João Rodrigues Tçuzzu

A HISTÓRIA DO JAPÃO CONTADA POR JOÃO RODRIGUES

Cláudia Orvalho Castelo*

Quando, em 15771, João Rodrigues chegou ao Japão tinha apenas 17 anos. A passagem para a idade adulta coincidiu com a adaptação à realidade e ao imaginário do País do Sol Nascente. A sua formação humana e intelectual fez-se, em grande medida, através do contacto com as gentes, a língua, a cultura e os costumes do Japão.

Rodrigues estudou sob a orientação dos Jesuítas2 numa altura em que se começava já a desenvolver junto dos mais novos a política de adaptação missionária proposta por Alexandre Valignano. Na sua primeira inspecção à Missão Japonesa (1579-1582), o Visitador defendera que os missionários deviam estudar e falar fluentemente japonês e assimilar os costumes locais. Era, portanto, essencial que o cur-riculum dos colégios contemplasse o ensino da literatura, da etiqueta e das cerimónias japonesas.

João Rodrigues é talvez o caso que melhor ilustra a pertinência dessa política de adaptação. Como dominava bem a língua e tinha um profundo conhecimento do país, foi escolhido em diversas ocasiões para intérprete dos Superiores da Missão3. A sua carreira como intérprete levou-o a conviver com os homens mais poderosos do Japão, nomeadamente com Hideyoshi que o chamava com frequência ao palácio e passava tardes inteiras a conversar com ele4.

Essa ligação de mais de trinta anos à sociedade japonesa deu-lhe um amplo conhecimento não só dos seus costumes e governo, mas também da sua história.

É precisamente a História do Japão contada por João Rodrigues que pretendemos analisar ao longo deste artigo.

A HISTÓRIA

Na base do nosso trabalho está a leitura e o comentário da História da Igreja do Japão5, uma das fontes mais importantes para o estudo da presença portuguesa no Extremo Oriente e, provavelmente, a principal análise da sociedade e da cultura japonesas feita por um ocidental durante o primeiro século de contactos euro-nipónicos.

Fróis tinha analisado a sociedade para explicar a história dos missionários6. Valignano tinha analisado a sociedade para justificar o modelo missionário7. Rodrigues, por seu turno, abordou a organização social, os costumes e os valores dos japoneses com o simples intuito de dar a conhecer a civilização nipónica.

Chegaram até nós três extractos da História. A primeira parte introdutória, que aborda especificamente a civilização japonesa, e da qual conhecemos apenas uma cópia do século XVIII; o início da segunda parte, em que o autor se refere à acção do Padre Francisco Xavier (não sabemos se é uma cópia seiscentista ou se pertencia ao original); e um texto do século XVII que descreve a visita do Bispo D. Pedro Martins ao Japão8. É na primeira parte que encontramos os capítulos verdadeiramente inovadores, modernos até, da obra. Capítulos em que Rodrigues procede a uma abordagem predominan-temente sociológica do país. Descreve com muito pormenor e notável discernimento a habitação, o vestuário, a aparência física, a etiqueta, as cerimónias e as artes do povo japonês. O autor, porém, antes de falar dos costumes, julga conveniente descrever a geografia asiática e japonesa (capítulos 1 a 6) e fazer uma breve incursão na história do país9. Uma espécie de enquadramento geográfico e histórico.

Rodrigues divide a história do Japão em períodos distintos, caracteriza-os e procura distinguir as continuidades e as rupturas que os relacionam. Parte da sua observação directa, das histórias antigas e dos conhecimentos que pôde adquirir ao longo de muitos anos de convivência com os japoneses. Pretende "declarar a verdade do que (se) passa"10.

A periodização que nos propõe para a história japonesa é composta por três etapas. A 1ª remonta às origens do país. O autor faz questão de realçar esta ideia pois, até à data, os autores da Companhia de Jesus só "escreveram as cousas do 2º, e outros do 3º (estados)"11, não fornecendo aos leitores um quadro da evolução global do Japão. Tçuzzu12, ao contrário dos da sua Companhia, pretende escrever sobre todos os períodos.

Cenas da vida e costumes japoneses do tempo de João Rodrigues Tçuzzu.

João Rodrigues, no capítulo 11 da História, diz que o lº estado durou desde o aparecimento do primeiro rei Jimnû, no século VII a. C., e do estabelecimento dos primeiros contactos com a China, até 1340 d. C.. O 2° estado começou em 1340 e terminou em 1582 quando Hideyoshi entrou no governo da Tenca13. O 3° estado começou em 1582 e ainda durava em 162014.

O 1º ESTADO

João Rodrigues deixa de lado os períodos pré-históricos, ignorados pela história cortesã, e toma como ponto de partida a época das chefaturas que eram vistas como o início do Estado japonês (cf. quadro comparativo).

