Encontro de Culturas

ALESSANDRO VALIGNANO E O JAPÃO DUAS VISITAS E TRÊS DOCUMENTOS
"Os Advertimentos" (1581/82) "Sumario del Japón (1583) "Adiciones del Sumario del Japón (1592)

Engelbert JoriBen*

Retrato de Alessandro Valignano, o Visitador do Japão. (In "Valiganos Missiongrundsätze für Japan", S. F. Shütte, S. J., Roma, 1951).

O Visitador Alessandro Valignano (1539-1609) é sem dúvida uma das figuras mais relevantes na história da igreja cristã no Japão entre os anos 1549 — chegada de Francisco Xavier — e cerca de 1640 — ruptura das relações entre o Japão e os países católicos da Europa de sudoeste — sendo igualmente uma das pessoas que imprimiram profundamente o carácter da missão católica. Ainda que não pertença ao grupo dos missionários que, uma vez chegados ao Japão, ali ficavam para viver a segunda metade da sua vida, como o padre Luís Fróis, 1532-1597, (desde 1563 no Japão), ou o padre Organtino Soldo, 1532-1609, (desde 1570 no Japão). Valignano visitou o Japão três vezes e demorou-se lá, de cada vez, alguns anos: 1579-1582 (Tensho 7- 10), 1590-1592 (Tensho 18 — Bunroku 1) e 1598-1603 (Keicho 3-8)1. Deste modo conheceu o país em três fases decisivas do processo da unificação política, depois de mais de cem anos de guerras civis. E estas fases representam também etapas importantes no desenvolvimento da missão jesuítica no Japão. Partindo de dois encontros importantes durante a primeira e a segunda visitas do Visitador e, depois, de três escritos de Valignano que resultaram destas duas visitas, quero esboçar alguns aspectos daquele tempo respeitantes aos primeiros encontros entre europeus e japoneses (adicionando alguns pormenores nas no-tas) e alguns aspectos da atitude de Valignano com respeito ao procedimento missionário no Japão. Em relação à terceira visita, devo limitar-me aqui a referências mínimas.

ENCONTRO COM ODA NOBUNAGA

Na sua primeira visita, Valignano conheceu Oda Nobunaga (1534-1582), com o qual se encontrou várias vezes, num momento em que os Jesuítas se sentiam muito favorecidos por Nobunaga que, depois de ter expulso o shogun Ashikaja Yoshiaki da capital Miyako, energicamente levou por diante a unificação e sujeição do país ao seu domínio. Disso dá testemunho, por exemplo, uma carta do ano de 1580 do Padre Lourenço Mexia, acompanhante do Visitador na primeira estadia no Japão, na qual lemos, entre o relato dos acontecimentos na capital e seus arredores, que Nobunaga recebeu o padre Organtino e o irmão Lourenço para ouvir explicações sobre a fé cristã:

"... & fazendo muitas preguntas & repricas por derradeiro mostrou sempre ficar satisfeito o que o padre & o irmão lhe respondião, louuandoos em presença de todos muito, & dizendo que o saber dos padres era bem diferente do saber dos Bonzos, confessou que de todo estaua satisfeito & conuencido, ainda que mostrou sempre a grande duuida que tinha de auer Deos, & alma,...". 2

Mexia relata também que Nobunaga, logo no início deste encontro, perguntou: "... por hum globo ou esphera que antes tinha vista"3 e que Nobunaga durante este encontro de três horas:

"quis... que o padre Organtino lhe mostrasse a viagem que tinha feita per vir de Europa a Iapão, & depois de vista com grande espanto disse, que não podião cometer tal viagem senão homens de mui grande animo & fortes coraçõens". 4

Quero mencionar só de passagem que para o leitor de hoje é igualmente possível perceber nestas palavras uma das motivações pelas quais Oda Nobunaga manteve contactos com os padres jesuítas estrangeiros. 5 A sua presença era sobretudo importante para Nobunaga, bem como para outros daimyo (os príncipes japoneses do tempo) porque traziam artigos inéditos no Japão e também informações sobre países até há pouco desconhecidos dos japoneses.

Nobunaga recebeu o Visitador no seu novo palácio-castelo recém-construído, 1576-1579, em Azuchi (na província de Omi, hoje prefeitura de Shiga) do lado oriental da lagoa Biwa, "quatorze legoas do Miaco". 6 É de salientar que Organtino Gnecchi Soldo7, naquele momento superior da mis-são na região de Miyako, tinha recebido uma carta do Visitador com a ideia de construir, como em Arima em Kyushu, um outro seminário na região da capital e, como Fróis relata, já anteriormente tinham começado os preparativos para a construção de uma casa.8

Mas com a construção da nova residência do "senhor da monarquia de Japão" ("como elles lhe chamão") (Fróis, Seg. P., C. 25. °, III, p. 190) em Azuchi, este lugar, como Organtino bem entendeu, tornou-se num dos sítios mais importantes na conjuntura.

Organtino sabia da importância do projecto em Azuchi para Oda Nobunaga e percebeu que os mais importantes vassalos lhe construíam ali uma residência (ibidem, pp. 191-192), o que faziam também forçadamente9. Deste modo, como Fróis continua, Organtino, invocando vantagens para a divulgação da missão, decidiu transferir a construção do seminário para Azuchi. Que Oda Nobunaga tenha respondido positivamente ao pedido de Organtino, de autorizar aos padres uma construção, deve ser entendido como um acto de grande protecção. Quando Valignano chegou a Gokinai10, a casa dos jesuítas com o seminário já tinham sido construídos.11

Quando lemos a descrição dos acontecimentos em Azuchi na História de Fróis, devemos estar conscientes de que ele, baseando-se nas suas cartas e nas de outros missionários, reescreveu os eventos anos depois, numa situação em que tinha já mudado a sua opinião sobre Oda Nobunaga, pelo menos como autor/narrador; como aparece na sua História, por exemplo, onde condena violentamente Oda Nobunaga pela construção do templo Sokenji e pela aspirada divinização da sua pessoa como uma vivente divindade shintoísta (Fróis, Seg. P., C. 40. °, III, pp. 329ss). E de Nobunaga sabia-se já, naquele momento da visita do Visitador, que o seu furor podia voltar-se não só contra os budistas mas também contra a missão católica, como se demonstrava na crise anterior à chegada de Valignano, quando padres e cristãos, na parte central do Japão, se encontravam envolvidos no conflito entre a casa do daimyo Araki Murashige e Nobunaga12. Araki Murashige era vassalo de Oda Nobunaga. Por outro lado, Takayama Najafusa Ukon Justo — baptizado, como também seu pai Takayama Hida no Kami Dário — era vassalo da casa de Araki. Quando, em 1578-79, Araki se voltou contra Nobunaga, Takayama, como subordinado directo, devia por princípio seguir Araki, seu senhor imediato, contra a própria convicção. Sabia-se que isto traria, com grande probabilidade e como consequência, a inimizade de Nobunaga contra os cristãos. Só o comportamento hábil e a intervenção diplomática de Organtino salvaram a situação e conservaram à igreja o favor de Nobunaga (Fróis, Seg. P., C. 27. °, III, pp. 205ss)13. Mas, apesar disso, na História de Fróis fica ainda manifesta a atmosfera entre missionários e cristãos dos tempos em que se sentiam favorecidos por Nobunaga, por exemplo quando Fróis escreve sobre a chegada de Valignano a Azuchi:

"Ao sahir da fortaleza foi estranho o concurso da gente que apenas podião passar, e os cristãos nã cabião de alegria de verem seus Padres favorecidos e agazalhados com tanta honra e consolação sua." (Fróis, Seg. P., C. 31. °, III, pp. 259-260).

A estadia de quase um mês do Visitador em Azuchi, chegou ao auge com a organização de sole-nidades por ocasião da festa bon (dia dos finados búdico). Nobunaga mandou iluminar o seu palácio--castelo e estender uma cadeia de duas mil tochas ao longo da rua14.

O contentamento do apaziguamento da situação e dos favores de Nobunaga ao Visitador e missionários, aparece ainda mais nítido na Carta annua de Gaspar Coelho, do início do ano seguinte.15

Apenas alguns meses após a partida de Valignano para Macau e Goa, Oda Nobunaga foi morto, depois de cercado pelos soldados do seu próprio vassalo Akechii Mitsuhide (1528-1582) no templo Honnoji em Miyako, separado apenas por uma rua da casa dos jesuítas na capital (21 de Junho 1582).

Nas Cartas de Évora encontramos um relato pormenorizado de Fróis, com comentários acerbos sobre a sua morte e palavras enfurecidas sobre a construção do já mencionado templo em Azuchi.16 Fróis acaba esta carta com palavras que em certo sentido caracterizam a situação dos missionários nestes anos:

"Socedem cada dia muitas cousas de nouo, que ja depois de esta [i. e. carta] acabada se podia fazer outra tamanha como esta...". 17

ENCONTRO COM TOYOTOMI HIDEYOSHI

Diversa e nova foi naturalmente a situação para o Visitador, na sua segunda visita ao Japão. Desta vez Valignano encontrou-se com Toyotomi Hideyoshi (1536-1598), sucessor de Nobunaga. Nesse momento encontrava-se no auge da sua carreira política, reinando no país desde 1585 sob o título de kampaku, tendo assim uma posição que Fróis comenta como "a segunda pessoa immediata na honra depoes de Vô [i. e. o emperador]" (Fróis, Seg. P., C. 24.º, IV, p. 187). Hideyoshi colocou-se nesta posição, reconhecendo deliberadamente o imperador como chefe de Estado único e legítimo18. Deste modo foi-lhe possível fazer confirmar e também legitimar, exactamente pelo imperador, a sua própria posição de facto como senhor absoluto, tornando-se ainda mais intangível. Com respeito à unificação Hideyoshi, na primeira metade do ano 1590, guerreara decisivamente Hojo Ujimasa nas suas províncias no Kanto, o único oponente de importância que ainda lhe restava depois das campanhas em Shikoku, Kyushu etc.. No outono do mesmo ano saiu vencedor igualmente no norte de Honshu, de modo que Fróis pôde comentar assim os acontecimentos deste ano na sua História:

"Este anno de 90 acabou Quambacudono de se fazer absoluto senhor de todos os 66 reinos de Japão...". 19

Valignano chegou ao Japão em Julho de 1590. Com ele regressavam os quatro jovens embaixadores; tinham partido, em 1582, com o Visitador, que os pôde acompanhar apenas até Goa, e não até à Europa.

Viajaram outra vez juntos com o Visitador, no regresso da embaixada a Goa em 1587. Mas só em Janeiro do ano seguinte, 1591, Valignano recebeu o aviso para viajar à capital, e no dia 3 de Março foi recebido com os quatro embaixadores no Jurakutei, o palácio de Hideyoshi em Miyako.20

Como se entende facilmente, o encontro foi condicionado de início pelo facto de Hideyoshi ter promulgado já em 1587 o primeiro édito contra os missionários (um édito que nunca foi revogado oficialmente, ainda que a execução fosse tratada, pelo próprio Hideyoshi e em fase seguintes, com variada flexibilidade ou dureza). E é também fácil de entender que os missionários, na sua situação, aguardavam ansiosamente a chegada do Visitador.

É necessário mencionar neste contexto que Gaspar Coelho (1537-1590), que foi o primeiro vice-provincial do Japão, de 1581 a 1590, tinha escrito ao vice-rei da Índia, Dom Duarte de Meneses (1584-1588), para enviar um presente sumptuoso, com a embaixada de regresso, ao kampaku Hideyoshi. A realização deste projecto coincidiu com a partida de Valignano de Goa, e por isso Valignano, (que só soubera do édito de Julho de 1587 em Macau) partiu para o Japão também na função de embaixador do vice-rei21. Esta função ganhou em importância e relevo porque Hideyoshi, informado sobre a chegada de Valignano e da sua intenção de o procurar, recusou-se momentaneamente a recebê-lo, supondo que a razão da visita fosse pedir alívio para a situação dos padres:

"Todavia declarou Quambacu que, se este embaixador hia para em nome do Vice-Rey interceder pelos Padres, não o queria ver, porque os não havia de admittir em nenhuma maneira, mas que se fosse somente para o vizitar, receberia a embaixada." (Fróis, Seg. P., C. 37.º, V, p. 289.)

