O Porto Interior de Macau, situado no estuário do Rio das Pérolas, a jusante dos seus muitos afluentes, de outras linhas de água, de campos de orizicultura e de dejectos de aglomerados humanos, foi sentindo, ao longo do período da presença portuguesa, um persistente assoreamento que ameaçava transformar as suas águas num banco de areia e lodo. Durante grande parte desse tempo, as autoridades com domínio sobre o assunto assistiram, impassíveis, à decorrência do fenómeno, tomando, por vezes, apenas tíbias medidas para o remediar, as quais, de todo, resultavam vãs face à verdadeira dimensão do referido fenómeno.
Enquanto isso, Macau assistia à degradação contínua das condições de acesso e de utilização do seu porto de mar, não sem que o governo da metrópole fosse de tal avisado. Por fim, o dramatismo da situação obrigou a que as instâncias do poder se consciencializassem de que algo tinha mesmo que ser feito no sentido de travar os efeitos tremendamente nefastos do assoreamento. Confrontadas com propostas várias de resolução do problema, as governações, encurraladas entre os custos das mesmas e os recursos de que dispunham, iam protelando, como sempre o haviam feito, decisões de fundo, limitando-se à aplicação de pequenas e avulsas soluções.
O início da segunda década do século XX trouxe, todavia, algumas mudanças e novas realidades. Novas realidades que correram o risco de inutilidade, mas que Macau soube inteligentemente aproveitar e dar-lhes um destino digno, proveitoso e civilizacional.