O que caracteriza o lº período, segundo Tçuzzu, é o facto de todo o país estar sujeito à autoridade real ("debaixo de uma cabeça e senhor natural se governava o reino, e todo ele obedecia ao próprio rei") e haver uma uniformidade de costumes e ritos15. O topo da hierarquia social era ocupado por dois grupos distintos: os que pertenciam à ordem patrícia, que governavam o reino; e os que pertenciam à ordem militar, que defendiam o país sob o comando do xogum — capitão geral e condestável do reino. O rei enviava governadores para os 68 estados16, que dividiam administrativamente o país, por um período de três ou mais anos, e nomeava capitães e gente de guarnição para executar a justiça nas várias províncias. Cabia ao monarca e aos governadores julgar os crimes.

Durante o 1º estado, a mobilidade social só era possível no topo; "neste tempo os lavradores e o povo sempre ficavam povo"17. Só os filhos dos fidalgos podiam ascender pelos seus serviços "a vários foros de nobreza e ofícios da casa real"18.

O rei arrecadava rendas e tributos "muito grossos" de todo o reino, e os senhores gozavam das terras e rendas que o soberano lhes dava de mercê.

A idolatria vinda da China e da Coreia espalhou-se por todo o país. Construiram-se templos sumptuosos, mosteiros e universidades "algumas delas com três mil mosteiros ou habitações com sua cabeça e discípulos"19.

Ao longo deste período, o Japão viveu em paz e prosperidade. Os seus costumes, nobreza, edifícios e magnificência real floresceram. As histórias antigas e os vestígios arquitectónicos só o confirmam20.

QUADRO COMPARATIVO

QUADRO COMPARATIVO

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lang=EN-US> RODRIGUES

I. Proto-História

    1. Calcolítico

    2. Época dos Grandes Túmulos

II.Período Antigo

    1. E~'poca de Asuka

    2. Regime dos Códigos

    3. Época posterior de Heian

III. Idade Média

    1. Época de Kamakura

    2. Restauração de Kenmu

    3. Época de Muromachi

IV. Período Moderno

    l.Época Azuchi-Momoyama

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séc. III a.C-III d.C

séc. III-Fim IV

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583-710

710-meados XI

meados XI-1185

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1185-1333

1333-1336

1336-1573

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estado (séc. VII a.C. - 1200/1340)

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2o

estado (1200/1340-1573)

3o

style="mso-spacerun: yes">  estado

(1573-1620)

 

A caracterização que Rodrigues faz do primeiro período da história japonesa é fortemente influenciada pela perspectiva dos cortesãos. Apresenta-nos dois mil anos de história em que a organização social e política se mantém inalterável. Um rei que domina todo o território, um poder central forte, um corpo de funcionários recrutados entre as principais famílias, uma administração das províncias particularmente virada para a cobrança dos impostos, uma sociedade muito hierarquizada.

As características apontadas para o 1º estado não se aplicam uniformemente aos vinte séculos que se estendem entre 660 a. C. e 1340 d. C.. Nesse longo espaço de tempo que, na realidade, vai desde o final do Neolítico até à Época de Kamakura, várias modificações estruturais modificaram a sociedade nipónica. Se seguirmos a periodização de Francine Hérail, reparamos que só o período da Grande Reforma (finais do século VII, inícios do século VIII) se aproxima, ainda que pontualmente, do 1º estado descrito por João Rodrigues.

As origens do estado japonês não remontam ao século VII a. C. como se lê na História. São bem mais recentes. Rodrigues deve ter tido acesso às primeiras histórias oficiais do Japão, compiladas no século VIII, em que o início da época histórica era associado ao advento do primeiro imperador humano, Jimnû Tennô, em 660 a. C.21. Contudo, actualmente, pensa-se que Jimnû terá sido o primeiro chefe a chegar à região do Yamato e a impor a autoridade da sua tribo sobre parte daquela planície em meados do século III d. C.22.

Durante a Época dos Grandes Túmulos (século III, fim do século IV), a sociedade japonesa foi-se estruturando numa sociedade de chefatura hierarquizada. Segundo Kenzaburô Torigoe, Jimnû foi o primeiro de dez chefes da linhagem imperial que contribuiu para essa transformação23.

O reino do Yamato não tem quaisquer semelhanças com o primeiro período descrito por Rodrigues. É certo que entre as ideias importadas da China encontrava-se a de criar um Estado centralizado, e que a aventura coreana deu aos governantes japoneses motivo para reforçar os seus poderes. No entanto, o Japão estava longe de constituir uma unidade nacional sob a autoridade de um imperador. O território estava dividido por clãs (uji) que gozavam de grande autonomia. Os espíritos dos antepassados eram venerados24, ajudando a fortalecer a solidariedade interna do grupo e contrariando as tentativas centralizadoras.

