Arquitectura

HISTÓRIA DA ARQUITECTURA EM MACAU

Maria de Lourdes Rodrigues Costa *

HISTÓRIA

LIMITAÇÕES

Quando pretendemos referir factos históricos de remota data, é muitas vezes difícil garantir os pormenores, a sua exacta cronologia e os locais onde, na verdade, se desenrolaram. Os próprios historiadores coevos, quando existem, dão com frequência relatos diversificados, variando nomes e datas. Macau não foge à regra, como constatámos ao intentar compor uma retrospectiva sobre os primórdios da arquitectura e do urbanismo em Macau inseridos na sua História, e acompanhar o seu desenvolvimento ao longo dos séculos. Várias hipóteses se têm colocado aos actuais investigadores acerca do ano exacto da chegada dos portugueses à península e da origem do nome do Território. Porém, não nos preocuparemos neste livro com os factos puramente históricos, mas tão só com aqueles que influem, directa ou indirectamente, na arquitectura, nos seus diversos aspectos.

Com essa limitação vamos apenas esboçar, a traços largos, a História de Macau, remontandoà época dos Descobri-mentos, quando os por-tugueses expandiram o pequeno rectângulo lusitano pelos cinco continentes, dando a conhecer ao mundo medieval terras até então ignoradas.

O INÍCIO

De descobrimento em descobrimento, os nossos antepassados chegaram à índia, e daí foi um passo até ao Oriente Extremo, que desde há muito os atraía. Na primeira metade do século XVI marinheiros portugueses atingiram as costas da China, onde logo se instalaram alguns comerciantes. Em 1553, durante um dos habituais tufões da região, um barco português arribou a um pequeno porto de pescadores, a fim de secar em terra as suas mercadorias encharcadas devido a forte chuva. Ao perguntarem aos naturais do lugar qual o nome deste, foi-lhes respondido: "Ma Kok Miu", significando "Templo da Deusa A-Má", pois julgaram que a pergunta se referia ao belo templo já então ali existente. Deste equívoco derivará o nome de Macau, se atendidas não forem outras explicações possíveis.

Vista aérea do Lin Fong Miu, vendo-se os pátios.

Começou então uma permanência portuguesa de quatro séculos e meio no Território. A península era, nessa altura, bastante mais pequena do que nos nossos dias. O mar tocava ainda a base das colinas e o perfil das costas variava frequentemente, devido ao movimento das águas e consequentes erosões ou assoreamentos. Existiam apenas duas pequenas aldeias: a da Barra, cercando Ma Kok Miu e a de Mong Há, em redor do Kun Yam Ku Miu, além de um reduzido aglomerado junto às hortas do Patane e à pequena ribeira do mesmo nome que desaguava no Porto Interior. As populações ribeirinhas viviam nos seus barcos, no rio ou varados na praia.

O modo de vida dos primeiros residentes foi, decerto, bastante rudimentar. As suas edificações mais não seriam que cabanas construídas de juncos. Supomos que teriam uma estrutura ligeira de bambu (material ainda presentemente muito utilizado para as mais diversas finalidades) e seriam cobertas de palha, facilmente renovada quando necessário.

Sentindo-se estabilizados e a progredir no seu comércio, os portugueses em breve iniciaram a substituição de materiais tão primitivos por elementos um pouco mais resistentes -- paredes de madeira, coberturas de telha trazidas pelos próprios comerciantes nativos com quem tratavam. Mas o carácter precário mantinha-se, pois não podiam deixar de estar presentes na memória de todos os insucessos de Liampó e Chincheu, destruídos pelos naturais da terra, de onde apenas um meio milhar de europeus logrou salvar-se.

Acompanhando a história da China e, evidentemente, os reflexos da história mundial, a história da própria península foi evoluindo. Entre 1555 e 1557, a pedido dos mandarins da região, e, também, no seu próprio interesse, os portugueses lutaram contra os piratas que infestavam as costas da China, matando e destruindo, dificultando as transacções comerciais. Pensa-se que em algumas batalhas navais terá participado Camões, que exerceria por essa altura em Macau as funções de "Provedor de Defuntos e Ausentes", testemunho da organização administrativa já então existente.

Obtida a vitória sobre os corsários, o imperador Kio Tsing autorizou a manutenção dos portugueses no Território onde se haviam estabelecido, com permissão para construírem os edifícios necessários ao seu modo de vida. Com a segurança que esta situação proporcionava, floresceu a pouco e pouco uma nova arquitectura: utilizou-se o tijolo e a telha e, em menos de duas décadas, o conjunto de cabanas desapareceu e formou-se uma povoação de apreciáveis dimensões, cercada por uma tranqueira (estacada de madeira, como meio de defesa), dispondo de uma rua central que servia quatro quarteirões irregulares, com alguns edifícios públicos.

A prosperidade de Macau atraiu a atenção de povos de outros países que percorriam os mares. Foram esboçadas várias tentativas de conquista, culminando no ataque dos holandeses em 1622, repelido pelos defensores da cidade. Imperioso se tornava construir fortificações, mesmo contrariando a vontade da China. A partir de 1607 Filipe II ordenou a construção de muralhas, tendo recomendado em 1614 que a fortificação da cidade fosse feita de forma a não indispor as autoridades chinesas. Estas temiam que as forças portuguesas se voltassem contra a China, apenas se rendendo à evidência da sua necessidade depois do referido ataque.

O DECLÍNIO

Após um período de esplendor e prosperidade, a que poderemos chamar a "idade de ouro" de Macau, adiante descrito no que à arquitectura se refere, a cidade entrou em declínio a partir dos fins do terceiro decénio do século xvII. Diversos factores contribuíram para essa situação, nomeadamente as más relações com a China, principalmente depois da entrada dos tártaros no pais, a perda do comércio com o Japão e Manila, os combates constantes com os piratas, as desavenças internas, as lutas em Timor (de Timor dependia, então, em grande parte, a economia de Macau, baseada no monopólio do sândalo, que vinha daquele território e era comercializado a partir de Macau; em 1688 um régulo local rebelou-se contra a autoridade portuguesa e a luta durou cerca de quinze anos, muito tendo contribuído para o empobrecimento de Macau em bens e em homens, devido à sua interferência nos acontecimentos).

Em 1684 estabeleceu-se na península a alfândega chinesa. Primeiro o Hopu Grande, na Praia Pequena, do lado do Porto Interior, seguidamente o Hopu Pequeno, subsidiário do anterior, localizado na Praia Grande, no Porto Exterior. Mais impostos se abateram assim sobre os exauridos moradores de Macau. Nos últimos anos do século xvII havia apenas 150 famílias portuguesas na cidade, contrastando com as 600 famílias do início do século.

Perante esta situação, a construção de novos edifícios parou, os prédios existentes degradaram-se e não puderam ser reparados por falta de meios. A cidade devia apresentar, então, um aspecto muito triste.

Não foi melhor o século xvIII. Com as tréguas entre Portugal e a Holanda, em 1701, voltou a paz às águas de Macau. Mas não à cidade, pois proliferavam as questões internas, entre leigos e religiosos, e, mesmo, dentro de cada um destes grupos. Para cúmulo, grandes tufões se abateram sobre a península, causando muitos estragos. As águas invadiam a cidade, ficando, por vezes, vastas zonas submersas, o que mais contribuía para a deterioração das construções.

As autoridades chinesas, que já tinham expulsado os missionários católicos e proibido a propagação da fé cristã no Império, aumentavam cada vez mais a pressão sobre a população macaense. Em 1749 foi proibida, entre outros itens, a construção de novas casas em Macau sem sua autorização, sendo apenas permitidas pequenas obras consideradas indispensáveis, bem como a edificação de alguns templos chineses.

O século XIX não teve, ainda, um bom início. Os ingleses insistiam em "prestar ajuda" a Macau, instalando-se na cidade. O comércio do ópio, a que a China tenazmente se opunha, era efectuado através de Macau por ingleses e americanos, dandoorigem a novos problemas. Os escravos africanos passavam a Porta do Cerco e praticavam desacatos do outro lado da fronteira, com péssimas repercussões. As autoridades chinesas continuavam a mandar no Território, embora prometendo restituir aos macaenses os seus antigos privilégios. Choviam editais dos mandarins proibindo tudo, desde a abertura de ruas ou a construção de um simples muro até à venda de utensílios de cobre a cristãos ou ao transporte destes em cadeirinhas ou palan-quins levados por chineses.

Entretanto, alguns incêndios agravaram ainda a degradação da cidade: o do convento de Santa Clara, um em S. Paulo em 1825, outro que destruiu alguns bairros chineses em 1834 e o grande incêndio que assolou de novo a igreja de S. Paulo, em 1835, reduzindo-a a uma fachada-memória, actual ex-libris da cidade.

Largo do Senado.

A REACÇÃO

O ressurgimento, contudo, aproximava-se, baseado em causas exteriores. A Companhia Inglesa das Índias Orientais, que detinha o florescente negócio do ópio, importado do território inglês de Bengala para uma feitoria próxima de Cantão, contava com a colaboração de comerciantes chineses apesar da proibição imperial. Mesmo depois de ter sido abolido o monopólio da Companhia, o comércio do ópio manteve-se, até que, em 1839, o vice-rei de Cantão confiscou a droga e expulsou os ingleses da região. Como se compreende, a Inglaterra não podia suportar semelhante afronta. Em 1840 ocupou Hong Kong e deu início à chamada "guerra do ópio". A China viu-se forçada a reconhecer a sua inferioridade técnica e, impotente perante o poderio militar moderno dos ocidentais, foi obrigada a assinar a "paz de Nanquim" em 1842, a ceder direitos e pagar indemnizações aos estrangeiros. Esta derrota da dinastia manchu reacendeu o orgulho nacional, originando o levantamento de Tai-Ping em 1850, só abafado catorze anos depois com o auxílio do antigo inimigo ocidental.

Na sequência do enfraquecimento chinês, vários países ocuparam diversas zonas da China, através de protectorados ou mesmo da conquista de territórios. E, evidentemente, a pressão exercida sobre Macau diminuiu. Portugal foi o único país com interesses na região que não se aproveitou da situação criada. Pelo contrário, para assegurar a manutenção da posse de Macau e definir os limites do Território, o Governo Português desistiu das suas pretensões às ilhas da Montanha, D. João e Lapa, confirmando, em contrapartida, a posse da península de Macau até à Porta do Cerco, da ilha Verde e das ilhas de Taipa e Coloane. Segundo um relatório do governador Pedro Azevedo Coutinho, de Junho de 1872, as águas territoriais da província de Macau seriam limitadas da forma seguinte: ao norte, tanto no porto interior como na Rada, pelo paralelo medio entre a Ilha Verde e Apo-Seac. A oeste a margem da Lapa até a sua ponta S. E., daí uma recta tirada para a ponta N. E.. de D. João, a seguir a costa desta ilha até encontrar no canal da Prata o meridiano que passa pela sua ponta N. E., depois esse meridiano até à costa de Von-cam, e daí a costa dessa ilha até ao paralelo médio da baía, formada pela costa S. de Coloane e Von-cam, paralelo que constituirá o limite S. A leste o limite das águas territoriais seria determinado em conformidade com os princípios do direito internacional. O terreno entre a Porta do Cerco e o Passaleão foi considerado neutro.

Para a nova era de prosperidade outros factores contribuíram ainda: a extinção do Hopu, em 1849, terminando assim o pagamento de impostos à China; a vinda de ricos comerciantes chineses da província de Kwangtung, que fugiam à rebelião havida naquela região da China, trazendo consigo os seus capitais e o seu potencial criativo para fomentar o comércio; e, também, a liberalização do jogo, o qual atraía pessoas de fora que nos casinos de Macau perdiam o seu dinheiro -- as receitas dos respectivos impostos proporcionaram meios que possibilitaram a efectivação de várias obras de interesse público.

Não se pode, finalmente, deixar de frisar que a fundação de Hong Kong teve, em relação a Macau, consequências positivas, embora se possa considerar menos agradável uma faceta de certa forma negativa -- Macau não voltou a deter os seus antigos privilégios e poderio. Hong Kong evoluiu rapidamente e concentrou todos os aspectos de desenvolvimento que podem tornar "grande" um território -- possui um excelente porto, um aeroporto, uma boa rede de transportes internos, indústria e comércio florescentes -- em detrimento de Macau que tem agora de contentar-se com um modesto segundo lugar. Mas sem desespero: as grandes obras iniciadas estão praticamente concluídas e em funcionamento, caso do novo Terminal Marítimo e Aéreo do Porto Exterior; do Aeroporto Internacional de Macau; da nova ponte de ligação às ilhas -- a Ponte da Amizade; da central de incineração na Taipa; da estação de tratamento de águas residuais (ETAR) em Macau; do porto de águas profundas em Ká-Hó (Coloane) e do novo porto de pesca, tudo isto sem esquecer o crescimento constante, em densidade e altura, da construção civil.

URBANIZAÇÃO

URBANIZAÇÃO ESPONTÂNEA

A urbanização, como organização do espaço habitável tendo como objectivo facilitar a convivência humana, constitui uma das principais estruturas socioeconómicas da Humanidade, variando com os padrões de civilização. A urbanização primitiva de Macau obedeceu aos padrões de duas civilizações que pela primeira vez se enfrentavam: a ocidental e a oriental. Uma e outra imprimiram a sua marca na feitura da cidade nova que, originada em três diminutas povoações distantes e isoladas, se organizou finalmente em espaço único e progressivo.

Os edifícios chineses, como veremos no capítulo seguinte, eram tradicionalmente cercados por uma paliçada, mais tarde por um muro alto, englobando a casa principal, as dependências e um espaço ao ar livre mais ou menos vasto. Justapondo-se irregularmente, deixavam entre si pequenos largos e estreitas ruelas angulosas, cujos vestígios romperam os séculos resistindo às urbanizações sequentes e perdurando ainda nos nossos dias. Por sua vez, os ocidentais, sozinhos numa terra estranha e não isenta de perigos, instalaram-se em torno das igrejas e conventos, situados sistematicamente no topo das pequenas colinas, criando núcleos inicialmente separados uns dos outros, adoptando o princípio chinês dos terrenos vedados de mistura com o sistema de casas, formando rua, levado das suas terras de origem. Pode calcular-se assim como seria caótica a urbanização da área ocupada pelos portugueses nos primeiros tempos.

Nas décadas iniciais do século xvII foram levantadas várias fortificações militares para defender Macau de atacantes de outras nacionalidades que pretendiam conquistá-la. A sua existência condicionou durante cerca de dois séculos a expansão urbanística, delimitada pelas resistentes muralhas de taipa que as interligavam, apenas perfuradas de longe a longe por portas de acesso aos terrenos exteriores.

Dentro desses limites, a cidade foi-se desen\-volvendo. Os espaços primitivamente deixados livres foram sendo progressivamente ocupados. Ruas sinuosas e inclinadas uniam entre si as várias zonas, havia grandes terreiros em frente dos edifícios principais, surgiu uma marginal ao longo da Praia Grande onde se situavam as residências mais imponentes. Aumentou o número dos núcleos residenciais chineses, que mantinham ainda a estrutura tradicional das aldeias da China. Entre a Igreja de S. Domingos e a Porta do Campo localizava-se o Grande Bazar, que pode considerar-se ter sido o primeiro centro comercial da cidade. Era constituído por variados postos de venda, ao ar livre ou com rudimentares coberturas de colmo inclinadas ou em forma de chapéu chinês. Os artigos poderiam estar dispostos no chão, em cestos, ou em toscas mesas portáteis. Por entre eles deambulavam animais que aguardavam pacificamente a sua vez de serem abatidos para venda. O jogo--já então e sempre, o jogo -- ocupava o seu lugar em vários pontos ao longo do espaço do Bazar.

Uma incipiente zona industrial, situada na Rua do Chunambeiro, contava já, em meados do século, com duas actividades fabris: uma fábrica de cal de ostra (chamada localmente "chunambo") e a famosa fundição de bronze de Manuel Tavares Bocarro, às quais mais tarde se viriam juntar outras indústrias.

Devido à situação de más condições financeiras que a cidade atravessou, durante a parte final do século xvII e todo o século xvIII a evolução foi praticamente nula, sendo retomada apenas a partir de 1840, pelas razões citadas no capítulo anterior. Ultrapassado o período difícil, recomeçou a expansão do território:

Teatro D. Pedro V.

O núcleo europeu intramuros, densamente ocupado, foi pouco a pouco extravazando e, quando grandes panos de muralha foram posteriormente demolidos, toda a península foi sendo gradualmente ocupada com novas áreas residenciais e respectivos serviços. Os diversos agrupamentos habitacionais antigos e recentes, foram-se interligando, formando uma única área urbana, sempre em expansão. Foram formados os primeiros aterros intencionais, no Porto Interior, entre a Praia Pequena e o Manduco. Na zona assim regularizada nasceram dez quarteirões bem ordenados -- o primeiro plano urbanístico, parcial, da península. A população, de uns 25 000 habitantes por volta de 1840, subiu para cerca de 65 000 nos fins do século, exigindo a afectação de novas zonas para habitação.

Pelas várias plantas de Macau que foram sendo efectuadas ao longo dos tempos, desde os primitivos mapas perspectivados aos desenhos bastante rigorosos do século XIX, podemos acompanhar a evolução da urbanização da cidade, a criação dos sucessivos aterros, o aparecimento de novos bairros. As linhas de costa vão-se alterando, surgem as pontes-cais definindo limites solo/água, são criados alguns cemitérios e plantadas zonas verdes em vários locais. Em 1871 foi iniciada a iluminação da cidade, com mais de 2 000 lâmpadas de azeite, o que constituiu um significativo progresso para a época.

O primeiro surto de desenvolvimento industrial com características definitivas começou no decénio de 80, com a instalação de dezena e meia de oficinas de fabrico de panchões, duas fábricas de vidros e cristais, pelo menos seis fábricas de fiação e tecelagem de seda em vários locais da cidade, outras de chá ou de fabrico de esteiras. Em 1866 foi fundada uma fábrica de cimento na ilha Verde.

Pequenos progressos? Decerto. Mas foram talvez o rastilho que conduziu ao progresso grande da cidade dos nossos dias.

O sistema viário traçado durante o governo de Ferreira do Amaral, ligando a zona central aos arruamentos a norte, foi sucessivamente ampliado, estabelecendo moderna comunicação com a Porta do Cerco e proporcionando ainda novas zonas para construção.

PRIMEIRAS NORMAS

O estabelecimento de Serviços de Obras Públicas no ultramar português, a partir de 1869, veio fortalecer a remodelação de Macau, que desses serviços passou a usufruir. Já um decreto de 31-12-1864 definira a relação entre a largura das ruas e a altura dos prédios, retomada como ponto assente no Relatório de uma Comissão encarregada de estudar os "melhoramentos materiais da cidade", criada por portaria provincial de 28-7-1833.

Podem considerar-se as medidas preconizadas nesse Relatório como uma intenção urbanística, se não como um verdadeiro plano de urbanização não desenhado, mas expressamente enunciado:

"Como preliminar de qualquer melhoramento importante que de futuro seja executado em Macau, é indispensável e urgente proceder desde já ao levantamento de um plano geral da cidade futura, plano que assente sobre uma planta minuciosa da cidade presente. " (Foi preciso aguardar oitenta anos para que fosse efectuado o primeiro plano director de Macau!).

A Comissão acima referida baseou-se em trabalhos da Direcção de Obras Públicas e da Junta de Saúde, bem como no reconhecimento directo das várias zonas da cidade, recaindo as suas preocupações nos seguintes doze pontos:

1. ° — Largura das ruas e altura dos prédios — Conforme os preceitos legais existentes, dum modo geral de difícil aplicação nas zonas já edificadas anteriormente. As ruas eram "tortuosas, acanhadas, variando de largura quasi que em cada prédio ", sendo péssima " a direcção que tomaram, a ponto de separarem por enfadonhas voltas dois locaes que a natureza collocou próximos". Sobre este último ponto é especialmente focada a necessidade de "ligação franca e directa" entre a Praia Grande e o Porto Interior, "ladeando a casa do senado", para a qual era preconizada a largura suficiente para permitir a sua arborização.

Outra sugestão, quanto a vias, consistia na abertura de um arruamento partindo do Forte do Bomparto até à Barra, "ou contornando a montanha sempre à beira-mar o que seria de excellente efeito mas dispendioso, ou galgando-a o que seria mais pinturesco e de despeza menos avultada ".

Para cumprir o decreto de 1864, era proposto proceder-se a expropriações, já então consideradas praticamente inexequíveis... Apenas nos bairros chineses se antevia a possibilidade de se proceder ao desejado alargamento das ruas, para uma dimensão mínima de seis metros, dado que as construções eram ali pouco sólidas, com um tempo de vida de cerca de quinze anos, podendo a sua reconstrução obedecer às regras estabelecidas. Para tal importava "determinar desde já os alinhamentos das futuras ruas o que só se poderá obter com seguro conhecimento depois de estabelecido o plano a que primeiro nos referimos". Propunha-se ainda que a Fazenda Pública expropriasse "o terreno necessário para que o novo edifício recuasse até ao alinhamento marcado e dentro em poucos annos a reprodução sucessiva d'este systema teria acabado com todas as irregularidades das ruas actuaes".