Valignano por seu lado, preparando a sua ida e a da embaixada à capital, estava já informado por cristãos japoneses, que lhe escreveram prevenindo--o das suspeitas do kampaku e de que não seria oportuno viajar na companhia de muitos padres, sendo preferível ir acompanhado de um grande número de portugueses laicos (vd. Fróis, Seg. P., C. 36. °, V. pp. 270-271). Os daimyo cristãos pensavam também naquele momento na embaixada coreana que fora recebida pelo kampaku pouco antes e que tinha entrado em Miyako "com mais de trezentos homens e com grande estrondo" (ibidem). Por consequência constituiu-se uma embaixada, certamente também com a intenção de sublinhar o aspecto grandioso e oficial da missão do vice-rei da Índia e do seu emissário, com um total de mais ou menos 26 pessoas: o Visitador-embaixador, os quatro jovens embaixadores "e seos pagens", um conjunto de mais ou menos doze mercadores portugueses, em direcção a Miyako (ibidem).

Em Miyako, Valignano e os outros membros do grupo residiram em casas bem apetrechadas, para mais sublinhar o prestígio da embaixada. E, como sugere Fróis, isso contribuiu para fazer modificar a atitude do kampaku, que começou então a fazer os preparativos para receber a embaixada com todo o esplendor. E, no já mencionado dia 3 de Março 1591, o cortejo da embaixada desfilou nas ruas de Miyako para o palácio do kampaku. À frente seguiam os presentes enviados pelo vice-rei a Hideyoshi, entre os quais espingardas e outras armas e guadamexins, artigos raros ou estranhos que também o kampaku não devia desprezar. Seguiam-se Valignano, o padre Mesquita, que tinha acompanhado os quatro jovens até à Europa como seu instrutor, e o Padre António Lopes, em três liteiras de um quilate como usavam também clérigos búdicos de alta posição, dois pagens, também eles bem vestidos, os quatro jovens embaixadores, e os outros portugueses no seu traje mais esplendoroso. No préstito ia até um cavalo da Arábia, conduzido por um jovem indiano, ambos guarnecidos exoticamente. Não é difícil imaginar-se a sensação que o cortejo devia causar na gente que acorreu em massa.

"E desd'a caza onde sahio o Padre athé chegar à fortaleza, era innumeravel a gente que estava posta pelas ruas, portas e janelas para ver tão novo espectaculo, dizendo todos que nunca tal couza se tinha visto depoes que se principiou a Miaco." (Fróis, Seg. P., C. 39.º, V, p. 301).

Quero mencionar, de passagem, que a cena descrita pormenorizadamente por Fróis faz pensar em cenas semelhantes pintadas em muitos dos conhecidos biombos, os nanban byobu, que representam a chegada de portugueses com a sua nau ao sul do Japão. Como demonstrou já o professor inglês Charles R. Boxer, é muito difícil reconhecer nas cenas representadas certos acontecimentos históricos. É mais certo aceitar que na imaginação dos artistas dos byobu confluiram vários acontecimentos de diversas ocasiões e impressões gerais. Mas também o professor Boxer não exclui a possibilidade de que a impressionante embaixada do Visitador Valignano, em 1590, possa ter influenciado a organização artística das cenas nos byobu. 22

A embaixada foi então acolhida no interior do palácio, e foram servidas refeições com todo o cerimonial das recepções. Nesta ocasião o Visitador conheceu assim pessoalmente as finezas atribuídas aos hóspedes oficiais, um tratamento que assumira para ele, já durante a sua primeira estadia, tão grande importância e relevo nos Advertimentos, tendo-o registado com ajuda de conselheiros de etiqueta japoneses do daimyo Otomo Yoshihige Sorin (1530--1587), para dar aos missionários directivas para um comportamento adequado. O kampaku falou com os quatro jovens e em seguida pediu que eles, que durante a longa viagem entre outras coisas tinham aprendido também a tanger instrumentos ocidentais, tocassem os seus instrumentos.

Encontramos aqui um dos quadros desta embaixada que ficaram famosos:

"... vierão os instrumentos que para isso estavão apparelhados, e os quatro fidalgos começarão a tanger descantando com cravo e arpa, laude e rabequinha, o que fizerão com muito ar e graça e despejo, por terem mui bem aprendido em Italia e em Portugal." (Fróis, Seg. P., C. 39.º, V, p. 308).

O kampaku ficou tão entusiasmado que pediu três vezes que os jovens repetissem a música (ibidem)23.

No diálogo do De Missione Legatorun Iapo-nensium, no qual os quatro jovens embaixadores falam sobre as suas experiências na Europa com dois amigos japoneses que não puderam acompanhá-los, encontra-se entre inumeráveis outras matérias uma cena em que os embaixadores querem persuadir os amigos sobre a alta qualidade da música e dos instrumentos na Europa.

Existem muitas razões para pensar que Valignano foi iniciador e também inspirador de muitas ideias para o conteúdo deste diálogo em latim, cuja autoria é usualmente atribuída ao padre Eduardo de Sande, o qual aparece também no texto como responsável pela tradução para o Latim e que efectivamente escreveu o texto. Deste modo aparece um outro fio da rede complexa das muitas actividades do Visitador no âmbito da história cultural dos contactos entre o Japão e a Europa. O diálogo foi também utilizado como livro de ensino do Latim bem como dos factos da cultura ocidental e cristã, nos seminários no Japão24.

Sobre o resultado da embaixada escreve Fróis na sua História que para o Visitador e os missionári-os não foi possível obter o "restabelecimento" da Companhia no Japão, mas no mesmo lugar aponta que os padres e cristãos alcançaram grandes proveitos com a embaixada. Sublinha que a atitude de Hideyoshi se modificou, e que não só não continuou com as perseguições como também permitiu — um resultado para que contribuiu também um diálogo entre o kampaku e o irmão João Rodrigues Tçuzzu (Fróis, Seg. P., C. 41.º, V, p. 319) — a estadia de "athé dez dos companheiros do embaixador" em Nagasaki, o que queria dizer que tolerava a presença de padres. Fróis acrescenta que também entre os cristãos se sentiu um alívio geral da situação, que permitia novas esperanças. E menciona, como uma consequência importante da embaixada, que os portugueses com a sua aparência impressionante conseguiram fazer alterar a opinião dos japoneses sobre os europeus e também sobre a religião que queriam introduzir no Japão:

"... porque dizião os mesmos japões que huma gente tam limpa e tão honrada não podia deixar de ter todas as couzas boas." (ibidem, p. 320).

Outro resultado dos acontecimentos e processos aqui apontados e da conversação entre Hideyoshi e Rodrigues Tçuzzu, foi também que Hideyoshi reescreveu a sua resposta à carta do vice-rei da Índia, que na sua primeira versão, segundo as palavras de Fróis, fora "muito arrogante e soberba", tendo modificado o tom. Também nesta segunda carta é sublinhado que o Japão é o país dos kami, dos deuses japoneses, e nem aqui é de nenhuma forma revogado o édito de 1587. Mas Fróis afirma que só o facto de Hideyoshi ter rees-crito a sua carta, deve ser já considerado como um milagre (Fróis, Seg. P., C. 40.º, V. p. 377).

Em 1591 Hideyoshi tentou também tratar, sob condições especiais, com os mercadores portugueses, mas os portugueses tinham recusado a exclusão da Companhia de Jesus. O professor Matsuda Kiichi extrai o resultado destas experiências do kampaku, incluindo a intervenção do intérprete João Rodrigues Tçuzzu:

"Hideyoshi foi assim percebendo que não era possível efectuar uma separação completa entre os jesuítas e os mercadores portugueses."25

O Visitador partiu novamente para Macau e Goa em Outubro de 1592; já antes, em Março, começara a primeira campanha contra a Coreia.

A OBRA ESCRITA E OUTRAS ACTIVIDADES

Perante este fundo de mudanças na história japonesa desenvolveram-se também algumas das fases decisivas da missão japonesa dos jesuítas. Como Visitador da Índia, o padre Valignano era responsável pela missão jesuítica de todo o Oriente.26 As suas reflexões sobre a missão no Japão e as respectivas decisões e actividades que ele organizou demonstram, por um lado, o papel importante que este país tinha para ele e, por outro lado, reflectem a importância da sua personalidade no desenvolvimento da missão no Japão. De ambos aspectos dão testemunho os muitos escritos do Visitador para a missão japónica e os relatos da missão para os superiores na Europa.

"Arte de língoa de Japam" do Pê. João Rodrigues Tçuzzu. Nagasáqui, 1604.

Entre os seus escritos27 mais importantes relacionados com o Japão devem ser mencionados, em ordem da sua composição, um catecismo para a igreja no Japão, Catechismi Christianae Fidei (1580--1581)28, Os Advertimentos e avisos acerca dos costu- mes e catangues de Jappão (1581)29, o Sumario del Japon (1583) as Adiciones del Sumario del Japon (1592) e a Historia del principio y progresso de la religión christiana en Jappón (1601).30

O Sumario de 1583, ainda que não impresso, teve uma grande influência especialmente sobre os outros autores que escreviam sobre o Japão naquele tempo e também no século seguinte, bem como sobre a imagem do Japão na Europa. Com o Sumario e com os outros textos, que em grande parte só no nosso século foram conhecidos por um público um pouco mais largo31, Valig-nano pertence hoje aos autores de primeira importância que escreveram sobre matéria do Japão na segunda metade do século XVI e nos primeiros anos do século XVII. Luis Fróis e João Rodrigues Tçuzzu podem ser classificados como japonólogos da primeira hora num sentido mais estrito32. Valignano dá-nos informações importantes para o conhecimento da história cultural e é um dos autores centrais para a reconsti-tuição do método da mis-sionação, do encontro entre europeus e japoneses, bem como do ângulo sob o qual os europeus viram o Japão.

Alessandro Valignano destaca-se ainda com projectos realizados e amplamente delineados. Foi ele quem iniciou e estabeleceu o sistema das cartas anuais sistematizadas, que representam hoje uma das fontes mais importantes para o estudo desta época.

Valignano introduziu a primeira imprensa no Japão, na qual eram impressos toda uma série de textos religiosos ou não religiosos de alto quilate. Sob a autoridade de Valignano eram enviadas as directivas decisivas para a missão no Japão. E como já foi apontado, Valignano foi o iniciador e organizador da famosa embaixada de quatro jovens japoneses para a Europa de sudoeste na época Tensho, que esteve em Portugal, Espanha e Itália entre os anos de 1584 e 1586.

Neste lugar só é possível referir apenas alguns aspectos da grande obra de Valignano no Japão e dos seus contornos mais salientes. Quero limitar-me antes de tudo à apresentação dos três textos: dos Advertimentos, do Sumario e das Adiciones del Sumario, que reflectem as experiências do Visitador durante a sua primeira e a sua segunda estadias no Japão e expôr o seu pensamento sobre a missionação do Japão e sobre os japoneses. Ao mesmo tempo estes textos constituem um documento para o conhecimento da atitude dos Europeus face aos japoneses naquele tempo.

A PRIMEIRA VISITA AO JAPÃO, A QUESTÃO DA ACOMODAÇÃO: OS ADVERTIMENTOS E O SUMÁRIO

"Neste anno de 1579 veio da China a Japão a nao de Leonel de Britto e em sua companhia o Padre Alexandre Valignano, de nação napolitano, por vizitador destas partes, pessoa mui qualificada em letras e virtudes e hum dos mais raros sujeitos que até agora dos da Companhia passarão à Ásia..." (Fróis, Seg. P., C. 18.º, II, p.128).

