Arquitectura

O MODELO-MÃE A ARQUITECTURA MESTIÇA MACAENSE DAS FALSAS FACHADAS

Carlos Marreiros*

Quadro da esquerda: "Vendedores de Rua", Macau, 1825-1852. Óleo de George Chinnery.

Macau, na sua exiguidade territorial, conseguiu, ao longo dos séculos, ser pioneira em várias frentes do saber: foi a primeira feitoria ocidental na China e será a última; foi a primeira República Democrática do Extremo-Oriente, porque a cidade era governada como município autárcico, por uma representação de homens bons - o Senado da Câmara; teve a primeira cúpula construída na China, o primeiro teatro de estilo ocidental, a primeira universidade, a primeira diocese, etc., a lista não terminaria. Porém, poucos sabem que foi também Macau que estabeleceu o modelo arquitectónico pioneiro que foi amplamente adoptado nas feitorias europeias, da China a Malaca, primeiramente, e depois em todas as cidades do Extremo-Oriente de sedimentação europeia, como pertença de sua própria cultura arquitectónica, e, isso, não totalmente considerado estrangeiro ou colonial.

"Praia Grande" (vista de Norte), 1856, Aguarela de Marciano Baptista.

Os ingleses estabeleceram três cidades no Extremo-Oriente, como sejam Georgetown, na Ilha de Penang na Malásia, Singapura e a cidade de Victoria em Hong Kong. Esta, curiosamente, não seguiu o estilo vitoriano, mas antes imitou o modelo mediterrânico de Macau, difundido através da pintura do "China Trade", chamando à sua primeira grande avenida - um percurso junto ao mar, ladeado pelos primeiros edifícios da colónia - a Praya, em clara alusão à baía da Praia Grande de Macau, seu modelo arquitectónico. É verdade que o ulterior desenvolvimento urbanístico da cidade de Victoria de Hong Kong segue princípios do urbanismo vitoriano, com as suas avenidas e praças contidas numa malha euclidiana, de bom suporte para o desenvolvimento terciário e para o controle militar e policial. Porém, a Praya surgiu quase que espontaneamente ao longo da enseada. Mas mesmo na vitoriana quadrícula dos seus quarteirões, as nobles houses continuaram a ter o desenho neoclássico do nosso protótipo mediterrânico, salvo algumas excepções recentes, no qual o orgulho de Sua Majestade preconizou modelos britânicos continentais para algumas edificações de carácter público.

O modelo macaense tinha todos os ingredientes para vingar: o seu estilo neoclássico estilizado e simplificado; a sua elegância sem exigência de matéria - prima inexistente ou onerosa; a economia com a utilização de embosso em vez de pedra nas cantarias e ornatos; mão-de-obra especializada disponível e experiente, e, por fim, pela sua eficiente resposta em termos funcionais e ambientais. Era um modelo que tanto encantava os europeus - pelo facto de ser digno e referencial, permitindo-lhes simultaneamente gozar a amenidade proporcionada pela arcada - como os chineses, que gostavam da sua formalidade e simetria arquitectónicas, bem assim como da sua aptidão climática. Estas arquitecturas constituíram verdadeiros monumentos à coexistência cultural, pois os seus edifícios, com fachadas completamente ocidentais, comportavam plantas, programas funcionais e decoração especificamente chinesas, como seja a colocação de um pátio através do qual se processava toda a compartimentação, numa rígida hierarquia clássica de família, onde o chefe e o filho-varão ocupavam a frente da casa, seguindo-se os outros filhos, a senhora e filhas, as concubinas, e, por fim, a criadagem nas zonas traseiras, ou mesmo num corpo isolado no quintal tardoz da casa; a partição dos espaços com biombos de madeira talhada, fundamentada nos princípios do Yin-Yang, etc. Um fato de puro corte ocidental vestia uma alma confucianamente chinesa. Vamos, em seguida estudar o referido protótipo, que conseguiu gerar tanta descendência, de Cantão a Xangai, passando por Hong Kong, Singapura, Georgetown, Malaca, Columbo, ou mais tenuamente, até em Goa.

