Antologia

ASPECTOS DA PRESENÇA PORTUGUESA NO EXTREMO ORIENTE
NO ANO DE 1618 SEGUNDO UMA CARTA DO PADRE JOÃO RODRIGUES GIRÃO

João Paulo Oliveira e Costa*

As relações luso--nipónicas no século XVI são relativamente bem conhecidas. Grande parte da documentação publicada corresponde a esse período, e a maioria dos grandes especialistas europeus tem prestado especial atenção a esta centúria. Entre estes, a principal excepção (para lá de Charles Boxer, que procurou abarcar todo o «século cristão») é, sem dúvida, o jesuíta Hubert Cieslik, que consagrou quase exclusivamente os seus estudos à presença dos missionários em solo japonês na centúria seiscentista1.

Época de crise do império português em geral, e da presença lusa no Japão em particular, as primeiras décadas do século XVII quedam ainda mal estudadas e sobretudo mal conhecidas em Portugal no que respeita a temas relativos à Ásia Oriental.

Pintura em rolo, datada do século XVII, registando a última missão de Macau a Nagasáqui (Biblioteca de Nagasáqui).

No que respeita à acção dos Portugueses no Império do Sol Nascente, estes anos destacam-se particularmente pelas perseguições que a cristandade local e o clero suportaram estoica-mente até definharem por asfixia, devido ao bloqueio imposto pelos nipónicos à presença de estrangeiros no seu território, salvo o punhado de holandeses que passou a residir na ilha artificial de Deshima, na baía de Nagasáqui, a partir de 1638.

Vista na sua globalidade, esta conjuntura2 caracteriza-se pela degradação gradual das relações luso-nipónicas, processo que decorre em simultâneo com o do triunfo dos Neerlandeses no Extremo Oriente, quer contra os Ingleses, quer contra os Portugueses. Solidamente organizados em tomo da VOC3, os oficiais dos Países Baixos centraram a sua acção na Insulíndia. Em 1623 lograram afastar os Ingleses da Ásia Oriental e em 1640-41, com o fim definitivo da ligação Macau-Nagasáqui, em 1640, e a conquista de Malaca a l de Janeiro do ano seguinte, desmantelaram os principais circuitos controlados pelo Estado da Índia na região. Assim, de 1600 a 1640 deu-se o lento desagregar das estruturas que haviam condicionado a presença lusa no Mar da China no século XVI. Este período, por sua vez, pode ser dividido em pequenas fases, que se relacionam, grosso modo, com as respectivas tentativas de reorganização do sistema comercial e da acção missionária por parte dos Portugueses e com a evolução da situação política no Japão4. Parece-nos, assim, que podemos sub-dividir esta conjuntura em três fases: uma primeira entre 1600 e 1614, anos em que o modelo quinhentista ainda logrou sobreviver; outra, situada entre 1614 e 1623, que representa a ruptura do poder central japonês com o Cristianismo; finalmente, uma terceira que se arrastou de 1623 até 1640, em que se consumou o corte definitivo entre o xogu-nato dos Tokugawa e os Portugueses.

É precisamente sobre a segunda dessas fases que pretendemos debruçarmo-nos de seguida. Em 1614 o bakufu5 expulsou todos os missionários que se encontravam no Japão, mas até 1623, ano da subida ao poder do xogum Tokugawa6, um número considerável de religiosos pôde permanecer clandestinamente no arquipélago, beneficiando particularmente da existência de uma comunidade de europeus residentes em Nagasáqui. Em 1623, com a expulsão de todos os ocidentais residentes no Japão7, o cerco aos cristãos apertou-se definitivamente. Do ponto de vista comercial, estes anos correspondem a uma resposta razoavelmente eficiente das autoridades macaenses à presença neerlandesa na região, o que culminou com a vitória sobre a armada da VOC que assaltou Macau em Junho de 1622.

Foram, pois, anos de esperança, em que parecia possível suportar a pressão holandesa nos mares, e em que se acreditava na sobrevivência da numerosa cristandade nipónica. Encontrámos estas mesmas impressões numa carta escri-ta em Macau, a 12 de Novembro de 1618, publicada há seis décadas por António Baião8, citada por vários autores9, mas de que não conhecemos um estudo detalhado. Trata-se de um documento que nos proporciona uma visão de conjunto da presença portuguesa no Extremo Oriente em 1618, ilustrando, assim, as principais características desta conjuntura.

"Relaçam da perseguiçam que teve a Christandade de Iapam desde Mayo de 1612 até Novembro de 1614 (...)". Oficina de Pedro Crasbeeck, Lisboa, 1616.

O antigo director da Torre do Tombo incluiu esta carta na introdução à sua edição da carta ânua da vice--província do Japão de 1604, mas não a comentou nem anotou. Todavia, com os trabalhos de grande qualidade publi-cados depois de 1933, tornou-se possível analisar pormenorizadamente este texto. O tempo e o espaço de que dispomos para este artigo não nos permitem uma análise exaustiva de todos os aspectos que ressaltam da sua leitura; procuraremos, assim, enunciar os principais problemas que são aí referidos, e inseri-los no processo histórico da presença portuguesa no Mar da China no primeiro quartel seiscentista. No final apresentamos uma nova leitura do documento; nela procuramos corrigir ligeiras imprecisões que notámos na transcrição de António Baião e que se prendem sobretudo com nomes pessoais e topónimos; além disso assinalamos as alterações que fizemos em relação ao manuscrito, repondo os nomes que encontramos amíude na documentação coeva, e que foram certamente corrompidos pelo autor do treslado que, ao contrário de quem escreveu o original, não devia estar familiarizado com os assuntos japoneses.

O autor desta carta é o padre João Rodrigues Girão (1559-1629), jesuíta assaz experimentado nos assuntos do Extremo Oriente. Entrara na Companhia em 1576 e recebera a ordenação sacerdotal em 1585, já na Índia. No ano seguinte desembarcou no Japão, onde trabalharia ininterruptamente durante 28 anos, até passar a Macau no rescaldo da expulsão de 1614. No Japão aprendera cedo a língua local, pois no catálogo de 1588 já é referido como pessoa capaz de confessar em japonês10. A partir de 1604 redigiu muitas vezes a carta ânua da missão jesuítica japonesa; depois da de 1604 escreveu as de 1606 a 1612, e mais tarde, reunindo os elementos que lhe chegavam dos companheiros que permaneciam clandestinamente sob o Sol Nascente, compilou pelo menos as cartas referentes aos anos de 1617, 1618,1621, 1622, 1625 e 162611. Assim, parte dos assuntos abordados nesta missiva seriam retomados de seguida na carta ânua correspondente a este ano de 1618. Girão era, pois, uma pessoa com um profundo conhecimento da presença portuguesa no Extremo Oriente, pois ainda assistira ao apogeu verificado nos últimos anos de Quinhentos, e acompanhara depois as grandes mudanças estruturais que a haviam afectado12.

O destinatário era o padre Bartolomeu de Sequeira (1569-1622), procurador-geral da Província da China e do Japão. Natural de Lisboa, entrara para a Companhia em Goa, no ano de 1587. Concluídos os seus estudos passara para o Extremo Oriente e desenvolvera a sua actividade missionária no Japão entre 1602 e 1616. Era, pois, um indivíduo que conhecia bem o meio japonês e a própria realidade da missão clandestina; esta experiência, aliadacertamente à sua perso nalidade, levou os seus confrades a enviá-lo depois para Goa onde devia tratar dos assuntos referentes à província extremo oriental13.

Os aspectos mais notórios deste documento relacionam-se, em nosso entender, com o relativo sucesso da reacção dos mercadores e dos religiosos portugueses às pressões simultâneas dos mercadores holandeses e das autoridades japonesas.

