Apresentação da Conferência

Desejo e medo de existir

 

O objectivo desta conferência é mostrar o funcionamento de duas forças universais, de vectores contrários,  o desejo e o medo de existir, na construção das subjectividades e na dinâmica da sociedade.

  1. Numa primeira parte analisaremos o desejo – como puro desejo de existir, pois existir (e não apenas viver biologicamente) é desejar. A natureza do desejo, o seu processar e os seus fins. Evocaremos, recorrendo a especialistas (Françoise Dolto, Daniel Stern), as relações entre desejo e comunicação, desejo e linguagem (pré-verbal e verbal), desejo e expressão. Existe assim uma ética do desejo. Duas teorias do desejo: o desejo como pulsão para obter o que falta, e o desejo como fluxo visando criar, construir, conectar-se.
    Conceitos essenciais utilizados: sujeito e dissolução do sujeito, corpo, inscrição, pequenas percepções (Leibniz), vida. 
  1. Numa segunda parte mostrarei como existe sempre uma outra força que contraria os fins do desejo. Essa força pode nascer do próprio desejo. Partirei do exemplo da sociedade portuguesa, para analisar como essa força de anti-vida se manifesta através de múltiplas expressões entre as quais o medo, procurando entravar o desejo de existir. Entramos assim numa zona obscura, qualquer coisa como um desejo de não-existir. Analisarei a maneira como o desejo se volta contra si próprio em certos tipos de comportamento na sociedade portuguesa: na inveja, no queixume, nas estratégias para evitar o conflito frontal, no gozo da auto-flagelação, na obliteração do acontecimento (não-inscrição).  E, como estes traços gerais de comportamento podem constituir verdadeiras normas de um sistema de mentalidades que condiciona a dinâmica social. Definição de “mentalidade” e de “condições de subjectivação”. Mostrar como se pode extrapolar, em circunstâncias particulares, do individual para o social. Tudo isto constitui o medo de existir. O que é o medo? Descrição psicológica e fenomenológica. O desejo pode, pois ser levado, por um mecanismo perverso, a negar a própria vida e, imitando-a, aproximar-se da morte.
    Conceitos essenciais: medo, subjectividade, processo de subjectivação, não-inscrição.
  1. Numa terceira parte procurarei mostrar as consequências do embate destas forças no plano político. (A). Descrição das lógicas em presença: duplo-impasse, a afectividade social (e a globalização), o silêncio do sistema político. (B). As transformações actuais do medo de existir. Consequências na prática da democracia. (C). O que fazer para que o desejo de existir prevaleça sobre o medo de existir?