"Cartas do Iapam nas quaes se trata da chegada a quellas partes dos fidalgos Iapões que ca vierão (...)". Lisboa, casa de Simão Lopez, 1593.

Com estas palavras, Fróis inicia o capítulo 18.º na Segunda Parte da sua História, com o qual começa a descrição da primeira estadia do Visitador no Japão. Fróis escreveu esta parte da sua História aproximadamente no fim dos anos oitenta, o que quer dizer, de uma perspectiva distanciada. Desse ponto de vista, pois, faz as suas considerações sobre o que foi importante, naquele momento, para o Visitador:

"Começou o P. e Vizitador a entender logo de propozito no modo de viver dos nossos nestas partes e conheceo... que estavão postos em huma continua peregrinação, cercados de perigos e dores da morte, porque, [como] cada dia huma das rezidencias tem a seo cargo muitas igrejas e logares, era necessario andarem em continua peregrinação de hum lugar para outro... o que não hé de pouco trabalho, especialmente em terras tam frias e de tantas neves no inverno, e tantas calmas e chuvas como há em Japão no verão... E como Japão hé tão revoltozo e cheio de guerras, nunca as couzas permanecem nelle em hum estado, antes em brevis-simo tempo se revolvem..." (ibidem, p. 129).

Aqui encontramos indicados alguns dos problemas essenciais que enfrentaram os missionários no Japão. Fróis fala da escassez de missionários que obrigava os jesuítas a cuidar de várias paróquias e menciona a dificuldade de viver num clima, em muitos meses equilibrado e temperado, mas também com extremos, uma indicação que encontramos já nas cartas de Francisco Xavier.

A frase aqui citada em baixo fala da situação histórico-política no Japão desse momento, que, de facto, se vinha prolongando há dezenas de anos. Quando os portugueses e pouco depois os missionários entraram no Japão, a dinastia dos Ashikaga (que apresentava o shogun de 1336 até 1573) era já fraca e o seu poder estava em declínio, tal como o imperador que não tinha nenhuma autoridade. Alterações de alianças repentinas não eram uma raridade e revoltas e mudanças violentas aconteciam tão frequentemente, que justificam que esta fase da época Muromachi também seja conhecida como gekokujo jidai que quer dizer "época na qual o baixo se torna alto".

O que aqui é caracterizado em palavras bastante moderadas é descrito por Fróis, facto apreendido pelo padre Visitador, em palavras muito mais dramáticas, como uma realidade muito inquietante e um estado contrário para a missão:

"Vio mais [i. e. o visitador] como as couzas estão cá dependuradas por hum fio, porque quem hoje hé grande senhor, amanhã não hé nada; e onde está agora tudo quieto e em tranquilidade, daqui a poucas horas está tudo transformado e feito huma confuzão de perturbações, o que muitas vezes não hé pequeno trabalho para a conversam dos gentios e conservação dos christãos, e de não pouca desconsolação e angustia para os Padres..." (ibi-dem, p. 130).

Palavras que já vimos confirmadas, por exemplo, com os acontecimentos em redor da morte de Oda Nobunaga.

Juntamente com a difícil situação quotidiana, devida à situação política, o padre Valignano devia experimentar a grande, até total, diferença da vida, e mesmo da cultura no Japão e, como Fróis continua a escrever, a necessidade da acomodação a esta:

"Entendeo mais o P. ê Vizitador ver como era necessario em os nossos huma total transmutação da natureza quanto ao comer e costumes e modo de viver, por ser tudo oppozito e mui differente de como se procede em Europa." (ibidem).

"De Missione legatorum Iaponensium ad romanam curiam (...)", Eduardo de Sande. Em Macau, "domo Societatis Iesu", 1590.

Antes de escrever o Sumario del Japon Valignano escreveu, quando já estava no Japão, o Sumario Indico. 33 Neste estão inseridas também notícias com respeito ao Japão, as quais aparecem depois elaboradas e desenvolvidas no Sumario. Já ali encontramos mencionados expressamente, também pelo Visitador, os dois problemas apontados por Fróis. Explicando a divisão do Japão em 66 províncias, para esclarecer a situação do trabalho dos missionários, Valignano fala também da capital onde, como escreve, "reside el rei que era universal, mas que agora não é rei verdadeiro... porque se alevantaron sus gobernadores y cada uno de ellos tomó para sí lo que pudo...". 34

E, pormenorizando no mesmo capítulo a situação vigente, Valignano continua, com palavras semelhantes às de Fróis:

"... y por estar Japón dividido entre tantos señores y tantos reinos hay continuamente en él guerras y traiciones, ni hay señor que esté seguro en su reino, por lo cual Japón nunca está firme en un ser, mas antes anda siempre como uma rueda, porque quiem es agora un gran señor mañana no tiene nada, y cualquiera está de esta manera apostado que viniendo la ocasión de poder acrescentar su renta y la dignidad deja su señor natural y se liga con otros y le hace traición, no teniendo respecto a las veces ni a sus mismos padres..."35.

Imediatamente a seguir exprime o seu espanto sobre a diferença de costumes, tal como devia experimentar-se no Japão:

"Aunque el vestir, comer, ceremonias y en todas las demás cosas que hacen son tan diferentes de las de Europa y de todas las otras gentes que parece que de propósito estudiaron de hacer todo lo contrário de los otros," e delineia já ao mesmo tempo a necessidade de se aculturar e acomodar à vida no Japão:

"y así los que vienen de Europa para acá se hallan tan nuevos que han como niños de aprender a comer, a sentarse, a hablar, a vestir, a hacer las cortesías y todas las demás cosas que hacen, y por eso es imposible poderse ni en la India ni en Europa juzgar ni determinar bien las cosas de Japón ni aun se puede entender ni imaginar de la manera que pasan, porque acá corre otro mundo, otro modo de proceder, otras costumbres y otras leyes...".

Encontramos realçado também aqui o tema, que tem tão grande importância no Sumario, ou seja, a insistência sobre a diferença das culturas, já combinada com a intenção do Visitador de criar um espaço para tomar e justificar decisões particulares para a missionação do Japão, sublinhada na sua singularidade.

A opinião de Valignano de que o momento não era oportuno de nenhum modo para o envio de um bispo para o Japão, e de que não convinha que outras ordens religiosos chegassem ao Japão, que o Visitador refere com insistência no Sumario, sem dúvida era devida a vários factores, como por exemplo à problemática jurídica, no caso de um bispo36, ou à dificuldade dos cristãos japoneses entenderem as pequenas diferenças entre as ordens religiosas europeias37. E Valignano sublinha a necessidade pelos missionários de demonstrar a união cristã também entre si mesmos, frente às diversas seitas búdicas no Japão. Mas é impossível não ver que em ambos os casos é também sublinhada a extensão da diferença cultural, de um modo que introduz a acomodação quase como um privilégio dos jesuítas. Um bispo não deve chegar por agora ao Japão também:

"... porque las cualidades y modo de vivir de Japón en todo son tan contrarias no solamente a nuestras costumbres y modo de proceder, mas aun a nuestro natural... que es gracia pensar que un obispo extranjero se quiera acomodar a los costumbres, comeres, lengua, vida y modo de proceder de Japón, porque todo esto le ha de costar tanto que si fuera hombre no querrá obispar con tanta mortificación y si fuera santo no querrá ponerse a llevar tanta carga con tanto trabajo y distracción y sin poder hacer nada.... 38

Valignano explica ainda que um bispo nem teria ocasião de exercer a sua jurisdição nos territórios dos diversos senhores, nem seria fácil exercê-la entre os cristãos, habituados a uma grande liberdade.

Deste modo também, a ida de outras ordens é desaconselhada pela razão:

"... porque las cualidades, costumbres y modo de proceder de los japones son tan diferentes y contrarias a las nuestras, que no es aun Japón capaz del modo de proceder que tienen otras religiones de Europa, y como esto no se puede bien entender sino después de mucho tiempo y de mucha experiencia, viniendo ellas a Japón han de hacer primero los yerros que nosotros hicimos, que serán ahora peores, y no ayudarán para más que para deshacer lo que nosotros, después de haber tomado tanta experiencia de la tierra, passando por muchas tribulaciones, vamos ahora haciendo." (Sumario, pp. 145-146).

A acomodação à cultura e à vida no Japão fora vista, na sua necessidade e utilidade ao sucesso da missionação, já pelo mesmo Padre Francisco Xavier. Sabemos que Xavier decidiu mudar o seu vestir habitual, que era uma prova da sua modéstia, por um trajo mais rico, para ser melhor aceito pela sociedade japonesa, que associava um certo aparato à aparência de um clérigo, como testemunha anos depois também Valignano na sua Historia del principio y progresso de la compañia de Jesús en las Indias Orientales (1542-64).39

Pela altura em que Valignano chegou ao Japão, é possível falar de duas posições40 com opiniões diversas acerca do problema da acomodação. Fróis escreve, sobre o ano de 1570, que instado pelo padre Cosme de Torres, que foi o primeiro superior do Japão desde 1551 e que agora se sentia velho e impedido pelas suas enfermidades, o padre António de Quadros, provincial da Índia:

"... enviou a Japão para tomar este assumpto [sc. do Superior] o P. ê Francisco Cabral, portuguez de nação, theologo e professo de quatro votos, de quem a Companhia sempre se servio na India em cargos de superior e couzas de importancia. E em sua companhia veio o Pê. Organtino, italiano, natural de Bresa, professo de tres votos, antigo na religião e que já fora reitor alguns annos em Italia na caza de N. Senhora do Loreto que alli está da Companhia." (Fróis, Prim. P., C. 92.º, II, p. 327).

Organtino Gnecchi Soldo assumiu cedo uma atitude de estima e de admiração pela cultura do Japão, que se documenta em várias das suas cartas, nas quais não hesita em exprimir a sua alta opinião acerca dos Japoneses, e mais, também a sua prontidão de aprender com eles. Depois de uma estadia de oito anos, quase sempre na capital Miyako e seus arredores, escreve, "que se tirassem em Europa a ideia de que os Japoneses fossem gente bárbara", e pelo contrário que, "a fede posta a parte, os Europeus fossem muito bárbaros em comparação com os Japoneses", e ainda, "que ele, Organtino, aprendesse cada dia alguma coisa deles". 41 Já naquele tempo comia arroz em vez de pão42. Anos mais tarde Organtino escreve ainda, num momento em que a proibição oficial da missão estava promulgada já há dois anos, que "se sentia mais Japonês do que Italiano, porque Deus em sua graça o tinha transformado deste modo". 43 Esta atitude de Organtino vem também confirmada pelo padre Lourenço Mexia, que chegou como acompanhante do padre Visitador44.

A opinião do padre Cabral era quase diametralmente oposta à do padre Organtino. Não é este o lugar para entrar numa discussão mais profunda acerca da problemática aqui esboçada. Quero remeter para a apresentação e a análise dos factos contida no volumoso estudo de Josef Franz Schütte, também aqui já citado várias vezes, Valignanos Missionsgrundsätze für Japan.

A posição de Cabral fica evidente quando ele escreve pouco depois da sua chegada ao Japão.

"Na maneira de seu regimento são barba-risimos, porque cada hum em Japão tem mero e misto imperio sobre os que são seus criados, e por qualquer que lhe fazem lhes cortão a cabeça sen mais nada, e des ho maior Rei até o mais baixo lavrador tem poder pera matar seus criados, sen darem diso conta ne[m] rezão a ninguem. Prezão-se muito de lhes não entender ninguem o coração e de fazerem enganos. E uns aos outros são de muitos comprimentos e de sempre rirem e serem muitos disimulados."45

Ainda vinte anos depois, numa carta 1593, na qual critica os grandes gastos feitos pelos jesuítas com presentes a príncipes japoneses, e especialmente a Toyotomi Hideyoshi, já então perseguidor dos cristãos, Cabral faz menção da sua opinião, de que:

"os Japões sejam tam cobiçosos e tenham tanto artificio pera fazer o que pretendem..."46

Cito aqui estas frases das cartas do padre Cabral, não para criticar a sua pessoa, mas para demonstrar a problemática com a qual o padre Valignano se viu confrontado.