"Relaçam da ditosa morte de quarenta e sinco christaos, que em Japão morreram polla confissao da fe catholica, em Novembro de 614 (...)". Lisboa, Of. Pedro Crasbeeck, 1617.

Girão refere que nesse ano Macau enviou seis galeotas14 a Nagasa-qui. Tratava-se de uma experiência inovadora, que procurava atenuar os efeitos dos ataques holandeses: ao dividirem a carga a negociar no Japão por várias embarcações, os macaenses tentavam evitar que voltassem a ocorrer perdas integrais, como sucedera diversas vezes desde o aparecimento dos rivais protestantes no Mar da China. As mercadorias viajavam então no célebre kurofune, o navio negro, demasiado pesado e lento, logo uma presa relativamente fácil para os navios ligeiros da VOC. Assim, a ligação Macau-Nagasáqui-Macau não se havia realizado nos anos de 1601, 1603, 1607, 1608, 1609, 1610, 1613 e 161615.

Finalmente, em 1618, os Portugueses reagiam e, segundo Gírão, a experiência revelava-se animadora, pois o novo modelo facilitava não só a defesa, mas poderia ainda tornar a marinha portuguesa mais agressiva, como se nota pelo afundamento de um patacho holandês. Esta mudança comportava, no entanto, alguns riscos, pois se era verdade que dificílmente se perderia toda a carga, também se tornava mais difícil conseguir fazê-la chegar integralmente a Nagasáqui, como também se viu logo neste primeiro ensaio, pois apenas quatro das seis galeotas chegaram às ilhas do Sol Nascente. Das outras, se uma ainda conseguiu regressar à base, a outra, então dada como desaparecida, nunca mais reapareceria. Todavia, as sobreviventes "venderam bem o fato", pelo que o novo sistema parecia ser adequado aos condicionalismos que os Portugueses enfrentavam no Mar da China, pois apesar de não ser absolutamente eficaz, impediria o estrangulamento completo de Macau. Assim, a partir de então os Portugueses continuaram a usar sempre navios ligeiros na ligação Macau-Naga-sáqui16.

Afigura-se-nos interessante notar que os naufrágios não eram comuns neste circuito comercial. Com efeito, no século XVI, apenas em 1573 e 1582 o navio saído de Macau não resistira aos tufões que assolam o Mar da China no Verão. Em 1573 a embarcação capitaneada por D. António de Vilhena, que transportava o Visitador Gonçalo Álvares (1527-1573) afundara-se já à vista das ilhas nipónicas17. Mais tarde, em 1582, o navio comandado por André Feio perdera-se na costa da ilha Formosa18. Noutras ocasiões, as naus do trato haviam sofrido graves avarias, mas as tripulações tinham conseguido sempre evitar o pior. Vemos, deste modo, que a pressão holandesa levava os comerciantes macaenses a escolher soluções mais arriscadas, optando por navios mais frágeis, em que os riscos de acidente eram maiores19.

Ao mesmo tempo que os mercadores procuravam preservar o circuito sino-nipónico, os missionários tentavam manter vivo o anúncio do Evangelho no Japão.

Nesta carta encontramos provas da vitalidade da dinâmica evangelizadora que os religiosos haviam imprimido no país nos anos anteriores. Com efeito, as perseguições decretadas pelo poder central, assaz violentas, como a carta deíxa bem claro, não impediam que os missionários obtivessem então novas conversões, sobretudo no Norte, onde trabalhavam os padres Jerónimo de Angelis (1568--1623)20 e Diogo Carvalho (1578-1624)21. Aí, beneficiando por enquanto da protecção de Date Masamune (1567-1636), dáimio de Oshu22, florescia uma nova cristandade que, contudo, em breve seria abafada, como todas as outras23; de momento, porém, os Jesuítas esperavam ainda que o território de Masamune (situado no extremo setentrional da ilha de Honshu) continuasse a escapar à intolerância do poder central nipóníco. Longe do centro nevrálgico do país, assim como dos territórios meridionais aonde afluíam os namban, o Norte de Honshu foi visto como uma região que poderia albergar parte dos fidalgos desobedientes às determinações religiosas dos Tokugawa e em 1614 haviam sido exilados para aí 71 nobres cristãos24. Estes, porém, cedo apoiaram o florescimento duma nova cristandade na região, o que conduziria a novas pressões do xogunato. Podemos dizer, no entanto, que devido à sua posição periférica no seio do arquipélago, o extremo setentrional do Japão escapava momentaneamente à política anti-cristã do bakufu.

Quando se refere à acção apostólica dos seus confrades em Oshu, Girão alude à visita do seu confrade italiano a Yezo. Trata-se da ilha de Hokkaidô, a mais setentrional das quatro grandes ilhas do arquipélago japonês; embora já a referissem desde meados de Quinhentos25, os Portugueses não a haviam explorado até então, pelo que Angelis foi o seu primeiro visitante europeu26. A imperfeição do conhecimento da região ressalta das informações veiculadas por Girão que afirma que Yezo "não é ilha mas terra firme, e continuada com a Tartaria".

Importa salientar que era certamente o persistente sucesso do Cristianismo, apesar das leis anti-cristãs promulgadas pelos Tokugawa, que provocavam uma gradual intensificação das medidas repressivas e também das tentativas de aliciamento de cristãos, que levavam alguns cristãos a apostatar e a denunciar os seus antigos companheiros, como Girão refere amargamente na sua carta27. Os oficiais do bakufu encontravam campo particularmente fértil entre japoneses como Fabião, um antigo jesuíta que fora expulso da Companhia28.

Nessa passagem do documento encontramos um dos principais lapsos do autor do treslado, quando se refere a um "Judas principal que é João". No original Girão terá escrito certamente Toão, nome que encontramos noutras cartas desta época. Tratava-se de Murayama Toan António, um antigo convertido que era um dos governadores de Nagasáqui e que procurara desembaraçar-se pela intriga dum outro governador, Heizô Suetsugu João, o Feizo do nosso documento29.

Além disso, a missiva dá-nos conta também das deficiências de que ainda enfermava o sistema de vigilância que as autoridades japonesas usavam para impedir a entrada clandestina dos missionários. Com efeito, Girão relata o desembarque de vários religiosos no arquipélago, nomeadamente Francisco Vieira (1555-1619), Visitador do Japão e da China30. Este, que viajou numa sétima embarcação saída de Macau depois das outras, permaneceria aí entre Agosto desse ano e Novembro do seguinte, sem que os oficiais nipónicos o interceptassem. Vieira andava "vestido ao modo português" e escondia-se nas casas dos seus compatriotas, usando o nome falso de João Loureiro. O autor informa que o visitador "tem mudado dos conceitos que levava (...) porque a vista é mais certa que o ouvido", o que se relaciona com a aceitação dos métodos adoptados pelos Jesuítas para permanecerem dissimulados nas terras do Sol Nascente.

Com efeito, para conseguirem ludibriar os oficiais do bakufu alguns Jesuítas andavam em "trajos de portugueses honestos"31, mas tal como informava Mateus de Couros em 8 de Outubro de 1618, os "demais padres, assim aqui como nas outras partes de Japão, uns andam com a barba e cabeça rapada e com trajos compridos como andam em Japão os que já professam vida quieta, deixadas as armas, ou a renda que possuíam a seus filhos morgados. Outros andam com o cabelo crescido e atado a uso de Japão, com um ter çadinho na cinta, como andam os seculares, conformando-se cada um aos lugares por onde descorre, e à gente com quem trata. Dos padres e irmãos japões quase todos andam ou como rapados ou como seculares. O trajo de todos é honesto e limpo sem usarem de seda, tirando os que aqui em Nagasaqui se vestem como portugueses, os quais trazem alguns vestidos de tafetá que é o somenos de que nestas partes usa a gente portuguesa. Ós que tratam como japões comummente se vestem de algodão, posto que alguns por respeito dos lugares onde estão usão de certo pano feito de borra de seda chamado tçumugui [tsumugi], de que se veste a gente honrada ordinária. Em todos estes trajos não há cor certa, como também a não há nos de Japão, posto que sempre os nossos usam da mais honesta"32

As notícias deste tipo de procedimento haviam levantado dúvidas fora do solo nipónico, sobretudo entre os que desconheciam completamente a realidade em que os evangelizadores trabalhavam sob o Sol Nascente. A passagem do Visitador pelo arquipélago destinava-se, nomeadamente, a solucionar este caso; a sua aprovação legitimou o procedimento adoptado pelos missionários clandestinos.