À medida que o Yamato se foi expandindo, tornou-se necessário criar uma administração que abarcasse todo o território. O século VI foi marcado por lutas entre os clãs poderosos mais antigos, ligados ao sistema de chefaturas (Nakatomi, Otomo e Mononobe) e os Soga — família em ascensão, interessada no incremento do centralismo. Os Soga derrotaram os seus rivais e em 592 conseguiram colocar no trono a imperatriz Suiko. Desde essa altura o Yamato foi-se transformando progressivamente num Estado regido por leis escritas. Acentuava-se a sinização do país.

Nos dois séculos seguintes, a assimilação do modelo chinês andou a par do desejo dos governantes se tornarem os chefes efectivos de todo o território, anulando as autoridades locais personificadas pelos clãs.

O príncipe Shôtoku-Taishi (574-622), herdeiro de Suiko e responsável pelos assuntos do país, teve um papel de destaque na introdução de princípios centralizadores importados da China. Entre esses princípios encontravam-se a adopção de uma religião vinda de fora — o Budismo25, e a difusão da noção confuciana de uma autoridade central única.

Em meados do século VII, os Soga perderam o seu ascendente sobre a casa imperial. Os novos governantes estavam então à vontade para proceder a reformas verdadeiramente radicais. O príncipe Naka-nôoe (nomeado herdeiro e responsável pelos assuntos do país, tal como fôra Shôtoku-Taishi) e alguns antigos estudantes que tinham vivido no Celeste Império procuraram pôr em funcionamento uma organização sócio-política decalcada da chinesa.

Entre as medidas da Grande Reforma contam-se: a reafirmação da primazia imperial (isto é, reforço do poder daqueles que, manietando o imperador, concentram em si os seus poderes)26; a consolidação do sistema de funcionalismo baseado em exames de admissão para os cargos públicos; a divisão do território em províncias submetidas à capital; a nacionalização das terras e distribuição igualitária das mesmas; e ainda uma reforma fiscal.

O Japão foi-se reorganizando gradualmente, a partir do centro (áreas directamente submetidas à corte) para a periferia (territórios até aí dependentes dos clãs). Esse processo foi completado entre os finais do século VII e o primeiro decénio do século VIII com mais três inovações: a redacção definitiva do primeiro código de leis (701); a uniformização das medidas; e a cunhagem de moeda. Em 710, a corte instalou-se em Nara, cidade especialmente construída para funcionar como sede do poder central. A casa imperial deteve, por breves décadas, o poder efectivo, refugiando-se numa endogamia que lhe trouxe alguma independência em relação aos clãs mais poderosos.

Todavia, ainda no decorrer do século VIII, este quadro começa a mudar, anunciando uma nova era. Os Fujiwara ganham grande influência na corte; aparecem e desenvolvem-se os domínios; multiplicam-se os laços de clientela.

Já em 774, doze dos dezassete altos dignitários da corte eram membros do clã Fujiwara. O seu esforço concentrou-se em conseguir casar mulheres da sua linhagem com os futuros imperadores, que depois seriam afastados do trono e substituídos por pequenos príncipes, filhos de princesas Fujiwara. O avô assumia a regência. Quando o poder do clã se consolidou, foi estabelecido o kanpaku — regência em nome do imperador adulto — título ostentado a partir de 887.

Entre 897 e 1086, período áureo da hegemonia Fujiwara, estes preocuparam-se em assegurar o poder imediato e o espaço vital, manipulando os imperadores e monopolizando os mais altos cargos da administração.

A família imperial e a corte demonstraram uma certa força com a implantação do regime dos códigos, a divisão do território em províncias e o novo sistema agrário associado à reforma fiscal. No entanto, a geografia do país e a forma como as comunidades rurais se estruturavam impediram uma adopção uniforme do modelo chinês.

Os antigos proprietários das terras eram agora governadores dos distritos. Tinham perdido oficialmente a posse da terra, mas funcionavam como seus verdadeiros senhores, fazendo a ponte entre os funcionários do poder central e as populações locais.

Por mais que o Estado quisesse relacionar-se com o indivíduo, a sociedade japonesa mantinha ainda uma organização familiar e comunitária. De tal forma que, gradualmente, despertaram novas tendências regionalistas. Longe de Heian, a capital desde finais do século VIII, o território foi-se fragmentando sob a autoridade de poderosos senhores locais.

À semelhança do que se passava nos campos, também na capital os laços pessoais começaram a sobrepor-se ao respeito por um código. A época do apogeu dos Fujiwara anunciava já a decadência do centralismo e o fim do regime dos códigos.

