheio de amor pelos pobres, que ordenou Luís de Almeida, um dos grandes missionários do Japão, para o sacerdócio. E, igualmente ali se encontra o Bispo Luís Cerqueira, o único bispo a quem foi concedido tempo suficiente para viver na sua diocese do Japão e que fez trabalho pastoral. Finalmente, o bispo Diogo Valente, que nunca viu as margens do Japão, mas delegou o trabalho nos seus vigários.

P.e Pedro de la Cruz, o teólogo da Missão do Japão, veio a falecer em S. Paulo no mesmo ano de Valignano. Junto deles encontrava-se um outro italiano, P.e Francisco Pasio, Provincial e mais tarde Visitante da Província do Japão, exilado mesmo antes do édito geral. Depois de 1614, surgiu Constantino Dourado, companheiro dos enviados, impressor, Prefeito do Seminário Arima e Reitor do Seminário de Macau. Pedro Chicuam ( 1622), cuja história conhecemos desde o dia em que foi baptizado em criança pelo P.e Cosme de Torres em Cuxinotsu, em 1567. Como irmão jesuíta, trabalhou no Colégio de Amacuça, onde aprendeu a arte de tipógrafo e foi uma das principais figuras da imprensa jesuíta. Um ano mais tarde, em 1623, Pe Afonso de Lucena encontrou o descanso final. Durante mais de vinte anos foi Superior e pároco em Omura, um bom amigo do Dáimio Bartolomeu Omura Sumitada e da sua família. Enquanto esteve em Macau escreveu as suas Memórias, um tesouro escondido de notas sobre a Igreja de Omura.

Em 1626, o grande artista da Igreja do Japão, P.e João Cola (Nicolau), morreu. Chegou a Macau vindo de Goa, ao mesmo tempo que o P.e Valignano e os enviados tinham partido para a sua viagem para Roma. No Japão desde 1583, primeiro em Arima, depois em Amacuça, e de um modo especial no Colégio de Nagasáqui, as suas obras artísticas percorrem toda a gama, desde pequenas incrustações em cobre utilizadas para imprimir figuras sagradas, a pinturas enormes a óleo ou biombos japoneses, instrumentos musicais, órgãos de sopro feitos em bambu, relógios de torre, pedras tumulares. Em 1992 e 1993, trabalhadores descobriram as ruínas do grande incêndio de 1601. E em cada casa depararam com telhas com a cruz floral típica das pinturas de Nicolau. E, mais importante do que qualquer outra coisa, formou o primeiro grupo de pintores que combinou a inspiração japonesa com as novas técnicas europeias. A Igreja de Nossa Senhora da Assunção era um testemunho dessa arte. Nicolau foi sepultado em frente ao altar de S. Miguel. Será a pintura a óleo de S. Miguel, que se conservou até aos nossos dias, obra de algum deles? Quem foi o artista japonês que executou a esplêndida pintura a óleo representando o Martírio de 1622, que se encontra actualmente na Igreja de Jesus de Roma?

Mas a pintura representando todos os Mártires jesuítas até 1640 pertence a uma outra geração, iniciada com a figura de Niva, o último dos discípulos conhecidos de Nicolau, falecido em 1638.

No ano de 1627, o primeiro Mestre de Noviços do Japão, Celso Confaloniero, morreu. Movido por preconceitos, opusera-se à ordenação dos jesuítas japoneses, e exerceu uma forte influência nas decisões de Valignano. Dois anos mais tarde, Martim Hara faleceu também em Macau e foi sepultado na Capela das Onze Mil Virgens, ao lado do arco que conduz ao Presbitério. Em 1633, João Rodrigues Tçuzzu terminou a sua vida longa e frutuosa: ocupa só por si um capítulo especial na tal história de S. Paulo e de Nagasáqui. Existem muitos outros, mas vou dar por concluída a lista com o nome de Pedro Morejón, que faleceu no dia 11 de Dezembro de 1639 e foi sepultado no Presbitério, perto do túmulo do Visitante Palmeiro. De 1600 a 1614, Morejón foi a figura proeminente da Igreja de Quioto, um digno sucessor de Fróis e Organtino. Na época do exílio, foi considerado o mais experiente em coisas relacionadas com a Igreja do Japão entre os missionários estrangeiros. A partir de 1614 e até à sua morte, à excepção das suas viagens à volta do mundo, permaneceu em Macau, onde trabalhou para a Igreja do Japão e para os seus Mártires.