A Comissão reconhecia que, para implementar estas medidas, se carecia "de grande tenacidade de execução [...]" Tenacidade infelizmente inexistente, pois ainda hoje se encontram "ruas" com largura inferior a metade da preconizada.

2. °— Remoção de matérias fecais --canalização, latrinas — Várias soluções foram afloradas para a resolução deste grave problema, que tanto tem a ver com a saúde pública. Não sendoviável (nem recomendável) o aproveitamento dos dejectos para serem utilizados na parca agricultura existente, julgou-se como melhor solução o seu encaminhamento para o mar, "construindo-se para tal fim uma canalisação apropriada, sempre que a largura das ruas o permitisse". Concluiu-se, porém, que "a questão não fica resolvida porque na maioria dos pontos da cidade e em especial no bairro china a estreiteza das ruas, a sua tortuosidade, os numerosos e variados cotovellos que a cada passo descrevem os alinhamentos, tornariam de talmodo embaraçosa a construção e mesmo a corrente dos líquidos, que não parece exequível deste systema de esgotos". Optou finalmente a Comissão por propor a utilização de fossas móveis, a remover diariamente. Lamentavelmente não nos é dado conhecer se a solução foi aplicada e deu o resultado desejado...

As latrinas existentes constituíam também focos de infecção, pelo que foi proposta a sua substituição por novas instalações em boas condições de salubridade, bem como a criação de urinóis públicos, umas e outros "amplamente providos de água, que é o elemento essencial de toda a limpeza".

3. °— Abastecimento de água — Macau nunca foi rica em água, principalmente água potável, visto que "os numerosos poços que abastecem a população vão procurar uma veia quasi ao nível do mar formada por águas de infiltração sempre mais ou menos salobras, carregadas de materiais orgânicos, e portanto impróprias para beber". Na elevação onde se situa o Jardim da Flora existiam três fontes de boa água, embora de pequeno débito, onde as famílias mais abastadas mandavam buscar o precioso liquido para suas casas. Havia ainda a Fonte do Lilau e a Fonte da Barra, já então em menores condições de salubridade. A ribeira do Patane tinha sido um importante veio de água potável, suficiente não só para as necessidades da povoação do Patane, como também para o fornecimento de aguada aos barcos que demandavam o Porto Interior. Com o tempo, porém, ficou completamente inquinada devido à afluência das águas residuais das várzeas que a ladeavam, acabando por converter-se num colector de esgotos, o canal de San-kiu, posteriormente coberto por razões de sanidade.

Casa Branca -- Convento do Precioso Sangue.

Duas sugestões são apresentadas pela Comissão: limpar as fontes existentes e procurar novas nascentes nas colinas, ou fazer chegar a Macau as muito abundantes águas da ilha da Lapa, fazendo notar neste caso que "não se atreve a propor esse alvitre reconhecendo os inconvenientes que dimanariam de estar dependente o abastecimento de água da boa ou má vontade de uma potência estrangeira".

4.° -- Bairros insalubres -- Foram considerados insalubres os Bairros da Horta da Mitra, do Volong e de S. Paulo, parte dos Bairros de S. Lázaro, do Patane, de Sa-cong e de San-kiu e muitos pontos do Bazar. A radical solução proposta, para acabar de vez com aqueles focos de infecção, era "o arrazamento de todas as edificações existentes, e a determinação de novos arruamentos providos de boa canalização subterrânea".

Outras propostas consistiam no entulhamento das docas de Sa-cong, deslocando-as mais para dentro de água e a cobertura do canal de San-kiu "deixando ao centro uma valla coberta para escoamento das águas várzeas, formando em toda a largura do canal uma larga avenida arborisada que communicasse com o mar a estrada Coelho do Amaral"

5.° -- Mercados -- Os mercados existentes tinham pequenas dimensões e más condições de salubridade. "O principal mercado conhecido pelo nome de bazar de S. Domingos está estabelecido em um local acanhado e escuro, onde á mistura se accumula a carne o peixe, os legumes, as hortaliças, sem ordem e o que é mais sem attender ás mais elementares noções de aceio", tendo junto a uma das entradas "uma infecta latrina". A Comissão "entendeu que bastariam três mercados para abastecimento da cidade, edificando um grande mercado central proximamente do local onde está hoje o de S. Domingos, e outros mais pequenos no largo da Ponta da Rede e no Patane, além do mercado novo que ainda está em construção no aterro entre a rua de Miguel Ayres e a rua Bispo Ennes".

6.° -- Matadouro -- O matadouro existente não dispunha das mínimas condições de salubridade, pelo que foi proposta a sua remoção para junto do mar, nas proximidades do Forte D. Maria II, sugerindo "o estabelecimento de officinas annexas, para refinação de sebos, salga de pelles, preparação de sangue [...]", bem como "estábulos onde o gado se conserve de observação durante quarenta e oito horas [...]".

7.° Cadeia -- Não oferecendo a cadeia condições de segurança, de higiene e de clima social regenerador, julgou a Comissão que a mesma deveria ser transferida, propondo para tal um terreno no "alto de S. Paulo, um pouco atraz das ruínas do templo do mesmo nome", onde disporia de "terreno amplo para a construcção de officinas annexas e de jardins que os prezos cultivassem".

8.°-- Outros estabelecimentos insalubres -- Incluem-se nesta classificação diversas instalações, como a fábrica de curtumes do Patane, os locais de secagem de peixe, depósitos de ossos e penas, etc. É proposta a sua remoção para os terrenos entre o Forte D. Maria II e Mong Há ou junto à Fortaleza da Barra.

9.°-- Remoção do lixo -- O lixo retirado dos edifícios e das ruas era depositado perto dos locais habitados, nomeadamente junto do cemitério, entre a Flora e a Estrada Coelho do Amaral, ou a caminho da Porta do Cerco. "Há um meio simples de por termo a estes inconvenientes e consistem em obrigar o arrematante da limpeza a conduzir em barcos para fora da pequena península em que assenta a cidade todo o lixo que as carroças acarretam."

10.° -- Acumulação de indivíduos nas habitações e seu asseio interno -- Algumas considerações de ordem social reflectem a preocupação com o bem-estar das populações, sugerindo visitas domiciliárias para implementar condições internas de higiene, a caiação anual das casas interior e exteriormente, a proibição de co-habitação de pessoas e animais, a verificação da existência da necessária cubicagem de ar proporcional ao número de habitantes de cada casa.

11.° -- Condições higiénicas do campo -- Para acompanhar o projecto de melhorias a introduzir na cidade, também a zona agrícola foi considerada. "O campo cultivado que occupa toda a bacia comprehendida entre o rio e a cadeia de montes que atravessa Macau de N. a S. é pelas condições especiais da sua cultura relativamente insalubre."

Para obstar a este inconveniente foi proposto "prescrever alguns preceitos que melhorassem as condições hygienicas do campo", tais como a renovação da água nos arrozais, as regas das hortas a fazer uma só vez por dia, a substituição dos charcos donde era retirada a água das regas por poços de boca estreita dispondo de bombas de mão ou de moinhos de vento, para elevação da água.

12.° -- Arborização -- Tendo plena consciência da necessidade de arborização, a Comissão refere como seus benefícios a "purificação da atmosphera, esgotamento de um excesso de liquido nas camadas superficiaes da terra, a regularisação das condições meteorológicas", ao que acrescenta ainda "o embellezamento da cidade e a comodidade que proporciona ao trânsito durante as horas de maior calor". Para alcançar estes fins, propõe duas espécies de arborização: "Primeiro a que se deva estabelecer no interior da cidade, nos jardins, e nas estradas; e segundo a que recubra as montanhas próximas fazendo-lhes perder o aspecto arido e escalvado."

Nesta época não se falava ainda de ecologia, mas por extraordinária intuição foi promovida a plantação de árvores e arbustos, de modo a que a península fosse ficando, pouco a pouco, detentora de zonas verdes. Foi feita a arborização da colina da Guia, criados os jardins da Vitória, de S. Francisco, da Flora, da Montanha Russa, do Chunambeiro, da Gruta de Camões, de Lu-cau (hoje chamado de Lou Lim Ieoc). Ao abrirem-se novas vias, a norte do Tap-Seac, foi imposto que todas as casas tivessem, em frente da fachada, um pequeno jardim.

Deste relatório concluímos que se impunha o saneamento da cidade, que começouainda durante o governo de Tomás de Sousa Rosa, autor da portaria que lhe dera origem.

PRIMEIROS PLANOS

O Bairro da Horta da Mitra renascido, nas mesmas condições de insalubridade, de um incêndio que em 1865 destruíra 200 barracas, abrigava cerca de 60 000 pessoas, acumuladas em casas muito juntas, servidas por uma apertada rede de vielas. Abrangia a área entre a Rua do Noronha e a Rua da Colina, a Rua Nova à Guia e a Rua Henrique de Macedo, atingindo em parte a Rua do Campo. Fora em tempos uma mata, onde se estabeleceram alguns emigrantes chineses, que durante bastante tempo viveram da venda da lenha que dali iam cortando, assim aumentando sucessivamente a área da pequena aldeia. A falta de higiene transformou-a num foco de infecção, a que só a demolição total pôs termo. Nesse local foi então construído em 1886 um novo bairro, depois denominado Bairro Tomás Rosa, de traçado ortogonal, com ruas direitas e empedradas, casas bem arejadas dispondo de boa orientação solar, um mercado municipal cumprindo estritos preceitos de salubridade e um novo templo, o Chong-Kuok-Tou-Tei-Miu (Templo Chinês do Deus da Terra), em substituição do demolido "Pagode dos Deuses Penates".

Vista Alegre -- Escola Leng Nam.

O governador Horta e Costa retomou a iniciativa, eficientemente secundado pelo director de Obras Públicas, Eng. ° Abreu Nunes. Principiou a sua obra, em 1894, pela zona do Tap-Seac, delimitada a poente pela Rua da Esperança, a sul por parte da Estrada do Cemitério, a norte pela Rua Adolfo Coelho e a nascente pela Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida. Existia nesse local uma várzea situada a nível inferior ao das vias circundantes, ria qual os agricultores retinham as águas da chuva em represas improvisadas e utilizavam adubos naturais, causando uma situação de insalubridade. Para terminar com este inconveniente, após a expropriação das propriedades, entulhou-se o local com terras extraídas do Campo da Vitória, a meia encosta das colinas da Guia e da Flora, proporcionando também assim a regularização desta encosta pela criação de uma avenida, hoje desaparecida, paralela às actuais Estrada da Vitória e Avenida Sidónio Pais. A várzea assim nivelada foi dividida em vários quarteirões, destinados a habitação.

O Bairro do Volong constituía outro foco de infecção. Ficava situado sobre o bambual que em 1622 obrigara os holandeses a desviar-se do seu caminho de invasão, por temerem uma emboscada, tentando em alternativa escalar a colina da Guia, hesitação que veio a causar a sua derrota e que valeu ao local o nome de "Campo dos Arrependidos". Adquirido mais tarde por Francisco Volong, chinês naturalizado português, passou a ser conhecida por "Horta do Volong", degenerando com o tempo em bairro apinhado e insalubre. Foi expropriado em 1895, após uma epidemia de peste de que era o fulcro, completamente demolido e entregue ao Leal Senado dois anos depois, dispondo já de arruamentos rectilíneos, em malha ortogonal, com canalização de esgotos e mesmo alicerces para as casas a construir ali por particulares. A extensa "Horta do Volong" situava-se sensivelmente no local do actual bairro, entre a Estrada do Cemitério a norte, a Rua de S. Lázaro (talvez a hoje denominada R. Nova de S. Lázaro) a poente, a Rua Ferreira do Amaral a sul e, a nascente, a desaparecida Avenida da Flora, ultrapassando possivelmente a actual Estrada da Vitória. Encontrava-se, portanto, parcialmente englobada no Bairro de S. Lázaro.

Este último desenvolvera-se em redor da Igreja de N.ḁ Sr.ḁ da Esperança e do Hospital de S. Lázaro, edificado para o tratamento de leprosos. Era essencialmente formado por humildes choupanas, havendo apenas umas casas de melhor aspecto na rua que levava à igreja. Como a maior parte das pessoas tinha relutância em residir no local por temor da doença, somente os mais miseráveis ali habitavam, tendo-se-lhes juntado a breve trecho alguns cristãos novos chineses. Para estes foi fundada uma capela, a de S. José, para não terem de frequentar a dos leprosos, até que, em 1663, a igreja principalfoi aberta a todos. As condições higiénicas do local eram péssimas e a peste de 1895 encontrou ali farto campo para se expandir. Por este motivo, o governador Rodrigues Galhardo mandou demolir completamente o bairro, incluindo a referida capela, por portaria de 30-6-1900, apenas se mantendo a igreja, dedicada a N.ḁ Sr.ḁ da Esperança, que fora reconstruída, de raiz, em 1885, por ordem do governador Tomás Rosa.

O LITORAL

O progressivo assoreamento das costas macaenses provocou duas reacções: por um lado, o aproveitamento do aumento e consolidação dos aterros a nascente e a poente da península para futuro planeamento urbanístico, por outro lado, a promoção de estudos para a criação de novos portos, onde pudessem atracar barcos de grande calado. Em 1869 foi iniciada a obra de aterro junto ao Chunambeiro que permitiria o saneamento e regularização da zona, em local onde terminava então um arruamento oriundo do centro da cidade. Esta via prolongou-se, em 1873, até à Fortaleza do Bomparto, em resultado de novo aterro, continuando assim a bela avenida arborizada existente ao longo da baía da Praia Grande, na qual se construíram os melhores edifícios da época -- moradias, palacetes, serviços públicos.

Entretanto, do lado do Porto Interior, o aterro junto à Barra começado em 1868 facilitou o acesso à zona do templo de A-Má, através de um armamento marginal que a ligava ao Patane, no seguimento da ocupação das antigas baías da Praia do Manduco e da Praia Pequena. Em 1873 o governador visconde de S. Januário ordenou a construção do prolongamento do aterro ao longo do Porto Interior até à Fortaleza da Barra e a canalização das ruas junto ao Bazar, trabalhos estes concluídos em 1881. A doca do Patane foi terminada em 1887.

Em 1884 foi elaborado um projecto para o porto de Macau, da autoria do Eng.° Adolfo Loureiro. Previa essencialmente a regularização das correntes mediante obras diversas ao longo da costa, a construção de cais e, também, a formação de um aterro ligando a ilha Verde à península, com a criação de um dique e conquista de terrenos ao rio por meio de terraplanagem. Nesse istmo seria edificado um novo bairro com uma grande avenida e diversas ruas, formando vários quarteirões. Só bastante mais tarde se atingiu, em parte, a concretização dos princípios que nortearam este plano.

A construção do istmo da ilha Verde foi ordenada por portaria de 1890, no governo do conselheiro Borja, com várias finalidades:

-- Provocar o aumento do fluxo principal da corrente do rio pela eliminação de um canal secundário, de modo a que o sistema de marés contribuísse para que os restantes canais se mantivessem abertos e desafogados.

-- Promover o saneamento da orla marítima, onde se acumulavam detritos de toda a espécie.

-- Ligar a península à pequena ilha, cuja posse era contestada pelas autoridades chinesas da época.

Estes trabalhos prolongaram-se pelos primeiros anos do século xx, tendo sido então efectuado um plano de saneamento geral da cidade que incluía canalizações de água e esgotos.

No relatório efectuado pelo almirante Hugo Carvalho de Lacerda Castelo Branco, engenheiro hidrógrafo que prestou serviço em Macau entre 1918 e 1927, como director das Obras dos Portos e como governador interino, são apresentados os resultados do trabalho efectuado nesse período, bem como projectos que não chegaram a realizar-se. Para além de questões sociais, políticas, económicas e culturais, que não vêm ao caso, refere a ideia da represa, na Taipa, para a captação da água da chuva e de nascentes, tal como presentemente existe, e outras na Guia e em Coloane, não concretizadas.

Refere ainda as várias tentativas efectuadas ao longo dos anos para o melhoramento dos portos de Macau, com sucessivos progressos e interrupções, destacando o porto artificial da Rada, projectado e construído entre a Praia Grande e Nacau-Seac, dispondo de dois molhes quebra-mar a este e a sul. Mas o plano-geral era mais ambicioso, projectando a formação de uma grande ilha artificial entre Macau e a Taipa, a ilha da Rada, incluindo um sistema de canais, docas, diques de defesa, etc. Devendo ser feitas dragagens frequentes para a conservação do canal de acesso ao porto, seriam os materiais delas provenientes aproveitados para o aterro da ilha, cujaexistência concorreria para um melhor regime das águas, ocasionando a sua canalização e protecção das partes dragadas, evitando-se assim novos envasamentos. Não foi porém este plano, como tantos outros, levado a cabo, não se conhecendo as razões que o impediram.

Um novo estudo, pormenorizado, foi elaborado em 1929, partindo de premissas diferentes e apresentando, portanto, uma diferente solução.

Varandas de arquitectura tradicional (antiga sede do Clube Argonauta). Foto de Joaquim de Castro.

PLANOS PARCELARES

Foram-se sucedendo vários planos parcelares, nomeadamente ao longo do litoral e, a partir de 1900, o da zona das Avenidas Horta e Costa e Ferreira do Amaral, incluindo outros arruamentos que viriam a revelar-se importantes vias de comunicação. Concluiu-se o Bairro de S. Lázaro, edificou-se o Bairro Social Tamagnini Barbosa e o do Hipódromo. Fizeram-se mais aterros na Praia Grande e no Porto Exterior, proporcionando novas áreas para construção. Por meados deste século a cidade tinha o dobro da área urbana de fins do século passado.

PLANOS DIRECTORES

Fazia-se sentir, contudo, a falta de um plano director que abrangesse toda a península, interligando as diversas zonas. Foi só na década de 60 que surgiu o primeiro plano-geral, elaborado pelo Arq. ° Garizo do Carmo. As suas linhas mestras eram a preservação das zonas antigas, o aproveitamento dos espaços livres e a definição de uma zona industrial entre a Areia Preta e o Porto Exterior, para o que era preconizado um sistema viário adequado. Mantinha as zonas tradicional-mente destinadas à actividade portuária, ao comércio e armazenamento e à habitação de menor categoria. Propunha a utilização do novo aterro da Praia Grande e do Porto Exterior para comércio de luxo, hotéis e serviços mais importantes.

Tem assim início a apresentação factual dos planos urbanísticos que se foram sucedendo até aos nossos dias. Na década de 70 foram elaborados vários planos, propondo soluções diversas:

Em 1976, o Arq.° Tomás Taveira efectuou um plano que preconizava a renovação da cidade com novas áreas de ordenamento nas ilhas, a fim de descongestionar o núcleo antigo. Nele eram definidas novas zonas industriais e propostos novos bairros de carácter social.

Entretanto, encontrava-se em curso no Ministério do Ultramar um "Plano Territorial de Macau", iniciado em 1970 e concluído em 1978, não já pela Direcção-Geral de Obras Públicas desse Ministério, que lhe dera origem, mas sim pelo organismo que o substituiu, o Ministério da Cooperação Interterritorial. Ao ser apresentado, este plano encontrava-se já ultrapassado, pelo que o Governo de Macau entregou a sua revisão à empresa Profabril, em 1979, a fim de poder dispor de um planeamento físico do Território que lhe permitisse orientar as suas decisões sob o ponto de vista de edificação urbana.

Este "Plano-Geral de Ordenamento de Macau" pretendia constituir um princípio básico para o desenvolvimento da cidade, dependente de pormenorizações futuras para as quais fornecia os parâmetros gerais. Previa esquemas maciços de recuperação de terrenos na península e, a longo prazo, também nas ilhas. A sua elaboração orientava-se para a programação socioeconómica, a defesa do património cultural, o planeamento dos espaços verdes e da malha urbana e uma política-geral de transportes, tudo isto subordinado aos recursos técnico-financeiros existentes e a necessária legislação a implementar. Um dos elementos essenciais deste plano consistia na intenção de se criar uma cidade inteiramente nova na zona arrebatada ao mar, situada na costa oriental da península.

Nesse mesmo ano, o Arq.° José Catita elaborou um outro "Plano-Geral de Ordenamento", apontando as prioridades de intervenção no sistema viário e propondo um conjunto de medidas urgentes, tais como: execução de planos parcelares ou de conjunto, revisão de planos existentes, estudo de infra-estruturas, construção do túnel da Flora e respectivo nó viário, execução de estudos paisagísticos. Era referida ainda a conquista de terrenos ao mar e seu faseamento, prevendo os empreendimentos do porto marítimo e do aeroporto. A utilização do solo obedecia a percentagens determinadas e eram estipulados índices de ocupação a observar nas zonas habitacionais.