Nos finais do século XI, o sistema de controlo da família imperial por parte dos Fujiwara falhou; e os imperadores aproveitaram a ocasião para recuperar a sua autoridade.

Em 1086, após a morte de Goreizei-Tennô, não havia nenhum neto de um Fujiwara para lhe suceder. O novo imperador, Gosanjô-Tennô, copiando a "técnica" dos Fujiwara, abdicou e colocou no trono o seu filho Shirakawa-Tennô. Agora o imperador retirado era pai do imperador em título, tendo um maior ascendente sobre ele do que os avós.

Shirakawa inaugurou o governo dos imperadores retirados; tendo abdicado em 1086, foi tutor de três imperadores sucessivos. Embora o kanpaku não tenha sido abolido, foi esvaziado de poder ("o feitiço virou-se contra o feiticeiro"!).

A recuperação do poder pelos imperadores foi temporária. O sistema político acabou por ruir devido às rivalidades entre os vários pretendentes ao trono e às lutas entre senhores locais e os representantes da corte.

A escalada das linhagens guerreiras associada ao contexto acima descrito iria estar na origem de mudanças radicais na organização política do Japão. O poder político começa a ser disputado através da guerra. Pela primeira vez, em 1159, um guerreiro, Taira no Kiyomori, domina a capital. Este, porém, pretende ainda governar o país como um cortesão: recorre à habitual política de casamentos com membros da família imperial, em vez de desenvolver os laços de solidariedade e dependência pessoal com os outros guerreiros que lhe assegurariam a manutenção do poder. Quando o imperador quis desembaraçar-se dele, os guerrei-ros, chefiados por Minamoto no Yoritomo, deram início à Idade Média japonesa27. Nos próximos quatro séculos, o Japão seria governado por homens em armas.

O 2º ESTADO

João Rodrigues, no Proémio ao Leitor, diz que o 2º estado começa por volta de 1200 e termina com Nobunaga. Estes limites cronológicos encaixam perfeitamente na Idade Média japonesa (1185--1573) — cf. quadro comparativo. Mas, no capítulo 11, atrasa o início do 2º estado para 1340, quando Ashikaga Taka uji é nomeado xogum.

Se, por um lado, 1200 é a data que melhor se adapta à periodização proposta por Francine Hérail, por outro, é interessante constatar que 1340 se aproxima da passagem do xogunato para as mãos dos Ashikaga (1338) e, consequente-mente, do enfraquecimento acentuado da autoridade central28.

Rodrigues defende que só nesta altura houve de facto usurpação do poder real29 por parte de Ashikaga Taka uji e outros capitães, "ficando o rei e os da ordem patrícia privados do governo e rendas e terras que guardavam"30. A ausência de um poder central permitiu que os conflitos se generalizassem e a anarquia se instalasse — "ficou todo o Japão em guerras destruindo-se uns aos outros (...) fazendo cada um o que queria"31.

O rei e os cortesãos ficaram na cidade de Miyaco "encurralados e pobríssimos sem renda para a sua sustentação, mais que o que lhes davam os que possuíam os reinos, e o xogum de presente pelas dignidades que lhe dava"32. João Rodrigues faz questão de realçar que embora tenham usurpado o governo, as terras e as rendas, os guerreiros sempre reconheceram o rei como senhor natural. Nunca nenhum xogum ousou tomar o título de imperador.

O 2º estado foi um período de destruição (dos paços reais e senhoriais, das cidades, das colheitas), de miséria e de insegurança. As trocas comerciais diminuiram, enquanto nas estradas e nos mares proliferavam os ladrões, os salteadores e os piratas. Sem governo central e sem leis, eram cometidos crimes etraições, e punia-se arbitrariamente.

Quando, em 1549, o Padre Francisco Xavier chegou ao Japão vivia-se ainda no 2º estado.

Na História do Japão de Luís Fróis, as alusões à guerra civil são muito frequentes e servem de enquadramento à acção dos missionários. Encontramos uma primeira referência aos conflitos logo no 2º Capítulo da 1a Parte, quando Fróis diz que em 1549 Shimazu Yoshihisa, dáimio de Satsuma, se escusou a ajudar a deslocação de Xavier de Kagoshima para Kyôto devido a "umas guerras que em seu reino havia"33.

Este autor descreve a guerra civil a partir dos pontos de observação em que os missionários se encontravam (Kyushu e Kinai). No entanto, os confrontos estendiam-se a todo o território. Tratava-se de um processo global. Os blocos militares não se mantinham estáveis; as alianças eram provisórias, dependendo dos interesses que se impunham em cada momento.

Oda Nobunaga (1534-82), num retrato de Kano Motohide. (Prefeitura de Aichi).