Deve-se acrescentar ainda, que esta capacidade de resistência que os missionários mantinham nesta altura e que este documento nos mostra parcialmente, é confirmada por documentação redigida nesse ano por companheiros de Girão estabelecidos no Japão, como é o caso da carta de Diogo de Carvalho33 ou as do provincial Mateus de Couros (1569-1632)34 de 25 de Fevereiro e de 8 de Outubro35. Estavam então no arquipélago 33 jesuítas36, cifra que embora contrastasse com os 142 de 159437 ou com os 121 de 161338, nas vésperas da expulsão, dava ainda alguma esperança à Companhia e aos seus apoiantes, pois permitia a realização de acções concertadas e a manutenção de estrutura ínstítucional mínima. Além disso, a missão era «refrescada» com novos elementos que penetravam dissimuladamente no país, como sucedeu concretamente neste ano de 1618, ao mesmo tempo que alguns dos religiosos mais desgastados pelas agruras da vida clandestina, podiam passar a Macau.

Na sua carta de 25 de Fevereiro, Mateus de Couros referia precisamente a necessidade de renovar o pessoal missionário, pois não era possível manter um número excessivo de religiosos europeus, pelo que convinha enviar para o continente os menos eficientes: "[foram] na mesma nau dous padres em lugar de três que de Macau vieram: um deles o padre António Fernandes39 que tinha vindo, por ser já velho de 65 anos de idade e fazer cá pouca falta. O outro é o padre Francisco Eugénio40 que de mais de dous anos a esta parte anda sempre doente de certa enfermidade que cá não tem remédio, posto que, como sarar, escrevo ao padre visitador que será bom tornar a vir logo a Japão, por ser bom obreiro, e acomodado a este tempo. Vai também o irmão João Baptista Pece41 coadjutor temporal, por não ser cá necessário e pejar lugar de um padre"42. Para o lugar destes entraram o irmão António da Ponte43 e os padres João Mateus Adami (1576-1633)44 e Tomé Tsuji (1572-?)45.

Degolação dos quatro embaixadores portugueses, da cidade de Macau, com cinquenta e sete cristãos da sua Companhia, em Nagasáqui, a 3 de Agosto de 1640. In P . António Francisco Cardim, S. J., "Mors felicissima quator legatorum lusitanorum (...)"; Roma, 1646.

Tanto Girão como Couros citam a presença do padre Lúis na galeota desaparecida de Manuel Gomes. Tratava-se Lúis Niabara(1567-1618), que a 22 de Setembro de 1601 se tornara num dos primeiros nipónicos a receber a ordenação sacerdotal46. Parece-nos interessante notar que em 1618, dos três sacerdotes enviados ao Japão, dois (Luís e Tomé) eram japoneses, o que é provavelmente um indício da política da Companhia: conscientes das dificuldades suplementares que os religiosos europeus tinham que ultrapassar, os filhos de Santo Inácio continuavam a apostar no clero nativo47, tentando, assim, dotar a missão das melhores condições possíveis.

No caso concreto deste ano a aposta não foi bem sucedida, pois Luís Niabara morreu no mar e o padre Tomé já não é referido nos catálogos de 162048. Este insucesso pontual não impedia, contudo, que a Companhia defendesse claramente as vantagens do clero indígena, assentando a sua teoria nas razões expostas, por exemplo, pelo padre Jerónimo Rodrigues em 1617: "(...) além dos padres europeus, temos em Japão cinco padres japões da nossa Companhia: os quais vão a muitas partes a que os europeus nestes tempos não podem ir, por serem logo conhecidos; o que a eles como naturais é fácil"49.

Na sua carta Girão descreve o martírio do franciscano frei João deSanta Marta (1578-1618)50, mas não alude ao trabalho das ordens mendicantes que sempre opôs os Jesuítas do Padroado Português do Oriente aos medicantes do Patronato espanhol. Ligados aos interesses político-comerciais de Macau, apesar da momentânea união das duas coroas ibéricas, os missionários do Patronato nunca procuraram realizar uma acção concertada com os religiosos ligados ao arcebispado de Goa51. Símbolo dessa rivalidade era o texto redigido no ano anterior em Macau pelo padre Valentim de Carvalho (1559-1631)52, em que este respondia às acusações que haviam sido levantadas pelos franciscanos em Manila, responsabilizando os filhos de Santo Inácio pela expulsão de 161453. Girão não critica os rivais, limitando-se a ignorar a sua acção, à excepção do caso indiscutivelmente meritório domartírio de frei João.

Ao mesmo tempo; os filhos de Santo Inácio procuravam novas regiões no Extremo Oriente para onde pudessem canalizar parte do pessoal que se concentrava em Macau desde 1614. Com efeito, nesta carta são referidos os esforços realizados para a abertura de uma missão na costa vietnamita, na zona da Conchinchina. Esta fora aberta em 1615, no rescaldo da expulsão do Japão, e nesse mesmo ano a Companhia havia tentado abrir um outro foco de evangelização no Camboja, mas aí fora mal sucedida54.

Martírio do Jesuíta japonês Nakame, em Nagasáqui, 1633. Nakame foi um dos quatro delegados dos dáimios a Roma. (António Cardim, op. cit.).

As dificuldades dos Jesuítas não se confinavam, todavia, ao problema japonês. Também a missão passava por um momento difícil, que é patente logo no início do documento quando Girão alude aos seus confrades desterrados que se haviam refugiado em Macau no rescaldo das perseguições de 161655, nomeadamente o padre Diogo Pantoja (1571-1618)56, entretanto falecido. Ao contrário do que sucedeu no Japão, a primeira metade de Seiscentos assistiu a uma gradual consolidação da missão jesuítica no território chinês, particular-mente evidente no segundo quartel da centúria, o que não impedia a ocorrência de pequenos surtos anti-cristãos, como este a que a carta alude, que perduraria até 1622.

Centro da presença portuguesa no Mar da China, desde a sua fundação, em 1557, Macau havia sido o pólo irradiador da expansão lusa para todo o Extremo Oriente; de momento, porém, era sobretudo o centro de reagrupamento que acolhia os missionários em dificuldades. Neste ano residiam aí 94 Jesuítas, em que se incluíam 21 irmãos japoneses, que prosseguiam os estudos da sua língua materna a fim de estarem aptos a regressar à sua terra natal, assim que fosse possível57. Se a política do bakufu não se alterasse, pensava-se certamente no seu envio dissimulado como sucedera neste ano com os padres Tomé e Luís. Ao mesmo tempo, este porto continuava a ser o coração que fazia pulsar todo o comércio português que teimava em cruzar o Mar da China.

Macau era também um ponto de observação privilegiado para acompanhar a evolução política dos principais estados da região e particularmente a do Império do Meio. No inícío do século XVII, os macaenses acompanharam o final da dinastia Ming e a queda da China de novo nas mãos de um povo estrangeiro. Esses acontecimentos, de que os macaenses não ignoravam a importância para o seu próprio futuro, eram sumariados nestas missivas para Ocidente, como se vê neste documento, em que Girão refere por duas vezes as derrotas do exército chinês face à ofensiva dos "tártaros". Estes eram certamente os manchus, que precisamente nesse ano de 1618 recuperaram o controle de grande parte da Manchúria58, iniciando um processo que terminaria com a conquista do Celeste Império.

