Fermentado e para Revigorar

– Para o 32.º Festival de Artes de Macau

 

 

A arte vai aquecer a cidade no mês de Maio. O 32.º Festival de Artes de Macau apresentará 18 programas que abrangem teatro, dança, música, artes visuais, bem como várias actividades do Festival Extra. A arte faz-nos, como sempre, avançar, abrindo caminho para “revigorarmos” as nossas vidas.

Ao longo das últimas três décadas, o Festival de Artes de Macau não poupou esforços na construção de uma plataforma de intercâmbio internacional de arte e na introdução de obras aclamadas de outras regiões, promovendo, ao mesmo tempo, as produções locais. Dado que os intercâmbios culturais internacionais continuam a ser limitados devido à pandemia de COVID-19, o Festival deste ano voltará a centrar-se em programas do Interior da China e de Macau, procurando ainda derrubar as fronteiras geográficas e criar novas possibilidades para alargar os horizontes artísticos do público através de meios tecnológicos e de outras abordagens.

O Festival de Artes de Macau deste ano arranca com a produção de dança Homem Livre do Sul apresentada pela BeijingDance/LDTX, uma companhia de dança co-fundada pelo Pai da Dança Moderna Chinesa Willy Tsao e pelo conceituado coreógrafo Li Hanzhong. Baseada em 26 poemas famosos do poeta da dinastia Tang Li Bai, a produção transportará o público para um espaço poético da imaginação por meio de uma combinação de música e dança. Adoptando o mesmo estilo de prosa poética na sua narrativa, a produção teatral Eu Sou Uma Lua, da autoria da jovem dramaturga Zhu Yi, revelará os desejos e segredos dos citadinos através de várias histórias independentes, ainda que inter-relacionadas.

A arte transcende os tempos e as fronteiras geográficas. A tragédia da Grécia Antiga Electra, produzida conjuntamente pela companhia nacional de teatro profissional Centro de Artes Dramáticas de Xangai e por uma equipa de produção grega, apresentará um cruzamento atemporal entre os antigos aulos duplos gregos, um instrumento musical com mais de 2000 anos agora reproduzido por especialistas e o sheng, um instrumento chinês de sopro de palheta livre igualmente antigo. A produção de dança Xiao Ke, criada conjuntamente pela versátil artista performativa chinesa homónima e pelo conceituado bailarino e coreógrafo francês Jérôme Bel através de videoconferências e ensaios online, decorre do intercâmbio e diálogo intercultural desta dupla, reflectindo a evolução da dança e cultura chinesas ao longo dos últimos 40 anos através do monólogo de Xiao Ke.

O Festival de Artes de Macau tem-se empenhado, desde sempre, em promover o desenvolvimento profissional das companhias artísticas locais. Uma vez mais, o Festival deste ano apresenta produções locais que representam mais de metade do número total de programas, bem como continua a seleccionar programas do Festival Fringe da Cidade de Macau. Vários programas locais incluem a produção de teatro técnico Carlos I, criada de uma forma raramente vista em Macau; As Figuras Desaparecidas, que examina a questão do trabalho feminino; Mais Vasto que o Oceano, uma produção que combina a técnica artesanal tradicional de construção de andaimes de bambu com a dança contemporânea; Nove Paisagens Sonoras, espectáculo concebido a partir dos nove tons do Cantonense; e a comovente peça A Caixinha de Tesouros da Avó, que tanto fará o público sorrir como chorar. Alguns destes programas reflectem o desenvolvimento urbano e a história local e alguns apresentam as condições da vida urbana. Em pleno período de pandemia, os artistas locais desenvolveram sentimentos e uma imaginação mais perceptivos e intensos, anunciando um futuro muito promissor.

O património e a inovação são os motores do desenvolvimento artístico. O Teatro em Patuá, inscrito na Lista Nacional de Itens Representativos do Património Cultural Intangível da China, e a Ópera Cantonense, inscrita nas Listas do Património Cultural Imaterial da UNESCO, são formas teatrais populares com o mais autêntico sabor local, integrando obrigatoriamente a programação do Festival de Artes de Macau. O Festival deste ano apresentará a produção teatral em Patuá Lorcha di Amor (Cruzeiro do Amor) e a ópera cantonense O Fantasma de Liaozhai. Por sua vez, a obra-prima da Companhia de Teatro Jingju de Xangai, A Nova Estalagem Dragão, integra tradição e inovação, evidenciando a magnificência e o glamour da ópera de Pequim com uma série de novas técnicas, a fim de revelar a vitalidade infinita desta arte tradicional.

A arte tem um lugar especial no coração das crianças durante o seu processo de crescimento até chegarem à vida adulta, pelo que este Festival apresentará vários programas que proporcionarão ao público a oportunidade de passar momentos preciosos em família. Doodle POP, uma peça interactiva em família que abre a nossa imaginação com desenhos infantis, e A História de Kong Yiji, uma produção musical infantil local baseada no conto Kong Yiji de Lu Xun, para inspirar a criatividade e recriar o clássico através de apresentações em palco. A Mostra de Espectáculos ao Ar Livre, um programa comunitário, continuará a espalhar o poder da arte por toda a cidade com uma variedade de apresentações.

A Orquestra de Macau vai encenar o “Cine-concerto Der Rosenkavalier” e levar o público numa viagem que se estende ao longo de cem anos. O espectáculo de encerramento deste ano é ainda mais glamoroso – Liza Wang, uma versátil actriz e cantora, vai associar-se à Orquestra Chinesa de Macau para apresentar um repertório de clássicos intemporais e concluir o Festival com música magnífica infundida com um toque irresistível.

Os programas do Festival Extra são outro destaque. Na Projecções Seleccionadas de Espectáculos Internacionais serão apresentadas actuações de primeira classe gravadas por companhias artísticas da Europa e dos Estados Unidos, dando oportunidade ao público de relembrar produções internacionais de grande escala no grande ecrã. F’art for U, que estreou no Festival Fringe da Cidade de Macau e foi convidado a integrar a programação do Festival de Artes de Hong Kong no ano passado, será reencenado no Festival de Artes de Macau com uma actualização de serviço e continuará a levar várias actuações a sua casa.

Espero sinceramente que todos os artistas e membros do público possam desfrutar do “revigoramento” proporcionado pela arte durante o Festival, e que a imaginação, a esperança, o sentimento e outras forças da vida que surgem da arte nos possam levar a um mundo melhor.

Leong Wai Man
Presidente do Instituto Cultural do Governo da Região Administrativa Especial de Macau