AS FALSAS FACHADAS

Compulsando antigas pinturas e gravuras do século XVIII e XIX, principalmente óleos, aguarelas e têmperas do período conhecido como "China-Trade" do Ching tardio, também conhecido por pintura de exportação - verifica-se a existência de edifícios que ao longo dos últimos cento e cinquenta anos nunca foram demolidos ou substituídos por outros, tendo, porém, variado de pinta. Estes edifícios sofreram, no seu interior, obras de adaptação para novas funções ou utilização e remodelações nos seus alçados ou volumetrias. O termo remodelação é intencional porquanto o exercício de adaptação não se limitava a acrescentar-lhes um piso recuado no terraço, ou substituir-lhes as carpintarias, o embosso ou a paleta de cores, mas sim introduzir-lhes uma autêntica reforma.

Remodelação ao ponto de se lhes refazer os alçados, transformando a pré-existência numa situação, em termos visuais, completamente nova.

Bateria de S. Pedro, Praia Grande, c. 1850. Aguarela de Thomas B. Watson.

As famosíssimas pinturas mostrando a Baía da Praia Grande de Macau em qualidade e quantidade produzidas por artistas locais - de ascendência portuguesa e chinesa, bem como por artistas visitantes ou residentes ingleses, franceses, e de, outras proveniências - a que já fizemos referência, mostram a metamorfose operada no casario fronteiro à Baía, não numa operação substitutiva (demolição/construção) mas sim, contundentemente, alternativa. Exemplifique-se dessas situações:

Pré-existência : Normalmente uma tipologia herdada da segunda metade do Século XVII ou construída nos princípios do século XVIII, que apresenta uma volumetria paralelipipédica, uma planta rectangular e fachada principal e tardoz mais estreitas que as laterais, e, geralmente, com dois pisos; o piso térreo e pouco fenestrado, tendo normalmente 3 a 5 vãos, sendo o do primeiro piso bastante mais fenestrado no que respeita ao alçado principal, apresentando poucos ornatos: cantaria de pedra simples nos vãos de desenho rectangular e vertical, às vezes guarnecidos por frontões triangulares em reboco ou só pala com cornija saliente; Os outros alçados limitam-se a ser pouco fenestrados e sem quaisquer ornatos. Às vezes, uma régua em pedra ou cantaria de imitação assinala, nas paredes, a divisão entre o piso térreo e o primeiro piso. Não existe platibanda e os telhados de duas águas às vezes em quatro - e cumieiras simples terminam em beirais assentes em cornijas salientes. A este tipo de arquitectura chamamos de Tipologia Portuguesa Antiga (TPA). É assim considerada a tipologia portuguesa arcaica em Macau. Nalguns casos, a situação é mais rica, pois o primeiro piso apresenta um pórtico generoso e corrido ao longo de toda a fachada principal, com colunas de desenho de livre inspiração nas ordens clássicas. Por vezes, são também de secção quadrangular.

Aguarela atribuída a Marciano Baptista, c. 1830.

Para os casos que apresentam pórtico ou loggia no primeiro piso passamos a chamar de Tipologia Portuguesa Moderna (TPM), e aparecem fundamentalmente na terceira década do século XVIII. Vejamos, então, como se operam as metamorfoses:

1.a Fase : sobre a fachada da TPA ou TPM acrescenta-se uma galeria de arcos ou pórticos corridos ao nível do piso térreo e do primeiro piso. Estas galerias são geralmente abertas no piso térreo e guarnecidas de balaustradas ou guardas de ferro fundido no piso superior. A arquitrave aligeirada assenta directamente sobre a almofada dos capitéis. O arco de volta perfeita, o arco abatido e outras formas derivadas surgem posteriormente na segunda metade do século XIX.

Os vãos de janelas existentes, agora antecedidas pelas loggias, são abertas na vertical, passando a portas. A largura média das loggias é 2,60m. No caso das TPM, acontece às vezes que as galerias novas sejam só colocados no piso térreo, ficando, consequentemente, o piso superior automaticamente recuado.