Como demonstram as cartas de Valignano e de outros missionários, as impressões mais importantes desta primeira visita do Visitador ao Japão eram a esmagadora diferença da cultura e, como Valignano descreve depois no Sumario, de todos os aspectos da vida. Valignano começa aqui com palavras de nós já conhecidas da versão do Sumario Indico, mas chega já à confirmação de que parece tra-tar-se de um mundo ao inverso:

"Tienem también otros ritos y costumbres tan diferentes de todas las otras naciones, que parece que estudiaron de propósito cómo no se conformar con ninguna gente... como corre en Europa..." (Sumario, pp. 33-34).

E, escreve Valignano, a diferença excede ainda a esfera das acções quotidianas (costumes das comidas, dos trajes, do comportamento social, da língua, da arquitectura, da enfermagem, da educação dos filhos etc.) chegando aos "mesmos sentidos e cosas naturais" (Sumario, p. 34).

Exactamente ao mesmo tempo Valignano exprime também o seu espanto sobre o facto de os japoneses serem um povo de nenhum modo menos civilizado do que os europeus, porque, como ilustra o Visitador na sua experiência do choque de culturas, se se tratasse de uma nação "bárbara" não seria estranho que os japoneses se apresentassem como um mundo "al revés" da Europa.

"Y lo que en este me admira es que en todas estas cosas se gobiernan como gente de mucha prudencia y polícia...". (ibidem).

Com certeza, nestas palavras deve já estar também contida a motivação do Visitador pela "acomodação" dos missionários à cultura japonesa. Neste contexto é preciso também fazer menção da grande importância que o Visitador atribui naquele momento à missão jesuítica no Japão, entre as outras actividades da Companhia. Numa carta com data de 15 de Agosto 1580, dirigida ao arcebispo de Évora Dom Theotonio de Bragança, Valignano escreve:

"Quanto as nouas que vossa S. deseja saber desta provincia da India... posso dizer a vossa Senhoria que esta empresa de Iapão sȯ he a maior que ha oje em dia em toda a igreja de Deos... & ainda que tenhaõo os Iapões muitas más manhas, em as quaes estão criados todauia se não pode neguar que não seja mui nobre, & capaz, & de muito engenho. Este anno se fizeraão muitos milhares de Christãos...".47

E informa o arcebispo ainda sobre a conversão do daimyo de Arima, sobre os favores feitos à Companhia por Nobunaga e sobre a construção dos seminários em Arima, Kyushu, e perto da capital, informações às quais já fizemos alusão.

Na passagem reproduzida em cima encontram-se observações que fazem recordar até notícias do primeiro tempo da missão no Japão, das cartas do Padre Francisco Xavier. Pode-se pensar, por exemplo, numa carta de Xavier que ele escreveu ainda antes de chegar ao Japão, de Malaca, na qual encontramos a declaração:

"Escreuem daquella terra os Portugueses, que ha grande disposição para se acrescentar nossa santa fé, por ser a gente muito auisada, & discreta, achegada a razão, & desejosa de saber."48

Ou pode pensar-se numa outra carta que Xavier escreveu quando já estava no Japão, que ficou famosa e é muito citada, exactamente pelo optimismo expresso nas palavras que a "gente" japonesa que se convertera ao cristianismo até aquele momento seria "a melhor até agora descoberta". 49

Entendemos da carta de Valignano aqui referida que o Visitador não era alheio a certas características negativas ("más manhas") dos japoneses. No Sumario enumera cinco particularidades negativas dos japoneses: "1.º que são dados a vícios sensuais, inclusivé à pederastia; 2.º que conhecem pouca fidelidade para os seus senhores e que há sempre traições e revoltas; 3.º que são mentirosos e que a dissimulação é estimada por prudência; 4.º que são cruéis, não só nas guerras mas que também se cortam facilmente a barriga e que as mães, inclusive as bikuni, as freiras, facilmente matam as suas crianças; 5.º que os japoneses gostam demasiado de vinho e de outras devassidões que pertencem a banquetes" (Sumario, pp. 27-33). No entanto é necessário apontar imediatamente que, de três destas cinco características negativas observadas nos japoneses, o Visitador diz que elas não existiam originariamente nos Japoneses, mas que entraram com a influência de um "preverso bonzo", que diz o mesmo como se escrevesse através do budismo (no primeiro caso), só depois senhores se levantaram contra o rei natural (no segundo caso), e ainda pela influência dos "bonzos" no caso do infanticídio. Valignano e os outros missionários estavam naturalmente conscientes que os bonzos representavam o clero de uma religião que entrara no Japão vinda da China. Cabe aqui dizer que Valignano afirma outra vez o originário "buen natural de los japones" (Sumario, p. 33) no caso do quinto mal. Esta anotação é necessária para o entendimento do desenvolvimento da apreciação do carácter dos japoneses no Sumario e nas Adiciones.

Já deve estar claro, que o Visitador se exprimiu cedo por uma "acomodação" consequente. O primeiro texto importante que resultou da primeira estadia de Valignano no Japão são os Advertimentos e Avisos acerca dos Costumes e Catangues de Jappão. 50 Programáticas são as primeiras frases do texto, que é um produto do trabalho comum dos Jesuítas e de pessoas, confidentes e conhecedoras das etiquetas, que pertenciam à corte de Otomo Yoshihige Sorin, de Bungo:

"Ainda que, pera os Padres e Irmãos procederem conforme aos costumes e catangues (costumes)51 de Jappão, fora necessario escrever muytas cousas, todavi[a] por agora summariamente se porão alguns avisos necessarios, com os quais poderão os Padres e os Irmãos com boa criança proceder, quanto pera elles basta, com os ditos catangues e costumes, e sem os quais não podem deixar de cair em muytos maos ensinos e descortesias, com muyto damno de sua propria estimação e da religião christão e com muito detrimento do fruito que se pode fazer assi com os Christãos como com os gentios."52

A seguir encontramos uma introdução de como podem os missionários "adquirir e conservar a sua autoridade" (Cap. I.) e ao mesmo tempo "fazer-se familiares com os christãos japoneses" (Cap. II). Mais, de como era necessário "fazer comprimentos" (Cap. III) e de observar a etiqueta, quando se servia "sacanzuqui e sacana [o vinho de arroz e acompanhamentos53] a forasteiros" (Cap. IV). Ambos estes capítulos tratam do acolhimento de visitantes nas casas dos Jesuítas no Japão. Nos restantes capítulos encontramos ainda regras do comportamento entre "Padres e Irmãos e outras pessoas nas casas", que respeitavam também ao comportamento entre portugueses de diversos graus na hierarquia interna da Companhia de Jesus, como também ao comportamento entre portugueses e japoneses que se encontravam nas casas na posição de dojuku54 (Cap. V) e tratavam de como "agasalhar pessoas de importância e dos presentes que se devia fazer nestes casos" (Cap. VI). E encontramos regras para a construção de "casas e igrejas no Japão" (Cap. VII).

Acho útil fazer aqui citação de um texto japonês, o Teppoki, composto nos anos noventa do século XVI ou no início do século XVII, no qual encontramos uma passagem que dá algumas das primeiras impressões sentidas pelos japoneses que entraram em contacto com europeus:

"Eles [os europeus, portugueses] conhecem em verdade, até certo ponto, a distinção entre senhor e servo; contudo, não sei se há entre eles ou não um rigoroso cerimonial de cortesia. Bebem em copo sem o oferecerem aos outros; comem com as mãos em vez de comerem com pauzinhos. Deixam-se arrastar pelas suas paixões. Não conhecem o sentido dos sinais da escrita."55

Penso ser até certo ponto possível ver, no modo da "acomodação" aconselhado nos Advertimentos, uma resposta à caracterização dos europeus, em suas fraquezas aos olhos japoneses, dada no Teppoki.

Não me parece importante apresentar aqui uma demonstração disso com todo o rigor e em todos os pormenores. Mas é difícil apontar uma concordância geral entre as indicações nos textos dos Advertimentos e do Teppoki, ainda que os Advertimentos tenham sido escritos anos antes do Teppoki, porque o texto japonês deve, sem dúvida, reflectir impressões fundamentais e, mais a mais, corroboradas através dos anos.

De qualquer modo, não será possível ver uma primeira concordância entre a observação de que os europeus portugueses fazem só "até certo ponto, a distinção entre senhor e servo" e os avisos dados no primeiro capítulo dos Advertimentos? "Primeiro se á de saber que, assim emtre os bonzos como emtre os seculares, há diversos graos de estados e dignidades..." (Advertimentos, pp. 122--123).

"Por isto comvem sempre guardar o proprio e porporcionado modo de proceder comvyniemte à sua calydade, não se alevantando mais por muyta que os senhores lhe fação, nem se abaixamdo..." (Advertimentos, 128-129).

O problema é determinar igualmente, nas ordenações para o modo de apresentação dos padres, irmãos e dojuku fora das casas, que deve ser conforme ao seu estado social respectivo. (Advertimentos, pp. 142-143), e ainda, sob outro aspecto, quando os Advertimentos tratam de distinção social, também de o observar entre os membros da Companhia de Jesús (Advertimentos, 234-235).

Uma concordância com a verificação de que entre os portugueses não há "um rigoroso cerimonial de cortesia" podemos logo detectar na frase do início dos Advertimentos, aqui já citada.

Mais clara ainda aparece a consonância, no que diz respeito ao nosso contexto, na parte em que os Advertimentos falam do procedimento dos membros da Companhia nas suas casas:

"Porque nãjo menos hé nesseçario guardar--se a devida ordem dentro que fora de casa... trataremos aqui alguma cousa do modo e cerimonias que em casa se há de ter." (Advertimentos, pp. 234-235).

"Bebem em copo sem o oferecerem aos outros", diz o Teppoki. O tema aqui aludido aparece nos capítulos III e IV dos Advertimentos, que tratam dos cumprimentos que se devem ter com visitadores de fora e mesmo "Da maneira que se a de ter en dar e tomar sacanzuqui e sacana" (Advertimentos, pp. 214-215ss), respectivamente e em vários pontos. Deste modo, lemos:

"Quando vier o sacanzuqui, a estes ham os Padres de mandar tres veses antes que o tomem, convidando-o [i. e. o ospede] a que tome primeiro, e se o tomar, está bem e não vay nisso nada, mas se todavia aporfiar o hospede que o Padre o tome primeiro, depois de mandar a 3ª vez, o deve tomar sem mandar mais..." (Advertimentos, pp. 190-191).

O tratamento apresentado pode ser visto ainda mais pormenorizadamente. Encontramos uma referência à prática de oferecer e tomar o sakazuki com pessoas de um alto estatuto na hierarquia da sociedade japonesa (Advertimentos, pp. 196-197), como também outra recomendação a pormenorizar este aspecto:

"Primeiramente se há sempre de advertir quem hé a pessoa com quem elles [i. e. os nossos] tratão, se hé de mais qualydade que ele ou ygual ou de menos, pera os tratar da maneira que convem, porque os que forem de mais qualydade sempre ham de tomar primeiro o sacansuque..." (Advertimentos, pp.216-217).

O Teppoki continua com a observação de que os europeus "comem com as mãos em vez de comerem com pauzinhos". Como "resposta", encontramos nos Advertimentos primeiramente e com respeito ao serviço das pequenas comidas ou sobremesas do sakana, a diferenciação entre sakana que se tomam com a mão ou com os "faxas" [hashi= pauzinhos] (Advertimentos, pp. 228-229) e pouco depois vem regulado o tratamento de hóspedes nas casas da Companhia:

"A lª [i. e. cousa a saber] hé a limpeza que há de aver não somente nas cousas que se comem, mas também nas mesas e vasos, que todos am de ser limpos e às vezes alguns novos, e as faxas não an de ser nunca usadas, porque se fas imjuria aos hospides, tratamdo-os doutra maneira." (Advertimentos, pp.254-255).