Em 1984, uma firma de Stuttgart, com a colaboração do Arq.° Castelo Branco, apresentou uma proposta para a elaboração de um "Plano Director do Território de Macau". Nos seus objectivos incluíam-se a criação de incentivos para o desenvolvimento privado, a coordenação dos esforços governamentais para a utilização da terra e incremento das infra-estruturas, a melhoria da qualidade de vida e do ambiente de trabalho, a preservação dos aspectos históricos, culturais e naturais de Macau, a determinação das localizações óptimas para alojamento, indústria e serviços, a revisão e integração dos planos existentes para garantir a sua continuidade e, finalmente, a promoção deste processo de desenvolvimento entre os sectores público e privado. Entre os elementos do plano sobressaem o uso do solo territorial, as hierarquias para a sua utilização, a rede de transportes, as infra-estruturas, os espaços verdes e, evidente-mente, as áreas destinadas à construção.

A firma AsiaConsult efectuou, em 1986-87, com coordenação do Arq.° Luís Rebolo, um novo plano director, incluindo as ilhas, imediatamente seguido de uma revisão. Este plano propunha-se definir a estratégia geral da utilização do solo e a dos transportes -- e a respectiva implementação. As suas preocupações incidiam em proporcionar uma oferta de solo adequada às necessidades previsíveis da habitação; na criação de instalações para diversas actividades económicas e equipamento social; controle do crescimento excessivo em zonas já urbanizadas; protecção e valorização da estrutura verde; melhoramento das ligações ao exterior (porto, aeroporto) e das comunicações internas (novos arruamentos e nova ponte Macau-Taipa); revisão das infra-estruturas (água, esgotos, lixos, energia eléctrica); racionalização da gestão urbanística. A estratégia do plano previa a ocupação intensa na península, até ao esgotamento da capacidade disponível, o lançamento progressivo de novos aterros, o controle do crescimento do espaço urbano e a salvaguarda dos elementos paisagísticos e patrimoniais mais importantes; na Taipa, a urbanização da Baixa da Taipa e a preservação das principais zonas naturais e da linha de costa; em Coloane, a preservação da ilha como zona natural com manutenção da linha de costa. Um ponto especial-mente mencionado neste plano foi o planeamento dos aterros, analisados sob o ponto de vista do impacto na paisagem e no meio hidrográfico e geográfico, bem como a sua adequação aos usos previstos.

PLANOS DE PORMENOR

Todos estes planos-gerais, elaborados no decorrer de três décadas por autores diversos, apresentam, evidentemente, formas diferentes de abordar o assunto, não sendo fácil compatibilizá-los. Apesar disso, têm mais ou menos servido de base para várias pormenorizações, que vêm orientando a construção na península e nas ilhas.

Escadas que conduziam ao antigo Convento de Santo Agostinho. George Chinnery,1829. Col. Sociedade de Geografia de Lisboa.

Regulamento pormenorizado para orientação da construção na zona, tendo como objectivo a renovação urbana no quadro da preservação de edifícios e ambientes classificados. São considerados quatro tipos de intervenção: projectos de construção, em eventuais terrenos livres ou provenientes de demolição; projectos de reconstrução em edifícios degradados, repondo as suas características originais; projectos de remodelação, com manutenção dos elementos essenciais da construção existente, mas possibilitando a sua reforma; e projectos de restauro, considerando obras pouco profundas, mantendo as condições estruturais existentes. Em qualquer dos casos são fixados os valores da cércea, os alinha\-mentos, os limites dos corpos recuados e da ocupação vertical, a existência e dimensões das arcadas. Este regulamento foi revisto e pormenorizado em 1984, especificando caso a caso as operações a efectuar.

Em 1987 foi organizado um regulamento para o aproveitamento do terreno do antigo Liceu Infante D. Henrique que determinava a sua divisão em quatro parcelas, uma das quais destinada a zona pública de lazer. Foram definidos os alinhamentos, cérceas e volumetrias, bem como a finalidade dos edifícios. Desenhos esquemáticos indicavam a implantação e a altura dos diferentes blocos, estabelecendo os respectivos valores máximos, mínimos e fixos. A concretização do estudo apresenta-se um pouco diferente do que fora previsto nesse regulamento, dada a inclusão do edifício mais alto de Macau -- o do Banco da China, com 42 pisos.

PRAIA GRANDE/ZAPE

Um elemento comum aos vários planos--gerais era, como fui referindo, o reconhecimento da necessidade de se efectuarem novos aterros e de se promover o seu aproveitamento com novas urbanizações.

Quando se concluiu que o solo da península se tornara exíguo para a expansão desejada, esses aterros tornaram-se realidade e neles surgiram diversas ocupações. Parte da baía da Praia Grande viu-se substituída por solo compacto, logo dividido em quarteirões pela abertura de largas vias. No espaço entre a cidade e o braço de mar que a separa da ilha da Taipa foram criados dois grandes aterros, designados pelas suas siglas: ZAPE -- Zona de Aterros do Porto Exterior e NAPE -- Novos Aterros do Porto Exterior, este ainda em processo de formação.

O primeiro Plano de Urbanização do Porto Exterior e Praia Grande foi executado em 1964, pelo Arq. ° Leopoldo de Almeida. Embora este plano se refira essencialmente à zona de aterros do Porto Exterior, a contiguidade das duas zonas levou à reorganização de parte da Praia Grande, a fim de se resolverem os problemas da circulação, permitindo simultaneamente a criação de espaços livres arborizados.

O programa previa a separação/ligação entre a nova zona e a cidade existente. Esta finalidade foi conseguida, por um lado, com o rasgamento da Avenida Rodrigo Rodrigues desde a Marginal, junto ao Hotel Lisboa, até ao Reservatório, no extremo N. E. Por outro lado, foram previstas duas ligações com o centro: uma passando pelo vale que separa a colina de S. Januário da colina da Guia (que seria um prolongamento da Calçada do Gaio/Calçada do Paiol), outra talhada a meia encosta a nascente da colina da Guia (Estrada de Cacilhas), para se poder atingir a Areia Preta sem ser necessário contornar o Reservatório. A quase totalidade da área do estudo estava vinculada à habitação havendo também a previsão de zonas verdes e desportivas. Era considerada, ainda, a hipótese de instalação de um terminal marítimo e aéreo no extremo nascente.

Dado que o plano não foi seguido de con-cretização imediata, em breve foi considerado como tendo perdido actualidade, pelo que um outro estudo foi efectuado, em 1979, pelo Prescott Group, sendo consultor responsável o Arq. ° Lima Soares.

Neste plano houve a preocupação de adaptar a urbanização às condições específicas do clima local, sendo dada especial atenção à direcção norte-sul, entre o mar e as colinas, pela sua importância nos aspectos de ventilação e de panorâmicas. Os espaços não ocupados com construção eram destinados a utilização pública, com relevo para a circulação pedonal, encontrando-se previstas várias zonas verdes, eventualmente com equipamento de lazer e desportivo. Os edifícios a construir deveriam ter entre 15 e 19 andares, não ultrapassando portanto a altura de 60 metros, com a intenção de preservar a presença da colina da Guia. De forma geral, era obrigatória a construção de colunata periférica, formando arcada.

O sistema viário assentava basicamente em duas vias paralelas -- a Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues e a Avenida da Amizade, entrecortadas/ interligadas por arruamentos secundários. Era proposta a criação de uma rampa de acesso à Estrada de Cacilhas na encosta do Reservatório, uma passagem sob a Estrada dos Parses com uma pequena rampa em aterro ligada por um túnel à Calçada do Gaio e, como elemento importante a considerar, a abertura de um túnel sob a colina da Guia.

Outro ponto essencial era o nó de S. Francisco, junto ao Hotel Lisboa e zonas circundantes, objecto de um estudo especial apresentado dois anos depois: o Plano de Pormenor da Área de Transição, com soluções detalhadas para as várias situações existentes.

A mesma empresa procedeu posteriormente à elaboração de novo estudo para a zona, sob orientação do arquitecto Eduardo Flores, apresentado em 1985 e condicionado aos compromissos existentes, nomeadamente as infra-estruturas já realizadas. Este plano mantém o princípio da preservação da colina da Guia, propondo a cércea máxima de 60 m, excepto em zonas limitadas que poderão conter edifícios até 90 m de altura.

Cena de rua, com habitações de arquitectura corrente. George Chinnery, c.1830. Col. Toyo Bunko.

O regulamento deste plano propõe-se definir a utilização do solo urbano, determinando os padrões de construção urbana e acabamentos exteriores e suplementando a regulamentação em vigor. As suas normas são especificadas para cada quarteirão, com bastante pormenor. São mantidas as preocupações da ligação com a Calçada do Gaio com rampa e túnel sob a Estrada dos Parses, bem como do prolongamento da Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues para sul, ambas condicionadas ao Plano de Intervenção Urbanística das colinas da Guia e de S. Francisco. Encontra-se definida uma área de reserva para acessos ao preconizado túnel sob a colina da Guia. As encostas das colinas são consideradas reservas totais, havendo ainda zonas de reserva parciais em que apenas é permitida ocupação condicionada para equipamento social e de lazer.

O plano contém pormenores de pavimen-tação, mobiliário urbano, arborização, etc., com a intenção de criar um agradável ambiente paisagístico. É estabelecido o sistema de recuos obrigatórios, que dão origem a corredores pedonais ao longo das linhas divisórias dos quarteirões. As arcadas são também obrigatórias sempre que exista ocupação vertical estipulada no plano.

NAPE

Como prolongamento lógico desta área surgiu, a sul, uma Nova Zona de Aterros do Porto Exterior, que passou a ser conhecida pela sua sigla: NAPE. O estudo da sua urbanização foi elaborado pelo Gabinete de Arquitectura e Planeamento Palmer & Turner, sob responsabilidade dos Arq. os Siza Vieira e Fernando Távora, a partir de 1982.

O partido urbanístico deste plano baseava-se na importância do local, que se pretendia constituísse um agradável "vestíbulo de entrada" a quem por mar demanda o Território. A sua composição urbana sobressaía, como elemento primordial, do cenário formado pelos terrenos limítrofes e restantes volumetrias da cidade, recortando-se sobre o fundo das afastadas montanhas da Lapa.

Duas parcelas distintas constituíam a área do estudo: a 1. ḁ fase, a sul-sudeste do núcleo da ZAPE e dele separada por um canal ao longo da avenida marginal deste plano, cujo acesso seria feito por uma ponte sobre esse canal, prolongando até ao novo limite marítimo a alameda central da ZAPE que tinha aqui uma posição axial, interligando todos os arruamentos internos. A 2.ḁ fase, no extremo nor-nordeste da referida marginal e por ela acessível, com uma segunda ligação ao solo peninsular por um istmo a norte do Reservatório, no qual se situaria habitação social. Neste aterro estava prevista uma área destinada à indústria, bem como uma escola politécnica rodeada por zonas verdes.

O "Plano Director do Território de Macau", já atrás referido, provocou significativas alterações no planeamento da NAPE, nomeadamente a redução da área do aterro, o que forçou a modificações de carácter geral. A 2.ḁ? fase perdeu a sua importância ereduziu-se a um suporte para o Terminal de Passageiros e às boxes do Grande Prémio. A 1.ḁ fase, agora denominada "zona M", foi o principal objecto da revisão efectuada em 1987, sofrendo ajustamentos em relação à nova área reduzida e à distribuição das finalidades urbanas, incluindo os seus quantitativos. Esta revisão procurou ajustar as propostas do plano antecedente ao novo quadro geral de ordenamento do território tendo em conta a interacção da zona com os espaços adjacentes e propondo uma relação coerente entre os vários. elementos que passam a constituir esta zona de expansão da cidade. O plano da ZAPE, a norte, constitui de certo modo um condicionamento a este estudo, influenciando a altura das construções e estipulando os pontos de ligação viária.

Mantendo o carácter geral do conceito de plano anteriormente definido, adaptado ao novo conjunto de compromissos, foi proposta uma solução intermédia: a adopção da área mínima de 35 ha, para permitir uma escala correspondente à importância do local e à implementação de uma urbanização coerente. O comprimento do canal entre o aterro e a costa existente foi aumentado, prevendo uma utilização futura desse espaço para actividades lúdicas, tendo sido considerada a preservação da qualidade da água por meio da criação de um sistema de válvulas automáticas de maré a instalar nos dois extremos do canal.

A estrutura viária mantém o anterior reticulado sensivelmente norte-sul e nascente-poente, tendo sido eliminada a última avenida a sul, que se transformou em espaço livre para peões. No sentido este-oeste, duas vias têm um perfil menor, alternando com as três avenidas paralelas à costa. Os arruamentos perpendiculares têm todos o carácter de avenidas, de perfil, contudo, diferente das anteriores em relação ao posicionamento das faixas arborizadas. O acesso ao aterro é constituído por duas vias de sentidos opostos, ladeando uma alameda central reservada a espaços livres ajardinados, na continuação da alameda prevista na ZAPE. Toda a rede viária destinada ao trânsito automóvel se baseia nesta entrada/saída. Os peões disporão ainda de dois viadutos, galgando o canal nos extremos nascente e poente sobre os diques de contenção das águas, em comunicação com o espaço livre meridional através de dois caminhos marginais de circulação pedonal, paralelos à alameda nas extremidades do aterro.

A nova área destina-se essencialmente a edifícios habitacionais, dispondo de instalações para comércio, equipamento e estacionamento nos dois primeiros pisos, formando uma frente contínua de rua, sobre os quais se elevam as habitações, até ao máximo de 30 m de altura, ocupando cerca de 80 por cento de cada quarteirão. Encontram-se porém previstas ainda outras finalidades, como o hotel a implantar no extremo sul-sudeste, uma zona dereserva para eventual equipamento futuro, escolar e/ ou desportivo, a nascente, e uma outra para serviços hospitalares junto à praça a este. Enquanto não se concretizarem estas ocupações, os lotes de terreno que lhes foram reservados serão utilizados como zona verde.

Não é exaustiva esta enumeração de estudos urbanísticos. Creio existirem outros mais que, por dificuldades de pesquisa, não são aqui citados.

Entretanto, continuamente vão sendo efec-tuadas revisões aos planos existentes, motivadas por problemas que vão surgindo na sua concretização, bem como novos planos parciais para as zonas ainda não cobertas pela pormenorização.

E a cidade não pára de crescer!

ARQUITECTURA

ANTECEDENTES

Para compreender o traçado da Macau primitiva e a forma das suas construções, devemos debruçar-nos um pouco sobre o esquema tradicional das habitações chinesas.

Quando, hoje, se encontram edifícios antigos isolados nos bairros tradicional-mente chineses, decerto eles serão o remanescente de antigos conjuntos habitacionais com pátio, o sistema mais difundido e numeroso em toda a China, com pequenas variantes.

Neste sistema, quatro edifícios, colocados nos quatro lados de um espaço quadrado, deixavam a meio um pátio para o qual abriam todos os compartimentos. Ainda nos nossos dias se notam vestígios deste costume, nos prédios em altura, em que as portas das várias divisões da habitação abrem directamente para a sala, substituto do ancestral pátio central.

Geralmente, a construção situada a norte, com a fachada sul para o pátio, chamada edifício principal por ter a melhor posição (mais quente no Inverno, mais fresca no Verão), era destinada ao chefe de família ou aos membros da geração mais velha. Os restantes familiares distribuiam-se pelos edifícios laterais, sendo a construção do outro extremo destinada a crianças e criados. A entrada para este conjunto era normalmente no canto sudeste, através de uma zona resguardada, limitada pela parede de topo do edifício lateral, formando vestíbulo com uma segunda porta para o pátio.

Praia Grande, desde o Forte de S. Pedro. George Chinnery, c.1834. Col. HKMA.

A casa de pátio aparece com formas distintas nas diferentes regiões da China, devido à diversidade de climas, materiais e costumes. No Norte, onde o clima é seco e frio no Inverno e fresco no Verão e onde há muito espaço e relativamente poucas pessoas, os pátios são bastante grandes. No Inverno, mais luz pode atingir os edifícios. As construções nos quatro lados não estão directamente ligadas. Mas no quente e húmido Sul, onde há grande concentração de pessoas, sendo menor o espaço que lhes é atribuído, os pátios não podiam ser muito grandes. Os edifícios dos quatro lados eram ligados numa só unidade à volta de um pequeno pátio que proporcionava luz do Sol, ventilação e ligação entre os edifícios. Por vezes, as construções dos quatro lados tinham dois pisos, o que contribuía para que o pátio parecesse ainda menor. Este tipo de casa era às vezes referido como carimbo, devido à sua forma.

As dimensões destes agrupamentos variavam de acordo com a categoria económica do seu dono. Em alguns casos eram acrescentados novos conjuntos na direcção norte-sul, formando pátios adicionais. Mais raramente, esse aumento podia ser feito na direcção este-oeste, se a limitação de espaço a isso obrigasse. Mas, em qualquer dos casos, os aposentos mais importantes ficavam sempre situados no topo do eixo de simetria do complexo. Esta organização era apropriada para a antiga ética chinesa confuciana, porque separava velhos e novos, patrões e servos e enfatizava a relação hierárquica de "superior" e "inferior".

O COMEÇO DA INSTALAÇÃO NA PENÍNSULA

Quando os portugueses chegaram a Macau encontraram dois templos, um na Barra outro em Mong Há, cada um deles rodeado por sua aldeia.

O Templo da Barra, Ma Kok Miu, terá sido construído no início da dinastia Ming e remodelado no reinado de Wan-Li, que governou a China de 1573 a 1621. O sistema de construção com pátios encontra-se aqui adulterado, dadas as condicionantes orográficas do local. Os pátios seguem-se, mas em níveis diferentes, subindo o monte. O plano da entrada, resguardado por um muro de granito subdividido em quadros esculpidos, ao qual se acede por alguns degraus defendidos por leões de pedra, tem um pórtico duplo que abre dedicado a Sin Fong, "o que sabe tudo em primeira mão" e, à direita, o templo principal em que é venerada a deusa Neong-Ma, tendo lateralmente um portal circular talhado em uma só peça de granito. Por detrás, o torreão do crematório de oferendas, em forma de pagode. Entre estes templos encontram-se duas grandes rochas em que estão gravadas representações do barco que transportou até ali a donzela de Fuquiém que, segundo a lenda, se metamorfoseou na deusa ao subira encosta, Escadas de granito dão acesso ao segundo pátio, onde se situa o Templo de Tin Hau, rainha do Céu. Nova escada, por entre rochas e árvores de pagode, conduz ao terceiro pátio, no qual se encontra o Templo de Kun Yam, a deusa da Benevolência Universal, construído na dinastia Ching.

O templo de Mong Há, dedicado a Kun Yam, estava adossado à encosta da colina que lhe limitou o crescimento, pelo que dispõe de um único pátio, havendo apenas, em profundidade, a capela da deusa, tendo à esquerda um pavilhão consagrado a Seng Wong. Não se conhece a data da sua fundação, sabendo-se somente que foi ampliado no século xvII.

Os portugueses que primeiramente se estabeleceram em Macau instalaram-se decerto na costa oeste, do lado do Porto Interior, perto do templo de A-Má, com carácter precário. Após a vitória portuguesa sobre os piratas e sequente permissão do imperador da China para o seu estabelecimento definitivo na península, os portugueses deram início a nova povoação, situada um pouco mais a norte.

Sendo a propagação da Fé cristã uma das componentes motivadoras das Descobertas, representantes das várias ordens religiosas sempre acompanhavam as expedições, deixando rastos da sua passagem espalhados ao longo da esteira dos Descobrimentos. Como noutros lugares, também em Macau eles levantaram igrejas e conventos, escolas e hospitais.

O primeiro templo cristão a ser edificado na península foi a Ermida de S. António, entre 1558 e 1560. Macau pertencia então à diocese de Malaca, criada em 4-2-1558 pela Bula Pro Excellenti Praeeminentia, do papa Paulo IV. Construída primitivamente em madeira, sofreu vários incêndios -- em 1608, em 1809, em 1874 -- sendo sucessiva-mente reconstruída. O actual edifício, em estilo neoclássico, data de 1875, tendo a fachada e a torre sido renovadas em 1930, segundo reza uma lápide de granito existente na frontaria.

Pela mesma altura foi também erigida a Igreja de S. Lourenço. Reconstruída, em taipa, em 1618, e reparada de 1801 a 1803, viria a ser totalmente reformulada pelo arquitecto macaense José Tomás d'Aquino, entre 1844 e 1846, ao gosto da época. As suas características europeias tornavam-na diferente das outras igrejas da cidade, principalmente na amplidão da nave única, apenas cortada pela existência de duas pequenas capelas laterais, constituindo uma reduzida cruz latina. Novas obras de beneficiação foram ainda executadas em 1897-98 e em 1954.

