Centenário

4 POEMAS DE
José Valle de Figueiredo

(Do livro "O Provedor de Vivos", edição do autor, Lx. 1988)

TERRA DO NOME DE DEUS

    Terra que a traz cativa
    mais do que ela, traz a vida
    ao que espera, e de tal espera
    traz tão viva a quem dela viera, 
    tão famosa e renascida. 
    E de se fazer tal sorte
    na imagem a esta viagem
    se propusera, ao remotíssimo Oriente
    com tanto fulgor e arte viva, 
    aqui se dera e multiplicara, 
    entre tantas outras só ela
    viera para outra viagem
    mais além, e nos retém. 

DESCOBRIMENTO

    Na imagem de um rio chinês
    busco a água de tanta mágoa: 
    um verso de cada vez
    vem ao poema como um navio
    que vai ao largo
    e não volta mais. 
    Uma orquídea exilada
    de outro espaço
    pousa ao pé desta casa: 
    dir-se-ia que um sábio antigo
    abriu, passo a passo, 
    o que há tanto se encobriu. 

NAS RUÍNAS DA IGREJA DA MADRE DE DEUS

    Ave, Madre, Maria, 
    Cheia de Graça tanta, 
    Madre de Deus, Porta do Céu, 
    aqui estamos convosco; 
    Ave Pomba, Ave Madre, Maria, 
    Salvé Pedras para o Céu! 
    Aqui, Santíssima, 
    Excelsa Mãe de Deus, 
    estas escalas subimos, 
    Mãe de todo o Oriente, 
    Madre de todo o Ocidente, 
    Madre nossa, Madre Puríssima, 
    Rosa Cândida, Madre de Deus. 

AMÁ

    Da navegação vária se recolheu
    o porto e o abrigo, de tão longe ansiados, 
    da procelosa vaga colhido
    após tormentas e angústias diversas, 
    eis quantas alegrias aqui, quantas agruras, 
    quantas porfias de tanta caminhada; 
    da variada sorte creceram cantos
    e versos aqui deixados pela manhã, 
    vindos ao lugar pacífico e sereno; 
    dessa deusa porfiosa e fasta
    se deu à terra o barco
    e a própria vida; nada infelice
    se criou o lugar de que se disse, 
    após tanta viagem temerosa, 
    que seria o mais feliz e propício: 
    e se à própria vida chegou
    nesta praia primitiva, 
    foi ì vida que veio a morte tão
    antiga e tamanha, e tal sorte. 
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até a p.