Através da História de Fróis, temos noção da importância de que se revestia o prestígio dos grandes guerreiros como elemento aglutinador de uma coligação34, num período em que o poder era tão precário.

Embora João Rodrigues coloque o início do 2º período em 1340, a crise do poder central japonês tem origem em meados do século XII, com a crise de 115635 e o posterior estabelecimento do Bakufu36 de Kama-kura (1185-1333). Os guerreiros tomaram então o poder, contribuindo para que a autoridade da capital (isto é, dos cortesãos) se fosse atenuando progressivamente.

A partir de 1467 — Época das Lutas entre as Províncias —, a guerra civil tornou-se endémica, e o xogum ficou praticamente sem poderes efectivos, tal como havia sucedido com os imperadores. Este período foi marcado pela inexistência de uma autoridade central actuante e pela renovação rápida, sobretudo a partir do século XVI, das famílias de dáimios. Os dáimios passaram a actuar a nível local de forma semelhante à utilizada pela °corte para com todo o país em épocas anteriores. Agudizou-se, portanto, o desmembramento político do Japão.

No entanto, caberia a um dáimio, colocado estrategicamente no centro do país, a tarefa de inverter esse processo de fragmentação do poder, impondo gradualmente a sua autoridade a uma área cada vez mais vasta do território. Oda Nobunaga — dáimio de Owari — deu os primeiros passos nesse sentido.

O 3º ESTADO

O 3º estado em que João Rodrigues divide a história japonesa coincide com o processo de reunificação do país conduzido por Nobunaga, Hideyoshi e Ieyasu (isto é, com a Época Azuchi--Momoyama — cf. quadro comparativo).

O autor defende que o 3º estado só começou verdadeiramente quando Hideyoshi "acabou de sujeitar todo o Japão"37. Mas reconhece que Nobunaga abriu caminho no sentido da centralização.

Neste período, a mobilidade social foi possível através do serviço das armas, da via religiosa ou por parentesco com o "senhor da tenca". As leis, o governo e os costumes renovaram-se; construiramse novas cidades, paços e fortalezas; o comércio floresceu e a navegação conheceu grandes desenvolvimentos; a riqueza e a opulência transpareciam no vestuário e nos presentes oferecidos nas visitas. A paz trouxe consigo a prosperidade e a abundância. Os cortesãos tornaram-se os senhores dos reinos, recebendo novas terras e títulos.

Enquanto ao longo do 1º e do 2º estados a idolatria "importada" da China floresceu bastante (os Bonzos possuíam grandes rendas e templos sumptuosos), no 3º estado o Cristianismo começou a ser difundido pelos missionários jesuítas.

Retrato de Toyotomi Hideyoshi (1536-98). (Kodai-ji, Quioto).

Ao contrário de Fróis, João Rodrigues não faz referência à chegada dos portugueses ao Império do Sol Nascente, mas, à semelhança daquele, não refere a influência que esse facto teve na passagem do segundo para o terceiro período da história nipónica. Com efeito, a divulgação do Evangelho criou novos factores de divisão no seio da sociedade japonesa38, mas a introdução das armas de fogo no país modificou as concepções estratégicas, facilitando a acção de forças centralizadoras39. Oda Nobunaga soube aproveitar melhor que os seus rivais as potencialidades das espingardas e, através dessa acção revolucionária, conseguiu inverter o processo político-militar que se arrastava há anos, dando início à reunificação do império nipónico. Aquando da sua morte, em 1582, mais de metade do Japão estava sob o seu domínio.

Nobunaga protegeu os missionários jesuítas, mas perseguiu os bonzos40 Ele tinha consciência de que o processo de reunificação só seria bem sucedido se conseguisse acabar com os principais focos de autoridade privada. Teve, portanto, de combater as comunidades budistas que dominavam vastas áreas do Japão e os seus respectivos habitantes.

Embora a obra de Nobunaga tenha sido feita à custa de guerras sucessivas contra os que teimavam em manter a sua autonomia, as lutas que travou durante a vida tiveram como denominador comum o alargamento do poderio de um único guerreiro.

Depois da morte de Nobunaga, Hideyoshi conseguiu assumir a liderança e concluiu a submissão dos restantes territórios nipónicos entre 1582 e 1591. A reunificação do país sob a sua autoridade foi imediatamente seguida por um esforço de centralização burocrática: Hideyoshi ordenou a elaboração de um recenseamento da população e de cadastros, "meios de conhecer a riqueza de todo o país, estabelecendo estatutos distintos para os guerreiros e para os camponeses, forma de melhor controlar uns e outros"41. Na expressão de Hérail, "Hideyoshi fundou uma espécie de Estado feudal centralizado"42.

