Em 1880, a comemoração do tricentenário da morte de Luís de Camões pela comunidade portuguesa de Macau residente em Hong Kong evocou o maior poeta da cultura portuguesa e reforçou a sua ligação a Macau, onde a tradição sustenta que escreveu partes do seu poema épico Os Lusíadas. Momento de afirmação identitária vivido no Club Lusitano, este evento contou com um elaborado e vasto programa, hoje conhecido através de Memória dos Festejos, publicação que registou o evoluir das comemorações e as intervenções que foram proferidas. Uma dessas intervenções, anónima, escrita em castelhano e intitulada "Un Admirador", aproveitou o ensejo de homenagem ao vate lusitano para tecer considerações contra as novas tendências da ciência, espoletadas pelas pesquisas científicas do naturalista inglês Charles Darwin e pela sua célebre obra A Origem das Espécies. Duas personalidades macaenses de grande prestígio em Hong Kong, Policarpo António da Costa e Lourenço Pereira Marques, escreveram textos em que defendiam as ideias darwinistas, contrapondo os seus argumentos aos do autor anónimo. Em 1881, o cónego português António de Vasconcelos produziu na Sé de Macau um sermão, na Páscoa, cujo conteúdo espoletou a resposta dos dois macaenses. Os textos que escreveram são a confirmação de que a cultura e as correntes científicas do século XIX não eram factores estranhos a muitos elementos da comunidade macaense em Hong Kong.