O terceiro templo cristão a ser construído foi uma pequena ermida de madeira, dedicada à Natividade de N.ḁ Sr.ḁ, que em 1576 foi elevada a catedral, após a criação da diocese de Macau, por bula do papa Gregório XIII, Super Specula Militantis Ecclesiae, de 23-1-1575. Substituída por uma construção de taipa em 1622 ou 1623, a Sé foi novamente reconstruída em 1844 pelo arquitecto Tomás d'Aquino, no mesmo local mas com diferente implantação, ficando a nova fachada voltada para norte (e não para oeste como a anterior, que escondia parcialmente o palácio episcopal). Após o tufão destruidor de 1874 grandes obras tiveram de ser efectuadas, nomeadamente nas torres e no telhado, sem contudo ter havido alteração do traçado do edifício.

A primeira casa dos Jesuítas, criada em 1565, esteve instalada numas casinhas térreas, de palha, junto à Ermida de St. ° António. Foi ali que se alojou provisoriamente o bispo D. Melchior Carneiro, que chegou a Macau em 1585, até poder dispor de casa própria. A residência sofreu um incêndio em 1595, tendo sido reconstruída e ampliada em 1597, no terreno contíguo à Igreja de S. Paulo.

O bispo D. Melchior Nunes Carneiro Leitão, S. J., bispo de Niceia, patriarca da Etiópia, não foi bispo de Macau mas apenas "Governador do Bispado", como bispo da China, Japão, Coreia e ilhas adjacentes. Ele foi o grande impulsionador dos melhoramentos da cidade na sua época, fundando, no mesmo ano da sua chegada, a Confraria da Misericórdia, o Hospital de S. Rafael e o Hospital de S. Lázaro.

A Confraria da Misericórdia deu origem à Santa Casa da Misericórdia, que desde sempre tem ajudado as pessoas mais pobres. A construção inicial englobava uma igreja, consagrada à Visitação de N.ḁ Sr.ḁ, que foi demolida em 1883 devido ao seu estado de ruína. No princípio do século XIX foi justaposta ao edifício uma falsa fachada, ao gosto neoclássico desse tempo.

O Hospital de S. Rafael foi criado para servir cristãos e pagãos, ricos e pobres. O médico do Senado foi o primeiro responsável pelos serviços hospitalares e sua farmácia, tendo aqui sido administradas as primeiras vacinas desta região da Ásia. Após várias obras de reparação e alterações de finalidade, o edifício do hospital foi recentemente adaptado para instalação da Autoridade Monetária de Macau.

O Hospital de S. Lázaro destinava-se ao tratamento de leprosos e junto dele foi construída a Ermida de N.ḁ Sr.ḁ da Esperança, normalmente chamada de S. Lázaro. O hospital foi demolido, com o bairro, em 1900. A actual igreja foi reconstruída em 1885, no mesmo local da anterior, de que apenas resta o cruzeiro, que ostenta a data de 1637.

Vista da Praia Grande em direcção ao Forte do Bom Parto. George Chinnery. Lápis e tinta sobre papel, c. 1833-36 Col. HKMA

Em 1572 começou a funcionar, junto à residência dos Jesuítas, uma escola elementar, da qual derivou posteriormente o Colégio de S. Paulo, cujo desenvolvimento viria a proporcionar a sua elevação a Colégio Universitário, em 1594. Tendo sofrido um incêndio a sua primeira igreja, ainda de palha, os Jesuítas construíram outra, de madeira, coberta de telha, substituída em 1573 por uma construção de taipa, dedicada a Madre de Deus, que o capitão-mor D. António de Vilhena mandou cobrir de telha à sua custa.

Na colina por detrás da residência, o P. Miguel Ruggieri fundou, em 1580, uma casa com suas celas para os catecúmenos chineses, num canto do sítio do colégio, com uma capela dedicada a S. Martinho de Tours, situada no local onde actualmente se encontram as "ruínas de S. Paulo".

Quando a Igreja da Madre de Deus sofreu novo incêndio, foi abandonada pelos Jesuítas, que resolveram transferi-la para o local da referida capela, em 1586. Novo incêndio e nova reconstrução, com paredes de taipa e cobertura de telha. A igreja reconstruída, de novo dedicada à Mãe de Deus, foi inaugurada na véspera de Natal de 1603, com grande pompa e solenidade. Mas os reveses não haviam terminado: após a expulsão dos Jesuítas do Território foram aboletadas tropas no Colégio e, em 1835, um fogo originado na respectiva cozinha destruiu completamente o colégio e a igreja, com única excepção para a fachada que hoje conhecemos.

Em 1574 foi levantada a Porta do Cerco, que tinha na sua parte superior residências para os guardas chineses. Tendo posteriormente ruído, foi reconstruída em 1674, ficando então as residências em edifício anexo. A actual Porta do Cerco encontra-se integrada no complexo fronteiriço Macau-China.

Na zona do Patane existiu um forte, do Patane ou Palanchica, não se conhecendo a data da sua construção, supondo-se que tenha sido em 1625. Encontrava-se integrado na muralha que ligava o Porto Interior ao Monte, com a finalidade de proteger a cidade de uma possível invasão da China. Era formado por três plataformas, tendo cada uma delas uma peça de artilharia, conforme se vê em desenhos da época. Foi demolido por volta de 1640, com todo o pano de muralha a que estava ligado.

Ao longo dos últimos decénios do século xvI, iam os portugueses fabricando casas e casando-se com gente natural. Segundo documentos da época, havia em 1578 dez mil habitantes e cinco igrejas, contando-se cerca de duzentas casas de portugueses.

Em 1579, os padres capuchinhos espanhóis fundaram o Convento de N.ḁ Sr.ḁ dos Anjos, depois conhecido como Convento de S. Francisco. Situava-senuma ponta de terra rodeada pelo mar por três lados, no extremo setentrional da baía da Praia Grande. Dispunha de uma fonte de boa água e gozava, naturalmente, de uma bela panorâmica. Na pequena elevação sobranceira, a norte, foi levantada a Ermida de N.ḁ Sr.ḁ do Rosário, no local hoje ocupado pelo Hospital de S. Januário. Durante algum tempo funcionou também ali um pequeno seminário. Anexo ao convento existiu, desde 1633 e até fins do século XIX, um convento de Clarissas, vindas de Manila, que tinham igreja privativa.

O Leal Senado, criado em 1583, quando Macau foi elevada à categoria de cidade, teria estado instalado numa construção de um só piso, posteriormente substituída pelo actual edifício, como adiante veremos.

Em 1586, os agostinhos espanhóis compraram uma casinha para fundar o que viria a ser o Convento de N.ḁ S.ḁ da Graça. Como sucedeu com os franciscanos, os padres espanhóis foram substituídos por portugueses em 1589 e, em 1591, o convento foi transferido para o alto da cidade, junto do actual Largo de St.° Agostinho, onde foi também construída a Igreja de N.ḁ Sr.ḁ da Graça.

Os Dominicanos chegaram à península em 1587. O provisor do bispado deu-lhes umas casas de madeira, onde eles fundaram a Casa de St.ḁ Maria do Rosário de Macau, com uma capela da mesma invocação, também de madeira. Quando os dominicanos portugueses tomaram conta destas instalações criaram ali um hospício para os religiosos de passagem por Macau e, também, uma escola pública de ler, escrever e latim, onde chegou a existir um curso de artes. Em 1590 construíram a Igreja de S. Domingos, num misto de arquitectura ocidental e local, adequada ao clima e subordinada aos materiais de construção então existentes. O convento foi reedificado em 1721, por iniciativa do seu vigário, frei José da Cruz.

Em 1592 foi construído o Lin Fong Miu, Templo do Lótus, no sopé da colina de Mong Há, do lado da actual Estrada do Arco. Era o local de hospedagem dos mandarins superiores, quando estes se deslocavam a Macau. O sistema tradicional encontra-se aqui largamente empregado, com pátios sucedendo-se nos dois sentidos.

O Senado e o povo reuniram os seus donativos para a reconstrução, em 1594, do Colégio de S. Paulo, que foi a primeira Universidade de Macau e, mesmo, de todo o Extremo Oriente. No dia 1 de Dezembro desse ano foram criados os Estudos Gerais do Colégio da Madre de Deus, com as faculdades de Letras, Filosofia, Casos de Moral, Direito Canónico e Teologia, que conferia graus de Mestre em Arte aos leigos e de Filosofia e Teologia aos religiosos. Anexos a esta Universidade funcionavam o Seminário Nipónico de St. ° Inácio, fundado em 1623, um seminário para filhos de portugueses e a procuradoria do Japão com uma livraria que continha milhares de livros, dispondo de uma imprensa xilográfica desde 1585 e outra de tipos móveis a partir de 1588. Os cofres da cidade também ali se encontravam instalados, por o local ser considerado o mais seguro da península.

Na ilha Verde, conhecida ao tempo como ilha dos diabos, os Jesuítas construíram, em 1603, uma casa e uma capela cobertas de palha, quepassaram por várias vicissitudes no decorrer dos anos -- foram demolidas e reconstruídas ao sabor da vontade das autoridades da época. Em 1617 foram autorizadas algumas casas de sobrado e duas capelas -- de N. ḁ Sr. ḁ e de Santiago -- destruídas por ordem do Senado em 1621 e posteriormente reconstruídas.

Em 1625 existia em Macau uma Casa de Fundição, orientada por dois espanhóis, onde estagiou Manuel Dias Bocarro, que viria a ser fundidor de muita fama, passando logo no ano seguinte a dirigir a fundição, situada no Largo do Chunambeiro. Dela saíram peças de artilharia e sinos de bronze para as fortalezas portuguesas do Oriente e mesmo para o Reino.

Cena de rua, Macau. George Chinnery, c.1837. Col. Toyo Bunko.

O actual Templo de Kun Yam Tong foi construído em 1627, próximo do antigo Kun Yam Ku Miu. Ali existia, desde o reinado de Wan Li, que governou a China de 1573 a 1620, a bonzaria de P'ou Tchai Sim Ün, sucessivamente ampliada com novos pavilhões, edificados em três planos ascendentes. Por detrás do terceiro templo situa-se o cemitério dos bonzos, da seita esotérica. O templo foi construído em tijolos cin-zentos, sendo a escadaria e a balaustrada de granito. Existe nele uma profusa decoração de elementos em alto relevo de faiança policromada repre-sentando cenas religiosas, cobrindo a parte superior das paredes, sob o beiral de telha verde vidrada e em frisos ao longo das cumeeiras.

Segundo um escrito da época, do frade macaense Paulo da Trindade, Macau seria, em 1630, a segunda maior cidade portuguesa do Oriente (aseguir a Goa), tendo "mui grandes e sumptuosos edifícios e casas grandes e de largos patios e hortas".

Em 1633 foi fundado o Convento de St.ḁ Clara, por clarissas espanholas. Hoje existe apenas parte do muro da cerca, junto ao Colégio de St.ḁ Rosa de Lima. No mesmo ano, o visitador dos Jesuítas, P. André Palmeiro, mandou construir a Igreja de N.ḁ Sr.ḁ do Amparo, destinada ao catecumenato dos chineses, não longe do Colégio de S. Paulo, fora de muros. O Seminário de S. José foi fundado pelos Jesuítas, em 1728, na Rua do Mato Mofino, perto da Igreja de S. Lourenço.

AS FORTIFICAÇÕES

Se o século xvI foi o da construção das primeiras igrejas, o século xvII pode ser considerado como a época das fortalezas, algumas das quais ainda ligadas a novas igrejas (enquanto algumas das já existentes eram reconstruídas: S. Paulo em 1602, St. ° António em 1608, S. Lourenço em 1618, a Sé em 1623).

A instalação defensiva mais antiga deve ter sido o já atrás mencionado Forte do Patane (ou Palanchica), perto da Ermida de St.° António.

A maior parte das fortificações foi construída a partir de 1622, por vezes em locais onde existiam já alguns baluartes que tinham constituído uma primeira linha de defesa. A cidade foi então cercada por uma muralha de taipa, que começava no Patane, onde existia uma porta em arco, chamada Porta de St.° António ou Porta de S. Paulo. Acompanhava a linha de costa do Porto Interior, para poente, dirigindo-se depois para a colina do Monte até à Fortaleza de S. Paulo, junto do seu bastião noroeste. A partir do bastião sudeste damesma fortaleza, a muralha descia até ao Baluarte de S. João, junto do qual se encontrava a Porta do Campo ou Porta de S. Lázaro. Virava seguidamente em direcção ao Fortim de S. Jerónimo, terminando na Fortaleza de S. Francisco, na extremidade norte da baía da Praia Grande.

Outro troço de muralha, a sul da península, começava na Fortaleza do Bomparto, subindo a encosta poente da colina da Penha até ao Forte de N.ḁ S.ḁ da Penha de França. Descendo a encosta nascente, terminava junto ao Porto Interior.

Com a experiência derivada das guerras noutras paragens, os portugueses aplicaram nas fortalezas que erigiram em Macau os mais modernos processos de construção da época: muralhas pouco elevadas, que não excediam cinco metros de altura, seguindo os contornos do terreno, com uma espessura de três a quatro metros terminando em degraus; plataformas, bastiões, casamatas, aterros avançados para defesa exterior. As muralhas eram feitas de taipa, com parapeitos de tijolos, os engenheiros militares portugueses, seus construtores, souberam adaptar os seus anteriores conhecimentos aos materiais e métodos de construção locais.

A Fortaleza de N.ḁ Sr.ḁ do Bomparto encontrava-se concluída em 1622, não se conhecendo ao certo a data da sua construção. Nesse local existira antes um eremitério dos Agostinhos. Os muros, de taipa e de pedra, assentavam nas rochas existentes na sua base e eram sustentados por fundações de granito que se elevavam a 1,20 m, em média, acima do nível dessas rochas. Destinada a dar fogo de cobertura ao Porto Exterior, servia simultaneamente de protecção ao acesso ao Porto Interior, defendendo a zona de transição entre ambos. Tinha inicialmente a forma de um quadrilátero irregular, modificada posteriormente com a sua ampliação. Dispunha de um depósito de munições e de alojamentos para a guarnição. Os parapeitos tinham oito aberturas para canhões e deles partia a muralha que ligava este forte ao da Penha, no cimo da colina a poente.

Outro dos fortes mais antigos, demolido, reconstruído e novamente demolido, foi o de N.ḁ Sr.ḁ da Penha de França. Dentro das suas muralhas foi construída uma ermida dedicada a N.ḁ Sr.ḁ, inaugurada em 29 de Abril de 1622. Situado no topo da colina da Penha era, no entanto, considerado fortificação costeira, tendo como principal objectivo a defesa contra ataques por mar. O seu poder de fogo alcançava grande parte do perímetro da península, pois os seis canhões da sua plataforma podiam disparar em arco por sobre a cidade.

Em 1617 começou a ser construída a maior e mais importante das fortalezas de Macau, a de St.ḁ Maria do Monte, sob projecto do padre Jerónimo Rho e de Francisco Lopes Carrasco, capitão de guerra. Situava-se junto à Igreja de S. Paulo, perto do colégio dos Jesuítas. A construção da fortaleza só viria a terminar em 1626, mas esta teve já um papel significativo aquando do ataque holandês de 1622. Situada no ponto de ligação das muralhas que, vindo do Porto Interior, a ligavam ao Baluarte de S. João e ao Fortim de S. Jerónimo, a sudeste, tinha poder de fogo que abrangia todo o litoral em redor da península, numa época em que o mar chegava ainda aos contrafortes das colinas. Era o eixo de defesa da cidade, contra uma possível ameaça da China e um eventual ataque por mar, dado que o alcance de tiro, em arco, cobria as costas nascente, poente e sul, para além de proteger qualquer operaçãoem terra, ao longo das muralhas. A fortaleza tem a forma de quadrilátero, com bastiões nos cantos e dispunha de uma grande casa da guarda, armazéns de munições e uma torre de três andares com artilharia. Posteriormente foi ali edificada uma residência para o comandante do forte, um quartel para as suas tropas, reservatórios de água e uma escadaria de acesso ao portão existente na muralha sul voltado para o primitivo núcleo habitacional.

Residências de Macau, vistas do Bom Jesus. George Chinnery, 1836. Col. Toyo Bunko.

A Fortaleza de S. Tiago da Barra foi levantada no local onde já em 1622 existia uma bateria de canhões, tendo ficado terminada em 1629. Foi o primeiro governador do Território, D. Francisco de Mascarenhas, que ordenou a sua construção, bem como a de várias outras fortificações da cidade, sob a orientação de um perito espanhol em fortificações, D. Fernando de Morales. Situada a sul da península, na costa ocidental, destinava-se a proteger o Porto Interior e controlar o acesso da navegação ao mesmo, encontrando-se ligada à muralha que corria da Fortaleza do Bomparto ao Porto Interior. Dentro das suas muralhas existiam alojamentos para o comandante e guarnição, armazéns de mantimentos e várias habitações, o que lhe dava o aspecto de uma verdadeira aldeia. Posteriormente foi também ali edificada uma capela, dedicada a S. Tiago. A construção da estrada marginal da Barra cortou cerca de dois terços da sua área, junto ao mar.

Entre as fortificações construídas na época encontra-se o Fortim de S. Pedro, situado no que era então o ponto médio da baía da Praia Grande, onde hoje se encontra o monumento a Jorge Álvares. Construído depois de 1622, estava ligado à Fortaleza de N.ḁ Sr.ḁ do Bomparto e à de S. Francisco por uma muralha de pouca altura. A sua finalidade era a defesa da costa do Porto Exterior. Tinha, de princípio, planta triangular, mais tarde ampliada e reforçada. A sua construção era de alvenaria, com blocos de pedra de quatro a cinco toneladas. As muralhas em talude encontravam-se apoiadas em fundações de pedra ligadas às rochas existentes no local.

Pela mesma altura foi construído o Fortim de S. Jerónimo, no cimo da pequena colina sobranceira à Fortaleza de S. Francisco, da qual viria a reforçar o poder defensivo podendo ainda apoiar operações em terra. Era formado por duas plataformas triangulares onde se situavam os canhões. Neste ponto a muralha que partia do Monte fazia um ângulo de 90° para seguir parasudoeste até à Fortaleza de S. Francisco.

Na base da colina de S. Jerónimo existia também, em 1622, uma antiga bateria. Nesse local foi levantada em 1629 a Fortaleza de S. Francisco, integrada na linha de fortificações que cercava o núcleo habitacional então existente, ligando-a à Fortaleza de S. Paulo do Monte, bem como ao Baluarte de S. João e ao Fortim de S. Jerónimo. Junto à fortaleza existiu o Convento de S. Francisco, com a sua igreja, Esta fortificação constituía a primeira linha de defesa contra ataques marítimos e o seuarmamento alcançava a Ponta da Cabrita, na Taipa, cobrindo todo o espaço entre as duas costas. Dado que as suas muralhas acompanhavam o contorno da colina onde se situava, tinha um plano irregular, com dois torreões a nascente e poente. Dentro dos seus limites encontravam-se alojamentos para o comandante e guarnição, depósitos de munições e uma igreja.

No ponto mais alto da península, a uma altitude de 94 m, foi construída, em 1637-1638, a Fortaleza de N.ḁ Sr.ḁ da Guia, fora da linha das muralhas defensivas da cidade. Desempenhava a função de bateria auxiliar, funcionando, também, como ponto de observação da chegada de navios ou da aproximação de tufões. A sua construção teve como objectivo a defesa em relação à China, podendo a sua artilharia abranger toda a área peninsular. Tinha uma forma bastante irregular motivada pelas condicionantes do local. Abrigava um quartel e uma cisterna de água e dentro do seu recinto erguia-se uma capela, dedicada a N.a Sr.a da Guia, construída antes de 1622.

A CRISE

Durante o período de depressão não houve praticamente construção em Macau. A instalação de serviços fazia-se em edifícios já existentes, por vezes abandonados pelos antigos donos que tinham partido em busca de melhores condições de vida.

Janelas e varandas típicas de arquitectura tradicional macaense. Foto de Joaquim de Castro.

Por decreto imperial de 1730 foi autorizada aos habitantes dos tancares a construção de casas nas margens dos rios, o que até então lhes estava vedado por não serem naturais da China. Apareceram, assim, ao longo do Porto Interior, novos núcleos habitacionais, que foram inicialmente palafitas e, mais tarde, casas semelhantes às dos moradores locais.