As supramencionadas galerias ou Falsas Fachadas (FF), para além de embelezarem o edifício existente, proporcionam-lhe uma nova função de lazer e repouso, uma zona intermédia entre o exterior e o interior, onde a família se junta ao fim do dia ou dorme nos dias mais cálidos do verão subtropical. Os pórticos são também um dispositivo bioclimático natural do qual mais adiante falaremos.

2.a Fase : para proteger as galerias das inclemências do sol, são colocadas esteiras de bambu envoláveis, anos depois persianas em madeira de teca, que tanto podiam ser parcialmente abertas (através de um par ou mais de folhas e bandeira fixa) como totalmente levantadas e fixas à inclinação desejada através de hastes ou mãos-de-fada executadas em ferro. Às vezes acrescenta-se uma platibanda em balaustrada sobre o plano da fachada principal, não ocultando o pre-existente beiral, assente sobre a cornija saliente.

3.a Fase : na segunda metade do século passado os modelos ocidentais, que não só portugueses, fazem a delícia dos locais. Assim, a platibanda simples e horizontal, que continha a verticalidade viril das loggias é coroada por um frontão primeiramente triangular, depois semicircular e, com o correr dos tempos, compósito. A forma inicial simples dos capitéis (embora sem rigor canónico, inspiravam-se na ordem toscana) é transformada em moldes complexos, muito elaborados e híbridos. Estes capitéis são revestidos de embosso de batê-pâu, pintados a cal de ostra, bem como de pequenos ornatos parietais; coruchéus, pináculos e urnas mais ou menos classizantes. Os ventiladores parietais circulares, em ferro fundido, apresentam molduras em embosso mais elaboradas, e as guardas de ferro fundido e balaústres em terracota e cimento caiados são substituídas por balaústres em terracota vidrada monocromática (branca, cinzenta, ocre, verde jade e azul cobalto e ultramarino). A régua simples que apresentava a TPA é transformada em frisos e cornijas de perfil saliente.

Ainda que raro, nalguns casos chega-se a acrescentar um balcão ou varanda aligeirada e simétrica no plano exterior das galerias.

O processo aqui referido em três fases pode demorar alguns anos ou até décadas e constitui-se em estilo próprio. Quer porque a edificação apresentava melhor resposta térmica e ambiental aos rigores elementais dos trópicos, quer por razões estéticas - e aqui não será alheio uma certa forma de ostentação de sinais exteriores de riqueza, que no oriente não é considerada como um pecado social, antes pelo contrário, é natural e benéfica em termos de Fong-Soi (Geomância) e na sua tradição confuciana - o referido processo vingou através do tempo e atingiu o nosso século. Porém as Falsas Fachadas deixaram de ser acréscimos a posteriori para passarem a ser parte integrante do edifício feita de raíz,.aquando da sua concepção. Em planta aparece como um apêndice integrado na estrutura espacial projectada, em alçado é um inteligente trocadilho no discurso arquitectónico adoptado. As FF por acréscimo são geralmente mais modestas e menos imaginosas do que as feitas de raíz. Trata-se, pois, de exercícios a duas dimensões, isto é, trabalham-se mais as superfícies que as massas componentes do todo. Assim o exige a pré-existência - o edifício que as vai suportar não permite muitas mais divagações volumétricas, pois estas comprometem o cadastro da sua implantação, a estrutura legal da propriedade, os arruamentos.

Praia Grande"(vista de Norte),1840. Óleo de George Chinnery.