Durante aqueles anos Macau foi não só um refúgio para os missionários exilados e fiéis, mas também, ao mesmo tempo, um símbolo e uma esperança para os homens heróicos que estavam a trabalhar e a morrer no Japão. Algumas vezes chegava a ser uma tentação; como no caso do P.e Bento Fernandes.

Bento foi um dos missionários que melhor se adaptou à maneira japonesa de viver. Este filho de Borba, no Alentejo, de altura média e de compleição escura, era facilmente confundido por um japonês. Era um trabalhador incansável, não tinha receio da sua vida clandestina, mas experimentou igualmente os sofrimentos de uma noite escura do espírito. Foi afastado do seu bem-amado Japão central e chamado a Nagasáqui de uma forma que ele considerou injusta; considerou que os seus Superiores não tinham confiança nele, e, num momento de desânimo, escreveu ao seu confidente, P.e Nuno Mascarenhas, Assistente de Portugal junto do Padre Geral: "Escrevo ao Visitante de Macau a pedir-lhe que me conceda permissão, sem ser por caridade, para pensar na minha salvação, porque já estou cansado do Japão..."19

A carta é datada de 4 de Março de 1622. Bento Fernandes, como é óbvio, não regressou a Macau, mas permaneceu na sua missão por mais onze anos, até à sua morte gloriosa na colina dos Mártires de Nagasáqui em 1633.

4. RELÍQUIAS DOS MÁRTIRES JAPONESES NO COLÉGIO DE SÃO PAULO

Naquela época, o Colégio de S. Paulo tomou-se para a Igreja do Japão o que o Colégio de Douai representou para a Igreja de Inglaterra. Uma câmara ardente de apóstolos e de mártires. De tempos a tempos, as relíquias daqueles filhos sacrificados no Japão vinham para Macau, onde foram preservadas como um tesouro.

No Museu dos Mártires de Nagasáqui existe um documento escrito pelo P.e Pedro Morejón, e autenticado com o selo do Reitor do Colégio de S. Paulo. A data do documento é de 5 de Outubro de 1630 e confirma o reconhecimento de algumas das relíquias dos três jesuítas santos, Paulo Mique, João de Goto e Jaime Quisai, que Morejón estava a enviar para as Filipinas. No final do referido documento, P.e João de Bueras, Provincial em Manila, acusa a recepção da chegada das relíquias a 3 de Julho de 1632.

Os ossos dos três Santos foram transportados para Macau provavelmente a bordo do navio "S. António" de Rui Mendes de Figueiredo, navio esse que podemos ver representado em quase todas as pinturas do martírio dos 26 Santos, ancorado no centro do porto de Nagasáqui. O "S. António" regressou a Macau no Outono de 1597, e, entre os passageiros, encontravam-se o Bispo do Japão, Pedro Martins, e alguns dos franciscanos expulsos do Japão. Por ocasião da beatificação dos 26 mártires (1627), as relíquias foram enviadas de Macau para Roma, Lisboa e Manila. Mas a parte principal permaneceu na Igreja de S. Paulo. Em 1614, quando os jesuítas exilados chegaram a Macau, trouxeram também um outro tesouro no navio de Serrão Cunha: as relíquias de outros mártires mortos em várias partes do Japão até essa data. Aqueles mártires não eram jesuítas, mas filhos da Igreja japonesa que tinham testemunhado com o seu sangue derramado a fé recebida, sendo a maioria deles missionários de Macau. Como a Igreja de Arima perdurou até 1612, e a de Nagasáqui até 1614, as relíquias dos mártires que pereceram em outras regiões foram depositadas em Arima e Nagasáqui, e foi construída uma pequena capela no jardim da casa de "Todos os Santos" onde todas as relíquias foram depositadas a partir de 1612. Em pouco tempo, esta capela tornou-se num centro de peregrinação. De lá, os missionários levaram as relíquias para Macau, onde foram colocadas, conjuntamente com outras relíquias, numa tribuna na Capela das Onze Mil Virgens.

Eram os mártires de Bungo, o velho catequista Joram (1587); de Iatsuxiro (1603 e 1609); de Hagi e Iamaguchi (1605); Gaspar Sama e a sua família, de Iquitsuqui, Hirado (1609); e muitos mártires de Arima (1612-1613).