Apesar da proibição de construir, alguns templos foram edificados, no decorrer do século, decerto para implorar o auxílio do Céu para a situação existente na cidade. No reinado de Ch'ien-lung, em data incerta entre 1736 e 1796, construiu-se o Soi Üt Kun Miu, ou T'ou Tei Miu, "Templo dos Deuses Locais", no sopé da elevação do Patane, perto da Gruta de Camões. Em 1730 foi levantado, a poente do actual Mercado de S. Domingos, o Kuan Tai Ku Miu, que foi sede da "Associação das Três Ruas", a mais antiga sociedade de beneficência chinesa de Macau. Por volta de 1789 foi construído o Lin K'ai Miu, "Templo do Regato de Lótus", perto da ribeira do Patane. Este templo, de tijolo, com colunas de pedra, é ornamentado com frisos de baixos relevos polícromos na parte superior das paredes e, sobre a entrada, tem uma peça de madeira dourada com figuras em alto relevo. Sobre a cumeeira do telhado de duas águas, de telha verde vidrada, encontra-se um remate trabalhado, terminando nas empenas em degraus, onde se situamos leões, guardiões do templo.

Entretanto, os portugueses apenas construíram uma capela no recinto da Fortaleza de S. Tiago da Barra, em 1740 e, entre 1748 e 1758, a Igreja de S. José, como complemento do seminário já existente.

No século XIX, a construção limitou-se ainda, durante as primeiras décadas, a obras de conservação ou remodelação de edifícios existentes. Reconstruíram-se as Igrejas de S. Lourenço, em 1801, e de St.° Agostinho, em 1814, e o Convento de St.ḁ Clara em 1824. Foram criados cemitérios não católicos: o dos protestantes, em 1821; o dos parses, em 1829; o dos chineses, em 1849.

OS ESTILOS

Macau foi sempre uma cidade ímpar, englobando chineses e portugueses numa comunidade cosmopolita. Dispondo de recursos limitados conseguiu sobreviver, mesmo através das épocas difíceis, O seu carácter específico, desenvolvido nos séculos xvI e xvII, proporcionou-nos uma esplêndida herança arquitectónica do seu passado glorioso, testemunho vivo da interpenetração cultural ao longo dos séculos.

Ao inicial estilo chinês de construção existente aquando da chegada dos portugueses e que permaneceu nas décadas seguintes, sucedeu-se um período de nítida preponderância do estilo português com pequenas influências mútuas. Estas influências eram motivadas pelas diferentes formas de vida, sendo desigualmente aplicadas nos vários aspectos da arquitectura -- planta dos edifícios, sua construção, acabamentos, decoração, etc. O modo português de construir, ele mesmo derivado de influências diversas, sujeitava-se aos processos de construção da mão de obra local, sofrendo a introdução de elementos autóctones.

Moradia em ruínas, Macau. George Chinnery, 1840. Col. British Museum.

As habitações existentes nessa época foram descritas por um autor chinês contemporâneo, com verdade nuns pontos, com exagero noutros: "As casas têm vários andares para residência. Algumas possuem três andares, estando encostadas às colinas ou construídas no alto ou nas faldas, sendo umas quadradas, outras circulares, triangulares, hexágonas ou octógonas, semelhantes ao formato deflores e frutos. A sua cobertura é parecida com uma concha de caracóis. Estas casas rivalizam entre si em beleza. As paredes são feitas de tijolos ou de terra com uma espessura de quatro a cinco côvados, com janelas abertas à sua volta e são revestidas de cal. As janelas são do tamanho de portas. No interior, há portas com um par de batentes. No exterior, as janelas pequenas são vedadas com mica. As portas dos andares são todas abertas aos lados com escadas de mais de uma dezena de degraus e entra-se pela rectaguarda para o interior das casas. Os patrões vivem nos andares superiores e os escravos no pavimento inferior."

Ao longo do natural processo orgânico de crescimento da cidade foi-se constituindo, pouco a pouco, um estilo próprio, de carácter ambígeno, conduzindo ao ecletismo que durante anos imperou. Deu-se a fusão total das características especiais dasduas arquitecturas em confronto -- a chinesa e a ocidental. O novo estilo assim formado, harmonioso e agradável, continha pois um pouco de oriental e um pouco de europeu, adaptando-se às condições particulares de Macau -- clima, materiais disponíveis, mão-de-obra, pouco espaço para construir obrigando ao uso de vários pisos.

Exceptuando esparsos vestígios, nomeada-mente em igrejas, não se pode falar em Macau de "arquitectura colonial", pois as suas características, difundidas em África ou no Brasil, não são aqui encontradas.

Largo do Senado, c. 1927. Foto Col. do Dr. João Loureiro.

O hibridismo sino-português reflectiu-se essencialmente nas construções destinadas a habitação, em que se nota uma grande preocupação estética. Os templos chineses mantiveram as suas características próprias, sem influências ocidentais, enquanto que, por sua vez, os edifícios destinados a serviços públicos não sofreram praticamente qualquer interferência da arquitectura chinesa. Isto significa que a fusão não impediu que cada um dos estilos se mantivesse relativamente puro, lado a lado com as novas criações.

Existem ainda hoje alguns raros exemplos da construção desta época --os poucos que não foram demolidos por espíritos menos esclarecidos que não se preocupam com a preservação de elementos essenciais da ancestralidade de um povo.

O neoclassicismo na arquitectura, que imperou nos países ocidentais durante o século XIX, expandindo-se um pouco por todo o mundo, teve decisiva influência na construção em Macau.

Os princípios que norteavam a edificação na cidade, para além da integração acima mencionada, apoiavam-se em diferentes estilos, que iam buscar as suas raízes à arquitectura clássica, acrescentando-lhes novas formas, novas ideias. Pormenores exóticos, oriundos das modernas arquitecturas do ocidente praticadas nas regiões coloniais, aliavam-se a um estilo que poderemos chamar neochinês, com influências ocidentais, acompanhando outros pormenores baseados num revivalismo clássico. As construções efectuadas em Macau desde o princípio do século XIX sofreram todas estas influências.

As residências das mais influentes famílias de Macau, situadas ao longo da Praia Grande e escalando as encostas sobre a baía, foram sendo o principal repositório desta amálgama. Mas também um pouco por toda a cidade, ao longo das ruas ou dentrode jardins maiores ou menores, construíram-se moradias no novo estilo, utilizando embora materiais tradicionais, como paredes e colunas de alvenaria de tijolo, cobertura de telha chinesa e rebocos revestidos a cal de ostra; as janelas tinham gelosias articuladas e bandeiras de madrepérola.

As casas chinesas mantinham, simplificando-a, a planta-tipo da habitação ancestral: uma entrada dupla, por vezes tripla, um vestíbulo principal tendo em redor as portas dos compartimentos, uma entrada secundária geralmente ligada a pátios de serviço e um grande pátio central rodeado de colunas -- o coração da casa.

Para empregar os novos princípios sem demolir as construções existentes foi utilizado muitas vezes o recurso à justaposição de falsas fachadas aos prédios mais importantes. A Santa Casa da Misericórdia viu-se engalanada com uma arcada de dois pisos, seguindo-lhe o exemplo os edifícios do Largo do Senado, da Praia Grande, do Porto Interior. Em breve as novas construções seriam projectadas, de raiz, com arcadas e varandas sobrepostas, criando passagens contínuas, abertas à circulação de peões. Ideia útil, que permite caminhar resguardado da chuva ou de calor intenso.

O palacete de St.ḁ Sancha foi edificado em 1846 para residência do então Barão do Cercal, tendo posteriormente sido utilizado como casa de repouso dos padres das missões estrangeiras em Paris, como sede de uma firma comercial inglesa, como hospital de mulheres e maternidade, com serviço especial para crianças e, finalmente, como residência do governador, a partir de 1926. Construído no estilo neoclássico da sua época, tem a parte central da frontaria recolhida para acolher um pórtico coberto por uma varanda com balaustrada. Um frontão em arco de círculo encima essa reentrância.

Residência de Macau.

George Chinnery, 1827. Col. Toyo Bunko.

O macaense José Agostinho Tomás d'Aquino, que estudou "matemática, desenho e comércio" em Lisboa, teve uma vasta obra de projectos de construção, reconstrução e remodelação, em estilo oitocentista, inspirados no neoclassicismo academicista: a construção do Teatro Luso-Britânico, em 1839; a reconstrução da Igreja de S. Lourenço e a da Sé, entre 1844 e 1850. O Convento de S. Domingos foi por ele adaptado a hospital militar em 1848. No ano seguinte construiu o palácio do que era, agora, Visconde do Cercal (actualmente Palácio do Governo) e, em 1850, a casa do novo Barão do Cercal. Em 1851 foi demolido o Convento de S. Francisco para no local se construir um quartel, segundo projecto seu. Foi ele, sem dúvida, o primeiro arquitecto macaense.

Dada a pobreza das instalações para o Governo e respectiva residência, que se acomodava em casas alugadas ou instalações provisórias, sem a grandeza compatível com as suas funções, o governador Isidoro Francisco Guimarães, Visconde da Praia Grande, mandou, em 1851, construir um palácio na Avenida da Praia Grande, em frente do Fortim de S. Pedro. Era um edifício de dois pisos, bastante extenso, e nele se instalaram diversos serviços. Em 1872 foi-lhe acrescentado, ao gosto da época, um peristilo saliente, na parte central do edifício, com arcada, a que se sobrepunha uma varanda com balaustrada e colunas suportando a respectiva cobertura, também com balaustrada e com ornatos diversos. Na mesma altura foi construída, a seguir ao palácio, uma casa da guarda, de um só piso, cuja frontaria era defendida por uma colunata. Em 1884 a sede do governo passou para o palácio do Visconde do Cercal, restando no anterior apenas os serviços públicos, até à sua demolição para no local se levantar o actual edifício das repartições.

Lin Fong Miu, c.1930. Foto Col. do Dr. João Loureiro.

O governador Ferreira do Amaral ordenou, em 1849, a fortificação da colina de Mong Há, como defesa avançada da península. Devido ao seu assassínio, as obras só foram retomadas alguns anos depois, ficando o forte concluído em 1866. Tem planta rectangular e dispõe de depósito de munições. Entretanto, em 1852, foi construído o Forte D. Maria II, sobre a colina do mesmo nome, para reforçar e fornecer fogo de cobertura ao Forte de Mong Há. A sua planta é de formato hexagonal. Tinha um fosso junto à muralha sudeste e o acesso fazia-se por uma ponte levadiça. Ambos os fortes apresentavam o estilo tradicional das fortificações anterior-mente levantadas em Macau.

O primeiro farol dacos ta asiática do Pacífico foi inaugurado em 1865, na colina da Guia, tendo sido construído por ordem do governador Coelho do Amaral. Tem forma octogonal e uma altura de 13,5 m. Começou por funcionar com uma luz a petróleo, substituída em 1910 por moderna aparelhagem, de rotação.

Anos mais tarde, um outro projectista ilustre, o Barão do Cercal, veio dar também o seu contributo à arquitectura macaense. Os seus projectos, de estilo neogótico, estão patentes em vários edifícios da cidade. Uma das suas obras mais expressivas foi, em 1872, a fachada anteposta ao Teatro D. Pedro V, cujo projecto fora executado por Pedro Germano Marques duas décadas antes, num misto de arquitectura portuguesa e influências clássicas gregas e romanas. Outro seu trabalho importante foi o Hospital de S. Januário, no topo da elevação do mesmo nome. Após desaterros, nivelamentos e consolidação do terreno, foi construído um edifício apropriado ao seu fim seguindo os princípios mais actualizados da época, o qual ficou concluído em 1872. Tinha planta rectangular com cerca de 75 x 34 m, subdividida em cinco corpos de dois pisos, separados por pátios ajardinados. Para além dos devidos espaços para as funções administrativas, contava com várias enfermarias especializadas, quartos para os médicos e capelão, capela e diversas instalações de serviço. Foi edificado num estilo neoclássico com influências árabes -- e a mão de obra local apôs-lhe o seu cunho próprio.

O Clube Militar, então denominado Grémio Militar, foi fundado em 1870 e em breve dispunha de instalações privativas, com projecto também do Barão do Cercal, situadas frente ao mar, junto ao Jardim de S. Francisco. O edifício, de um só piso, segue o estilo nele impresso pelo seu criador -- as suas linhas neoclássicas apresentam colunas e pilastras suportando a balaustrada superior e o frontão em arco de círculo, sendo os vãos emoldurados abertos para as largas varandas.

O arquitecto italiano Cassuto projectou o Quartel dos Mouros, terminado em 1874, utilizando um estilo que, mais do que neo-árabe, poderemos apelidar de "neo-indiano", pelas influências daarquitectura inglesa na Índia que o caracterizam. Situa-se na vertente noroeste da colina da Barra, apresentando a sua extensa fachada principal ao Porto Interior. Segundo testemunhos da época, o quartel dispunha de casernas vastas e bem ventiladas onde se "acomodavam duzentas praças", quartos para oficiais e uma grande sala dando "para o terraço que corre em volta de todo o edifício, e donde se gosa um admirável panorama".

Edifício do tipo tradicional de "falsa fachada", de influência neo-clássica (1918).

Albergou durante muitos anos uma escola chinesa, e é presentemente um Centro de Juventude.

O pequeno edifício do Senado, construído em 1583, e que é retratado, por volta de 1751, na obra Ou Mun Kei Leok como uma construção de um só piso, com alpendre, situado dentro de um espaço murado, foi posteriormente substituído por uma nova edificação. A obra, executada em 1784 segundo projecto do padre frei Patrício de S. José, foi descrita da seguinte forma: "0 edifício público, em que o governo tem as suas sessões, designado pelo nome de Casa do Senado, tem dois andares. A base é de granito e o resto de cal e tijolo, bem como os pilares[...] O entablamento assenta sobre colunas e a cornija é ornamentada com vasos de porcelanas vidrada[...] No Salão Nobre há a Capelinha de N.ḁ Sr.ḁ da Conceição[...]". Como o terrível tufão de 1874 causou graves danos no edifício, foi então efectuada a sua reconstrução, terminada dois anos depois, com especial incidência na fachada principal, remodelada ao gosto da época. A porta principal e as três janelas centrais do 1.° andar, dando para a varanda gradeada, eram encimadas por arcos de volta perfeita; as restantes janelas eram rectas, terminando as superiores com pequenos frontões.

Também a Igreja de N.ḁ Sr.ḁ da Esperança, no Bairro de S. Lázaro, foi totalmente reconstruída, em 1885, em substituição da antiga igreja do século xvI. Tem torre sineira lateral e os seus vãos terminam em arcos de volta inteira. A fachada, de pilastras adossadas, é rematada por um frontão de formas curvas. De novo o classicismo adaptado ao gosto da época.

No mesmo Bairro de S. Lázaro encontram-se ainda alguns edifícios habitacionais de fins de século, como o conjunto situado perto da igreja, constituído por dois prédios geminados e um outro, de gaveto, de planta triangular. De composição muito simples, atestam contudo o interesse que então existia pela construção habitacional. Em frente da igreja há um prédio de linhas neoclássicas, considerado também, como os anteriores, como "edifício a preservar".

Outros edifícios, inicialmente destinados a habitação, construídos na mesma amálgama de estilos deste fim de século, mais ou menos simples, podem encontrar-se um pouco por toda a cidade, desde a Porta do Cerco ao Largo do Senado, na Barra como no Largo da Sé, na Rua dos Mercadores, na Rua de S. Lourenço, na Rua de S. Paulo, no Beco do Lilau, nos novos arruamentos.

Edifícios não residenciais são ainda testemunho da arquitectura deste período, evidenciando-se as torres prestamistas pela sua volumetria e características próprias. Realça-se também o Hotel de Cantão na Rua do Guimarães, o Pavilhão do Jardim de Lou Lim Ieoc, etc.

Em 1900 foi inaugurado o Hotel Boa Vista, em edifício já existente há cerca de vinte anos. Todos os traços do neoclássico local estão patentes nesta construção de três pisos -- as arcadas, ascolunas, os balaústres, os arcos de volta inteira, as molduras e, mesmo, um pequeno frontão. O seu interior luxuoso contribuiu para proporcionar ao hotel fama internacional.

Os templos chineses continuavam, ainda, a manter as suas características ancestrais. Neste período foram construídos o Lou Pan Si Fu Miu, o T'in Hau Miu, o Chôc Lam Chi, o Chong Kuok Tou Tei Miu, o Pao Kong Miu, o Na Ch'á Miu e, também, já perto do fim do século, a casa de beneficência Tum Sin Tong.

Em relação a fortificações militares pode dizer-se que foram neste período maiores as demolições do que as construções. Já não se justificava, então, a existência de muralhas, que foram sendo derrubadas conjuntamente com postos de defesa secundários que delas faziam parte. Apenas se edificou, em 1872, a Bateria 1.°. de Dezembro, junto à Fortaleza de S. Francisco e num plano inferior à mesma, construída para defender o acesso à Praia Grande mas servindo essencialmente para proporcionar abrigo às embarcações em alturas de tempestade. Tinha planta circular com cinco plataformas para as peças de artilharia, sendo as suas muralhas fortemente inclinadas como medida de defesa. Dispunha de alojamentos para a guarnição, depósitos de munições e armazéns diversos e comunicava com a Fortaleza de S. Francisco por uma passagem subterrânea.

O SÉCULO XX

Chegou a era do cimento. Os primeiros edifícios construídos em betão armado procuravam ainda seguir as linhas clássicas, com a estilização derivada das características do novo material. Cada vez mais simplificados, os vestígios do estilo macaense acabaram por diluir-se, substituídos por formas mais ou menos rectilíneas.

Na primeira metade do século, a arquitectura/ sem arquitectos proliferou. Os prédios de pequenas dimensões -- dois, três, quatro pisos -- encheram a cidade, ocupados com habitação modesta mas pretendendo por vezes simular fachadas dos antigos edifícios mais imponentes, com varandas complicadas e profusão de linhas curvas em pormenores arquitectónicos. O piso térreo era normalmente utilizado para comércio. Os projectos, da autoria de quem fosse capaz de pegar num lápis e numa régua, começaram a ser apresentados nos Serviços de Obras Públicas -- e eram aprovados. Por vezes referiam-se apenas a um "enfeite" da fachada, que ficava geralmente pior do que dantes...

O traçado da Avenida Horta e Costa, em 1901, proporcionou a construção de filas cerradas de prédios habitacionais, não dependentes de qualquer estilo, que se espalharam, direitinhos, pelos restantes arruamentos novos, da Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida à Avenida Almirante Lacerda. Primeiramente com um ou dois pisos, foram depois crescendo, irregularmente, estando hoje a ser substituídos, irregularmente também, por construções de 30 a 40 pisos entremeadas com alguns "anões" de sete pisos.

Arquitectura da marginal do Porto Interior. Macau,1903.

In "Um Marinheiro em Macau-- 1903 --Álbum de Viagens" (Ed. Museu Marítimo de Macau).

O rasgamento da Avenida Almeida Ribeiro, concluído em 1918, após expropriação e demolição dos antigos edifícios que impediam o seu alinhamento regular, originou uma onda de novos projectos, com emprego de betão armado e o uso sistemático de arcadas. Do "Plano de Intervenção Urbanística da Avenida Almeida Ribeiro", elaborado em 1983 pela Palmer & Turner, consta um regulamento pormenorizado para orientação da construção na zona, tendo como objectivo a renovação urbana no quadro da preservação de edifícios e ambientes classificados. São considerados quatro tipos de intervenção: projectos de construção, em eventuais terrenos livres ou provenientes de demolição; projectos de reconstrução de edifícios degradados, repondo as suas características originais; projectos de remodelação com manutenção dos elementos essenciais da construção existente, mas possibilitando a sua renovação; e projectos de restauro, contemplando obras pouco profundas e mantendo as condições estruturais existentes. Em qualquer dos casos são fixados os valores da cércea, os alinhamentos, os limites dos corpos recuados e da ocupação vertical, a persistência e dimensões das arcadas. Este Regulamento foi revisto e pormenorizado em 1984, especificando caso a caso as operações a efectuar.

Edifícios pontuais merecem referência, como a Casa Branca, onde se instalou o Convento do Precioso Sangue, com projecto do Arq.° John Lemn, construída em 1916, uma moradia na Rua do Campo, no mesmo ano, do Arq.° J. Caer Clark, ou a Vista Alegre, do Arq.° José Francisco da Silva, de 1917/ 18, presentemente Escola Leng Nam -- algumas das raríssimas obras de arquitectos nesta época.

O estilo Art-Déco, que na Europa se desenvolveu entre os anos 20 e 30, cedo alcançou Macau, sendo aplicado em moradias, como a Skyline, em colégios religiosos como a Escola Salesiana ou, mesmo, em edifícios públicos, como o Mercado Vermelho, construído em 1934 com projecto do Arq. ° Júlio Alberto Basto.

O Modernismo, como sequência depurada do estilo anterior, atingiu Macau nas décadas de 30 e 40. A sua geometria horizontalizada, com superfícies lisas praticamente sem ornamentos, foi utilizada, por exemplo, na Escola Primária Pedro Nolasco da Silva e na Escola Luso-Chinesa Sir Robert Ho Tung. Um dos seus introdutores foi o Eng.° João Canavarro Nolasco, que trabalhou em Macau de 1936 a 1950.