Com a introdução do betão armado (cimento incorporando varões de aço, patenteado nos finais do século passado por François Hennebique e, espantosamente, utilizado em Macau muito cedo) na construção civil, os alpendres de madeira e os toldos puderam ser substituídos por outros dispositivos similares, menos perecíveis e de configuração mais ou menos elaborada. De resto, as falsas fachadas mais não são que o resultado da multiplicação de alpendres, na horizontal e na vertical, em parte possível com esse novo material. Essas novas fachadas, de imensa transparência - grandes vãos e arcos - constituem superfícies refractárias de calor e grelhas de controle ambiental. Foram os primeiros aparelhos de ar condicionado. No Verão, protegiam as zonas nobres das casas, quebrando a incidência directa, quase perpendicular, do sol. No Inverno, como o ângulo dos raios solares com a normal diminui, os arcos das falsas fachadas achadas permitiam a entrada dos raios solares, que chegavam até quase ao fundo da habitação. Por sua vez, no forro do tecto (ou seja, no espaço compreendido entre o soalho do piso superior e o tecto falso composto por reguado de madeira e ventilação lateral) colocava-se carvão vegetal que, por um lado, funcionava como hidrofugante e, por outro, como pilha para conservar e prolongar o calor oferecido pelo sol durante mais algumas horas. E se a isso se aliviar a presença de árvores de folha caduca (na frente das edificações e na rua), de rica folhagem no verão (barreira refractária do calor e frescura emanada) e despidas de verde no inverno (total permissividade de entrada solar) o quadro bioclimático era perfeito.

Desenho de Carlos Marreiros, de 1984, Sobre Falsas Fachadas.

Por isso, em resumo, podemos considerar que existem duas atitudes distintas quanto às Falsas Fachadas : numa, a FF é feita de raíz, explicitada num todo no projecto de arquitectura e por isso se chamam Falsas Fachadas de Raíz (FFR); na outra, encontramos uma, atitude a posteriori, e como tal não aparece na concepção original, é um manifesto apêndice. É um cenário, uma renda ou filigrama que envolve a fachada que se pretende privilegiar. São construídos anos, às vezes décadas, depois do edifício estar concluído, e por isso se denominam Falsas Fachadas a posteriori (FFA).

As FFA são as mais atingidas (séculos XVIII e XIX) e geraram a gramática das mais sofisticadas FFR (finais do século XIX e primeiras duas décadas do século XX) cujo vocabulário finissecular procura modelos e referências neoclassizantes. As FFA são generosas, simples, de pórticos rectos, e normalmente só se colaram à fachada principal. Nalguns casos, muito raramente, ao alçado tardoz quando este confronta uma rua e, por isso, se constitui em uma segunda fachada principal. As FFR são múltiplas porque se colam a uma ou todas as fachadas, e são em termos decorativos e artísticos, mais complexas e exuberantes; os elementos decorativos referidos na 3. a fase (frontões, urnas, pináculos, cornijas, mísulas, rosetas, grinaldas, medalhões, varandinas, etc.) aparecem em abundância nas Falsas Fachadas de Raíz, sendo as loggias em arco de volta perfeita ou arco abatido, formando arcadas, que são as mais preferidas. As loggias de vão recto tornam-se mais escassas nos finais do século passado, mas são retomadas nos anos trinta, quando o gosto pelo neoclássico desaparece - em Macau muito tardiamente - e o Modernismo emerge, através do estilo Tropical Deco.

É curioso notar como em certos edifícios de desenho explicitamente Tropical Deco dos anos trinta, ainda FFR com motivos neoclássicos nas suas galerias aparecem, e frontão puramente Tropical Deco a contrastar com o resto. Nalguns casos, a bizarria vai ao ponto de apresentar numa coluna de inspiração coríntia e um ornato vegetalista e geometrizado ao gosto Deco na parte superior do fuste.

As Falsas Fachadas são um fenómeno que diz respeito quase estritamente à arquitectura portuguesa de Macau, pois a arquitectura tradicional chinesa de estilo Ching só aceita integrar influências portuguesas e ocidentais explicitas em finais do século passado. Compreende-se, uma vez que a arquitectura tradicional chinesa tem preceitos e fórmulas muito rígidos, e tecnologias e materiais muito diferentes da nossa arquitectura, para além de ser necessário ter-se em conta que a Cidade do Nome de Deus de Macau englobava na realidade duas cidades, a Cidade cristã e a chinesa. A primeira protegida por uma longa e espessa murralha e respectivas portas, que eram fechadas e abertas a determinadas horas do dia. Ainda que as duas cidades não tivessem a estanqueidade que aparentemente a existência das muralhas defensivas possam sugerir - e pelo facto de Macau ser um excelso monumento da humanidade em termos de coexistência, tolerância e miscigenação - é bom aceitar que a interacção entre as duas cidades, e consequente miscegenação das culturas arquitectónicas só acontece, em grande escala, após a morte do Governador Ferreira do Amaral. E também verdade que encontramos, em séculos passados, influências chinesas na arquitectura de raíz Portuguesa, contudo, são casos mais pontuais que confirmam a regra. Todavia, há que realçar algumas construções ao bom estilo Ching no coração da cidade cristã, sendo o mais elegante o templo de Ná Tchá, edificado no mais puro e tradicional estilo chinês, paredes meias com a Catedral da Madre de Deus. Por extensão, as influências portuguesas na arquitectura de raíz chinesa também existem, mas são igualmente casos isolados, ainda que eloquentes. É verdadeiramente notável ver traços implícitos da nossa cultura arquitectónica em edifícios da cidade chinesa ou o inverso na frontaria da Catedral da Madre de Deus em plena cidade cristã.