E não acho sem interesse referir que os jesuítas são também exortados a praticar o modo japonês de comer na sua vida quotidiana porque:

"... comendoce ordinariamente em casa chara jappão, se aprenderá o que basta per não serem immodestos nem descorteses no comer..." (Advertimentos, pp. 232-233).

A questão dos pauzinhos foi antes de tudo uma questão de limpeza. Esta ocupa também, sob vários aspectos, largo espaço no Sumario, e nas Resoluciones, as quais tiveram origem igualmente durante a primeira estadia do Visitador no Japão. Estas resoluções representam respostas a problemas e propostas em forma de perguntas na consulta de Nagasaki, ocorrida antes de o Visitador ter partido para Macau, com referências já antecedentes em Miyako/Azuchi, e Bungo/Usuki. Na resposta à pergunta sobre o comportamento na "acomodação" às comidas encontramos nas Resoluciones a exortação de que a "acomodação" ao modo japonês é, entre outras coisas, necessária também pela razão de que não era possível manter a limpeza requerida. Deste modo os missionários deviam, por exemplo, deixar de comer em mesas altas, e deviam acomodar-se às mesas baixas de estilo japonês, porque não era possível mudar de cada vez as toalhas de mesa e os guardanapos, como era possível na Europa, e porque as manchas, inevitáveis, causariam grande fastídio nos japoneses56. Neste exemplo torna-se claro que se tratou, aqui como em muitos outros casos, das oposições e diferenças entre os costumes habituais na Europa e no Japão.

Em muitas partes da Europa daquele tempo usava-se lavar as mãos, não só no início mas várias vezes durante uma refeição, isto combinado com uma substituição dos guardanapos de cada vez.

Na complexidade das refeições, para apontar o alcançe da problemática, surgiu também a necessidade de renunciar a certas comidas, especialmente se estavam em contradição com preceitos religiosos dos japoneses. Já Francisco Xavier tinha levantado este problema (Fróis, Prim. P., C. 4.º, I, pp. 34-35). Mas nos anos antes da chegada de Valignano era normal para muitos missionários, não só comer carne de vaca, mas mesmo ter os animais, porcos, cabras e vacas, perto das casas da Companhia. E isso representava não só um comportamento que era inaceitável aos olhos das regras búdicas como também uma violação do sentido da limpeza dos japoneses.

No Sumario o Visitador fala mais em geral. Neste texto refere-se às resoluções dadas em forma mais pormenorizada, como faz explicitamente no caso das resoluções com os números 17, 18 e 19 que tratam dos problemas das comidas, da extensão da acomodação às cerimónias dos clérigos búdicos e do traje dos missionários.

A resposta à pergunta 17, "Del modo que han de guardar los membros en el comer en Japón"57 contém entre outras coisas a instrução de que no futuro não fosse introduzido gado, como porcos e vacas, em regiões onde a população cristã ou não, não estivesse habituada à comida destes animais. Só em lugares, continua o texto, onde a gente, através dos contactos com os portugueses, já conhecesse bastante do seu modo de viver, eram por vezes aceitas refeições de carne. Mas aparece também a indicação de que sopas de carne de vaca deviam ser servidas em pratos especiais para estas ocasiões e não nos recepientes destinados à sopa japonesa, cozinhada sem carne, (isso é nos goki ou nos shirugoki)58:

"... para que no puedem los goki y shirugoki oliendo después cuando en nuestras casas comen japones". 59

Não deve esquecer-se mencionar que Valignano, na discussão apontada, que foi, como deve ficar claro, uma questão não só religiosa como também estética, refere sempre, repetidamente, como para fundamento da sua argumentação, as cartas do apóstolo Paulo, como por exemplo no caso da opinião proferida:

"... quem come não despreze ao que não come; e o que não come não julgue o que come..." (Paulo).60

Que os japoneses tinham um sentido de limpeza muito sensível foi um facto com o qual também outros viajantes europeus desta época se viram confrontados. Fernão Mendes Pinto descreve na sua Peregrinação como ele e os outros portugueses que o acompanharam foram convidados pelo "Rey do Bungo" (i. e. o daimyo Otomo Sorin), e quando lhes serviram comidas ricas e bem apuradas.

"... nos nos entregamos todos no q nos punhaõ diante bem á nossa vontade, porem os ditos & galantarias q as damas nos dezião, & as zomberias que fazião de nȯs quando nos viraõ comer com a mão, foraõ de muyto mór gosto para el Rey & para a Raynha q quantas autos lhe puderão representar, porq como toda esta gente custuma a comer com dous paos, como já por vezes tenho dito, te por muyto grãde çugidade fazelo com a maõ como nos custumamos."61

Como já vimos, o Teppoki anota ainda: "Deixam-se arrastar pelas suas paixões". Nem para esta observação os Advertimentos falham em procurar algumas indicações. É possível detectar nestas palavras aspectos da percepção e da apreciação recíprocas entre japoneses e europeus que se estendem a um campo mais complexo e profundo. Mas de momento basta referir que, para todos os membros da Companhia, até os superiores nas casas no Japão, devia valer a norma de comportar-se de forma bem educada e ao modo dos japoneses. Pois é sublinhado que era necessário excluir "como peste prejudicial resentimentos e pontos quando nisso [i. e. na boa criança] falta." E é também acrescentado que os superiores, mesmo quando repreeendem outros que cometam faltas e os exortem a seguir as "cerimónias de Jappão", devem comportar-se com "prudencia e discrição" (Advertimentos, p.244).

No que diz respeito à observação de que os europeus "não conhecem o sentido dos sinais da escrita", o que faz alusão ao facto de não conhecerem os caracteres chineses, os kanji, não é para surpreender que nos Advertimentos não exista um programa que trate deste problema. Pois neste caso não se trata de um elemento directo da "acomodação", que é a temática central do texto. Porém, é muito conhecido que Valignano favoreceu decididamente o estudo da língua para um trabalho efectivo e para o avanço na missionação. Fróis faz menção disso na descrição da primeira chegada do Visitador. Ali descreve como o Visitador esteve consciente da obrigação de aprender a língua62.

Do já mencionado prelo introduzido no Japão por iniciativa do Visitador sairam também textos para o estudo do japonês pelos missionários, como uma versão do texto épico do Heikemonogatari e a gramática do Japonês, a Arte da lingoa de Iapam, do padre João Rodrigues Tçuzzu.

O Visitador Valignano foi sem dúvida uma das pessoas que fomemtaram a "acomodação" no Japão mais programaticamente e com decisões que tiveram consequências para toda a missão jesuítica. Mas é interessante que, por exemplo quanto aos problemas apresentados nos capítulos I e II dos Advertimentos, a questão da autoridade e familiaridade evidencia como os problemas essenciais da missão no Japão foram pre-pensados no seu núcleo, logo desde o primeiro tempo da missionação. O comportamento dos padres no seu esforço para adquirir autoridade e familiaridade aparece mencionado, pelo menos indirectamente, igualmente numa carta do Padre Cosme de Torres de 1551, e é de presumir que Cosme de Torres era influenciado pelo pensamento de Francisco Xavier, cujo procedimento aparece muitas vezes mencionado nesta carta do padre Torres, que já naquele momento escreveu:

"Hão de ser os padres mui prudentes, para se saberem accomodar com a gente da terra, a qual cousa he mui difficultosa, porque ás vezes he necessario mostrar exteriormete seueridade, & ás vezes porse debaixo de seus pés, & para conhecer isto, he necessario grande prudencia."63

Encontramos igualmente a ideia da prudência, que se integra também no programa da "acomodação", desenvolvida de diversas formas nas cartas e outros textos de Valignano, por exemplo quando escreve que os padres, chegados ao Japão, tinham de aprender como meninos, ou quando chama a atenção dos missionários para o facto de que acções que lhes possam parecer indiscutíveis ou naturais, podem ocasionar nos japoneses reacções de nenhum modo previsíveis (Advertimentos, p. 172).

Neste contexto deve ser pelo menos mencionado que naquela época das grandes viagens marítimas, e dos encontros de várias culturas e civilizações, surgiram também reflexões teóricas sobre a diversidade dos costumes e do comportamento humano. Na Apologie de Raimond Sebond de Michel de Montaigne lemos a verificação "Il n'est chose en quoy le monde soit si divers qu'en coustumes et loix."64; e Pierre Charron observa na sua obra De la Sagesse: "Il n'y a rien en ce bas monde, ou il se trouve tant de difference qu'entre les hommes, et differences si eslongnées en mesme subject et espece."65. Mesmo perante este fundo a atitude de Valignano e de outros missionários sobre a"acomodação" e a sua apreciação da cultura e civilização japonesas, as quais se manifestam por exemplo também no Tratado de Fróis, merecem extrema atenção e reconhecimento.

AS ADICIONES REPENSAR AS EXPERIÊNCIAS

Já foram apontadas algumas das dificuldades da situação política que se apresentou ao Visitador quando chegou pela segunda vez ao Japão. No "Proemio" das Adiciones, o relatório no qual completa, e corrige em certos pontos, as suas experiências documentadas no Sumario, Valignano avisa que tratará, além de "muchas cosas mudadas y variadas... por la mudanza del gobierno y senorio temporal de Japón", outras coisas que resultaram de novas experiências66.

No início das Adiciones Valignano refere informações sobre a nova situação na política interior do Japão e explica a ascensão de Hideyoshi como senhor quase absoluto. Encontram-se também notícias sobre o desenvolvimento do conhecimento da geografia japonesa pelos europeus.

Foi igualmente já esboçado como se complementou também uma nova fase na missão sob o primeiro vice-provincial Gaspar Coelho (1581/82-1590) que foi sucessor do superior Francisco Cabral (1570-1581). Não me é possível tratar, por exemplo, do comportamento discutível de Coelho e de Fróis durante uma audiência com Hideyoshi no castelo de Osaka em 1586, pouco antes da campanha decisiva do kampaku em Kyushu. Um objecto problemático deste encontro foi a questão de os portugueses porem ou não à disposição navios para a guerra no sul do Japão. Um outro assunto problemático naquele momento foram observações de Coelho, com as quais ele prosseguiu mesmo depois de ser repreendido por Valignano, sobre o envio de um suporte militar das Filipinas para o Japão, com o estabelecimento de soldados europeus no Japão. Uma tal atitude, mesmo que só aludindo à possibilidade de uma interferência militar ibérica (europeia) qualquer, devia agravar ainda mais a situação dos missionários no Japão, já bastante difícil depois da proclamação do édito de 1587.

Na mesma época, sob o vice-provin-cial Coelho, fora convertido um grande número de irmãos japoneses. No Sumario, o próprio Valignano tinha sublinhado a necessidade e a importância de criar seminários para educar japoneses para serem depois admitidos na Companhia e também para preparar a formação de um clero japonês. Nas Adiciones, repete que era indispensável receber japoneses na Companhia, e ao mesmo tempo mostra-se também crítico diante da decisão de Coelho, que admitira até sessenta irmãos. O Visitador justifica a sua atitude mais cautelosa e reservada:

"... y porque me pareció que fuera en recibir más liberal y apresurado de lo que convenia y que nos podría salir mal henchiéndose la Compania de gente tan nueva sin tener de ella más experiencia,... no recibí más que los cuatro hidalgos que fueron a Roma y un hermano de Don Mancio,... y a otros cinco despedi de la Compania..." (Adiciones, pp. 562-565).