Após a relativa estagnação dos anos da Segunda Guerra Mundial, cujos reflexos se fizeram sentir em Macau, a cidade renasceu mais uma vez. Em meados do século houve um acréscimo de população devido à imigração de camponeses e pescadores chineses. Em conjugação com este incremento demográfico explodiu o desenvolvi-mento económico e, derivada de ambos, uma nova fase de expansão urbana do Território. Os então raros espaços vazios foram ocupados, as construções de baixa altura demolidas para dar lugar a edifícios em altura sem que um plano director impusesse os seus critérios.

Alguns melhoramentos foram nesta época implementados, no capítulo de equipamentos e infra-estruturas, nomeadamente o abastecimento de água à cidade, iniciado em 1936. As chácaras da Penha e da Barra deram lugar a habitações de pessoas abastadas, enquanto os mais pobres se aglomeravam no Porto Interior, junto à ilha Verde. Para os refugiados foi construído um bairro, na zona do hipódromo.

Templo de Kun Iam, c.1930. Foto Col. do Dr. João Loureiro.

A partir de 1950 os arquitectos portugueses "descobriram" Macau. Vindos por dever de ofício a mando do Ministério do Ultramar, ou como "turistas" de chegar e partir, aos poucos foram-se fixando, apaixonados pela cidade e cientes das suas oportunidades. Pouco aceites, de inicio, visto que qualquer pessoa podia fazer um "risco", impuseram-se finalmente, dando origem a uma arquitectura de arquitectos. Técnicos chineses ou de Hong Kong vieram depois engrossar as fileiras, onde pontificam vários arquitectos macaenses.

Na fase de transição entre as duas épocas encontram-se ainda edifícios, considerados modernos nos anos 60, destinados a habitação, com seis e sete pisos (sem elevador), cujo modelo procura persistir nos nossos dias, forçando a vontade dos arquitectos projectistas --aproveitamento do espaço até ao centímetro quadrado, fogos dando unicamente para pátios minúsculos, grades nas janelas e varandas por medo dos ladrões/ acrobatas (que se diz treparem pelas mínimas saliências das fachadas até aos mais altos andares).

Alguns edifícios significativos foram também construídos nesta época, como o Mercado de S. Domingos, em 1950, o edifício "das Repartições", em 1951, o Hospital de S. Januário e o Liceu Infante D. Henrique, nos anos sessenta. O Hotel Lisboa foi construído em 1970, com projecto de Liang Tat Man.

Entretanto, o Arq.° Chorão Ramalho fazia escola, trabalhando com ele alguns jovens arquitectos que posteriormente continuaram a projectar sozinhos ou associados. São dele os projectos da Escola Pedro Nolasco, Infantário Ave Maria e "torres" para habitação de funcionários.

Cena de rua de Macau, provavelmente a Rua de S. Lourenço. Litografia colorida de C. Graham, nos seus "Sketches in China", Londres,1840. Derwent Collection.

In "An American in Canton (1825-44)", William Hunter, Derwent Communications Ltd., HK,1994.

O Instituto Cultural de Macau, criado em 1982, pretendendo preservar a componente cultural portuguesa no Território em vários dos seus aspectos, abrange, como uma das suas finalidades, a defesa do património arquitectónico, procurando a sua conservação e recuperação. Elaborou, para esse efeito, uma listagem de edifícios a manter, zonas ambientais e zonas de protecção, considerando-os um importante legado de anteriores gerações. Por sua iniciativa foi revista a legislação existente desde 1976 sobre o assunto e propostas novas medidas para garantir os fins pretendidos. Um diploma-legislativo aprovado em 1983 define os monumentos, conjuntos e sítios a preservar, seguindo-se-lhe uma proposta de lei tendente a possibilitar a aplicação prática das medidas tomadas, incluindo incentivos fiscais no campo dos impostos e facilidades de permuta de edifícios classificados por terrenos livres, aptos para construção. Para alguns, estas disposições não chegaram a tempo, pois a miragem do lucro tinhaos feito já desaparecer, para serem substituídos por grandes imóveis. Mas outros estão agora a salvo e vêm sendo adaptados a finalidades diversas, como museus, bibliotecas, serviços públicos.

Em 1986, por iniciativa do Governo de Macau, foi elaborada uma proposta para inclusão do Centro Histórico de Macau na lista da UNESCO para a conservação dos lugares históricos mundiais. Esse estudo foi preparado pela Partex sob orientação do Arq. ° Tomás Taveira, tendo em conta a legislação existente no Território sobre a preservação do património construído.

Para efeitos de trabalho a cidade foi dividida em sete zonas, de acordo com características urbanas e arquitectónicas, representando estádios de desenvolvimento ao longo da sua história que mantenham ainda o seu carácter típico:

Porto Interior

Praia Grande

Barra e Penha

Av. Cons. Ferreira de Almeida/

R. Ferreira do Amaral

Mong Há e Av. Horta e Costa/

Av. Coronel Mesquita

Neste estudo, o centro histórico foi considerado a zona mais importante e significativa nos aspectos monumental, histórico e cultural, con-servando, de modo geral, as características originais da sua arquitectura. Corresponde à cidade "intramuros" que perdurou até ao segundo quartel do século XIX, distintadas zonas chinesas situadas fora das muralhas. O Porto Interior, regularizado no início do século XIX, tem como principal ponto de interesse as suas fachadas com arcada no piso térreo e varandas sobrepostas, hoje tomadascomo condicionante para a reconstrução na zona.

A construção na Praia Grande data essencial-mente do século xvIII e nela se situaram as sedes das principais companhias comerciais estrangeiras, a par de imponentes moradias e edifícios públicos de características especiais, cuja preservação se pretendia. Na Barra e na Penha houve inicialmente chácaras, progressivamente ocupadas com construção ao longo dos arruamentos, mantendo-se, contudo, ainda hoje, uma razoável zona verde. As restantes áreas pertencem já ao século xx e apresentam características próprias, com aspectos diferentes das zonas mais antigas.

Com a recente "explosão" da construção civil em Macau, em todos estes locais têm aparecido novos edifícios, que forçosamente as descaracterizam, mesmo nos casos em que é condicionante a manutenção da fachada. A evolução não perdoa e os sentimentalismos conservadores vão perdendo terreno, estando prestes a esfumar-se o sonho que deu origem à proposta da Partex. Mantêm-se, apenas, alguns edifícios isolados, esses mesmos em parte remodelados ou, então, em estado de abandono que não favorecerá a sua recuperação. Mas, se a cidade histórica já não tem possibilidade de ser preservada no seu conjunto, resta-nos a acção do Instituto Cultural de Macau para salvar o que resta.

Velha casa "neo-pombalina", estilo que teve larga proliferação em Macau nos inícios do Século passado. Nesta casa, já destruída, viveu Harriet Low. Arq. do DPA do ICM.

Desde a segunda metade da década de 70 muitos arquitectos se estabeleceram em Macau, onde passou a ser obrigatória a assinatura de um arquitecto em todos os projectos novos. Será difícil fazer uma resenha das obras efectuadas desde então. Muito bons ou menos bons, todos têm contribuído para fazer de Macau a cidade de hoje, a cidade de amanhã.

Dos que ainda se mantêm, neste momento, no Território, na actividade privada, são aqui apresentados alguns exemplos, relativos a trabalhos recentes:

    Projecto -- Moradia na Penha 
    ADALBERTO TENREIRO 
    Nasceu em S. Tomé em 1955 
    Formou-se pela ESBAL em 1980 
    Encontra-se em Macau desde 1983

    Projecto -- Edifício para restaurante na Taipa 
    Projecto -- Edifício habitacional c/23 pisos
    na R. Silva Mendes -- 1989/90
    ANA BORGES
    Nasceu em Angola em 1956
    Formou-se pela ESBAL em 1980 
    Encontra-se em Macau desde 1982

    Projecto -- Escola de Pilotagem da Marinha no Porto Interior-- 1979/1989
    ANTÓNIO BRUNO SOARES 
    Nasceu em Lisboa em 1947 
    Formou-se pela ESBAL em 1973 
    Encontra-se em Macau desde 1978

    Projecto -- Museu da Marinha no Porto Interior 
    Projecto habitação social em Mong Há 
    CARLOS BONINA MORENO
    Nasceu na Covilhã em 1945
    Formou-se pela ESBAL em 1979 
    Encontra-se em Macau desde 1982

    Projecto -- Edifício de escritórios na R. da Praia Grande/R. do Pe. Narciso--1990/1991
    CHAN CA TONG 
    Nasceu em Macau em 1959 
    Formou-se pela ESBAL 
    Encontra-se em Macau desde 1986

    Projecto -- Edifício habitacional
    EDDIE WONG 
    Nasceu em Macau em 1952
    Formou-se pela Universidade de Austin (Texas, U. S. A.)
    Encontra-se em Macau desde 1979

    Projecto -- Casa da Guarda do Centro de Instrução Conjunta
    Coloane -- projecto de 1985, conclusão em 1990 
    EDUARDO FLORES 
    Nasceu em Luanda em 1954
    Formou-se pela ESBAL em 1981 
    Encontra-se em Macau desde 1982

    Projecto -- Moradia em Coloane
    Projecto -- Bairro Social N.° dos C. T. T.
    Av. Almirante Lacerda/A v. Ouvidor Arriaga 1991
    EDUARDO LIMA SOARES 
    Nasceu em Lisboa em 1945
    Formou-se pela ESBAL em 1971 
    Encontra-se em Macau desde 1977

    Projecto -- Edifício da Direcção dos Serviços de Finanças (em colaboração c/António BrunoSoares), R. da Praia Grande/R. da Sé - 1987 
    IRENE Ó 
    Nasceu em Macau em 1947 
    Formou-se pela ESBAL em 1973 
    Encontra-se em Macau desde 1978

    Projecto -- Edifício comercial integrando a reconstituição da Casa de Chá Lok Kok
    Av. Almeida Ribeiro/R.5 de Outubro --1991 
    JON PRESCOTT 
    Nasceu em Inglaterra em 1925
    Formou-se pela Universidade de Liverpool em 1953
    Faleceu em Dezembro de 1994 em Hong Kong

    Projecto -- Banco Comercial de Macau, Delegação na Taipa -- 1990
    JOSÉ CATITA 
    Nasceu em Lisboa em 1947 
    Formou-se pela ESBAL em 1973 
    Encontra-se em Macau desde 1979

    Projecto -- Edifício de escritórios, Av. da Amizade
    Projecto -- Hotel, Taipa 
    JOSÉ PEREIRA CHAN 
    Nasceu em Macau em 1941
    Formou-se pela ESBAL em 1967 
    Encontra-se em Macau desde 1969

    Projecto -- Recuperação de duas moradias para instalação de Serviço Público, R. Sanches de Miranda -- 1990
    LUÍS SÁ MACHADO 
    Nasceu em Escalhão em 1951
    Formou-se pela ESBAL em 1980 ' 
    Encontra-se em Macau desde 1983

    Projecto -- Edifício habitacional na Praia Grande
    MANUEL VICENTE 
    Nasceu em Lisboa em 1934 
    Formou-se pela ESBAL em 1962

    Master em Arquitectura na Universidade de Pensilvânia (U. S. A.) em 1969
    Encontra-se em Macau desde 1962

    Projecto -- Centro de Formação da Administração Pública
    Estrada D. Maria II, Edifício CEM -- 1989 
    Arquitectura de interiores -- 7.° e 8.° andares
    Projecto -- Edifício habitacional, Av. Almirante Lacerda
    MARIA DA CONCEIÇÃO PERRY 
    Nasceu em 1954
    Formou-se pela ESBAL em 1980 
    Encontra-se em Macau desde 1983

    Projecto -- Edifício habitacional, R. Ribeira do Patane
    HELENA PINTO 
    Nasceu na Murtosa em 1956 
    Formou-se pela ESBAL em 1979 
    Encontra-se em Macau desde 1983

    Projecto -- Centro de Dia/Centro de Saúde/Centro de Actividades Juvenis, R. Constantino Brito
    PAULO SANMARFUL 
    Nasceu em Carcavelos em 1950 
    Formou-se pela ESBAL em 1977 
    Encontra-se em Macau desde 1979

    Projecto -- Companhia de Electricidade de Macau, Estrada da Bela Vista
    VICENTE BRAVO FERREIRA 
    Nasceu em Angola em 1946 
    Formou-se pela ESBAL em 1974
    Encontra-se em Macau desde 1981

ESTABELECIMENTOS DE ENSINO

Como foi episodicamente referido nos capítulos precedentes, o ensino em Macau esteve durante largos anos a cargo das ordens religiosas que aqui se estabeleceram, principalmente os Jesuítas, que em 1572 fundaram a primeira escola, junto da Ermida de St.° António. Dela derivou o Colégio de S. Paulo, criado em 1594 e que veio a originar a primeira Universidade de Macau. No mesmo conjunto havia ainda um seminário nipónico e,

Moradia na Penha, fachada. também, durante alguns anos, uma escola de pintura. Com o incêndio de 1835 desapareceu todo o complexo escolar e religioso de S. Paulo.

Outras escolas existiram, também, no Convento de St.° Agostinho e no Convento de S. Domingos, nas quais se ensinava "ler, escrever e latim", por vezes artes ou música.

Devido à expulsão dos Jesuítas, por decisão do Marquês de Pombal, o ensino em Macau decaiu enorme-mente. Para tentar compensar esta perda houve um professor régio, a partir de 1784 e aulas ministradas por padres seculares. Em 1834 foram extintas as várias ordens religiosas, o que veio agravar a situação. Apenas havia então algumas aulas no Seminário de S. José e as chamadas "Escolas da Caridade", a cargo de leigos, que exerciam em suas casas.

À Escola de Primeiras Letras que existia em 1797, sucedeu a Escola Principal de Instrução Pública, em 1847, da qual derivou a Escola Primária Oficial, aberta em 1872, com duas secções, masculina e feminina, em edifícios separados. Em 1862 foi criada a Nova Escola Macaense, por iniciativa particular.

Para "meninas orphaans filhas de Portuguezes" foi constituído em 1718 o Recolhimento da St. ḁ Casa da Misericórdia, que só começou a funcionar oito anos depois, ensinando "as artes de que necessita uma mulher para governar sua casa". Este estabelecimento foi substituído, em 1792, pelo "Recolhimento ou Casa de Educação para meninas órfãs", que tomou mais tarde o nome de "Recolhimento de St.ḁ Rosa de Lima". Esteve provisoriamente instalado na "Casa das 16 Colunas" (hojeInstituto Salesiano), depois no Convento de St.° Agostinho e no Mosteiro de St.ḁ Clara, tendo este sido incorporado no Colégio de St.ḁ Rosa de Lima em 1875.

Hotel Caravela.

A Escola Pio XII, que funcionou de 1951 a 1972 e o Colégio Stella Matutina, criado em 1953 e que se manteve até 1975, fazem também parte, presentemente, do Colégio de St.ḁ Rosa de Lima, nas suas várias instalações.

Em 1871, para obstar aos problemas decorrentes da falta de escolas, foi fundada a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), sendo de sua iniciativa a criação da escola comercial, em 1878. Esta escola, "Pedro Nolasco", só teve instalações próprias em 1920, na Calçada do Gamboa, de onde transitou para o actual edifício na Avenida D. João IV, projecto do Arq.° Chorão Ramalho, inaugurado em 1966.

Entretanto, em 1728 começou a funcionar, em casa própria, o Seminário de S. José. Julgamos ser este o mais antigo edifício da cidade que se mantém praticamente sem alterações e em relativas condições de conservação, embora quase abandonado, apenas utilizado como residência de alguns sacerdotes.

Esporadicamente, funcionaram em Macau algumas escolas de pilotagem, sendo a primeira de iniciativa particular, entre 1786 e 1801. Seguiu--se-lhe a Escola Real de Pilotos, de 1814 a 1822. Por decreto de 1862 foi criada uma cadeira de Náutica no seminário. Novo decreto, em 1905, criou outra escola de pilotagem que funcionou até aos anos da guerra mundial. Houve ainda uma escola de artilharia, criada em 1820, de curta duração e, efemeramente, uma Academia Militar ou "Aula de Matemática" fundada em 1835. Recentemente foi inaugurada a nova Escola de Pilotagem, no Porto Interior.

Em 1859 instalaram-se em Macau as Irmãs de S. Paulo de Chartres, refugiadas de Hong Kong, com as suas crianças. Criaram uma escola onde ensinavam francês, inglês, português e artes liberais, da qual derivou o Colégio da Imaculada Conceição, inaugurado em 1864 e, após breve encerra-mento, reaberto em 1872, funcionando até 1894. Depois da Segunda Guerra, a ordem voltou a instalar-se na cidade, em casa própria, a Casa de S. José, onde houve um infantário e escola para meninas de Hong Kong, até 1967, data em que se retiraram, oferecendo as instalações à diocese de Macau.

As Irmãs Canossianas chegaram a Macau em 1873, abrindo uma escola chinesa para crianças pobres, perto da Fortaleza do Monte. Em 1885 foi construído o Asilo da St.ḁ Infância, para crianças abandonadas, posteriormente demolido para dar lugar à Escola Canossa. A acção canossiana ocasionou a abertura de várias secções, na cidade e nas ilhas, estendendo-se a alunas portuguesas até 1974. A Escola Pui Cheng, acima referida, funcionava na Casa de Beneficência das Canossianas, ampliando-se depois para novo edifício construído no local do antigo Asilo da St.ḁ Infância, passando a denominar-se Escola Canossa. Na Casa de Beneficência voltou a existir, em 1959, uma escola gratuita para crianças do Bairro do Patane.

Durante alguns anos, as Canossianas dirigiram o Colégio de St.ḁ Rosa de Lima, entre 1889 e 1903, data em que dele se encarregaram as Franciscanas Missionárias de Maria, que haviam nessa altura chegado a Macau instalando-se no Convento de St.ḁ Clara, já desaparecido.

Museu Marítimo -- Carlos Bonina Moreno.

Passaram então as Canossianas a dirigir o Colégio da Perseverança, sediado na Casa das 16 Colunas, onde se manteve durante sete anos, mudando depois para a Casa da Beneficência, que veio a encerrar em 1910. Posteriormente reaberta, a Casa albergou temporariamente o Colégio do Sagrado Coração, em 1938, o qual no ano seguinte se instalou em edifício próprio, na Estrada Coelho do Amaral. Ocupa, presentemente, todo o quarteirão delimitado pela referida estrada, Avenida Ouvidor Arriaga, Rua Padre João Clímaco e Avenida Coronel Mesquita.

As Canossianas abriram ainda uma escola em Mong Há, em 1907, no local do actual Asilo de S. Francisco Xavier (inaugurado em 1973). Presentemente dirigem quatro estabelecimentos de ensino, do pré-primário ao secundário.

O liceu de Macau foi criado por decreto de 1893, instalando-se no Convento de St.° Agostinho e passando para a Calçada do Governador em 1900. Passou sucessivamente pelo Hotel Boa Vista (1923), pelo Tap Seac (onde fora o Asilo das Inválidas), de1924 a 1958, pelo edifício próprio construído na Avenida Infante D. Henrique e instalou-se, finalmente, no Complexo Escolar, cujo projecto foi executado pelo Arq.° Tomás Taveira, tendo sido inaugurado em 1986. Neste Complexo incluem-se a Escola Secundária Infante D. Henrique, a Escola Preparatória Dr. José Gomes da Silva e a Escola Luso-Chinesa Luís Gonzaga Gomes.

Os Salesianos, chegados ao Território em 1906, criaram, nesse mesmo ano, o Orfanato da Imaculada Conceição, que das suas primitivas instalações na Rua da Prata transitou para a Casa das 16 Colunas, dando origem ao Instituto Salesiano da Imaculada Conceição, sucessivamente ampliado. Este edifício já não ostenta as tão faladas colunas, mas o nome perdurou, desde o tempo da construção da moradia particular que ali existiu e que teve diversas utilizações: residência de governador, escritório da Companhia Inglesa da Índia Oriental e várias escolas.

Durante a Segunda Guerra funcionou em Macau o Colégio de S. Luís Gonzaga, iniciado em 1943, primeiro num edifício da Rua de S. Lourenço, depois na Praia Grande. Destinava-se essencial-mente arefugiados de Hong Kong que para ali voltaram terminada a guerra, cessando o colégio as suas funções em 1945.

Em 1955 foi fundado o Colégio Ricci, por missionários jesuítas refugiados da China. Instalaram-se na Rua da Praia do Bomparto, na chamada "Casa Ricci", onde hoje funciona apenas a secção primária. Construíram mais tarde outro edifício, na Rua do Chunambeiro inaugurado em 1959 e ampliado em 1965. O curso secundário funciona na Travessa do Colégio, em instalações que datam de 1962.

O Grand Hotel.