Oseu sucessor, Tokugawa Ieyasu, manteve o Japão unido e submetido a um poder central sob a sua autoridade, e em 1603 fundou o terceiro bakufu. Rodrigues dá-nos notícia dessa transformação: "este 3º estado depois da morte do taicô (Hideyoshi) se vê já alguma mudança com a suces são de Daifu (Ieyasu), o qual melhorou o reino, e seu estado na habitação e sustentação"43. Tçuzzu estava em cima do acontecimento, o que o impedia de notar as rupturas mais profundas, mas a acção de Ieyasu iria dar lugar a uma longa dinastia xogunal.

CONTINUIDADES E RUPTURAS

Quase no final do capítulo 11 da História da Igreja do Japão, Rodrigues aponta as semelhanças e as diferenças entre os três estados que descreveu. Afirma que o "1º é o próprio e verdadeiro do Japão" — todo o país está submetido à autoridade do rei; o 2º é "tirânico e contrário ao lº — o poder foi usurpado pelos guerreiros; e o 3º é, em parte, semelhante ao 1º — volta a haver um poder central que domina todo o Japão, vive-se em paz e prosperidade —, mas é também semelhante ao 2º — o poder foi usurpado por um só guerreiro.

Outros autores da Companhia de Jesus, que escreveram sobre o Japão enquanto decorria a guerra civil, não sabiam o que se tinha passado anteriormente. Tomaram, portanto, aquele estado de confusão e anarquia como próprio e natural do Japão. Pensavam que, desde a sua origem, o país vivera em guerras contínuas, sem leis e sem governo central. Julgavam ainda que os que estavam de posse das terras eram os seus proprietários legítimos, que o xogum era o rei do Japão, e que o verdadeiro rei era um sacerdote44. A imagem do Japão como país em guerra permanente, fruto do desconhecimento (ou da análise parcial) da realidade japonesa, foi difundida no Ocidente pelas cartas dos padres jesuítas e pelas obras que utilizaram essas missivas como fonte45.

João Rodrigues pretendeu remontar às origens do estado japonês para melhor traçar a evolução do país. Apresenta-nos uma periodização intimamente ligada à ideia de degeneração, de perda das qualidades primitivas. O 1º estado é considerado o "natural", o "próprio", o "verdadeiro" do Japão, enquanto o 2º e o 3º se afastam do modelo original. O "desvio" aconteceu quando os guerreiros usurparam "o domínio ao próprio senhor"46 e o poder central se extinguiu. Com a reunificação do país (3º estado), o centralismo foi restaurado, mas o poder não voltou para as mãos do rei.

Batalha de Nagashino, 1575 (pormenores)- triunfo da inovação táctica de Nobunaga, assinala historicamente o triunfo da arma de fogo e o fim da Cavalaria Medieval no Japão.

Oda Nobunaga foi o primeiro a compreender que uma arma lenta devia desempenhar um papel defensivo. Para ter uma cortina de fogo ininterrupta, dispôs os mosqueteiros em três filas, correspondentes aos três tempos de acção dos mosquetes: carregar pela boca, incendiar a mecha, pontaria. Assim dispôs 3000 espingardeiros na frente do combate, em Nagashino. (Tokugawa Art Museum, Nagoya).

É interessante notar que a principal característica que o autor atribui ao 1º estado (todo o território estar submetido à autoridade de uma só cabeça) só se encaixa no Período da Grande Reforma. Nas origens do estado nipónico, os imperadores não dominavam todo o território. Esse papel cabia aos clãs. Mesmo quando se reafirmou a primazia imperial, entre finais do século VII e os inícios do século VIII, procurou-se reforçar a autoridade da corte e não a do imperador.

Notamos que Rodrigues foi nitidamente influenciado pela perspectiva dos cortesãos. Durante o Período Antigo, a autoridade da corte foi legitimada pela conivência (tácita ou forçada) da figura imperial. O "poder atrás do trono", personificado pelos cortesãos, era de facto quem comandava o país.

A ideia de criar um Estado centralizado no Japão surge por volta do século VII, na sequência do processo de assimilação dos principais aspectos da civilização chinesa (escrita, pensamento, religião, organização administrativa). A centralização política levada a efeito na Época de Nara (710--meados do século X) resultou de um esforço de sinização. Não era um elemento "próprio", "natural" do País do Sol Nascente. O tempo e o isolamento, porém, tornaram-no natural aos olhos dos cortesãos.

No capítulo 11 da História, Rodrigues procurou suprir uma lacuna que prevalecia nos relatos de outros missionários, fazendo uma abordagem da primeira etapa da história japonesa. No entanto, é na descrição desse 1º estado que a sua análise revela algumas fraquezas. Julgamos que o autor não se apercebeu de um traço fundamental da organização política nipónica: os imperadores em título raramente detiveram o poder político. O seu papel era largamente relegado para o campo das cerimónias e das artes.