Esta carta mostra-nos, pois, o modo como em 1618 os Portugueses enfrentavam determinados as sucessivas adversidades que os haviam surpreendido nas últimas duas décadas. Lutando contra os ventos da História, não compreendiam que as alterações entretanto verificadas no Mar da China correspondiam a uma mudança irreversível da conjuntura extremo oriental. Resistindo estoicamente, os Portugueses apenas adiavam um desenlace cada vez mais inevitável, sobretudo no que respeita às relações luso-nipónicas e à hegemonia nos mares. Na época, porém, não se tratava de adiar um destino mas, à semelhança do que cada um de nós faz no seu dia-a-dia, de lutar por um futuro que se desconhecia, mas que se acreditava poder vir a ser melhor.

DOCUMENTO (i)

"Treslado de hüa carta que o padre João Rodrigues Giram escreveu de Macau aos 12 de Novembro de 618. Ao padre Bertolameu de Sequeira Procurador Geral das provindas da China e Japão — em Goa

Este ano não tive carta de V. R.. A causa seria por lhe não ser dada a minha, e o que com ela lhe mandava, ou se lhe foi dada seria tão tarde que não tivesse tempo pera me escrever por causa das muitas ocupações que em tal tempo o reteria ou também já pode ser se perderia a que me escreveu na galeota que fez naufrágio no Estreito. Enfim seja como for, não deixarei de escrever a V. R. e dar lhe novas minhas, dos da terra e de Japão.

As minhas são ficar Deus louvado ao presente bem ainda que este ano o mais dele gastei com doenças, e cheguei quasi ao cabo, mas Nosso Senhor me prolongou a vida pera me emendar de minhas faltas, e o servir mais perfeitamente neste derradeiro quartel da vida o que queira ele por sua misericórdia, que seja assi, e me saiba aproveitar do tempo que pera isto me concede.

Quanto às novas da cristandade, e novas da China são as mesmas que se escreveram o ano passado. Os nossos que de lá vieram desterrados estão aqui, posto que falta um deles o padre Diogo Pantoya (ii) que Nosso Senhor levou pera si, o que foi grande perda pera aquela missão, por suas boas partes, e experiência de tantos anos e noticia que tinha dela. E levou mais pera si os padres Avila (iii) [e] João de Vicente (iv) estando nomeados e aparelhados pera ir pera Japão, Diogo Pinto (v) e o irmão Diogo Gonçalves (vi), os mais ficam ao presente bem. Da China não há de novo nada nem cousa que sirva, senão aquele Memorial que o capitão geral de toda a China deu ao Rei e serem os Tártaros entrados na mesma China.

A viagem de Japão se fez este ano com galeotas, mas de seis que foram não chegaram mais que quatro; hüa arribou com um tufão que lhe deu à vista de Japão, a outra que era de um Manuel Gomes não se sabe dela e tem-se per perdida; ía muito rica e nela o padre Luís (vii). No caminho quatro delas que íam em conserva, encontraram[-se] com um famoso e bem artelhado patacho holandês: abalroaram-no, e entraram-no. Vendo-se os holandeses entrados, puseram fogo ao navio pera se queimarem a si e aos nossos; morreram todos sem escaparem vivos mais que um ou dous japões dos que nela vinham e entre eles alguas personagens nobres e de importância que os holandeses que estão em Japão diziam sentiam mais que perder tudo ou a metade do que têm nestas // partes. Dos nossos morreram assi ao entrar como depois com o fogo, quatro ou sinco portugueses, e doze ou quinze lascares, ou moços e ficaram alguns queimados asi portugueses como outra gente. Dizem que os holandeses seriam 30 ou mais fora os japões, malucos e outra gente da terra. Tem-se por particular provedência de Deus não arderem as nossas galeotas, que estavam atracadas com o patacho, nem se irem ao fundo com ele.

Nelas foram pera Japão os padres João Mateus (viii), Tçugi Tomé (ix), e o irmão António da Ponte (x), e em outra que partiu depois delas föi o Padre Visitador (xi) só sem levar consigo mais que um moço por nome André Espinhel: teve no caminho um grande tufão, mas chegou lá a salvamento ainda que um pouco mal desposto; com os bons ares da terra se vai achando melhor. Anda vestido ao modo português, e agasalha-se em casa de portugueses porque nas dos japões não anda tão seguro. Dizem que tem mudado muitos dos conceitos que levava, e concebidos outros bem diferentes, e também outras traças, porque a vista é mais certa que ao ouvido, mudou o bom velho o nome pera assi andar mais a sua vontade por causa da perseguição e se chama de Francisco Vieira, João Loureiro.

As galeotas que não erão mais que quatro, posto que duas delas grandes ou pera melhor dizer patachos, venderam bem o fato, e chegaram aqui dia de Todos os Santos. As novas que trouxeram são estar Japão em paz, mas a cristandade muito perseguida, e atribulada: houve nela muitos márti res, os quais desde Outubro do ano passado até este do presente chegaram a cinquenta e dous ou três; uns degolados, outros crucificados, outros queimados vivos afora os desterrados. Omura acudiu com cinco mártires, Chicungo (xii) com três, o Chugoqu (xiii) com sete ou oito, e os mais nos deu o reino de Bugem (xiv), tirando um que deu o Meacô (xv), que foi um religioso de São Francisco, chamado frei João de Santa Marta (xvi) o qual prenderam há três anos em Omura, e o levaram ao Cami (xvii) aonde esteve preso sem nunca querer sair do tronco" nem se tomar pera Manilha como lhe mandavam até que mereceu seu zelo ser degolado pela pregação do Evangelho e seu corpo feito em pedaços.

Como pois creceu tanto a perseguição, e uai tanto por diante guardam os padres rigorosíssimo recolhimento, se ainda este lhe valhesse, mas são tantos os judas em Japão persuadidos de um Judas principal que é Toão (xviii) o qual na demanda que teve com Feizo (xix) pera lhe fazer mal e justificar sua causa se ajudou de Fabião (xx), e doutros dojucos (xxi) que estiveram em nossa igreja os quaes como ladrões de casa sabiam mui bem que padres, quantos e aonde estavam, e as casas em que se agasalhavam em Japão, principalmente em Nangazaqui, pretendendo o mau homem fazer-nos tambem mal com isto e bom por este caminho a sua causa contra Feizo, e dizendo desta matéria mil mentiras: as quais descobrindo-se todas, e suas muitas faltas e ladroiçes, ficou tido por falso mentiroso, e ladrão e perdeu o yaqu (xxii) de Nangazaqui e corre risco de perder tambem a vida, e tudo quanto tem. O yaqu tem agora Feizo, e Gonroqu (xxiii) sobrinho de Safioye (xxiv) o do tio de propriedade. Como pois se sabe já na Tenca (xxv) que há padres em Japão, e particularmente em Nangazaqui arreçea-se que // venha algum bunguio (xxvi) a os buscar e fazer ir de Japão ou tambem matar e quando não vier este, não deixará Gonroqu, e tambem Feizo de fazer algua diligência sobre isso. E assi arreceamos de ter aqui alguns dos nossos este Verão que vem, o que Nosso Senhor não permita, antes que os que estamos aqui tomemos pera lá pera os ajudar a cultivar aquela cristandade que ainda que é perseguida além de tão suave e saboroso fruito de mártires não deixa sempre de acudir com cristãos que novamente se convertem a nossa Santa Fé.