Anos mais tarde, outras relíquias, embora não numerosas, chegaram e foram guardadas em conjunto: as do mártir de Hiroxima, Francisco Toiama; do mercador português Domingos Jorge; do mártir de Cocura, Diogo Cagaiama Haiato. Em 1742, todas essas relíquias foram catalogadas pelo P.e José Montanha, S. J., e, em 1806, o Bispo de Macau, D. Francisco de Nossa Senhora da Luz Chacim autenticou-as. O que foi posto a salvo do fogo que destruiu S. Paulo em 1835, foi levado para vários locais até à actual localização na Igreja de S. Francisco Xavier, de Coloane***.

Há três anos atrás, desloquei-me de Nagasáqui a Macau na companhia do Professor Tacaiuque Matsuxita da Universidade de Nagasáqui, a fim de identificar essas relíquias o mais cedo possível. A lista das relíquias escrita pelo Bispo Francisco Chacim, os documentos relacionados com a perseguição no Japão, muitos deles escritos sob a autoridade do Bispo Cerqueira, e as datas facilitadas pela ciência médica, ajudaram-nos a identificar alguns dos ossos da cabeça. Para mim, as horas passadas lá em Coloane em estreito contacto com aqueles heróis da Igreja japonesa constituíram uma experiência rica. Pude imaginar a irmã e o irmão Madalena e Diogo Haiaxida seguindo à minha frente para o local de execução perto do rio Arima, e escutar a voz da mãe deles, Marta Haiaxida, a exortá-los: "Meus filhos, fitai agora os vossos olhos no céu." E senti uma gratidão profunda em relação a Macau, que tinha conservado com amor aquele tesouro até aos nossos dias.

Mas nada resta da maioria dos mártires. Quando a violência da perseguição aumentou, os corpos dos mártires eram reduzidos a cinzas, e estas, por sua vez, eram lançadas ao mar. Foi o que aconteceu ao P.e Julião Nacaúra, o último dos enviados; a baía de Nagasáqui é o seu belo túmulo.

Houve algo, contudo, que os perseguidores não puderam impedir. Enquanto o comércio Macau-Nagasáqui se manteve vivo, nomeadamente até 1639, todos os anos os galeões portugueses traziam para Macau as notícias sobre os mártires daquele ano. Quando os mártires eram pessoas conhecidas na cidade, Macau celebrava as tristes novas com cerimónias solenes. Os sinos repicavam e, algumas vezes, como quando as notícias sobre o martírio do P.e Sebastião Vieira chegaram à cidade, até corridas de touros se realizaram.20

Uma nova actividade, promovida pelo P.e Morejón, teve início por essa altura, e, mais tarde, por António Cardim: o processo da Igreja para a beatificação de alguns daqueles mártires. Temos, por exemplo, na Academia Real da História de Madrid, o Processo dos Mártires dos anos de 1633 e de 1634. Este processo é muito importante, não só em relação aos outros mártires, mas também porque apresenta muitos aspectos interessantes sobre os últimos anos das relações entre Macau e Nagasáqui.

6 Jan.1638.

Certidão do Padre Jesuíta Manuel Dias (1560-1639), Visitador da Província do Japão, de que havia dado a D. Gonçalo da Silveira um osso do mártir Reverendo Padre Frei Pedro de Zuniga da Ordem de Santo Agostinho, morto no Japão.

Biblioteca Nacional de Lisboa, Manuscrito.

Macau: As Ruínas de S. Paulo: Um Monumento para o Futuro, Macau, Instituto Cultural, [ 1994], p. 135.

Em Nagasáqui, quando o Xógum Tocugava Iemitsu ordenou que se fizesse um aterro no mar para fazer a ilha de Dejima (cerca de 1634), a vida dos portugueses em Nagasáqui foi-se tomando difícil. Todos os portugueses que habitavam em Nagasáqui foram obrigados a ir para um único distrito e, à noite, os portões da rua eram encerrados. A partir de então, começou o êxodo de muitos portugueses em direcção a Macau. Em Novembro de 1633 e em 1634, nos galeões de Lopo Sarmento de Carvalho, chegaram aí muitos jovens portugueses nascidos em Nagasáqui, ou que aí tinham passado muitos anos. Falavam fluentemente japonês e tinham presenciado com os seus próprios olhos a tortura e a morte dos mártires. Testemunharam no processo e as suas palavras conservaram-nos os últimos momentos dos mártires. Graças aos processos, alguns dos mártires já foram canonizados, e, quanto a outros, esperamos que também o venham a ser num futuro próximo.

