Tendo como pano de fundo o desenvolvimento social no Japão, a peça Os Milagres dos Armazéns Namiya fala-nos da solidariedade e do encorajamento genuínos que persistem entre as pessoas, apesar das transformações que se sucedem a nível do tempo e do espaço. A história começa com três jovens ladrões ociosos que entram acidentalmente num estabelecimento deserto, e descobrem que o seu tempo e espaço coincidem com os de várias cartas que aí se encontram. A versão teatral adopta uma estratégia de expressão artística diferente da do romance, optando por conferir uma dimensão “tridimensional” às palavras das cartas, através da visualização de muitas das situações que nelas são referidas e da apresentação das mesmas ao público através da linguagem teatral, incluindo jogos de sombras e elementos do teatro de marionetas, sendo cada transição acompanhada de música. O autor e o destinatário de cada carta aparecem, por vezes, um de cada lado do palco e, por vezes, um em cima e o outro em baixo do espaço, com vista a criar intencionalmente um conflito dramático entre a escrita da carta e a resposta à mesma, sendo ainda alterada a cor e a intensidade da luz. É precisamente a abordagem singular das artes cénicas que permite não só reproduzir a ternura que transcende o tempo e o espaço, manifestada na obra original, como também expressar a humanidade de forma mais directa.
Por Frankie Wong
Um aficionado do teatro e entusiasta da escrita.
Excerto de um artigo escrito originalmente em chinês