Ainda neste tempo no reino de Voxu (xxvii) estão os padres Jerónimo de Angeli (xxviii), e Diogo Carvalho (xxix) e tem bautizado naquelas partes a alguns quinhentos ou mais; há nelas grande dispossição pera haver ali conversão. O padre Angelis passou a Yezo pera tomar noticia daquela terra, a qual não é ilha mas terra firme e continuada com a Tartária. A gente adora o Sol, e a Lua, e é muito guerreira. Nas partes do Cami estão quatro dos nossos, e um anda polo Chugoqu; os outros por Bungo, convem a saber os padres Pero Paulo (xxx) e Boldrino (xxxi), Arima e Nangasaqui e pelas terras ali vizinhas.

Do Japão vieram os padres António Fernandes (xxxii) e Francisco Eugénio (xxxiii) por doente, e o irmão João Bautista (xxxiv). Mataram no Cami, pera onde o levaram a Yogobyoje que V. R. deixou preso em Nangazaque pola prata. Morreu em Omura Ienjuo dono, tio do tono em muito breve espaço; dizem que morreu cristão e com ioquai (xxxv); morreu tambem o velho de Figen (xxxvi) Nabexima Çaganocamy (xxxvii) e foi-se aos infernos. Goto dono está desterrado, e diz-se que deram aquelas terras a outra. Enfim como lá vão muitas cartas delas e do padre Pedro Martins (xxxviii), carta viva, saberá V. R. as mais novas de Japão e daqui.

Os Tártaros tem entrado pola China, e tomado alguas cidades e dizem que não estão muitas jornadas de Pequim. Tiverão e tem os Chins muitos encontros com el-Rey mas sempre levam a peor: infinitos são os chins mortos nesta guerra, e morrerão mais se os Tártaros forem por diante. Temos boas novas da Cochinchina: estão lá quatro padres e dous irmãos (xxxix) em duas províncias com beneplácito d'el-Rey e com esperança de conversão. Dizem que hua nau de holandeses deu à costa em Ainão; não aparece até ora o navio de António de Pina que partiu pera cá de Cochim. Aqui junto da ilha dos Bogios deu a costa com um tufão o patacho de Vicente Rodrigues que partiu dessa cidade, e salvou-se muito pouco fato dele.

Quero acabar por não ser tão comprido pedindo a V. R. [que] comunique esta aos padres Pero Morejon (xl) e Gabriel de Matos (xli) que Nosso Senhor traria a salvamento, se porventura lhe[s] não poder escrever com minhas emco-mendas. Com isto me encomendo muito nos santos sacrifícios e orações de V. R. e nos do padre Ambrósio de Barros (xlii) a quem tambem me encomendo.

De Macau 12 de Novembro de 1618

NOTAS

1 Particularmente interessado na história do Cristianismo no século XVII, Cieslik editou juntamente com G. Voss,. Kirishito-ki und Sayôyo-roku, japanische Dokumente zur Missionsgeschichte des 17. Jahrhunderts, Tóquio, 1940. Depois, publicou uma série notável de estudos sobre esse período, de que destacamos as suas colaborações nas revistas Monumenta Nipponica e Neue Zeitschrift für Missions-wissenschaft.

2 Quanto à periodização da história luso-nipónica, seguimos a divisão que propusemos recentemente no nosso estudo, Portugal e o Japão: o século namban, Lisboa, 1993. Aqui, considerámos quatro períodos fundamentais: 1543--1570, época dos primeiros contactos e da consolidação das relações luso-japonesas; 1570-1587, o momento do apogeu desse relacionamento; 1587-1600, anos de declínio da influência portuguesa no Japão, devido às mudanças estruturais então verificadas, tanto no Império Nipónico como no Mar da China; 1600-1640, época de enfraquecimento gradual da posição dos Portugueses na Ásia Oriental em geral, e no Japão em particular.

3 A Vereenigde Oostindische Compagnie foi criada a 20 de Março de 1602, resultando da fusão das companhias comerciais que tinham sido fundadas nos anos anteriores em várias cidades holandesas para intervir no comércio do Índico.

4 Para os assuntos relativos à história do Japão seguimos basicamente os estudos de Francine Hérail, Histoire du Japon, Paris, 1986, George Sansom, Histoire du Japon, Paris, 1988 (tradução da edição inglesa de 1974) e Michel Vié, Histoire du Japon, Paris, 1983.

5 Bakufu, literalmente significa o «governo da tenda», distinguindo-se assim do regime em que o governo era exercido a partir do palácio. Trata-se, pois, de um termo associado ao poder dos guerreiros, chefiados pelos xoguns, que tomaram o poder no Japão no final do século XII, instaurando o bakufu de Kamakura (1185/92-1333) sob a liderança dos Minamoto. No segundo quartel de Trezentos o poder caíu nas mãos dos Ashikaga, que governaram de 1336 a 1573, ano em que Oda Nobunaga (1534-1582) derrubou o último xogum. Depois de um breve interregno o xogunato foi restaurado por Tokugawa Ieyasu (1542-1616), em 1603, que sediou o bakufu em Edo, a actual Tóquio.

6 Tokugawa Iemitsu (1604-1651), foi o 3º xogum Tokugawa. Recebeu o título de seu pai, Tokugawa Hidetada (1578-1632), em 1623, e assumiu a chefia do bakufu à morte de seu pai, em 1632. Ao contrário dos seus antecessores não abdicou em vida no seu sucessor (Tokugawa Ietsuna (1640--1680), pelo que conservou inteiramente o poder até à sua morte, prova que a dinastia xogunal estava já solidamente implantada. Foi durante o seu governo que se intensificou a perseguição ao Cristianismo, e que se consumou a ruptura com os mercadores de Macau, quando o governo japonês optou claramente por uma nova política de isolamento face ao exterior.

7 Cf. C. R. Boxer, Fidalgos no Extremo Oriente, Macau, 1990 (tradução da edição inglesa de 1968), pp. 110-112.

8 António Baião, Carta Anua da Vice-Provincia do Japão do ano de 1604 do padre João Rodrigues Giram íntegra inédita agora revelada e prefaciada por..., Coimbra, 1933, pp. x-xii.

9 C. R. Boxer utilizou-a no seu estudo The Great Ship from Amacon, Lisboa, 1963, ao analisar as viagens do ano de 1618 (pp. 95-97). É também citada por Joseph Dehergne S J no seu trabalho, Répertoire des Jésuites de Chine de 1552 à 1800, Roma-Paris, 1973, p. 245.

10 Cf. Monumenta Historica Japoniae I (dir. de Josef Franz Schütte SJ), Roma 1975, p. 241. (Obra doravante citada pela sigla MHJI).

11 Cf. MHJI, pp. 1285-1286.

12 As grandes mudanças estruturais verificadas nas relações luso-nipónicas decorreram grosso modo entre 1587 e 1600. Até 1587, o centro e o Sul do Japão não estavam sujeitos a uma única autoridade política e os Portugueses eram o único povo europeu que visitava as ilhas do Sol Nascente. A partir de 1587 todos os territórios japoneses com que os namban contactavam ficaram sob o poder de Toyotomi Hideyoshi (1536-1598), o general que concluiu a unificação política do império, iniciada por Oda Nobunaga. A partir de 1593 os espanhóis começaram a visitar regularmente o arquipélago e em 1600 chegaram os Holandeses, inimigos dos súbditos da monarquia espanhola. Assim, no alvorecer de Seiscentos, a situação era bem diferente da anterior a 1587, pois agora era uma única entidade política japonesa que se relacionava com vários povos europeus. Assim, os Portugueses haviam perdido tanto a possibilidade de explorar as rivalidades internas, como de exercer pressão pelo facto de deterem praticamente o monopólio do comércio externo nipónico. Sobre este assunto veja-se o nosso estudo Portugal e o Japão: o século namban, citado acima (vide nota 2).

