O pensamento teórico-prático dos sistemas filosóficos hindus Sámkhya e Yoga interpreta a relação humana com a Natureza na perspectiva duma interconectividade que exige a abolição das fronteiras egoicas, territoriais e ontológicas, propondo uma
globalização humana-cósmica.
O actual interesse pelos valores orientais entende-se num quadro de tensões subsequentes do modo de vida ocidental, de décadas de vitória de hedonismo anti-metafísico, de visões materialistas, positivistas, mais argumentativas do que sapienciais. O Ocidente já compreendeu que a evolução da humanidade passa pela modificação do paradigma actual económico, social, ecológico, político. E, nesse sentido, parece-nos que o progressista Ocidente tem muito ainda a aprender com o sábio Oriente.
Os valores que procuramos não são exclusivos de uma sabedoria oriental, revelam interesses e necessidades transversais à história da vida humana sobre o Planeta. Os princípios estruturantes do Ocidente devem ser valorizados: os direitos humanos, a liberdade, a hermenêutica científica. Os movimentos ecologistas nascem, justamente, no Ocidente, assim como as soluções tecnológicas ao serviço da sustentabilidade. Há assim um Ocidente sábio, não apenas progressista. Paradoxalmente, o sábio Oriente rendeu-se ao fascínio ilusoriamente progressista da industrialização e da técnica ocidentais, acelerando-se a destruição do meio ambiente e dos modos de vida comunitários.
A 2.ª globalização implica um despertar global da consciência que transcenda Oriente e Ocidente e que exige reconhecer a nossa semelhança com o que está do lado de lá numa situação ecológica e ontológica comum, a urgência de cooperação, de diálogo, de paz – Ahimsá, e o reconhecimento da interconectividade, não apenas Planetária, mas universal, porque a segunda globalização será cósmica.