“Orientalismo em Maria Ondina Braga” é um ensaio que procura analisar o modo como a escritora Maria Ondina Braga observou a realidade extremo-oriental, bem como a eventual filiação dessa análise na perspetiva de Edward W. Said.
Maria Ondina Braga nasceu em Braga, a conhecida cidade dos arcebispos, então marcadamente católica e preconceituosa, do Norte de Portugal.
Concluídos os estudos, foi dar aulas para Angola, colónia portuguesa, na década de 50 do século XX, de onde saiu com o despontar dos nacionalismos africanos (1961). Em Goa, outra colónia portuguesa, permaneceu escassos meses, devido à entrada das tropas indianas em Dezembro de 1961. Partiu então para Macau, enclave português do sul da China, onde chegou no final desse ano.
Da sua extensa bibliografia, avultam as obras que dedicou a Macau e à China: Eu Vim Para Ver a Terra (1965), A China Fica ao Lado (1968), Estátua de Sal (1969), Angústia em Pequim (1984) e Nocturno em Macau (1991).
Macau e as suas gentes constituem o leit-motiv privilegiado dos seus escritos. Mas foi a comunidade chinesa o húmus que adubou a sua escrita.
Maria Ondina Braga seduz o leitor com uma linguagem intimista, muitas vezes poética, conduzindo-o para um universo vivencial já inexistente, mas que ainda preserva muito dos valores axiais da cosmologia chinesa.
A sua obra reconhece que a realidade do ‘Outro’ tinha de ser observada por um olhar limpo, igual, sem espelhos, para que a imagem saísse despojada de artifícios. Aproximou-se, neste sentido, de Edward W. Said e da sua denúncia da artificialidade dicotómica e intencional, que, como teorizou, o Ocidente impôs ao Oriente. Por isso, este ensaio tem também o propósito de celebrar Edward Said, escritor inteligente e arguto, que abriu ao mundo intelectual novas esferas de reflexão e de conhecimento.