13 Cf. MHJI, p. 1299; J. Dehergne SJ, op. cit., p. 245.

14 Sobre as características deste navio veja-se C. R. Boxer, The Great Ship ..., pp. 95-97.

15 Sobre este assunto vejam-se os estudos de C. R. Boxer, Fidalgos no Extremo Oriente (cf. supra nota 7) e de George Bryan de Souza, "Commerce and capital: Portuguese maritime losses in the South China Sea, 1600-1754", in As relações entre a Índia Portuguesa, a Ásia do Sueste e o Extremo Oriente(actas do VI Seminário Internacional de História Indo-Portu-guesa), Macau-Lisboa, 1993, pp. 321-348.

16 Cf. C. R. Boxer, The Great Ship ..., p. 95.

17 Cf. Luís Fróis SJ, História de Japão (ed. de José Wicki SJ), 5 vols., Lisboa, 1976-1984, vol. II, pp. 371-372; C. R. Boxer, The Great Ship ..., pp. 37-38.

18 Cf. Luís Fróis SJ, op. cit., vol. III, pp. 286-291; C. R. Boxer. The Great Ship ..., p. 44.

19 Parece-nos existir aqui um paralelismo com situações vividas pelos Portugueses nesta mesma época no Atlântico, quando alteraram os tempos de partida e rotas da Carreira da Índia para fugir aos Holandeses, o que conseguiam aumentando os riscos de naufrágios. Cf. Vitorino Magalhães Godinho, "A rota do cabo da Boa Esperança", in Ensaios II, pp. 283-322.

20 Jerónimo de Angelis, nascido na Sicília, entrou para a Companhia em 1586; foi ordenado sacerdote em Lisboa, em Março de 1599, e no ano seguinte aportou a Macau, onde iniciou a aprendizagem do japonês. Chegou ao Japão em 1602, e até 1610 trabalhou nas imediações de Quioto, instalando-se depois em Sumpu (actual Shizuoka), cidade onde Tokugawa Ieyasu fixara residência desde 1605. Em 1614 deslocou-se a Nagasaqui, mas obteve autorização para permanecer clandestinamente no país, e no ano seguinte foi encarregado de acompanhar a nova comunidade que se desenvolvia no Norte de Honshu. Permaneceu sediado em Sendai, a capital de Oshu, até ao primeiro édito anti-cristão de Date Masamune, em 1620. Fora entretanto o primeiro europeu a visitar a ilha de Hokkaidô. Passou depois para Edo, onde veio a ser preso, morrendo na fogueira a 4 de Dezembro de 1623.

Sobre este missionário veja-se particularmente Hubert Cieslik SJ, "The Great Martyrdom in Edo 1623, its causes, course, consequences", in Monumenta Nipponica, Tóquio, nº 10, pp. 1-44.

21 Diogo Carvalho entrou para a Companhia em 1594 e chegou a Macau em 1601. Concluiu aí os seus estudos, e recebeu a ordenação sacerdotal em 1608, passando no ano seguinte para o Japão. Regressou a Macau em 1614 e depois duma curta passagem pela Conchinchina em 1615 entrou clandestinamente no Japão em 1616. Foi enviado para o Norte de Honshu, onde colaborou activamente com o padre Jerónimo de Angelis. Visitou a ilha de Hokkaidô em 1620, e veio a morrer martirizado, por imersão em águas geladas a 22 de Fevereiro de 1624. Cf. MHJI, p. 1148.

22 Date Masamune, apoiou os cristãos mesmo depois da instauração do bakufu de Edo, e em 1613 enviou uma embaixada a Roma, chefiada pelo franciscano frei Luís de Sotelo (1574-1624). Apesar das acusações que os jesuítas lhe moveram denunciando o seu desinteresse pela religião cristã (cf. MHJI pp. 750-753), é indiscutível que Masamune foi assaz tolerante para com o Cristianismo nos seis anos posteriores à expulsão oficial dos missionários do arquipélago. O volte-face de 1620, deve estar relacionado, pelo menos em parte, com as crescentes pressões do xogunato contra os cristãos.

23 Date Masamune promulgou pela primeira vez um édito anti-cristão a 4 de Setembro de 1620. Cf. Hubert Cieslik S J, "Gotô-Juan, ein Beitrag zur Missions-Geschichte Nord--Japans", in Neue Zeitschrift für Missionswissenschaft, nº 9, 1953, pp. 186-200, 269-289, pp. 270-271.

24 Cf. ibidem, p. 192; idem, "The Great Martyrdom...", p. 4.

25 Cf. Leo Magnino, "A contribuição dos Portugueses para o conhecimento da ilha de Iesso no Japão, no século XVI", in Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, Actas, 6 vols., Lisboa, 1961, vol. 3, pp. 317-326.

26 Cf. Hubert Cieslik SJ, "Gotô-Juan...", p. 193.

27 Sobre o combate ao Cristianismo pelo bakufu de Edo veja-se o trabalho de Hubert Cieslik SJ, "Das Christen--Verbot in Japan unter dem Tokugawa-Regime", in Neue Zeitschrift für Missionswissenschaft, nº (1950), pp. 175--192, 256-272; vol. 7 (1951), pp. 24-36.

28 Fukan Ungyô Fabião. Nasceu em 1565, na região de Yamashiro; era filho de Joana, uma fidalga cristã. Entrou para a Companhia em Agosto de 1586, tendo-se dedicado especialmente ao estudo das religiões nativas. Foi demitido da Ordem em 1608, por desrespeito aos votos de castidade, dado que passara a viver com uma mulher. A partir de então tornou-se num adversário do Cristianismo e da Igreja. Cf. MHJI, p. 533.

29 Sobre as discórdias entre Murayama Toam e Heizô Suetsugu veja-se MHJI, pp. 827-831.

30 Francisco Vieira entrou para a Companhia em 1574, e foi ordenado sacerdote, na Índia, em 1581. Desempenhou o cargo de provincial da India entre 1609 e 1615. Quando cessou funções foi nomeado Visitador da China e Japão, desembarcando em Macau em 1616. Visitou clandestinamente o Japão entre Agosto de 1518 e Novembro de 1619, morrendo pouco depois, em Macau, a 21 de Dezembro desse ano. Cf. MHJI, p. 1323; J. Dehergne SJ, op. cit., p. 291.

31 MHJI, p. 793.

32 MHJI, pp. 793-794.

33 "Treslado de hua [carta] do padre dioguo Carualho de Japppão feita na era de 1618 pera o padre Bertolameu de Sequeira procurador geral das prouincias de Jappão e China". Biblioteca Nacional, Mss. 29, nº 17.

34 Mateus de Couros entrou para a Companhia em 1583 e iniciou a sua actividade no Japão em 1590. Regressou a Macau em 1614, mas logo no ano seguinte reentrou clandestinamente no arquipélago nipónico. Foi provincial pela primeira vez de 18 de Julho de 1617 a 2 de Outubro de 1621, sendo substituido no cargo por Francisco Pacheco (1568-1626) entre 1621 e Dezembro de 1625, altura em que Pacheco foi aprisionado. Retomou então a chefia dos destinos da Companhia no Japão até à sua morte a 12 de Julho de 1632. Cf. MHJI, pp. 1161-1162; J. Dehergne SJ, op. cit., p. 67.

35 Cf. MHJI, pp. 771-777; 793-798.

36 Cf. MHJI, p. 793.

37 Cf. MHJI, p. 342.

38 Cf. MHJI, pp. 552-558.

39 António Fernandes (1553-1630), natural da diocese de Braga, entrou para a Companhia em 1576. Trabalhou no Japão entre 1585e 1614, e regressou ao arquipélago em 1617 para o deixar definitivamente no ano seguinte; depois, ainda esteve na missão da Cochinchina, e faleceu em Macau. Cf. MHJI, p. 1169.

