“Restaurar uma espécie de vida quotidiana no meio de um caos e de uma desordem criados deliberadamente…” – é este o principal objectivo da peça O Vestido Fica-lhe Bem (conhecida em chinês como Neptuno), tal como a entende Cheong Kin I, encenadora da mesma. Não se pretende aqui falar emocionalmente para indivíduos psicóticos ou transmitir simpatia, procurando-se, sim, tentar reconstituir uma condição de vida quotidiana através da linguagem teatral, mesmo que a realidade resultante não seja compreensível ou aceitável para a maioria das pessoas.
A peça é composta por cerca de 60 segmentos ou fragmentos de histórias, dispersos por diferentes pontos no tempo e no espaço e entre diferentes personagens e géneros. Centrada em indivíduos psicóticos, a peça relata a história de uma encenadora de teatro que tenta criar uma produção sobre a psicose, mas fica com dúvidas sobre se deve prosseguir com a mesma e sobre como representar teatralmente a relação entre realidade e imaginação. Em 2021, foram apresentadas cinco sessões de O Vestido Fica-lhe Bem no Teatro Caixa Preta do Edifício do Antigo Tribunal. Com os seus vibrantes efeitos de palco, um enredo com diálogos entrelaçados e uma narrativa não linear, a peça marcou profundamente o público, sendo eleita pela crítica como “produção teatral de destaque de 2021”. A reposição deste ano será levada à cena no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Macau para apresentar um mundo intencionalmente caótico e imaginário a um público mais alargado.
Por Sara Lo
Profissional de teatro independente, redactora de conteúdos para meios de comunicação social, organizadora e gestora de eventos. Trabalhou igualmente em produção teatral e em educação dramática, incluindo na peça de teatro educativo Bonecage e no teatro-fórum Família vs Trabalho. Nos últimos anos, tem escrito múltiplos artigos com base em entrevistas e artigos de opinião sobre as indústrias culturais e criativas, desenvolvimento artístico e espectáculos realizados em Macau, os quais podem ser encontrados em diversas plataformas, incluindo na revista Performing Arts Forum, na Revista C² e nas páginas electrónicas “All About Macau Media” e “Reviews”.
Excerto de um artigo escrito originalmente em chinês