O cronista português Diogo do Couto, numa das suas Décadas da Ásia concluída em 1600, integra um capítulo intitulado «De como Francisco de Gale foi por ordem de ElRey descubrir a Costa da nova Hespanha de 40. gráos pera sima: e da derrota que levou desde o porto de Acapulco até Japão, e dahi até tornar ao mesmo porto», indicando que teria tido acesso a uma relação de viagem escrita pelo próprio navegador, que fora enviada ao vice-rei da Nova Espanha. Quem era este Francisco Gali, que em 1584-1585 cometeu a singular proeza de conduzir um navio através do Oceano Pacífico em ambos os sentidos, seguindo rotas pouco frequentadas pelas embarcações espanholas, no trajecto entre Acapulco e Manila? E como chegou o seu relato às mãos de Diogo do Couto? Haverá alguma relação com um roteiro manuscrito conservado na Biblioteca Nacional de Portugal, que coincide com a versão que Couto transmite da viagem? É esse o propósito do presente texto: sistematizar as informações disponíveis sobre Francisco Gali, contextualizar as suas aventurosas andanças e desvendar as vias de circulação do roteiro por ele produzido, que conheceu um extraordinário sucesso europeu através da publicação no Reys-gheschrift de Jan Huygen van Linschoten em 1595. Complementarmente, publica-se em apêndice o manuscrito da Biblioteca Nacional de Portugal.