No fundo a opinião do Visitador, também nas Adiciones, não se modificou consideravelmen-te. Ele continuou a não achar possível vetar a admissão de japoneses na Companhia, como do mesmo modo defendeu ainda que eram necessários clérigos nativos. Mas parece que via agora mais dificuldades para a missão e o futuro da igreja no Japão, não só por causa da situação política, como também por causa de certas características dos japoneses. Nas Adiciones Valignano realça e critica mais acerbamente faltas no comportamento dos japoneses e na convivência deles com os europeus. Deste modo as disposições e o carácter — como a ele se apresentaram — dos japoneses a receber e educar na Companhia foram para Valignano um dos problemas mais graves durante a sua segunda estadia no Japão.

Retratos dos quatro nobres de Kyushu, por Urbano Monte, durante a sua visita a Milão, em Julho de 1585

Valignano escreve que ainda durante a sua primeira visita os jesuítas tinham pouca experiência de tratar com os irmãos japoneses e que os dojuku nos seminários eram ainda muito jovens. Continua que também nesse momento lhe parece que a experiência ainda não basta para chegar a um juízo definitivo. Mas com esta reserva explica, depois, que os dojuku, quando chegam aos vinte anos, muitas vezes deixam de permanecer nas casas da Companhia porque não vêem possibilidades de avançar quando não são recebidos na Companhia (Adiciones, p. 572), e querem buscar outras possibilidades fora das casas dos jesuítas (Adiciones, pp. 560 e 566). Neste contexto Valignano enumera, como defeitos verificados nos japoneses no tempo passado até aquele momento, que não entram com "verda-dero espiritu de de-voción", uma falta que mostra, como Valignano escreve, que são facilmente distraídos; e menciona também que quando eles fazem as suas prédicas sente-se que o fazem mais para um efeito externo do que por serem verdadeiramente movidos (Adiciones, p. 573). Acrescenta que não conhecem bastante mortificação no que diz respeito ao seu próprio juízo. Daí resultam, como explica Valignano, divergências quando os japoneses exigem aos Padres que se dirijam ao modo japonês.

E como terceira falta Valignano aponta que os japoneses nas casas dos jesuítas não mostram a "unión y amor de voluntad y corazón" que os missionários desejam reconhecer neles, o que conduz também a grandes diferenças, que ele observa não só nos costumes mas até no modo de sentir e entender (Adiciones, p. 573).

Uma outra dificuldade existia, como relata Valignano, por exemplo, na forte vontade dos japoneses em alcançar alguma posição que oferecesse honras, um certo grau na sociedade ou alguma comodidade (Adiciones, p. 567). Como remédio para este problema Valignano propõe a criação de diversos graus que seria necessário alcançar mesmo dentro da Companhia antes de chegarem a irmãos.

Na sua análise, Valignano sublinha o facto de que a religião cristã deve ser considerada como ainda muito recente no Japão, fala da necessidade de esperar e do tempo que o processo da consolidação da fé cristã precisa. O que já escrevera explicitamente no Sumario: que uma ajuda directa do Senhor com milgares não seria de esperar "... porque como nuestro Senor no concurre con mi-lagros, como hacía en la primitiva Igle-sia" (Sumario, p. 241); disso faz também alusão nas Adiciones. Quase no mesmo passo fala nitidamente da necessidade de "desbastar" os irmãos japoneses admitidos na Companhia, isto é, de "lhes tirar as suas ignorâncias" e de imprimir neles a perfeição desejada pelos missionários (Adiciones, p.570).

"Tratado dos Embaixadores Japões que forão de Japão á Roma no anno de 1582"

Neste lugar não é possível resumir toda a argumentação das Adiciones. Mas devem ser referidas pelo menos algumas outras observações do Visitador que resultaram das suas reflexões na segunda estadia no Japão. Por exemplo, observa também, como já escreveu no Sumario, que os japoneses representam para ele uma nação muito apta para o entendimento do ensino cristão e que os irmãos como os dojuku guardam os dez mandamentos (como também a sua limpeza) com castidade. Para ambas estas qualidades aponta o sentido de honra dos japoneses bem como a sua disposição em subjugar-se servindo os seus senhores. No mesmo contexto menciona que os japoneses:

"... ni tienen las pasiones ni las aficiones tan fuertes y vehementes como tenemos nosotros" (Adiciones, p. 572).

E ainda que no mesmo momento faça então a já apontada restrição de que, se não forem recebidos na Companhia, muitos dos dojuku deixam o seu serviço tão louvado nas casas jesuíticas, Valignano indica no passo seguinte que os que vêm da Europa podem aprender com os irmãos japoneses que se encontram no noviciado, no que diz respeito ao seu modesto comportamento ou ao seu considerado modo de falar (ibidem).

No que diz respeito à questão de aprender com os japoneses e à "acomodação", Valignano admite que os Padres, que como estrangeiros às vezes desconhecem o cerimonial japonês, devem acomodar-se em certas e dadas situações, porém acrescenta igualmente aqui que os japoneses não têm tantas experiências do mundo como os padres europeus e que estão muito afeiçoados ao seu modo de viver japonês. Isso é, segundo Valignano, a causa pela qual "... no tienen tanto conocimiento de espiritu ni de lo que conviene en la religion, ni saben distinguir las cosas en que debemos y podemos acomodarnos a los japones de aquéllas en que los japones se deben acomodar a nosotros..." (Adiciones, p.575).

Tal como outros problemas, o processo da "acomodação" dos jesuítas conhece, pois, um repensamento nas Adiciones. No Sumario, bem como nos Advertimentos, o problema surgira entre outras coisas porque os missionários tinham reconhecido que deviam, de certa maneira, tomar a mesma posição que tinham os clérigos búdicos aos olhos da população, o que implicou também uma consideração bastante do seu comportamento exterior. Entrou nos Advertimentos por exemplo a admoestação de que os padres, respondendo a cartas recebidas, não deviam escrever sempre pessoalmente, mas às vezes só através dos irmãos ou dojuku, ou encontrou-se a indicação de que o superior do Japão e os superiores das três partes da missão do Japão podiam, no caso de certas visitas, viajar em liteiras com usavam também os Choro ou Superiores das seitas búdicas (Advertimentos, pp. 144-147)67. E é ainda interessante que o Visitador, durante a primeira visita, não só pensou até na possibilidade de comparar a posição dos superiores da Companhia com os superiores das seitas búdicas, mas chegou a ter a ideia de criar uma correspondência directa entre a nomenclatura búdica e a dos jesuítas para designar a hierarquia, uma ideia que, porém, encontrou rejeição em Roma68.

Surge com nitidez que o problema não foi novo, e até que ponto o Visitador, e certamente outros dos missionários, tinham avançado já alguns dez anos antes. No texto das Adiciones, porém, fica também claro que, além da acepção de uma acomodação até um certo nível, o problema apareceu novamente e com sentido crítico. Igualmente, mostra--se uma certa dificuldade em apreciar o carácter dos japoneses, mesmo se Valignano estivesse reflectindo sobre as causas do comportamento social dos japoneses, que é como comenta, condicionado também pelo facto de que "la vida y la muerte depende todo de la libre voluntad de sus senores" (Adiciones, p. 577). O alcance da problemática aparece por exemplo no facto de que, se Valignano, como foi apontado, menciona que o comportamento dos japoneses em comparação com o comportamento dos europeus não é tão violento, em sentido positivo, poucos passos depois escreve também que tratar com os japoneses nas casas jesuíticas às vezes se provou ser difícil, porque os japoneses tinham o costume geral de esconder o que sentem dentro de si, sem se queixar, e que "así son facilmente oprimidos en su corazón" (Adiciones, p. 575). E esta observação é ainda acrescentada pela explicação acerca do facto de nos japoneses se encontrar uma certa dissimulação natural e de, embora sendo religiosos, não abrirem facilmente o seu coração. Mas no mesmo lugar Valignano não deixa de escrever: "Mas, como digo, hasta agora, universalmente no hallamos en cosas essenciales encobrimento en ellos" (Adiciones, p. 579).

Naturalmente, o Visitador não foi a única pessoa que observou a índole dos japoneses criticamente e as suas explicações, com certeza, reflectem tam-bém a apreciação, ou a difícil apreciação de outros missionários europeus. Vale a pena citar outra vez duas observações do Tratado de Fróis que podem ser vistas como resultado de considerações sobre o mesmo assunto no estilo concentrado, típico deste pequeno trabalho:

"Antre nós ho rizo fingido se tem por liviandade; em Japão por primor e boa condisão."

"En Europa porquão clareza nas palavras e fogem da eqivocasão; em Japão as eqivocas hé a milhor lingoa e são as mais estimadas."69

Mas o Visitador entendeu que a igreja no Japão não tinha futuro sem um clero indígena.70 Também não faltam palavras de Valignano que demonstram bem o seu pensamento, baseando--se na sua experiência, expectativas abertas para desenvolvimentos positivos. Deste modo, modificando o seu pensamento em alguns pontos e referindo-se para isso ao pouco conhecimento dez anos atrás, diz igualmente que também neste momento pensa que pode fazer outros conhecimentos para melhor entender o modo de proceder na missão (Adiciones, p. 569).

Encontramos também anotações positivas que podem indicar um certo optimismo do Visitador, por exemplo quando, falando de disposições boas nos jovens japoneses para uma educação pelos missionários, considera mais uma vez o desenvolvimento desde o tempo da igreja primitiva e a consolidação da igreja, fala da sua esperança que no futuro a religião cristã virá a fortificar-se igualmente nos irmãos japoneses e escreve:

"... no puedo dejar de esperar que hayan con el tiempo de ser muy buenos y perfectos religiosos" (Adiciones, p. 581). Estas palavras, porém, não devem enganar acerca do facto de que nas Adiciones e no desenvolvimento das ideias, já estabelecidas uma primeira vez no Sumario, existe uma problemática, mais profunda do que a aqui analisada, por exemplo com respeito a uma apreciação imparcial de uma cultura e civilização, de uma mentalidade e de comportamentos encontrados num mundo tão diverso como o do Japão, e/ou com respeito ao espírito, às intenções e ao objectivo da "acomodação". Para chegar a resultados quanto a tais perguntas seria necessário também uma consulta de outros textos, também de Valignano71.

Para referir mais alguns aspectos das Adiciones pode ser mencionado que Valignano realça, por exemplo, entre muitas outras coisas e argumentos, a importância do estudo da língua latina nos seminários e explica como é importante fazer uma separação nítida do estudo do latim e do japonês, por causa da tendência dos japoneses para um estudo da sua língua própria, porque quem sabe bem a sua língua materna no Japão pode alcançar uma alta consideração e grande estima na sociedade japonesa. Em nosso contexto é preciso pensar, por exemplo, na função do clero búdico, de possuir e transmitir conhecimentos dos textos tradicionais. E não deve esquecer-se que os textos búdicos representavam os textos mais difíceis e que a faculdade de os ler contribuiu de modo decisivo para a alta posição do clero búdico.

No Sumario Valignano escrevera que eram precisos livros especiais para o ensino nos seminários japoneses. Nas Adiciones já pôde referir-se a títulos em latim que tinham surgido, em Macau, do prelo que ele mesmo mandara trazer da Europa para o Japão, como o Christianni Pueri Institutio72 e o Dialogus, que já foi mencionado em outro contexto.

Retrato póstumo de Tokugawa Ieyasu (1542-1616). (Rinno-ji, Nikko).

É interessante que Valignano não exclui, para o ensino do latim, "un libro de las Orationes de Cicero", enquanto no Sumario se lê ainda que os missionários devem evitar textos com conteúdos e opiniões heréticas para não confundir os cristãos do Japão na sua fé.73

A TERCEIRA VISITA

No dia 5 de Agosto de 1598 Valignano chegou pela terceira vez ao Japão. Um mês e meio depois, Hideyoshi faleceu, no dia 18 de Setembro (no mesmo ano em que morreu também Filipe II de Espanha, I de Portugal). Desta vez Valignano não tinha a função de Visitador da Índia, como nas primeiras visitas, mas a função de Visitador do Japão e da China, subordinado directamente ao padre geral da Companhia de Jesus74.