40 Francisco Eugénio (1578-1621) natural de Perugia, foi admitido na Companhia em 1593, e iniciou a sua actividade no Japão em 1608; permaneceu clandestinamente no arquipélago aquando da expulsão de 1614, só o abandonando por doença em 1618. Faleceu em Macau. Cf. MHJI, pp. 1167--1168.

41 O irmão João Baptista Pece (1567-1626), italiano, natural de Catanzaro entrou na Companhia em 1580 e integrou a missão do Japão entre 1590 e 1614. Regressou em 1617, mas retornou no ano seguinte a Macau, onde viria a falecer. Cf. MHJI, pp. 1267-1268.

42 MHJI, pp. 775-776.

43 O irmão António da Ponte, referido na carta, desempenharia no ano seguinte o cargo de procurador em Nagasáqui (cf. MHJI, p. 813), mas em 1620 deixou o arquipélago e regressou à India (cf. MHJI, p. 1274).

44 Cf. MHJI, p. 795. João Mateus Adami, siciliano, entrou na Companhia em 1595, e chegou ao Japão em 1604. Embarcou para Macau em 1614, regressando às ilhas do Sol Nascente, como vimos, no contingente de 1618. Integrou este grupo devido à morte de João Vicente, que morreu ainda em Macau, a 28 de Junho, tendo Adami tomado o seu lugar (cf. MHJI, p. 425). Pouco depois deslocou-se para o Norte de Honshu, trabalhando aí com os padres Jerónimo de Angelis e Diogo Carvalho. Temos notícia da sua presença no feudo e Oshu até 1624. Morreu martirizado em Nagasáqui, pela tortura da fossa, a 22 de Outubro de 1633. Cf. MHJI, p. 1122.

45 O padre Tomé Tsuji, natural de Hirado, entrou para a Companhia em 1590, segundo o catálogo de 1615 (MHJI, p. 603). Desconhecemos o seu destino: a 15 de Setembro de 1619 Mateus de Couros refere-o como um elemento que se movimentava pelo país (cf. MHJI, p. 816), mas já não é citado nos catálogos de 1620 (cf. MHJI, pp. 845-867).

46 Cf. MHJI, p. 797; Hubert Cieslik SJ, "Sel. Sebastian Kimura (1565-1622); der erste japanische Priester", in Neue Zeitschrift für Missionswissenschaft, vol. 15,1959, pp. 81-98.

47 Sobre a importância do clero nativo no seio da missão jesuítica japonesa vejam-se os nossos estudos: "Em torno da criação do bispado do Japão", in As relações entre a Índia Portuguesa, a Ásia do Sueste e o Extremo Oriente (actas do VI Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa), Ma-cau-Lisboa, 1993, pp. 141-171; "Lourenço, um japonês evangelizador do Japão", in From Biography to History. Essays in the Social History of Portuguese Asia, 1500-1800 (eds. Kenneth McPherson e Sanjay Subrahmanyam) (no prelo).

48 Cf. Nota 45.

49 MHJI, p. 729.

50 Catalão, nascido em 1578 nas proximidades de Tarragona, frei João de Santa Marta entrou para a ordem de São Francisco em 1597. Chegou a Manila em 1606, e no ano seguinte embarcou para o Japão, onde, segundo Bernward Willeke aprendeu tão depressa a língua, que pôde pregar ao cabo de seis meses. Em 1614 não acatou a ordem de expulsão dos Tokugawa e refugiou-se nas imediações de Nagasáqui, mas cedo foi capturado pelos oficiais do bakufu; com efeito, a 24 de Junho de 1615 tornou-se no primeiro missionário clandestino a ser aprisionado. Como refere Girão na sua carta, o franciscano recusou as ofertas de clemência a troco do abandono do país, acabando por ser executado a 16 de Agosto de 1618. Cf. Bernward Willeke OFM, "Biographical data on early franciscans in Japan (1582 to 1640)", in Archivum Franciscanum Historicum, Roma, ano 83, fasc. 1-2, 1990, pp. 162-223, pp. 193-194.

51 Sobre esta questão, já aflorada por Boxer (cf. The Christian Century in Japan, 1549-1650, Berkley-Los Angeles, 1967, 2ª edição, pp. 137-187) vejam-se os nossos trabalhos Portugal e o Japão: o século namban... (vide nota 2), e "Em torno da fundação do bispado do Japão" (vide nota 47).

52 Valentim de Carvalho ingressou na Companhia de Jesus em 1576, e chegou ao Japão em 1598. Quando as missões jesuítas do Extremo Oriente se autonomizaram das da Índia, Carvalho foi o primeiro provincial da nova Província do Japão, em 1611, cargo que desempenhou até 1617. Em 22 de Fevereiro de 1614, na sequência do falecimento do bispo D. Luís de Sequeira (16 de Fevereiro), foi eleito pelos sacerdotes seculares japoneses vigário-geral da diocese nipónica, decisão que foi de imediato contestada pelos religiosos espanhóis de São Francisco e de São Domingos, facto que abriu um cisma na Igreja japonesa na véspera do ataque final do bakufu contra a Igreja, (cf. Hubert Cieslik SJ, "Zur Geshichte der kirchlichen Hirerarchie in der alten Japanmission", in NeueZeitschrift fürMissionswissenschaft, vol. 18,1962, pp. 42-58, 81-107,177-195, p. 102. Valentim de Carvalho acabou os seus dias na Índia.

53 Apologia e resposta feita pelo padre Valentim Carvalho da Companhia de Jesus Provincial nesta Província de Japão e China a um tratado do padre frei Sebastião de S. Pedro da Ordem de São Francisco que se intitula Recopilação das causas porque o Imperador de Japão desterrou de seus reinos todos os padres, ANTT, Manuscritos da Livraria, nº 1956 A.

54 Cf. MHJI, p. 424.

55 Cf. Joseph Dehergne SJ, op. cit., p. 328. Em 1616 trabalhavam na China quinze padres, mas neste ano de 1618 só permaneciam oito no interior do império.

56 Diogo Pantoja, castelhano, entrou para a Companhia em 1589; chegou a Macau em 1597. Em 1600 mudou-se para Nanquim, mas no mesmo ano foi transferido para Pequim, onde chegou a 24 de Janeiro do ano seguinte. Na côrte chinesa distinguiu-se como astrónomo e geógrafo. Retirou--se para Macau em 1617. Cf. ibidem, p. 193.

57 Cf. MHJI, pp. 781-783.

58 Cf. Wolfram Eberhard, A History of China, Londres, 1977, 4ª edição, p. 277.

NOTAS

(i) Biblioteca Nacional, Mss. 29, nº 18.

António Baião cita-o com a quota Mss. 29, nº 19, numeração que ainda é visível, embora riscada, na primeira página do documento.

Actualizámos a ortografia e a pontuação procurando não prejudicar a reconstituição do modo como as palavras eram pronunciadas.

(ii) Cf. nota 56.

(iii) O padre Nicolau de Avila (1572-1618), natural da região de Segóvia, entrou para a Companhia em 1586, e chego'ú ao Japão em 1590; passou por Macau entre 1598 e 1603, e estava no Japão aquando da expulsão de 1614, tendo então regressado definitivamente a Macau, onde morreu a 28 de Maio de 1618. Cf. MHJI, p. 1134.

(iv) João Vicente Antoglietta (1577-1618) (citado na documentação coeva como Antolheta), de origem italiana, foi admitido na Companhia em 1596. Em 1602 estava na Índia, no ano seguinte passou para o Extremo Oriente, desembarcando no Japão em 1605. Em 1614 cumpriu a ordem do bakufu, morrendo em Macau, a 28 de Junho de 1618, quando se aprestava para regressar ao arquipélago nipónico. Cf. MHJI, p. 1129.

