Conforme uma noção geral, o conceito de paisagem consolidou-se na Europa no início do século XVI, exemplarmente na pintura paisagista holandesa, enquanto na Ásia o termo paisagem está presente na poesia e na pintura chinesa já desde o século IV. Presume-se assim que ambas as noções da paisagem são comparáveis e que o posterior termo europeu para a paisagem deve ser revisado pelo anterior conceito chinês da paisagem. O presente ensaio fornece uma visão crítica das posições de François Jullien, “Living off Landscape or the Unthought-of in Reason", e do pensamento de Augustin Berque sobre a 'mediância', que é inspirado pelas clássicas noções chinesas e japonesas de paisagem. No actual contexto de degradação ecológica global e face à total manipulação das paisagens naturais pelo homem, a paisagem deve ser repensada, tendo em conta que o conceito europeu de paisagem, explicado pelos autores supracitados, não foi devidamente considerado. Em particular, a sua dupla origem, na política e na estética, a sua ligação com o espírito técnico e científico dos tempos modernos, o problema específico da subjectividade na modernidade e a possibilidade de perda da subjectividade, como foi reconhecida, por exemplo, na obra de Foucault, já há mais de meio século. Especialmente a obra de François Jullien parece reiterar uma soma de pressupostos pós-estruturalistas e/ou pós-modernos, fundados na sua leitura peculiar do pensamento chinês clássico, que têm consequências graves para a sua interpretação do conceito de paisagem.