Os acontecimentos histórico-políticos, tal como o que acontecia na missão, nos anos desde 1592 — acontecimentos que começaram a desenvolver-se já durante a segunda estadia do Visitador no Japão — e as ocorrências nos anos após a morte do kampaku, são tantos que devo restringir-me à enumeração de alguns factos que esclarecem um pouco a situação.

Nos anos 1596-1597 dera-se o incidente com a nau São Filipe que na sua viagem de Manila a Acapulco naufragou em Shikoku, um incidente grave que teve papel decisivo no início da perseguição sangrenta que ocasionou a morte dos primeiros 26 mártires, em 5 de Fevereiro de 1597.

Durante a estadia de Valignano ocorreu ainda a batalha de Sekigahara em 1600, importante para a conclusão das continuadas guerras intestinas e para a história do Japão dos duzentos e cinquenta anos seguintes.

Exactamente no ano em que Valignano partiu novamente para Macau, a 15 de Janeiro de 1603, Tokugawa Ieyasu (1542-1616), adquirindo o título de shogun, estabeleceu deste modo a dinastia dos Tokugawa (reinando no país com 14 shogun até ao ano de 1868) sob a qual recomeçou poucos anos depois, e cada vez mais agravada, a perseguição e o fechamento do país aos Europeus dos países católicos da Europa de sudoeste.

Pintura mural da Biblioteca do Vaticano ilustrando o cortejo da embaixada dos quatro nobres de Kyushu ao Papa Gregório XIII, em Roma.

No mesmo ano de 1600 chegaram ainda os primeiros holandeses da famosa nave Liefde, que foram seguidos poucos anos depois pelos ingleses. Neste período Tokugawa Jeyasu tentou também estabelecer relações comerciais entre o Japão de leste, Edo e o Kanto, e Luzon (as Filipinas), entre outras formas através do frade franciscano Jerónimo de Jesus.

É muito importante sublinhar que o número dos cristãos começou a elevar-se, de um modo até então inédito, já em 1598/975.

Ainda em 1600, depois da batalha de Sekigahara, Ieyasu recebeu benevolamente o padre Organtino e pouco depois o padre J. Rodrigues Tçuzzu e permitiu que os jesuítas retomassem a sua missão nas três cidades, Kyoto, Osaka e Nagasaki. Como escreve p. ex. o professor Gonai, é de supor que a momentânea benevolência de Ieyasu para os jesuítas deva ser vista em conexão com o seu interesse económico, como aconteceu também no caso de Hideyoshi. Nessa altura o comércio com Manila não funcionou como se tinha esperado e no mesmo momento reconheceu o papel dos jesuítas nos contactos comerciais com Macau76.

Mudanças de grande alcance aconteceram igualmente com respeito directo à missão jesuítica e à sua organização, as quais correspondiam também às ideias de Valignano proferidas nos textos apresentados até aqui. Já em 1592 chegara ao Japão o primeiro frade dominicano Juan Cobo como embaixador do governador espanhol das Filipinas e no ano seguinte chegaram os primeiros franciscanos igualmente das Filipinas. Deste modo começava a acabar o monopólio dos jesuítas na missionação do Japão, que fora ainda confirmado em 1585 pelo papa Gregório XIII (1572-1585), i. e. no mesmo ano em que recebeu a embaixada dos quatro jovens, mas que foi gradualmente revogado pelos Papas seguintes, Sisto V (1585-1590), que foi geral dos franciscanos, e Clemente VIII (1592-1605)77.

Nos seus escritos Valignano tinha exarado também a sua opinião contra a residência de um bispo no Japão. Mas já em 1596 chegara o primeiro bispo, Pedro Martins, ao Japão (o seu antecessor, o primeiro bispo consagrado para a diocese de Funai, estabelecida em 1588, morreu ainda na viagem para o Japão) e o seu sucessor, Luis de Cerqueira, chegou em 1598, no mesmo navio de Valignano78.

Em 1601 foram consagrados os primeiros dois sacerdotes japoneses, e assim foi concretizada uma ideia que Valignano tinha sempre apoiado.

Um escrito importante da terceira visita de Valignano, entre outros, resultou também do texto que é conhecido sob o nome Apologia. 79Neste texto, que foi começado já em Macau, Valignano discute os problemas e questões coevas da missão no Japão, entre os quais surgira a repreensão das ordens mendicantes contra as actividades mercantis dos jesuítas, a qual é rejeitada neste texto por Valignano. Mas deve ser já nítido que as alterações político-históricas e os desenvolvimentos na missão são complexos, de tal modo que o período apontado, que já pertence ao novo século, deve ser tratado em outro lugar80.

NOTAS

1 Entre parênteses os nomes dos "nengo": as designações, para as eras na história japonesa, que variam de poucos anos, como a era Bunroku, 1592-1596, ou vinte e mais anos, como as eras Tensho, 1573-1591//2 e Keicho, 1596-1615. "Nengo. Era, nome geral das Eras que em Iapão se varião muitas vezes." "Vocabulário da Lingoa de Iapam com adeclaração em Portugues, feito por Algvns Padres, e Irmaãs da Companhia de Iesv. com Licença do Ordinario, & Superiores em Nangasaqui no Collegio de Iapam da Companhia de Iesvs. Anno M. D. CIII. Svpplemento deste Vocabulario impresso no mesmo Collegio da Cõpanhia de Jesv com a sobredita licença, & approuação. Anno. 1604." Edição facsimilada, com uma introdução (em japonês) de Kamei Takashi, Tokyo, Benseisha (1973). "A era dos christãos nunca se altera do nacimento de Christo até ao fim do mundo; a era de Japão se muda seis e 7 vezes na vida de hum rey." Luis Fróis S. J., Kulturgegensätze Europa —Japan (1585). "Tratado em que se contem muito susinta e abreviadamente algumas contradições e diferenças de custumes antre a gente de Europa e esta provincia de Japão." Erstmalige, kritische Ausgabe des eigennhändigen portugiesischen Frois-Textes von Josef Franz Schütte S. J., Tokyo 1955, MNM 15, Capítulo X.17, pp. 216--217.

2 "Carta do padre Lourenço Mexia, pera o padre geral da Companhia de IESV, do Iapão no anno de 1580", aqui citada segundo: "Cartas qve os Padres e Irmãos da Companhia de Iesus escreuerão dos Reynos de Iapão & China aos da mesma Companhia da India, & Europa, des do anno 1549 até o de 1580. Nellas se conta o princípio, socesso, & falsos ritos da gentilidade. Impressas por mandado do Reuerendissimo em Christo Padre doom Theotonio de Bragança Arcebispo d'Eurora. Impressas com licença & approuação dos SS. Inquisitores & do Ordinario. Em Eurora por Manoel de Lyra. Anno de M. D. XCVIII; Primeiro Tomo e Segvnda Parte, Edição Facsimilada (2. Vols.), Tenri Library 1972 (daqui em diante cit. Cartas I, II) Vol. I, folh. 475v.

3 Ibidem, folh. 475v.

4 Ibidem.

5 Neste contexto vd. p. ex. Johannes Laures S. J., "Nobunaga und das Christentum", Tokyo, MNM (Nº 10), 1950, pp. 44-45.

6 Luis Fróis, "Historia de Japam", Seg. P., C. 31º, Ed. por José Wicki S. J., Vols. I-V, Lisboa 1976-1984, Vol. III, p. 256. Aqui e no seguinte cito sempre esta edição preparada por J. Wicki; a seguir vou dar, no texto contínuo, só as indicações respectivas para a Primeira/Segunda Parte, o Capítulo e o Volume com as páginas.

7 Organtino Gnecchi Soldo, 1532-1609, é também conhecido como o apóstolo de Miyako. Aqui e nos arredores da cidade passou a maioria dos anos da sua estadia no Japão. Comprovação da sua popularidade, é também o próprio facto que com mais probabilidade é o seu nome que aparece em forma deturpada Urugan bateren, Organtino Padre, no "Kirishitan monogatari," um dos contos anticristãos da primeira metade do século XVII, para designar o padre que visitou Nobunaga em Azuchi; vd. p. ex. George Elison, "Deus Destroyed. The Image of Christianity in Early Modern Japan", Cambridge Mass. 1973, p. 325 e as respectivas notas.

8 Fróis escreve: "Ajudou tambem muito para se fazer logo a obra [i. e. a construcção do seminário movido para Azuchi], huma mui grande quantidade de madeira que tinha o pê. Organtino lavrada no Miaco para lá fazer humas cazas e seminario para os meninos, conforme ao que o Pê. Vizitador lhe tinha escritto." "História", Seg. P., C. 25º, Ed. Wicki, Vol. III, p. 193.

9 Neste contexto vd. p. ex. também: Gonoi Takashi, "Nihon Krissutokyoshi" ("Historia da Igreja Cristão no Japão"), Tokyo, Yoshikawa kobunkan, 1990, pp. 122-124.

10 Gokinai é a designação das cinco províncias nos arredores da capital Miyako (Kyoto). "Goginai. Parte principal de lapão que cõtem cinco reynos." "Vocabvlario", 1603/04, Svpplemento, folh. 354r.

11 Uma descrição do esplendor do seminário encontra-se na "Historia", Seg. P., C. 25º, III, pp. 193-194.

12 A crise entre os Araki e Oda Nobunaga: p. ex. vd. Johannes Laures S. J., "Takayama Ukon und die Anfänge der Kirche in Japam", Münster 1954, pp. 85-111; Engelbert JoriBen, "Das Japanbild im "Traktat" (1585) des Luis Fróis", Münster 1988, pp. 148-149.

13 Vd. p. ex.: Laures, Takayama Ukon, op. cit., pp. 92ss., e neste contexto também Gonoi Takashi, Nikon Kiristukyoshi, op. cit., p. 99.

14 Ibidem, pp. 261-262. O evento deve ter sido verdadeiramente tão impressionante, que Fróis faz menção destas duas mil tochas também no Prólogo da "História" na sua enumeração de dez exemplos para ilustrar a dificuldade de transmitir uma descrição apropriada do mundo japonês tão diferente para o leitor europeu. "História", Prim. P., Prólogo, I, p. 6. (Quando escrevo "i. e." trata-se sempre, como aqui, de parênteses do autor.)

15 "Carta annua de Iapão q escreueo o padre Gaspar Coelho de Nangaçàqui, a quinze de Feuereiro do anno de 82, ao padre geral da Companhia de IESV". "Cartas" II, folhs. 17r. ss, penso especialmente nas folhs.39r-40r.

16 "Carta do padre Luis Froes sobre a morte de Nobunànga, pera o muito Reuerendo padre Geral da Cõpanhia de IESVS, de Cochinocçu, aos cinco de Nouebro de 1582". "Cartas" II, folhs. 61r-82r.

17 Ibidem, folh. 82r.

18 Neste contexto vd. por exemplo: Bernard Susser, "The Toyotomi Regime and the Daimyo", em: "The Bakufu in Japanese History," Edited by Jeffrey P. Mass and William B. Hauser, Stanford 1985, pp. 129-152, especialmente pp. 130--133.

19 Com estas palavras Fróis introduz o Cap. 34º: "De como Quambacu, vencendo a guerra do Bandou, se fez absoluto senhor de todos os secenta e seis reynos de Jappam", "Historia", V, pp. 259-264, aqui p. 259. Neste contexto vd. também: Mary Elizabeth Berry, "Hideyoshi", Cambridge (Mass.) and London 1989, pp. 93-98.

20 Com respeito às datas vd. Matsuda Kiichi, p. ex. no seu recente livro, "Buarinyano to Kirishitam shumon" (Valignano e a religião cristã), Tokyo, Chobunsha, 1992, p. 149.

