Na sua obra seminal The Image of the City, o urbanista Kevin Lynch defende que o significado de uma experiência urbana deriva da aquisição de mapas mentais. A cidade deve ser ‘imaginada’ num ‘processo bidireccional entre o observador e o ambiente’ em que o observador ‘selecciona, organiza e dá significado ao que vê’. Neste sentido, Macau é tanto uma cidade como uma imagem. Estabelecida como entreposto comercial português em 1557 e transferida administrativamente à República Popular da China em 1999, Macau tem sofrido uma série de transformações, tanto em termos espaciais como históricos. Os projectos de aterro começaram em 1912 e intensificaram- -se no início da década de 2000. A Região Administrativa Especial iniciou um ambicioso mega-projecto de recuperação das águas entre a Taipa e Coloane, conhecido como Zona de Aterros Taipa–Coloane ou, mais comummente, ‘Cotai Strip’. Este artigo analisa a forma como a imagem de Macau, como cidade global, é construída, tanto no sentido espacial, através do planeamento urbano, como no sentido cultural, através do cinema e média. Mais especificamente, analiso a forma como o filme premiado de Ho-Cheung Pang, Isabella, lança luz sobre a história espacial fragmentada de Macau. Vencedor do Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim, Isabella levou Macau a uma audiência cinematográfica global. Ao mesmo tempo, o filme chama a atenção para o facto de o espaço urbano de Macau poder ser descodificado de diferentes formas pelo público local e internacional. Ou seja, o filme separa subtilmente as audiências com base no seu conhecimento da história espacial de Macau, destacando as mudanças no tecido social e a identidade cultural dos seus residentes. Este artigo explica como o cinema e o urbanismo estão ligados na construção de Macau como uma cidade global.