5. A CONFRARIA DA MISERICÓRDIA EM NAGASÁQUI

Na lista das relíquias veneradas na igreja de Coloane, encontra-se o nome de Jacob Conixi Chujiro, o samurai exilado em 1627 e sepultado na Igreja de S. Paulo, embrulhado no hábito da Misericórdia. Este hábito é um símbolo do espírito que uniu fraternalmente os habitantes de Nagasáqui aos de Macau, e exerceu uma influência duradoira no forjar da "Cultura de Nagasáqui".

A Misericórdia de Macau foi fundada pelo Bispo Melchior Carneiro, S. J., em 1569. A confraria da Misericórdia foi introduzida no Japão pelo grande missionário Luís de Almeida. Este mercador e cirurgião até aos seus 30 anos, depois irmão jesuíta durante muitos anos, e, finalmente, como padre, nos seus últimos anos, iniciou na cidade de Funai, hoje Oita, um pequeno hospital em 1557. Este hospital foi organizado de acordo com as regras da Misericórdia. O povo japonês reconheceu esta contribuição de Luís de Almeida, e, actualmente, um dos melhores hospitais na cidade de Oita ostenta o nome de "Hospital Luís de Almeida".

A partir de Funai, a Misericórdia alargou-se à cidade de Sacai, onde o abastado mercador Diogo Hibia Rioquei ajudou a financiar outro pequeno hospital. E foi um cidadão de Sacai, Justino Casaria, quem se mudou com a família para cidade de Nagasáqui, então recentemente fundada e, em 1583, deu aí início à Confraria da Misericórdia. É uma bela história, relacionada com os primeiros cinquenta anos da existência de Nagasáqui. Os cidadãos de Nagasáqui e os portugueses de Macau colaboraram no trabalho da Confraria. Os jesuítas do Colégio de Nagasáqui eram os capelães. As regras eram as mesmas que as existentes em Macau, e os membros de Nagasáqui encomendavam os seus hábitos a Macau. A casa central ficava na rua chamada Cozem, e os degraus de pedra que ligavam aquele lugar ao rio Nacaxima eram designados por "escadas da Misericórdia" (misericordia saka). Um pequeno monumento comemora hoje em dia o local e a sua história.21

Em 1591, o Capitão-mor Roque de Melo construiu a expensas suas um hospital para leprosos, "S. Lázaro Bioim", nos arredores de Nagasáqui, em Uvamachi, e confiou-o à Misericórdia, que o administrou até 1614. Naquele ano, S. Lázaro foi destruído e, em seu lugar, foi erguido um templo budista, o Honrenji. Quando todas as igrejas e instituições cristãs foram destruídas pelo Governador Hasegava Sahioe, apenas a casa central da Misericórdia e a sua igreja se mantiveram, acabando por serem destruídas em 1619. Mas, mesmo após aquela data, a obra da Misericórdia prosseguiu.

Antes da perseguição geral, a Misericórdia encontrava-se já firmemente estabelecida em Quioto e em Arima. Da Misericórdia de Quioto possuímos um documento importante com o selo da Confraria contendo os nomes de um bom número de seus membros (1617). Um deles, João Haximoto Tahioe, morreu como mártir, queimado vivo em Quioto, com a sua mulher Tecla e cinco crianças no dia 6 de Outubro de 1619.

Na cidade de Arima (hoje cidade Quita Arima), a Misericórdia possuía uma pequena igreja na parte sul da cidade, nas proximidades do local onde a estrada principal atravessa o rio Arima. Este facto encontra-se muito bem documentado na relação do funeral do P.e Gaspar Coelho em 1590. Coelho faleceu em Cazusa, mas o seu corpo foi transportado para Arima para ser enterrado junto da igreja do colégio que aí se localiza, no sopé do Hinoejo, o castelo da família Arima. Eles trouxeram o corpo de Cuchinotsu e depuseram-no durante uma noite na igreja da Misericórdia, donde, no dia seguinte, uma procissão solene saiu para a igreja do colégio. Muitos membros da Confraria de Nagasáqui assistiram à cerimónia; todos eles se encontravam trajados com o hábito, e alguns deles tonsuraram-se a eles próprios de acordo com o costume japonês a fim de demonstrarem o seu desgosto.22