Praia Grande"(vista de Norte), 1840. Óleo de George Chinnery.

Em suma, o fenómeno das Falsas Fachadas funcionou exclusivamente em pré-existências arquitectónicas de raíz portuguesa até aos finais do século XIX. Depois surgiram exemplos muitíssimo curiosos, onde a pré-existência de raíz chinesa, - com as suas empenas cegas (divisórias do lote que tinha funções contra incêndios e, por isso, se chamavam fong-fó-cheong), com traves de madeira esculpida e beirais salientes e alpendrados, janelas de carpintaria requintada e madrepérola, omnipresença do t'chéng t'chun (tijolo azul chinês de arestas vivas)-aceitou falsas fachadas de desenho português e contraditório, criando um modelo híbrido, de discurso bizarro mas vibrátil. Tipologias comerciais ou residenciais, e até mesmo as austeras e canónicas torres de prestamista, integram vocabulário arquitectónico ocidental - nesta altura já não só português primeiramente com alguma imbecilidade e excentricidade, depois com naturalidade e gosto. Podem encontrar-se ainda hoje exemplos em povoações da zona de Guangdong e Fujien. Casos mais generalizantes que não só das FF, e cujo contributo cultural não podemos reclamar em exclusividade - pois os franceses e os ingleses estarão também na linha da frente - estendem-se por toda a região de Guangdong, onde Hong Kong se inclui, até Xangai, passando por Fujien, Jiangxi e Zhejiang. Em certos pontos geográficos mais abastados, como a Índia, o Ceilão, a Malásia, as Filipinas, os Reinos da Indochina e do Sião, ou mesmo Singapura, o mesmo princípio se aplicou.

No que diz respeito ao fenómeno das falsas fachadas de construção a posteriori, Macau foi pioneira e influenciadora de toda a região, pois a ela se deve o facto de ser o mais antigo estabelecimento ocidental no Extremo Oriente, para além de que os portugueses haviam acumulado experiências anteriores no Norte de África e na Índia, cujos povos eram prodigiosos na construção de arquitecturas ambientais e bio-climáticas. E por isso, os edifícios das feitorias Europeias de Cantão foram traçados sobre modelos inspirados nas de Macau, que bordejavam a sua já mundialmente famosa Baía da Praia Grande, cuja iconografia é das mais ricos de todas as cidades portuguesas, segundo asseveram os académicos de hoje.

Essa arquitectura híbrida portuguesa, adaptada às condições climatéricas locais, construída com materiais e técnicas indígenas e, por isso, pouco onerosos, sóbria e duradoira, serviu de matriz às feitorias europeias da região, e é por este facto que hoje é conhecido como Arquitectura Colonial, bitola generalizante de tradição anglo-saxónica que ficou no léxico comum, após a falência da língua e cultura lusas nesta região, que, de resto, e infelizmente, acompanhou a decadência diplomática e comercial dos portugueses desde os finais do século passado.

"Missão Americana em Macau", 1844-1852. Óleo de George Chinnery.

*Arquitecto e Professor de Arquitectura na Universidade Estatal Dong Ji de Xangai e Huah Qiao de Fujian de RpC.

desde a p. 173
até a p.