O Instituto D. Melchior Carneiro foi criado em 1961 e integra creche, escolas pré-primária, primária e secundária e secção comercial. Tendo começado a funcionar num pequeno edifício alugado, dispõe presentemente de vários pavilhões próprios, na Travessa de S. Paulo, perto da Fortaleza do Monte.

Os Jesuítas, regressados ao Território em meados do presente século, retomaram as suas actividades no ensino. O Colégio Diocesano de S. José foi fundado em 1931, num edifício da Rua da Prata, tendo-se expandido posteriormente para outros pontos da cidade. Em 1954 criaram uma pequena escola para crianças pobres, na Rua das Estalagens, a qual transitou para a Rua de S. Paulo em 1966, tendo sido instalada em edifício construído expressamente para o efeito, no mesmo local, inaugurado em 1973 -- aEscola do Santíssimo Rosário.

O Colégio Estrela do Mar abriu em 1955, na Rua do Padre António, em casas da diocese e tem vindo a ser aumentado com novos pavilhões, tendo a secção correspondente ao ensino secundário sido transferida para outro edifício, na Rua da Prata, junto ao Seminário, também ela sucessivamente ampliada.

O Colégio Yuet Wah começou a funcionar em Macau em 1928, na Estrada da Vitória, tendo ficado a cargo dos Salesianos em 1942. Temactualmente uma secção na Travessa dos Bombeiros, apenas para ensino pré-primário e primário.

As religiosas salesianas dirigem desde 1975 o Colégio do Perpétuo Socorro, com os cursosinfantil, primário, secundário e comercial.

Em 1949 foi lançada a primeira pedra do Colégio D. Bosco, com projecto do Arq.° António Bastos. A inauguração do colégio sucedeu em 1951, tendo ele vindo a ser ampliado ao longo dos anos.

Segundo projecto do Eng.° Eduardo Tavares da Silva foi construído um edifício para a Escola de S. Paulo, inaugurada em 1970 e também confiada aos Salesianos.

Houve também em Macau vários cursos de enfermagem, sendo o primeiro o das Franciscanas Missionárias de Maria, que começou no Hospital de S. Rafael em 1932, transitou para o Hospital de S. Januário e para o Colégio de St.ḁ Rosade Lima, instalando-se finalmente em edifício próprio, na Estrada dos Parses, em 1967. A Escola de Enfermagem dos Serviços de Saúde e Higiene foi criada por portaria de 1957, funcionando no Hospital de S. Januário. Existe uma outra escola de Enfermagem no Hospital Kiang Wu.

Diversas outras escolas existiram no Território, temporariamente, como as Escolas de Tipografia e Encadernação (1900-1920); a Escola do Expediente Sínico (1905-1968); a Escola Nova (1918-1919); a Escola Oficial de Taquigrafia (1920-1923); a Escola do Magistério Primário (1965-1974); a Escola de Indústria Hoteleira (1975-1978). Subsiste presentemente, na Pousada de Mong Há, a Nova Escola Hoteleira.

Arquitectura corrente de Macau, anos 40.

Aguarela de George Smirnoff. Col. Museu Luís de Camões.

Não é possível descrever nesta obra todos os actuais estabelecimentos de ensino existentes no Território, que roçam as oito dezenas e que serão apenas mencionados no quadro seguinte. Não posso contudo deixar de referir a Universidade de Macau (ex-Ásia Oriental), situada na Taipa e inaugurada em 1981, segundo projecto do Arq.° José Pereira Chan. Para além de um colégio pré-universitário, oferece vários cursos superiores.

ZONAS VERDES

Ainda há... Sim, restam algumas zonas verdes em Macau e nas ilhas. Cada vez menores, com cortes sucessivos, eliminação de quintais com suas árvores e arbustos, faixas ajardinadas ao longo dos arruamentos ceifadas para dar lugar ao alargamento dos mesmos. Caída em desuso a lei mandarínica que proibia a construção de novos edifícios e correspondente abate de árvores, somente este aspecto foi mais tarde vagamente legislado no Regulamento-Geral da Construção Urbana, que no seu Art.° 323.° define os condicionamentos para a autorização de ocupação vertical nos novos edifícios, nomeadamente "'não haver prejuízo da arborização [...]" Letra morta, na maior parte dos casos!

Com a plantação nas colinas nos finsdo século XIX logo seguida pela arborização das ilhas, originaram-se reservas que, em parte, perduram ainda nos nossos dias, constituindo os actuais pulmões da cidade -- a Guia, a Penha, os grandes jardins.

Na segunda metade do século passado formaram-se algumas chácaras, nome dado às "casas de campo" de famílias importantes da cidade. A maior parte dessas propriedades rústicas encontra-se presentemente urbanizada, restando parcos vestígios.

O mesmo sucedeu com as hortas, onde eram cultivados os produtos hortículas de que Macau então necessitava (e que hoje nos chegam, congelados, de qualquer parte do mundo). Por razões de sanidade, grande parte dessas hortas desapareceu nos fins do século XIX, sendo o seu espaço ocupado seguidamente por construção. As que ainda subsistem em breve sofrerão a mesma sorte, consequência da expansão urbanística.

Vivendas da Av. Coronel Mesquita. Anos 50. Foto: arquivo da Revista de Cultura.

Mas, compensando as perdas sucessivas, existem os jardins! O Jardim da Vitória, remanescente do antigo "passeio público" que se estendia até ao Jardim Vasco da Gama, um e outro ostentando os seus monumentos: o da Vitória de 1622 sobre os holandeses e o do Navegador da Índia. O Jardim de S. Francisco, que hoje se afastou do mar sobre o qual se debruçava, sobe em socalcos até ao começo da colina da Guia. No extremo oposto da colina encontra-se o Jardim da Flora, onde existiu um palacete que serviu temporariamente de residência de Verão do governador do Território. A sua vegetação, nomeadamente arbustos e plantas herbáceas, encontra-se classificada, tornando-o um pequeno "jardim botânico". Atravessando a colina da Guia existe um trilho de montanha, para passeios de manutenção física por entre as árvores.

Outro "jardim botânico" constitui o Jardim de Camões, o maior da cidade. Desenvolve-se, em níveis sucessivos, até à "Gruta de Camões", na qual, por tradição, o Poeta teria escrito parte da sua obra. Criado como jardim da mansão do conselheiro Manuel Pereira, foi o seu traçado efectuado por jardineiros de Londres, tendo delecuidado alguns botânicos ingleses, que recolheram milhares de espécies de plantas da China, formando um viveiro que proporcionou a sua expansão para a Europa, em princípios do século passado. Ainda hoje ali se encontram espécies exóticas de valor. O palacete foi posteriormente adquirido pelo Governo de Macau e nele esteve instalado o Museu de Camões, sendo actualmente sede da Fundação Oriente.

Edifício Skyline. Foto dos Anos 50. Arquivo da Revista de Cultura.

Mas a jóia dos jardins de Macau é, sem dúvida, o de Lou Lim Ieoc, primeiramente conhecido por Lu Cau. Foi criado pelo comendador Lou Lim Ieoc, que nele construiu um palacete, pavilhões, pequenas grutas artificiais, um lago sobre o qual se desenha a "ponte das nove curvas", tudo isto envolvido por espantosa vegetação, constituindo um jardim tipicamente chinês. Da exuberante propriedade resta apenas um quarto da sua primitiva área, abafada por todos os lados pelos modernos edifícios que a rodeiam. A parcela restante constitui o repositório da sua beleza e merece ser preservada.

O Jardim da Montanha Russa, na zona de Mong Há, abrange uma pequena elevação a que se acede por um caminho em espiral, donde deriva o nome do jardim. No meio de densa arborização encontra-se um restaurante e um pequeno parque infantil.

Os principais arruamentos encontram-se arborizados e pequeninos jardins irrompem em espaços diminutos, num recanto de rua, numa placa central de alguma avenida ou, ainda, sob os viadutos recentemente construídos. E nas fachadas dos edifícios aparecem minúsculos jardinzinhos, suspensos de varandas e janelas, apoiados nas grades de ferro que as defendem.

AS ILHAS

TAIPA

Fazendo presentemente parte integrante do território de Macau, as ilhas da Taipa e Coloane têm contudo uma vida histórica bastante recente em relação à presença portuguesa.

As primeiras referências à Taipa datam do fim do século xvII, quando o navio inglês Defense ali ancorou, tendo a sua tripulação sido mal recebida pelos habitantes da ilha.

Conhecida localmentepor "Tâm Tchai", significando "pequeno lago", era formada por duas ilhotas, separadas por uma língua de mar -- Taipa Grande (ou Taipa Quebrada) e Taipa Pequena, mais tarde unidas por força de assoreamentos naturais, completados por aterros intencionais sucessivos. Situada a sul da península, a cerca de três quilómetros no seu ponto mais próximo, tem duas colinas com, respectivamente,111 e 160 metros de altitude, correspondendo aos pontos mais altos das referidas ilhotas. Foi junto à maior elevação que se constituiu a povoação da Taipa, num vale rodeado de colinas.

Durante a parte final do século xvII, os barcos estrangeiros que se dirigiam a Cantão, subindo o rio das Pérolas, e que deviam tomar a bordo, em Macau, piloto e intérprete, apenas eram autorizados a seguir viagem depois de fundearem na Taipa, local portanto bem conhecido dos marinheiros, a ponto de algumas cartas marítimas se referirem a Macau como "porto da Taipa". Se a sua tonelagem fosse superior a 500 toneladas, ficavam ali ancorados, ordem que foi tornada extensível a todas as embarcações a partir de 1717. A pequena povoação junto ao ancoradouro servia então de entreposto comercial. Os seus habitantes eram maioritaria-mente pescadores e marinheiros do rio, havendo também alguns agricultores, avicultores e suinicultores, aos quais se vieram juntar, desde esta data, os primeiros comerciantes, que beneficiavam da existência do ancoradouro. Em 1845 o porto da Taipa foi declarado porto franco.

Casa de Macau, primeiro terço do Séc. XIX.

George Chinnery. Col. M. L. C.

Em 1847, por ordem do governador Ferreira do Amaral, foi construída na Taipa Pequena, a pedido dos seus moradores e por eles custeada, uma fortaleza destinada a servir de defesa contra os piratas que constantemente os atacavam. O seu construtor foi o capitão do porto de Macau, Pedro José da Silva Loureiro. Localizada no extremo ocidental da ilha, controlava o tráfego marítimo entre a Taipa e a ilha de D. João e, principalmente, defendia o porto de pesca e respectiva aldeia, situados junto à baía contígua. Nela foi pela primeira vez arvorada, nesse mesmo ano, a bandeira portuguesa. Era uma fortificação costeira, que presentemente se encontra afastada do mar que a banhava devido aos assoreamentos causados pela sedimentação ainda proveniente da foz do rio das Pérolas. Do lado do mar, uma forte muralha de alvenaria rodeia a fortaleza. Por detrás, a muralha confina com a encosta da elevação vizinha.

A fortaleza dispunha de fonte própria e continha um depósito de munições e acomodações para a guarnição. Em 1872 foram ali efectuadas obras de restauro e melhorado o arruamento de acesso, sendo então também reparadas as habitações dos polícias chineses, na vila. A edificação principal serviu temporariamente como residência de Verão do governador de Macau e encontra-se actualmente ocupada por uma esquadra de polícia. A sua fachada, de linhas clássicas, foi posteriormente acrescentada à construção, criando um alpendre assente na muralha.

Perto da fortaleza foi levantado, em 1851, um monumento em memória das vítimas da explosão da fragata D. Maria II, ocorrida no ano anterior, na qual pereceram cerca de 240 pessoas, entre tripulantes e pescadores nativos que andavam perto. Situa-se no topo de uma escada de pedra, no jardim junto ao túnel da Taipa.

O templo mais antigo da Taipa, Mou Tai Miu ou Kuan Tai Miu, dedicado ao deus da guerra, foi construído no reinado de Hong Kei, que durou de 1488 a 1505. É um pequeno templo de tijolo negro, bastante pobre. Anexo a este encontra-se o T'in Hau Miu, que comunica interiormente com o primeiro, encontrando-se muito abandonado.

Nos fins do século xvII, durante a dinastia Ming, construiu-se o Pak T'ai Tin -- "palácio do deus soberano do norte". Tinha inicialmente três pavilhões, dos quais actualmente apenas um se destina ao culto. Situa-se no Largo de Camões.

Entre 1840 e 1845 foi fundado um templo dedicado a T'in Hau -- "rainha do céu", em memória de 200 marítimos mortos em luta contra os piratas. É o T'in Hau Ün Kuan, ou T'in Hau Ring, situado no Largo Governador Tamagnini Barbosa, em frente do edifício da Câmara Municipal das Ilhas. Dos três pavilhões iniciais, comunicantes através de pátios, somente o central se mantém em actividade.

Pela mesma altura foi edificado o Sam Pou Miu, presentemente quase em ruínas. Tinha também três pavilhões, num dos quais se encontra ainda um sino com uma data correspondente a 1844.

Em meados do século XIX foi construído o Kun Yam Ngam Miu, no sopé do morro da Taipa Grande, do lado da península de Macau. Situa-se num largo a 10 m acima do nível do mar, delimitado por sólido muro.

O templo mais recente (e, também, o mais rico e bem cuidado), P'ou Tai Ün, teve a sua origem na oferta de um homem da ilha, em memória da sua mãe. Construído em 1925, está localizado no sopé do monte da Taipa Pequena, do lado poente. Em frente do pórtico situa-se o santuário principal, Tai Hong P'ou T'in e, ao longo dos vários pátios, encontram-se diversos pavilhões, destinados a fins específicos: guarda de cinzas dos antepassados, leitura e meditação dos bonzos, capelas de Lôk Wai Nam, dos Três Budas Preciosos, de Pak Tai e de Kun Yam.

A vila da Taipa sofreu grandes incêndios, em 1853 e em 1858, os quais alastraram com facilidade devido ao sistema de construção em uso -- madeira e palha. Os seus habitantes foram dispensados do pagamento de impostos, por tempo determinado, o mesmo sucedendo com as embarcações que para ali transportavam os materiais de construção necessários para a reedificação das casas.

A iluminação da povoação teve início em 1868. Entre 1879 e 1882, era a iluminação arrematada anualmente em hasta pública, passando depois para o controlo governamental.

Por iniciativa dos habitantes locais foi aterrado um braço de mar entre os templos de Tin Hau e de Sam Pou. Iniciado em 1864 e terminado três anos depois, foi esse aterro utilizado para a construção de lojas. Outros pequenos aterros foram sendo efectuados ao longo dos anos, fechando algumas reentrâncias da costa e proporcionando espaço para novas construções na povoação. A linha natural de costa foi assim desaparecendo --e com as novas urbanizações em curso dentro em pouco ficará totalmente eliminada.

O concelho municipal das ilhas foi criado em 1869 e organizado como administração de concelho dez anos depois, altura em que saiu das instalações que mantivera na fortaleza, passando para edifício próprio, na vila da Taipa. A administração alternou com um comando militar e com uma junta local, até se estabilizar, dela derivando a câmara municipal, que funciona desde 1964.

Os habitantes das ilhas pagavam anualmente uma contribuição voluntária para melhoramentos nas povoações, fazendo por vezes subscrições extraordinárias para qualquer fim específico. A partir de 1873 esse processo foi substituído por impostos regulares, permitindo a previsão da possibilidade de novas obras, como edifícios públicos, jardins, etc.

O devastador tufão de 1874 arrasou as povoações e causou centenas de mortos, perdendo-se inúmeros barcos, a principal ferramenta de trabalho dos habitantes das ilhas e, em muitos casos, a sua habitação. Este facto originou, para além dareconstrução das casas destruídas, a edificação de novas residências.

Edifício da Av. Almirante Lacerda, Anos 50.

Foto: arquivo da Revista de Cultura.

Como o Hospital de S. Rafael não comportava mais doentes e passou a recusar os que viessem das ilhas, foi resolvido, em 1875, por iniciativa do governador Lobo d'Ávila, construir um hospital num outeiro da Taipa, para o que foi efectuada uma subscrição de donativos em todo o Território, para além da contribuição do Governo. Os Serviços de Obras Públicas elaboraram o respectivo projecto, sob indicação do comandante do forte. Dispunha de quartos de duas camas, instalações para doentes mentais e, na sua parte central, um templo chinês. Após a conclusão do hospital, os moradores chineses desinteressaram-se dele, não o utilizando. Por esse motivo, o edifício foi, em 1876, destinado a quartel do destacamento da Taipa. Depois do grande tufão de 1883, que muito o danificou, foi o edifício entregue à Fazenda, passando assim a pertencer ao Governo. Em 1965 foi ali instalado o Centro de Recuperação Social, após as necessárias obras de restauro e adaptação.

No mesmo ano de 1875, os habitantes da Taipa construíram, na povoação, uma casa destinada a hospital mas que veio a ser utilizada como cadeia. Só em 1958 foi instalado na Taipa um posto sanitário, que ainda funciona.

O comandante militar da Taipa expôs ao Governo, em 1875, a necessidade de construção de uma capela em cada ilha. Foi, contudo, apenas na Taipa que a ideia veio a concretizar-se, com a aprovação do Governo e do bispado e segundo projecto dos Serviços de Obras Públicas, elaborado em 1882. A igreja, situada sobre uma pequena elevação no centro da vila, foi dedicada a N.ḁ S.ḁ do Monte do Carmo, tendo anexa a casa paroquial.

Em 1878, para facilitar o recenseamento, foi efectuado o levantamento do número de casas de cada povoação e o assentamento dos nomes dos respectivos arruamentos, o que nos permite saber quantas povoações havia então nas ilhas -- vila da Taipa, Sam-ca-chin, Lam-ca-chin, Seong-sá, Chioc-ca-chin e Sei-sá, na ilha da Taipa e, em Coloane, a vila, Lai-chi-uan, Tai-uan, Seac-pai-Uan e Kau-hou.

Grande parte da povoação da Taipa foi, de novo, consumida por um incêndio em 1878. O local foi aterrado e, no ano seguinte, construído ali um mercado. Seguidamente foram calcetadas algumas ruas ao longo das quais se plantaram árvores e foi escolhido um local para cemitério. O governador Corrêa da Silva, ao visitar a povoação após o sinistro, determinou que se traçasse uma rua larga em substituição dos estreitos arruamentos anteriores. Os serviços de incêndios só vieram a ser regulamentados, nas ilhas, em 1883.

A arborização da Taipa e a criação de viveiros de plantas para esse efeito foram propostas em 1882 e iniciadas no ano seguinte, proporcionando a agradável cobertura vegetal da ilha que hoje se verifica.

Edifício da Embaixada Inglesa em Macau (1958). Calçada do Paiol / Calçada do Gaio.

Foto: arquivo da Revista de Cultura.

Ainda em 1882 foram criadas duas escolas chinesas, uma em Coloane, outra na Taipa (esta no recinto do T'in Hau Miu). A primeira escola portuguesa funcionou na residência do pároco, Estêvão Eusébio Situ, e por ele regida, a partir de 1891. Quatro anos depois, as Canossianas fundaram um asilo para crianças órfãs e abandonadas. Em 1901 tomaram conta de uma escola para rapazes, destinada à educação dos que tinham sido acolhidos no Asilo da St.ḁ Infância, de Macau. A ordem foi, como as demais, expulsa do Território em 1910, pelo que as crianças passaram para outras escolas.

Em 1911 funcionavam, na Taipa, uma escola de meninas dirigida por uma professora secular, uma escola de rapazes em edifício pago pela administração dos bens das Missões e outra escola para rapazes, funcionando numa dependência da igreja, com um professor. Estas escolas fundiram-se posteriormente, constituindo a Escola D. João Paulino, a qual foi transferida, em 1967, para edifício construído expressamente para esse fim, anexo ao Infantário de N. ḁ S. ḁ do Carmo, ambos confiados às Franciscanas Missionárias de Maria, onde se ministram os ensinos pré-primário e primário. Em 1958 foi criada a Escola Primária Luso-Chinesa João de Deus, onde presentemente funcionam também os ensinos pré-primário e primário. Os mesmos graus de ensino encontram-se, ainda, em curso na Escola Fong Chong, na vila da Taipa.

A comunicação telegráfica entre a península e as ilhas foi estabelecida em 1884, data emque, também, passou a ser regular o envio diário de correspondência pelo barco da carreira. Só em 1954 foram instalados os Serviços de C. T. T. em edifícios próprios, cujos projectos foram elaborados pelo Eng.° Humberto Rodrigues.

Não podia ser intensa a ocupação das ilhas, dado o seu afastamento da península, vencido apenas pelos barcos da carreira ou dos pescadores. Somente em 1974 foi inaugurada a Ponte Governador Nobre de Carvalho, segundo projecto do Eng.° Edgar Cardoso, a qual proporcionou a ligação, não só à Taipa, mas também a Coloane, através do istmo concluído em 1968. A ponte, que levou cinco anos a construir, tem cerca de 3 450 metros de extensão e dispõe de duas faixas de rodagem, uma em cada sentido, sendo interessante a sua forma de dragão, de dorso arqueado. A partir da sua abertura à circulação automóvel, principiou o desenvolvimento das ilhas, a acompanhar o da cidade.