Mas, provavelmente, a mais bela página daquela história foi escrita pelo "Provisor" da Misericórdia de Nagasáqui, Miguel Cusuria. Miguel encontrava-se a viver na Rua Cozem, e, em 1618, aparecia já nas páginas da história de Nagasáqui, quando foi visitar o irmão Leonardo Quimura, o qual se encontrava aprisionado nas masmorras da Rua da Cruz. O local está hoje ocupado por um dos edifícios da Câmara Municipal. Numa carta escrita na prisão, o irmão Leonardo exprime a sua gratidão pelo facto de Miguel Cusuria ter ido visitá-lo, levando-lhe roupas e outras dádivas.23

A partir desse dia, Miguel tornou-se o "Bom Samaritano" de Nagasáqui, arriscando a sua vida todos os dias para acorrer aos necessitados, até à sua morte a 28 de Julho de 1633. Decorria o quinto aniversário da fundação da Misericórdia de Nagasáqui. O seu propósito principal era recrutar almas entre os mercadores japoneses e portugueses, e, com esse dinheiro, ajudar as crianças e as viúvas dos mártires e outras pessoas pobres.

Isto foi o que ficou escrito na sentença que o condenou à morte, anunciada à sua frente enquanto era levado da prisão para a colina Nixizaca. Miguel subiu os degraus de pedra da velha estrada a entoar o salmo: "Todas as Pessoas Louvam o Senhor", e morreu queimado.

Todos estes pormenores são extractos dos depoimentos dos seus amigos portugueses, que serviram de testemunhas no processo de Macau e que o tinham ajudado em vida através de contribuições.24

FRANCISCO XAVIER, São, [Carta de S. Francisco Xavier para os Padres Mestre Gaspar, Baltasar Gago e Domingos Carvalho, da Companhia de Jesus na Índia, Ordenando-lhes que Viessem Procurá-lo em Miaco, Japão], Cangoxima, 5 Nov. 1549.

Biblioteca Nacional de Lisboa, Manuscrito.

O Japão Visto pelos Portugueses, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1993, il. 14.

A Igreja do Japão e a Igreja de Macau encontram-se unidas pela mesma tradição de amor pelo seu semelhante, de Monsenhor Carneiro a Miguel Cusuria, através do trabalho e das vidas de Luís de Almeida, Justino Casaria e Roque de Melo, com a ajuda dos missionários de S. Paulo de Macau e S. Paulo de Nagasáqui, e a colaboração dos homens da "Nau do Trato" e dos cidadãos. Foi perfeitamente adequado que os exilados de Nagasáqui fossem sepultados na Igreja de S. Paulo em Macau, trajados com o hábito da Misericórdia.

Comunicação apresentada no Simpósio Internacional "Religião e Cultura", comemorativo do IV Centenário da Fundação do Colégio Universitário de S. Paulo, realizado pelo Instituto Cultural de Macau, Divisão de Estudos, Investigação e Publicações, entre 28 de Novembro e 1 de Dezembro de 1994, em Macau.

Tradução do original inglês por Isabel Morais; revisão de Pedro Catalão; revisão final de Júlio Nogueira.

NOTAS

1 MOREJÓN, Pedro, "Relación de los Mártires de Japón, del Año de 1627", Mexico, 1631, in ARCHIVUM ROMANUM SOCIETATIS IESU [ARSI], Jap. Sin., cód. 63, f.o 249v.

2 Apenas alguns títulos: BOSCARO, Adriana, Sixteen Century European Printed Books on the First Japanese Mission to Europe, Leiden, 1973; CAMERA DI COMMERCIO DI MILANO, Anno 1585, Milano Incontra il Giappone, Milano, 1990; YUUKI, Diego, Shin Shiryo, Tensho Shonen Shisetu, Tokyo, 1990; YUUKI, Diego, Tensho Shonen Shisetu, Shiryo to Kenkyu, Nagasaki, 1992.

3 MEXIA, Lorenço, "Carta", Macau, 22 de Novembro de 1558, in ARSI, ob. cit., cód. 11, fasc. 1, f.o 18. Este códice 11 de Jap. Sin. constitui uma fonte rica para a história do Colégio de S. Paulo.