A descrição do 2º e do 3º estados, por seu turno, demonstra que o autor tinha um profundo conhecimento do período das guerras civis e do processo de reunificação do país. Um conhecimento que lhe vinha dos relatos dos Padres Jesuítas que tinham vivido no Japão desde meados do século XVI e também do contacto directo com a realidade nipónica durante os governos de Nobunaga, Hideyoshi e Ieyasu.

A abordagem que João Rodrigues faz da história do Japão é muito breve e esquemática, mas tem a vantagem de traçar a evolução do estado nipónico desde as origens até ao momento em que Tçuzzu deixa o país.

Rodrigues preocupou-se em confrontar os três períodos em que dividiu a história japonesa e em desfazer as ideias falsas que havia sobre eles. Quis que os europeus soubessem que o Império do Sol Nascente nem sempre vivera sob o domínio dos guerreiros: os conflitos militares e a anarquia tinham sido um momento na sua evolução histórica, e não uma característica permanente. Antes dos guerreiros, tinham sido os cortesãos a governar aquele território. O Japão não deveria, portanto, voltar a ser definido como país de guerra. A Tçuzzu ficam a dever-se as primeiras páginas que um europeu dedicou à História Antiga do Japão. Pela primeira vez nas obras dos missionários jesuítas, o Arquipélago nipónico aparece com passado. Para lá do caos e dos senhores da guerra.

NOTAS

1 Na História da Igreja do Japão, João Rodrigues diz que chegou ao Japão "26 anos depois do Abençoado Padre (Francisco Xavier) ter deixado o Japão e partido para a Índia". Como Xavier deixou o Japão em Novembro de 1551, não pode haver dúvidas quanto à chegada de Rodrigues em 1577. Cf. Michael Cooper, Rodrigues the Interpreter: an early jesuit in Japan and China, New York, Weatherhill, 1974, p.38.

2 Cooper põe a hipótese de Rodrigues ter chegado ao Japão como ajudante de mercador ou aprendiz. No entanto, acha mais provável que o rapaz tenha ido para aquele país como protegido dos missionários (cf. Cooper, op. cit., p. 37). Em 1580, Tçuzzu inicia o seu noviciado em Usuki e no ano seguinte começa a estudar humanidades em Funai. É também em Funai que dá início aos seus estudos de filosofia (1583) e Teologia (1585). Cf. Ibidem, p. 66.

3 Rodrigues foi intérprete de Valignano na Embaixada do Vice-Rei da Índia que visitou Hideyoshi em 1591; desempenhou depois outras missões diplomáticas, junto dos Tokugawa por exemplo. Cf. Cooper, op. cit., pp. 73-75, 191-192.

4 Cf. Cooper, op. cit., pp. 82-83.

5 Neste trabalho utilizámos a seguinte edição: João Rodrigues, História da Igreja do Japão, transcrição do códice 49--IV-53 (fólios 1-181) da Biblioteca do Palácio da Ajuda, preparada por João do Amaral Pinto, Notícias de Macau, 1954.

6 Luís Fróis SJ, História de Japam, (edição crítica de José Wicki SJ), 5 vols., Lisboa, 1976-1984.

7 Alexandre Valignano SJ, Sumário de las cosas de Japón (1583), (edição crítica de José Luís Alvarez Taladriz), Tóquio, US, 1954.

8 Josef Franz Schütte, "A História inédita dos Bispos da Igreja do Japão do Pe. João Rodrigues Tçuzzu SJ" in Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, Actas, 5 vols., Lisboa, vol. V, 1º a parte, pp. 297-328.

9 "Antes que falemos dos costumes deste reino (...) é necessário advertir (...) que houve em Japão três estados diferentes entre si (...)e nós agora havemos escrever todos três." In João Rodrigues, op. cit., cap. 11, pp. 177-178.

10 Rodrigues, op. cit., cap. 11, p. 178.

11Ibidem, p. 178.

12 Tçuzzu deriva da palavra japonesa tsuji, isto é: intérprete. Cf. Cooper, op. cit., p. 69.

13 No Proémio ao Leitor, no entanto, Rodrigues tinha apresentado como barreiras cronológicas do 1º estado os anos de 660 a. c. e 1200 d. c., e do 2º estado os anos de 1200 e 1582.

14 A informação recolhida no Proémio ao Leitor coincide com a do capítulo 11.

15 Cf. Rodrigues, op. cit., cap. 11, p. 178.

16 Na carta Administrativa do Japão do início da Época de Heian (824), o país aparece dividido em 68 províncias. Cf. Francine Hérail, Histoire du Japon. Des origines à la fin de Meiji. Matérieux pour l'étude de la langue et de la civilization japonaise, Paris, Publications Orientalistes de France, 1986, pp. 82 e 83.