Para a encosta Sul da Taipa Pequena foi elaborado, em 1982, um plano de urbanização intitulado "Jardins de Lisboa", abrangendo uma área de 4,38 ha. Houve nesse plano a preocupação de manter, tanto quanto possível, as características ambientais, nomeadamente a linha de crista, ondulante e com boa vegetação, que é proposto conservar e valorizar. Foi estudada uma área residencial, com a previsão de 500 fogos, bem como um centro comercial, um hotel e um clube privado. Estabeleceu-se uma ocupação "em cascata", descendo a encosta, integrada no respectivo arranjo paisagístico. Este planeamento foi efectuado pelo Urbis Design Group, em colaboração com o Arq.° José Floriano Pereira Chan.

Casa da Guarda -- Eduardo Flores.

A China Fujian Corporation, com a colaboração do mesmo arquitecto, apresentou, em 1984, uma nova proposta de planeamento, relacionando-o com as características do solo. Embora, como é evidente, o projecto envolva grandes alterações na paisagem, foi procurado proteger o ambiente natural, utilizando o sistema de plataformas aliado a um adequado tratamento paisagístico.

Esta solução foi revista em 1987, de modo a conter maior número de lugares de estacionamento automóvel e, de novo, em 1988, tendo em atenção as condições geomorfológicas do terreno, no qual houvera entretanto desmoronamentos, que obrigaram a obras de consolidação. Foram alterados os posicionamentos do centro comercial e do silo automóvel, bem como da maior parte dos blocos habitacionais, com a intenção de racionalizar a utilização do espaço com recurso a menor número de edifícios, com maior volumetria, passando de 9 para 15 pisos. Como é usual acontecer, as melhores intenções do plano não estão, na prática, a ser seguidas em obra. No entanto, o plano foi considerado como elemento a manter no "Plano-Geral da Taipa".

Em fins de 1988, a firma Asia Consult apresentou uma proposta para o anteplano do "Plano-Geral da Taipa", baseada na situação cadastral da ilha e tendo em conta os planos e projectos já existentes.

Como é evidente, qualquer estudo urbanístico para a Taipa depende da sua interligação com as urbanizações limítrofes, nomeadamente no que se refere ao sistema viário. Outro aspecto importante é a resolução que venha a ser tomada sobre os aterros — sua localização e dimensões.

Neste plano considerou-se a previsão de nova ponte Macau — Taipa, que se insere, respectivamente, junto ao terminal de passageiros do Porto Exterior e na extremidade poente do aterro do Pac On. Daí deriva o traçado viário da ilha, em concordância ainda com nova ligação a Coloane, a nascente do actual istmo em aterro.

São propostas três zonas de expansão urbanística: as encostas da Taipa Grande e da Taipa Pequena, a zona entre a Estrada Marques Esparteiro e a praia de Pac On e os aterros junto ao aeroporto, de acordo com a versão mais recente do Plano-Director do Aeroporto de Macau. Prevê-se, ainda, a necessidade de áreas adicionais de aterro entre as ilhas, na zona da baía de N.ḁ S.ḁ da Esperança.

Os ruídos provenientes do aeroporto condicionam a utilização do solo, tendo sido tomada em conta a propagação das ondas sonoras e correspondentes restrições na sua afectação às várias finalidades possíveis.

Um outro plano, Nova Taipa, foi apresentado pela SOMEC, em 1987, tendo desde então sofrido várias alterações.

Moradia em Coloane — Eduardo Lima Soares.

COLOANE

Coloane ou Ko-Lo-Wan (o que significa baía da passagem) é a ilha mais afastada em relação à península de Macau.

Pelos vestígios arqueológicos encontrados na ilha, por uma equipa de arqueólogos de Hong Kong, concluiu-se que Coloane era já habitada há cerca de 4 000 anos. Mas a sua história recente começou apenas no século passado, com a sua ocupação em 1851 e, seguidamente, a constituição de um destacamento militar, em 1864, a pedido dos seus habitantes. Procedeu-se, posteriormente, à construção de uma fortificação costeira, em 1884, para satisfazer nova solicitação dos moradores locais, que pretendiam ser defendidos dos piratas. Era uma simples bateria, situada na costa ocidental, de frente para a ilha da Montanha, que controlava a navegação no canal entre as duas ilhas. Constituída por uma esplanada com a forma de meio hexágono, dispunha apenas de uma guarita e um depósito de munições enterrado.

Já nessa altura existia um templo, T'in Hau Ku Miu, construído em 1736 e dedicado à "Rainha do Céu". Situa-se a sudeste da ilha, em local então considerado auspicioso, chamado "o pescador lançando a sua rede", mas encontra-se actualmente bastante abandonado.

Os restantes templos da vila datam do século XIX, entre 1862 e 1865: Kun Yam Miu, na Rua Central; Tam Sin Seng Miu, na Rua 5 de Outubro e Sam Seng Kong, na Rua dos Barqueiros. Todos fazem parte da "Associação dos Quatro Pagodes", organização beneficente. Fora da povoação há ainda os Templos de Sam Sing (os três sábios), em Ka-Hó, de Si Fu (mestre), em Seak Pai Van e o do grande rei, em Hac-Sá.

Um grande incêndio, nas vésperas do Natal de 1864, destruiu completamente a povoação de Coloane que, em pouco mais de um ano, foi reedificada e ampliada, ficando a dispor de ruas bem niveladas e iluminadas.

Em 1867 foi aprovado o projecto de construção de um edifício do Governo, onde no ano seguinte se instalaram os Serviços de Fazenda. Com o tijolo e a madeira que restaram da demolição do antigo edifício foram ainda construídas "duas casinhas", o que demonstra a dificuldade de se conseguirem materiais de construção na ilha.

A esquadra de polícia e o cais de Coloane sofreram obras de beneficiação em 1873, tendo no ano seguinte sido aprovados os projectos do novo cais e casa da guarda.

Escola Primária Oficial, Sir Robert Ho Tung. Cerca de 1950. Foto: arquivo da Revista de Cultura.

Em 1882 iniciou-se a arborização da ilha. No mesmo ano foi construído o Quartel de Loucanes e calcetadas as ruas da povoação. O mercado foi edificado em 1893 e inaugurado pelo governador Borja, que lhe deu o nome. Nesse mesmo ano foi publicado em Boletim Oficial uma postura sobre a construção e reedificação de casas nas ilhas.

A primeira escola das ilhas foi inaugurada, em Coloane, ainda em 1882. Destinava-se a crianças chinesas, pois devido ao afastamento da ilha em relação à cidade, não havia ali portugueses. Entre 1915 e 1924 funcionou, em casa alugada, uma escola para rapazes, em cantonense. Em 1916 foi criada uma escola municipal em Ká-Hó.

A Escola de S. Francisco Xavier teve o seu projecto aprovado em 1927, tendo sido inaugurada no ano seguinte. Em 1959 começou a funcionar nova escola, para o sexo masculino. No terreno da Missão de S. Francisco Xavier a diocese construiu, em 1974, um edifício de dois andares para escola técnica, que veio mais tarde a transformar-se em Instituto Educacional de Menores, a cargo dos Salesianos.

Presentemente existem em Coloane cinco escolas: a Escola de Hac-Sá, destinada a ensino pré-primário e especial; a Escola Primária Luso-Chinesa Comandante Gabriel Teixeira, fundada em 1958, com ensino pré-primário e primário; a Escola D. Luís Versíglia, que apenas tem ensino primário; a Escola do Sagrado Coração de Maria, inaugurada em 1957 e de que se encarregaram as Canossianas, tendo ensino pré-primário e primário; e a Escola de S. José de Ká-Hó, com os mesmos graus de ensino, fundada em 1974 e pertencente às voluntárias de D. Bosco, as quais tinham já uma casa de trabalho e creche para crianças abandonadas, construída em 1971, também em Ká-Hó.

A Igreja de S. Francisco Xavier foi edificada em 1928, junto à escola existente. Um monumento aos "combates de Coloane de 1910" foi levantado no jardim fronteiro à igreja. No centro da vila existe um outro jardim, junto ao mercado. Perto, o edifício dos C. T. T., a Biblioteca e, também, a Cadeia Central de Macau.

Em 1968 foi inaugurada a ligação, em aterro, entre a Taipa e Coloane, o que, juntamente com a construção da ponte Macau-Taipa em 1971, veio impulsionar o desenvolvimento da ilha. As suas praias, Hac-Sá e Cheoc Van, passaram a serfrequentadas pelos moradores da cidade e das ilhas e nelas se encontram agora novos edifícios. A Polícia de Segurança Pública instalou uma colónia balnear em Hac-Sá, junto da qual existe um restaurante. Perto situa-se um centro recreativo, com jardins, piscina e bar, pertencente à Câmara Municipal das Ilhas. Em Cheoc Van existe uma Pousada, várias moradias e as instalações do Clube Náutico, encontrando-se em curso uma urbanização na encosta.

A evolução prossegue em bom ritmo: no aterro sanitário junto ao istmo prevê-se uma zona industrial, estendendo-se até à Taipa; encontra-se em estudo a expansão da vila e a abertura de uma via que permita o acesso às praias evitando o atravessamento da povoação; foi executado um vasto projecto turístico para Hac-Sá, já em funcionamento, com campos de golfe, piscinas, hotel, etc.; a encosta do morro de Hac-Sá verá crescer uma nova urbanização, que albergará 366 fogos, em 19 torres, para além de uma zona comercial, um clube e estacionamento próprio. Para Seac Pai Van foi estudado um loteamento industrial, dispondo de pequeno comércio. A altura máxima dos edifícios é de 28 m para os lotes centrais e de 9,6 m para os restantes, em encosta.

CONSTRUÇÃO

A CONSTRUÇÃO PRIMITIVA

Os sistemas de construção evoluíram, evidentemente, desde a chegada dos portugueses à península. As primitivas habitações deviam ter tido uma estrutura de bambu, ou de troncos, paredes de esteira e cobertura de colmo, precedendo ou coexistindo com as casas de "tábuas de madeira", expressão usada para designar uma típica forma de construção, utilizando as boas madeiras então abundantes na região.

Parte da população -- pescadores e marinheiros do rio -- vivia nos seus próprios barcos, que começaram decerto por ser simples jangadas de bambu, evoluindo depois para embarcações de vários tipos, construídas de boa madeira, como a teca, cânfora ou entena. As velas seriam de esteira, mais tarde de lona ou brim.

O bambu (chôc) é uma gramínea característica da China, motivo constante nas pinturas chinesas de todas as épocas. Era usado para os mais variados fins, desde os alicerces aos telhados e às esteiras que tantas vezes serviam de paredes ou de cobertura. Nos barcos podiam ser de bambu as vergas e os mastros, os cabos, os toldos, as velas. Dizia Venceslau de Morais: "se o arroz é o pão do china, o bambu é tudo o mais. É a casa, é a madeira de construção, é a verga do barco, é o cabo dos instrumentos domésticos, é a mobília e é também o alimento." Ainda hoje é largamente empregado nos andaimes das construções e em mobiliário ou utensílios diversos, bem como no fabrico de papel, na lavoura, na culinária ou como medicamento.

Na construção dos templos empregava-se o tijolo, a madeira, o granito e, também, a bonita telha verde vidrada, rematando no beiral com faces circulares lavradas. De pontas reviradas, com estranhos feitios, as cumeeiras de madeira ou pedra sobrepunham-se aos telhados recurvos. Era nos templos que se utilizavam as melhores madeiras, como o chi quiong môc para o madeiramento dos telhados e para as colunas, ou o caríssimo sün chi môc ou tamarindo para as portas e janelas.

Mais tarde passou a ser usada a taipa, ou chunambo (nai ch'eong), que consistia na aglomeração de terra, palha e cal feita de conchas de ostra, na qual se introduziam estacas de madeira para dar coesão, sendo batida camada a camada. Este material, de cor acastanhada, era muitíssimo resistente, empregando-se principalmente nas fortificações e muralhas de defesa.

As conchas de ostra dão ainda uma óptima qualidade de cal de tom branco de neve, que era muito usado em acabamentos. Durante algum tempo foram usadas nas janelas, fazendo as vezes de vidro, finas lâminas das mesmas conchas, que proporcionavam uma suave luz interior.

Rua da Felicidade, restaurada. Foto de Joaquim de Castro.

AS MADEIRAS

A madeira mais barata — e por isso mais utilizada na construção — era a entena, em algumas das suas sete variedades: sái cóng châm, tung cóng châm môc, lau chau cham môc e pac cong cham môc — esta última um pouco mais cara. Era "pau para toda a obra", desde os vigamentos e soalhos às portas, janelas e asnas do telhado.

Para os mesmos fins havia também o iáu sáu môc, mais dispendioso por ser originário de Singapura.

No vigamento dos telhados empregava-se o hông sáu môc, o hac sáu môc, o chêng sáu môc e o sün mui các môc, por ordem de preços de custo ou, ainda, o molave ou lôi sông các môc, com o qual se faziam soalhos, escadas, portas e janelas nas casas de quem podia dispender mais.

Para os soalhos eram também usados, de novo por ordem do seu custo, o cháu cháp môc, o câm pât môc, o pác sáu môc, o ma mei chông môc e o iau môc ou teca (esta a cerca do dobro do preço dos anteriores, mas ainda assim a menos de metade do molave).

O madeiramento dos telhados era feito de cháu cháp môc, câm pát môc, pac sáu môc, thit sáu môc, cai ngho các môc, ou, para os mais ricos, quán liu các môc, podendo o pau de fileira ser de uma qualidade ainda mais cara, o cât li lông môc. Sobre as asnas eram colocadas ripas de secção circular, conservando a forma arredondada dos troncos de árvore. Os telhados assentavam sobre estas asnas e respectivo ripado.

As portas e janelas tinham geralmente um enquadramento de pedra e os seus aros eram normalmente de hông sáu môc. As próprias portas e janelas eram feitas de qualidades tão diversas que o seu preço aumentava cerca de quatro vezes: pá má chau môc, cháu cháp môc, cam pat môc, pác sáu môc, cai nghó các môc, tông queng các môc, pôn ti fá li môc, iau môc ou teca, pac fá li môc, hông fá li môc ou narra, lôi sông fá li môc e o caro molave, lôi sông các môc.

Apesar do seu largo emprego na arquitectura, as madeiras eram, contudo, raramente utilizadas como estrutura simplesmente armada, como na China, devido ao receio dos tufões. Por isso, faziam-se paredes autoportantes tarugadas com vigas de madeira a pequenos intervalos. As dimensões das madeiras disponíveis demarcavam assim a posição das paredes e, consequentemente, a largura dos compartimentos. Para se conseguirem espaços mais vastos, como grandes vestíbulos ou salões, usavam-se traves de grande secção a pequenas distâncias e fortemente tarugadas.

São conhecidas as características das qualidades de madeira mais frequentemente usadas:

A entena é uma madeira leve, sem nós, fácil de trabalhar, macia, de bonita aparência e longa duração. Tem variedades de alto preço, por isso pouco usadas, e variedades mais baratas, empregues em vigamentos, sobrados, portas, janelas e asnas dos telhados.

A teca é rija, de cor amarela escura, pouco porosa e recebe bem o polimento, sendo utilizada em sobrados, portas e janelas. É preferida a qualquer outra, porque dura muito tempo em bom estado e é dificilmente atacada pela formiga branca.

A narra tem três variedades, provenientes do Sião, de Manila e de Cantão, a primeira de tom avermelhado, as outras amareladas. É uma madeira rija, que recebe bem o polimento, muito usada para escadas das melhores casas, bem como portas e janelas e obras de talha.

O tamarindo é uma madeira rija de cor avermelhada, que recebe bem o polimento. Tinha uso limitado, pelo seu elevado preço, sendo principalmente utilizado em portas e janelas dos templos chineses.

O molave, oriundo de Manila, era talvez a madeira mais cara, por isso usada apenas na construção das habitações das famílias mais abastadas, em vigamentos, soalhos, portas e janelas. É rija, de cor amarelada, recebe bem o polimento e é de longa duração.

OUTROS MATERIAIS

O tijolo cinzento era um tijolo maciço feito de fino barro acinzentado originário do Sul da China, e da sua composição fazia parte a ervilhaça, leguminosa espontânea cuja seiva contribuía para a sua conglutinação, constituindo um material rijo e de grande duração. Era um tijolo bem cozido, com um nítido timbre metálico, medindo cerca de 52 x 35,5 x 7,5 cm. A sua cozedura era efectuada em fomos de carvão vegetal e por vezes o fabricante apunha-lhe o seu selo próprio. Foi durante bastante tempo o material mais usado na construção, só vindo a ser destronado pelo actual tijolo vermelho, também maciço.

A pedra não era muito usada nas habitações, servindo apenas para fundações, sobre as quais se levantavam as paredes de tijolo ou de taipa. Havia granito de muito boa qualidade e, também, mármore, geralmente reservado para interiores. Nos edifícios religiosos ou civis empregavam-se estas qualidades de pedra, por vezes trabalhada, em colunas, em molduras de portas, em painéis figurativos.

O azulejo, que seria muito útil neste clima húmido, era raramente utilizado devido ao seu elevado preço, por ser importado de Portugal. Fazia-se com ele apenas umas faixas sob os beirais dos telhados ou, dentro dos edifícios, lambris nos compartimentos principais.

O material usado para reboco era de fraco custo e muito largamente empregue mesmo nas construções menos caras.

Sob os beirais dos telhados faziam-se muitas vezes painéis de figuras moldadas em barro e pintadas de cores vivas. Também de barro eram os tubos de descarga da chuva, com cerca de 10 cm de diâmetro em troços de 70 cm a um metro de comprimento. O seu reboco exterior era moldado de forma a dar-lhe a aparência de pedaços de bambu.

As telhas, de barro por vezes vidrado, eram colocadas em filas, alternadas, de placas quadradas ligeiramente sobrepostas e de. meias-canas cimentadas entre si e em relação às lagetas. Os beirais eram normalmente rematados por uma superfície plana no topo das telhas curvas, com decoração em baixo-relevo.

O cimento só começou a ser utilizado a partir de 1886, data em que foi criada, pelo inglês Creasy Ewens, no istmo da ilha Verde, uma fábrica de cimento. Tratava-se de cimento Portland, que devido à sua boa qualidade passou a ser usado em todo o Oriente, desde a Austrália ao Japão. Os materiais utilizados para o seu fabrico eram a pedra calcária, obtida num vasto depósito da província de Kwangtung e o lodo tirado do Porto Interior em ocasião de baixa-mar. A pedra, contendo cerca de 93 por cento de carbonato de cal e 7 por cento de carbonato de magnésia, era reduzida a pó juntamente com o lodo, sendo-lhes adicionados 12 por cento de água. Com esta massaeram formados tijolos, secos ao Sol e seguidamente cozidos em fornos especiais, funcionando a coque trazido do Japão. Estes tijolos eram depois pulverizados em moinhos apropriados que os reduziam a pó impalpável, indicativo da sua boa qualidade.

Nos nossos dias, a construção é feita de betão armado, assente sobre estacaria a muitos metros de profundidade. As paredes são de tijolo burro, com a espessura de dez centímetros. As obras são rápidas e, se os acabamentos não são famosos, pelo menos as estruturas são sólidas. Entre o acto inicial do construtor, ao decidir, por exemplo, levantar una edifício de 30 ou 40 pisos e a vistoria do mesmo com vista à sua utilização, decorre pouquíssimo tempo, tendo em conta que a apreciação do projecto é, na maior parte dos casos, rapidamente efectuada. Assim se compreende o grande boom de construção a que presentemente assistimos.

Complementando a construção civil, os serviços públicos vão também construindo as suas instalações, tanto no aspecto administrativo como no aspecto técnico. O edifício CEM, na Estrada D. Maria II, alberga as Dírecções de Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, de Cartografia e Cadastro e parte dos Serviços de Apoio à Função Pública. Em frente ao Jardim de S. Francisco instalaram-se os Serviços de Educação, enquanto num edifício novo no Tap Seac se instalou um Centro de Saúde. Para além de outras instalações técnicas, já atrás referidas, encontra-se em funcionamento, em Coloane, a nova Central Eléctrica, que serve todo o Território.

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George Chinnery A Praia Grande vista de sudoeste.

Óleo sobre tela.

Colecção privada. (fig. 16)

* Curso de Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1961). Arquitecta dos Serviços de Urbanização dos S. O. P. de Angola (1963), e da Câmara Municipal de Lisboa (1971).

Residiu em Macau, onde foi Arquitecta na DSSOPT, investigadora de história da arquitectura em Macau e Bolseira do ICM.

desde a p. 181
até a p.