4 Id., "Carta", Macau, 8 de Junho de 1589, ob. cit., f.o 73.

5 Id., "Carta", Macau, 8 de Outubro de 1589, ob. cit., fasc. 2, f.o 181.

6 YUUKI, Diego, ob. cit., 1992, pp. 106-11.

7 MEXIA, Lorenço, "Carta", Macau, 8 de Janeiro de 1589, ob. cit., fasc. 1, f.o 46.

8 Id., "Carta", Macau, 8 de Outubro de 1589, ob. cit., fasc. 2, f.o 181.

9 CHIJIVA, Miguel, "Carta", Macau, 2 de Outubro de 1589, in ARSI, ob. cit., cód. 11, fasc. 2, f.o 173.

10 PINTO, Abranches, YOSHIMOTO, Okamoto, BERNARD, Henri, Luís Fróis: La Première Ambassade du Japon en Europe, 1582-1585, Sophia, Sophia University, 1942.

11 ITO, Mâncio, "Carta", Amacuça, 14 de Março de 1592, in ARSI, ob. cit., cód. 11, fasc. 2, f.o 290-290v.

12 RAMÓN, Pedro, "Carta", Iquitsuqui, 14 de Abril de 1592, in ARSI, ob. cit., cód. 11, fasc. 2, f.os 322-323v. Cf. ALVAREZ-TALADRIZ, J. L., A Cada Cosa su Nombre, y a Dios El que le Corresponde, Osaka, Gaikokugo Daigaku, Gakuhoo, 1977; YUUKI, Diego, ob. cit., 1992, pp. 198... ss.

13 Madrid, Real Academia de la Historia, Jes. Leg., cód. 22, fasc. 5, f.os 366-385.

14 VALIGNANO, Alexandre, "Carta", in ARSI, ob. cit., cód. 11, fasc. 2a, f.os 229-30. Cf. YUUKI, Diego, Os Quatro Legados dos Dáimios de Quiuxu após Regressarem ao Japão, Macau, Instituto Cultural, 1990.

15 Sobre a colaboração de Martim Hara na composição da História de João Rodrigues Tçuzzu, cf. SCHÜTTE, Josef Franz, "'A História Inédita dos Bispos da Igreja do Japão' do P.eJoão Rodrigues Tçuzzu S. J.", in CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DOS DESCOBRIMENTOS, Actas, Lisboa, 1961, vol. 5, parte 1.

16 PACHECO, Diogo, Suzuta no Shujin [Cartas de Carlos Spinola da Prisão], Nagasaki, 1967.

17 "Memoria de los Sanctos Mártires, que Murieron en Nagasaki desde el Mes de Septiembre del Año de 1632 hasta 22 de Octubre de 1633", in ARSI, ob. cit., cód. 18, fasc. 2, f.os 220-221v.

18 "Dos Defuntos da Companhia que Estão Enterrados nesta Igreja", in ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO [A. H. U.], Lisboa, cód. 1659.

19 FERNANDES, Bento, "Carta", Nagasáqui, 4 de Março de 1642, in ARSI, ob. cit., cód. 35, f.os165-166.

20 NORONHA, Manuel da Câmara de, "Carta", Macau, 5 de Junho de 1635, in ARSI, ob. cit., cód. 29, fasc. 1, f.os 123-124; YUUKI, Diego, Dejima no Tanjo [O Nascimento de Dejima], "Nagasaki Danso", (70) 1985.

21 PACHECO, Diogo, Iglesias de Nagasaki durante el "Siglo Cristiano", "Boletin de la Asociación Española de Orientalistas", Madrid, 1977, pp. 60-62.

22 FRÓIS, Luís, História do Japão, edição de José Wicki, vol. 5, p. 218.

23 QUIMURA, Leonardo, "Carta", Nagasáqui, 25 de Outubro de 1619, in ARSI, ob. cit., cód. 34, fasc. 1, f.os 178-179v.

24 Madrid, Real Academia de la Historia, ob. cit., fasc. 4, f.os291,299v,317... ss.

* Licenciado em Teologia pela Universidade Javeriana, Bogotá, e director do Museu dos Vinte e Seis Mártires de Nagasáqui.

** Nota do Editor: ver o texto de Juan Ruiz-de-Medina, A Visão de Macau dos Católicos Coreanos: 1566-1784, p. 148, nota 5, para uma explicação pormenorizada do termo.

*** Nota do Editor: após 1994, data em que o texto foi escrito, as relíquias foram trasladadas, parte para o Museu das Ruínas de São Paulo, parte para o Museu dos Mártires de Nagasáqui.

desde a p. 123
até a p.