17 Rodrigues, op. cit., cap. 11, p. 179.

18 Ibidem, p. 179.

19 Ibidem, p. 180.

20 Rodrigues refere que "Marco Polo faz menção aos paços reais japoneses" no seu Livro. Cf. Ibidem, p. 180.

21 No Japão, nos inícios do séc. VIII, começaram a ser utilizados os ciclos de 60 anos para contar o tempo. Parece que foi por essa altura que a cronologia antiga foi fixada. Com efeito, o ano de 601 foi um "ano do metal e do galo", combinação que era considerada como portadora de grandes modificações, o início de uma nova era. Por outro lado, os mestres do calendário reconhecem a existência de uma espécie de "ano grande" formado por 21 ciclos de 60 anos, o que dá 1260 anos. Ora, esse ano grande terá sido a medida usada no século VII para recuar 1260 anos e assinalar o ano de 660 a. c., data do surgimento de Jimnû-Tennô segundo as "Crónicas do Japão", como o ponto de partida que inicia oficialmente a história nacional. Cf. Hérail, op. cit., p. 21.

22 Cf. Ibidem, p. 48.

23 Cf. Kenzaburô Torigoe, "Between the Gods and the Emperors; a new reconstruction of the Early History of Japan", in Memoirs of the Research Department of the Tokyo Bunko, Tóquio, nº 33, 1975, pp. 23-83.

24 O Xintoísmo (espírito religioso muito próprio dos japoneses) é uma espécie de animismo, em que se reconhece o poder sobrenatural das forças da Natureza e ainda dos espíritos dos antepassados. Esta religião original do País do Sol Nascente ligava os seus habitantes à Natureza circundante mas também os ajudava a fortalecer os laços familiares. Sobre este assunto, vide, por exemplo, Edmond Rochedieu, O Xintoísmo, Lisboa, 1982.

25 O Budismo é uma religião universalista, ao contrário do culto das divindades clânicas. Sobre este assunto, vide, por exemplo, Henri Arvon, Le Bouddhisme, Paris, PUF, 1979.

26 Ao contrário do que Tçuzzu defende, no Japão a centralização resultou quase sempre numa reafirmação do poder da corte e não do imperador.

27 Tal como aconteceu no Ocidente, a Idade Média japonesa foi marcada por guerras internas, fragilidade de poderes, reforço dos laços de solidariedade pessoal, preponderância dos guerreiros. Cf. Michel Vié, Histoire du Japon, Paris, 1983, p. 47.

28 O 2º estado da História do Japão a que Rodrigues se refere no cap. 11 coincide com a Idade Média japonesa a partir do xogunato dos Ashikaga (i. e. a Idade Média japonesa após o acentuado enfraquecimento do centralismo).

29"... pelos anos do Senhor de 1130 começaram as primeiras guerras civis (...) semente de rebeliões que depois houve; todavia nunca usurparam o mando e senhorio ao próprio rei como depois se fez". Rodrigues, op. cit., cap. 11, pp. 180--181.

30 Ibidem, p. 181.

31 Ibidem, p. 181.

32 Ibidem, p. 181.

33 Luís Fróis SI, op. cit., vol. I, p. 24.

34 Sobre este assunto seguiu-se o estudo: João Paulo Oliveira e Costa, "A unificação política do Império Nipónico segundo a História do Japão de Luís Fróis", p. 4.

35 Esta crise começa na corte, mas acaba numa guerra pelo poder político.

36 Literalmente bakufu designa o "governo da tenda" por alusão ao quartel-general onde se instalava a administração xogunal; por extensão, designa o próprio regime e as instituições militares que governaram o Japão desde 1185 até 1868.

37 Rodrigues, op. cit., cap. 11, p. 184.

38 João Paulo Oliveira e Costa, op. cit., pp. 8-10.

39 A este respeito consultar: João Paulo Oliveira e Costa, "A introdução das armas de fogo no Japão pelos portugueses à luz da História do Japão de Luís Fróis", Instituto Oriental, Lisboa, 1992.

40 Cf. João Paulo Costa, "A unificação do Império Nipónico...", p. 5.

41 Hérail, op. cit., p. 284.

42 Ibidem, p. 285.

43 Rodrigues, op. cit., cap. 11, p. 190.

44 Ibidem, p. 184.

45 Ibidem, p. 184.

46 Ibidem, p. 188.

*Licenciada em História pela F. C. S. H. da Universidade Nova de Lisboa. Frequência do 1º ano de Mestrado de História Contemporânea da F. C. S. H. da U. N. L..

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