(v) Diogo Pinto (1544/48-1618), nascido em Portugal, entrou para a Companhia em 1567 e recebeu a ordenação sacerdotal em 1573. Chegado ao Oriente trabalhou durante 19 anos no Sueste Asiático, dividindo a sua actividade por Malaca, Ternate e Amboino. Passou à China, e em 1596 estava em Cantão. Faleceu em Macau, a 20 de Setembro de 1618. Cf. J. Dehergne, op. cit., pp. 204-205.

(vi) É possível que se trate dum erro do copista, pois no catálogo de 1618 não consta este nome; aí são referidos dois irmãos com o nome de Diogo, mas nem esses nem os outros irmãos da lista têm por apelido Gonçalves (cf. MHJI, pp. 781-784).

(vii) Cf. nota 46.

(viii) Cf. nota 44.

(ix) Cf. nota 45.

(x) Cf. nota 43.

(xi) Cf. nota 30.

(xii) No manuscrito "Chiungo", certamente por erro do copista. Trata-se do feudo de Chikugo, no extremo Norte da ilha de Kyushu. Cf. Francine Hérail, op. cit., pp. 82-83.

(xiii) No manuscrito "Chigoqu" por erro manifesto do copista, que mais adiante escreve este topónimo do modo correcto. Trata-se da região de Chugoku, que abarca as províncias de Sanyôdo e Sanindô, na parte ocidental de Honshu. Cf. ibidem, pp. 82-83; MHJI, p. 720.

(xiv) Trata-se certamente do feudo de Buzen, situado na ilha de Kyushu, a Norte do de Bungo, que noutra documentação coeva também é referido como "Bujen". Cf. MHJI, pp. 1142-1143, p. 813.

(xv) Corruptela de Miyakô, designação coeva de Kyôto, a capital do império.

(xvi) Cf. nota 50.

(xvii) Expressão que designa o centro geo-político do país.

(xviii) No manuscrito "João". Trata-se de Murayama Toan António, apóstata, até então um dos governadores de Nagasáqui. Cf. nota 29.

(xix) Heizô Suetsugu João, outro dos governadores de Nagasáqui. Cf. nota 29.

(xx) Cf. nota 28.

(xxi) Dógicos, do japonês dojuku: "seu sentido original é «convivente» e no vocabulário do século XVI era um termo religioso budista que designava os jovens que entravam nos templos para se dedicarem ao serviço dos bonzos." Jesús Lopez-Gay SJ, "Las organizaciones de laicos en el apostolado de la primitiva misión del Japón", in Archivum Historicum Societatis Iesu, Roma, vol. XXXVI, 1967, p. 11. Os Jesuítas adaptaram esta instituição às necessidades da missão acrescentando-lhe contudo "um ministério novo, desconhecido na budista — a pregação". Ibidem, p. 13.

(xxii) Em japonês yaku pode significar cargo público; supomos ser este o sentido da palavra no texto.

(xxiii) Hasegawa Gonroku. Cf. MHJI, p. 736.

(xxiv) Hasegawa Sahyôye, oficial do bakufu, governador de Nagasáqui. Cf. MHJI, p. 621.

(xxv) Tenca, termo que designa a monarquia do Japão. Neste caso o seu significado é semelhante ao da expressão "Cami".

(xxvi) No manuscrito "bungio". Trata-se da palavra bugyô, que significa governador. Cf. MHJI, p. 734.

(xxvii) Oshu.

(xxviii) Cf. nota 20.

(xxix) Cf. nota 21.

(xxx) Pedro Paulo Navarro (1560-1622), natural de Laino, na região de Nápoles, entrou para a Companhiaem 1579. Chegou ao Japão em 1586, já ordenado sacerdote e dois anos depois já confessava em japonês (cf. MHJI, pp. 242-243). Nunca mais abandonou o Japão, morrendo martirizado na fogueira, a 1 de Novembro de 1622, em Shimabara. (Cf. MHJI, pp. 1250-1251).

(xxxi) Francisco Boldrino (1576-1633), natural de Roma, ingressou na Companhia em 1593. Trabalhou no Japão, pela primeira vez entre 1609 e 1612, e regressou clandestinamente ao arquipélago em 1615, permanecendo aí até à sua morte. (Cf. MHJI, p. 1138).

(xxxii) Cf. nota 39.

(xxxiii) Cf. nota 40.

(xxxiv) Cf. nota 41.

(xxxv) Yôkai pode significar espírito; a ser esse o sentido da palavra, poderia querer dizer que o falecido morrera com verdadeiro espírito cristão.

(xxxvi) Trata-se do feudo de Hizen, na ilha de Kyushu.

(xxxvii) No manuscrito, certamente por erro do copista, "Naberima Cagauocami". Trata-se de Nabeshima Naoshige (1537-1618), que fôra um dos governadores de Nagasáqui em 1590-1592. Residia desde 1590 em Saga e tomara o nome de Saga-no-kami; era grande inimigo dos dáimios cristãós de Omura e de Arima (cf. Luís Fróis, op. cit., vol. V, p. 356). José WickiSJ, situa a sua morte em 1619 (cf. ibidem, p. 271), mas a informação de Girão leva-nos a situar o seu falecimento no ano anterior. Nesta altura o feudo de Hizen era governado pelo filho de Naoshige, Nabeshima Katsuhige (1581--1657).

(xxxviii) O padre Pedro Martins (1583-1650) era natural de Estremoz, e foi admitido na Companhia em 1600. Desembarcou em Macau em 1603, onde recebeu a ordenação sacerdotal em 1611. Trabalhou no Japão de 1612a1614. Em Novembro de 1618 regressou à Índia, facto a que Girão alude na sua carta, onde veio a morrer, em Goa, a 18 de Julho de 1650. (Cf. MHJI, p. 1230).

(xxxix) Segundo o catálogo dos padres que estavam em Macau e na Cochinchina, feito em Junho de 1618, estavam naquela missão os padres Pedro Marques (superior), Cristovão Bravo, Francisco Buzomo, Francisco de Pina, e os irmãos António Dias e Miguel Maki. (Cf. MHJI, pp. 781-783).

(xl) Pedro Morejón (1562-1639) era natural de Medina del Campo. Jesuíta desde 1578, chegou a Goa em 1586, e quatro anos depois desembarcou no Japão. Em 1614 foi nomeado procurador da missão e enviado a Roma, tendo realizado a viagem por Manila e a América. Em 1622 regressou ao Oriente por Lisboa, permanecendo em Macau desde 1625 até à sua morte. (Cf. MHJI, pp. 1243-1244).

(xli) Gabriel de Matos (1572-1634), natural da Vidigueira, foi admitido na Companhia em 1588; chegou a Macau em 1597, e três anos depois passou ao Japão. Em 1614 foi nomeado juntamente com Pedro Morejón procurador da missão. Realizou a viagem pela via ocidental, saindo de Macau a 5 de Janeiro de 1615; esteve em Roma em 1617 e no ano seguinte deixou Lisboa, de novo rumo ao Oriente e no final do ano seguinte já estava em Macau. Foi visitador da China e Japão em 1621-1622, e da Cochinchina em 1624; morreu em Macau. (Cf. MHJI, p. 1232; J. Dehergne SJ, op. cit., p. 170).

(xlii) Ambrósio de Barros (1555-?) era um luso-oriental, nascido em Diu. Entrou na Companhia em Dezembro de 1577, no Japão. Em 1596 deslocou-se a Macau, onde recebeu a ordenação sacerdotal. Em 1614 abandonou o arquipélago, e no início de 1618 seguiu para a Índia. (Cf. MHJI, p. 1137).

*Mestre em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa (F. C. S. H., 1989). Assistente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

desde a p. 183
até a p.