Desde cedo a gastronomia se foi tornando uma marca identitária das sociedades, assumindo-se como um importante contributo para a sua história.
Entre as várias tentativas de descrever os modos de vida dos grupos humanos a literatura marca presença, com os escritores a chamarem a si o papel de guardiões das memórias sociais, permitindo-nos aprofundar os conhecimentos sobre o passado e as pretéritas condições de vida de diferentes aglomerados humanos.
Mas este registo dos escritores carece sempre de ser estudado, valorizado, aprofundado e categorizado para dele se extraírem todas as potencialidades que em si mesmo encerra. Partindo deste pressuposto, o presente artigo tem o objectivo de fazer uma análise da obra literária Os Dores, para identificar alguns dos hábitos culinários de Macau, na primeira metade do século XX, e a partir da comunhão desses manjares descortinar o valor social simbólico que os mesmos representam.
Em Os Dores o autor tece um conjunto de situações em que a gastronomia assume particular relevância social. Macau era, nesses tempos da primeira metade do século passado, um pequeno burgo onde a mesa e as ementas constituíam caminho para
afirmação social ou ascensão na hierarquia da sociedade local, quebrando barreiras e marcando o ritmo da convivência quotidiana.
Torna-se evidente que urge e é imperativo estudar a obra dos escritores de Macau porque esta contribui para a preservação e divulgação da cultura macaense, que, no contexto actual, corre o risco de se esbater ou mesmo perder o significado autêntico de muitas das suas especificidades singulares, que apesar de registadas podem não ser completamente entendíveis pelas gerações mais novas