21 Michael Cooper, S. J., "Rodrigues the Interpreter. An Early Jesuit in Japan and China", New York, Tokyo, Weatherhill, 1974, pp. 70ss; vd. Matsuda Kiichi, Buarinyano, op. cit., pp. 145-146; idem, "Tensho ken-o shisetsu" (Os embaixadores enviados para a Europa na era Tensho, Tokyo, Kodansha 1277), Kyoto, Rinkawa shoten, 1990.2.

22 Vd. Chr. R. Boxer, "The Great Ship from Amacon", em: Boxer, "Fidalgos in the Far East, 1570-1770. Fact and Fancy in the History of Macao", The Hague 1948, pp. 20-26, especialmente p. 23. Pode-se pensar p. ex. no facto que em vários Nanban byobu aparecem pintados cavalos da Arábia na procissão dos Europeus como também no byobu da Colecção do Museu Municipal de Kobe (Kobe shiritsu hakubutsukanzo), ou à figura de um missionário de estatura saliente, que aparece igualmente em vários byobu. É sabido que também Valignano foi de alta estatura. No mesmo contexto o professor Boxer escreve que o facto de Valignano chegar num junco em vez de numa nau, que aparece pintada habitualmente nos byobu, poderia falar contra estes argumentos. Sem intenção de contestar a argumentação do professor Boxer no seu conjunto, quero apontar que também Fróis na "Historia" faz menção de um junco que chegou no mesmo tempo, mas escreve também que o Visitador e "os quatro fidalgos que forão a Roma" chegaram na "nao de Henrique da Costa a Nangazaqui", Fróis, "Historia", Seg. P., C. 25º, Ed. Wicki, Vol. V, p. 186. É importante que, como aponta também o professor Boxer, os melhores byobu foram pintados no período a partir de 1590 até 1614, Boxer, op. cit., p. 23. Ilustrações de Nanban byobu vd. p. ex. em: "Kinsei funzoku zufu", 13, Nanban (Pinturas de costumes da época da primeira modernidade, vol. 13, Nanban), Editores Matsuda Kiichi e Sakamoto Mitsuru, Tokyo, Shogakukan, 1984. Para o mencionado byobu do Museu Municipal de Kobe vd. pp. 77-95.

23 Ibidem. Com respeito à récita dos quatro jovens na audiência com Hideyoshi e à sua ressonância vd. por exemplo: Ebisawa Arimichi, "Yogaku denraishi. Kirishitan jidai kara bakumatsu made" (A história da introdução da música europeia no Japão. Do tempo do primeiro cristianismo até ao fim da época dos Tokugawa), Tokyo, Nihon Kirisutokyodan shuppankyoku, 1983, aqui especialmente pp. 125-129. Deste modo aparece uma possibilidade de detectar um outro fio da rede complexa das muitas actividades do Visitador até ao âmbito da história cultural.

24 "De Missione Legatorum Iaponensium ad Romanam curiam, rebusg; in Europa ac toto itinere animaduersis DIALOGVS... In Macaensi portu Sinici regni in domo Societatis IESV cum facultate Ordinarij, & Superiorum. Anno 1590". Edição Facsimilada, Tokyo 1935. A conversa sobre a música encontra-se nas páginas 109-110.

25 Matsuda Kiichi, Buarinyano, op. cit., p. 152.

26 Visitador da Índia: com o nome Índia designava-se toda a área do Cabo Corrientes até ao Japão e países do sudeste.

27 Um elenco dos escritos de Valignano dá o historiador jesuíta Josef F. Schütte na sua obra "Valignanos Missions-grundsätze", op. cit., Vol. I. 1, pp. XXIX-LVI.

28 "CATECHISMVS CHRISTIANAE FIDEI, IN QVO VERITAS nostrae religionis ostenditur, & sectae Iaponenses confutantur, editus à Patre Alexandro Valignano societatis IESV. Com facultate supremi Senatus sanctae & generalis Inquisitionis, & Ordinarij. Olyssipone, excudebat Antonius Riberius. 1586". Edição facsimilada, Tenri Central Library, Tokyo,1972.

29 Baseio-me aqui na edição bilingue de Schütte: "Alexandro Valignano S. J., Il Cerimoniale per i missionari de Giappone, Edizione critica, introduzione e note di Giuseppe Fr. Schütte S. J.", Roma 1946.

30 "Historia del principio y Progresso de la Compania de Jesús en las Indias Orientales (1542-64)", Herausgegeben und erläutert von Josef Wicki S. J., Roma, Institutum Historicum S. I., 1944.

31 É de assumir que o Sumario, em tradução japonesa, é mais conhecido no Japão do que na Europa e por um público mais vasto, um facto que vale também para muitos outros textos aqui mencionados, como por exemplo a "Historia de Japam" de Luis Fróis.

32 Luis Fróis com a "História do Japão" e também as cartas sobre as quais a "Historia" se baseia e com as quais Fróis ficou famoso como escritor oficial da missão japonesa; e ainda mais João Rodrigues Tçuzzu com a "Historia da Igreja do Japão", da qual a parte acabada é uma introdução à cultura e civilização japonesas, e com as obras linguísticas.

33 Alvarez-Taladriz, para as três redacções do "Sumario Indico", vd. pp. 97ss, e também as notas de Alvarez-Taladriz.

34 Alvarez-Taladriz, p. 98.

35 Alvarez-Taladriz, p. 99.

36 Especialmente o Capítulo VIII, "como no debe en ninguna manera venir por ahora o bispo a Japon", pp. 138-142.

37 Especialmente o Capítulo IX, "como no coviene ir a Japon otras religiones", pp. 143-149.

38 "Sumario", op. cit., p. 139, a seguir vou indicar só as páginas respectivas no texto.

39 Valignano, "Historia del principio y progresso", op. cit., p.176.

40 Vd. por exemplo Matsuda Kiichi, "Nanban junrei" (Peregrinação aos bárbaros do sul), Tokyo, Chuobunko, 1981, pp. 202-206).

41 "Et aviso a V. R. a tirarse di pensiero essere questa gente barbara; perchè, fora della fede, noi altri per piu prudenti che noi si stimiamo, comparati a loro, siamo barbarissimi; et confesso con grande verità che giorno impari da loro et mi pare che nell' universo non sia natione di tanti et tanto singolari et doni naturali come questa dello Giappone. Per il che non pensi V. R., che quelli che pare non servir per là potranno servir per qua." Citação aqui segundo P. Tacchi Venturi d. C. d. G., "Il Carattere dei Giapponesi secondo i Missionari del Secolo XVI, Terza Edizione", Roma, 1937, p. 32.

42 Vd. Josef Franz Schütte, S. J., "Valignanos Missionsgrundsätze für Japan", I. Band, II. Teil: Die Lösung (1580-1582), Roma 1958, p. 149.

43 "... essendo io più Giappone che Italiano, perche cosí Iddio benedetto m' ha transformato per sua gratia in questa gente", cit. aqui J. F. Schütte, VMJ, op. cit, Vol. I. 2, p. 150.

44 Vd. J. F. Schütte, VMJ, op. cit., Vol. I. 2, p. 150.

45 Citação aqui segundo J. F. Schütte, VMJ, op. cit, Vol. I. 2, p. 463, "Carta do Padre Francisco Cabral ao Padre geral da Companhia de Jesus", Nagasaki, 5 de Setembro 1571.

46 Citação aqui segundo Schütte, VMJ, op. cit., I. 2, p. 474, "Carta do Padre Francisco cabral ao Padre Geral da Companhia de Jesus", Cochim, 15 de Dezembro 1593.

47 "Carta do padre Visitador Alexandre Valignano pera o Illustrissimo, & Reuerendissimo senhor dom Theotonio de Bragança Arcebispo de Eurora, de Arima a 15 de Agosto de 1580". Em: "Cartas" I, folh. 479r.

48 "Carta que o padre mestre Francisco escreueo de Malaca, indo para Iapão, ao padre Mestre Simão, & a todos os da Companhia de IESV de Europa, a 22. de iunho, de 1549", em: "Cartas" I, folh. 6r; vd. também em "Epistolae S. Francisci Xaverii. Alliaque eius Scripta, Nova Editio ex integro refecta", Ediderunt G. Schurhammer S. J., et I. Wicki S. J., 2 Vols., Roma, 1944-1945, vol. 2, p. 148.

49 "Carta do Padre mestre Francisco de Iapam, escrita em Cangóxima aos Irmãos do collegio de S. Paulo de Goa, no anno de 1549 a 5 de Novembro", em: "Epistolae S. Francisci Xaverii", op. cit, vol. 2, p. 186.

50 "Alessandro Valignano, S. J., Il Cerimoniale per i Missionari del Giappone, Edizione Critica, Introduzione e note di Giuseppe Fr. Schütte, S. J.", Roma 1946, aqui sempre: Advertimentos.

51 Schütte anota aqui: "Catangues, trascrizione moderna: katage (katagi) = carattere speciale, qualità caratteristica. Negli Advertimentos significa piuttosto: costume ovvero modo caratteristico d'agire...". O "Vocabvlario" de 1603/04 nota simplesmente "Catagui. Costume".

52 Valignano, Advertimentos, op. cit., p. 118-121. A seguir vou indicar só as páginas respectivas no texto.

53 "Sacazzuqui. Taça, ou copo. q Sacazzuquio catammuquru. i., Nomu. Beber pello Sacazzuqui. S."; "Sacana. Cousa de comer como carne, & peixe Item, Qualquer cousa de apetite quando se come pera beber sobre ella." "Vocabvlario", 1603/04, folhs. 214v, 214r-v.

54 Dojuku, o "Vocabvlario" diz: "Moços, ou gente rapada que serve aos Bonzos nas teras" [Tera. Mosteiro, ou varela de Bonzos". folh. 255v], folh. 73r.

55 "Teppoki", ("Livro da espingarda") aqui citado segundo: "Os Portugueses e o Japão no século XVI. Primeiras Informações", Introdução Modernização do Texto e Notas de Rui Loureiro, Lisboa 1990, p. 57. As frases imediatamente seguintes da passagem aqui citada não têm importância directa no nosso contexto, mas não quero tirar ao leitor as palavras, sem dúvida, interessantes: "São gente que anda errante, ora aqui, ora ali, não têm residência certa, e trocam o que possuem por aquilo que não têm. São por conseguinte gente inofensiva."

56 Vd. "Sumario", op. cit., pp. 242ss, nota 23 de J. L. Alvarez-Taladriz ao capítulo XXIII.

57 Segundo: "Sumario", op. cit., pp. 241ss, nota XXXIII. 23.

58 O "Vocabvlario" 1603/1604 diz: "Goqi. Escudela de pao e que se come o arroz." folh. 121v; "Xirugogi. Escudela de pao vruxada, em q se bota o caldo." folh. 366v.

59 Segundo: "Sumario", p. 244, ainda nota XXXIII. 23.

60 Vd. "Sumario", p. 245. nota XXXIII. 23; aqui segundo: "Japanese/Portuguese Testament", Japan Bible Society, Tokyo 1988.

61 Fernão Mendes Pinto, "Peregrinação", Em Lisboa. Por Pedro Crasbeeck. Anno 1614, Facsim. Ed Tenri Central Library, Tokyo 1973, folh. 298v.

62 Vd. também p. ex. Schütte, VMJ, op. cit., pp. 386-387 etc..

63 "Carta do Padre Cosme de Torres, de Iapão, da cidade de Yamánguche, para os Irmãos da Companhia de IESV da India, a 29 de Setembro, de 1551. annos", em "Cartas" I, op. cit., folh. 18.

64 Michel de Montaigne, "Essais". Tome I; Édition conforme au texte de l'exemplaire de Bordeaux avec les additions de l'édition posthume, les principales variantes, une introduction, des notes et un index par Maurice Rat, Paris, Garniers Frères, 1962, p. 652.

65 Pierre Charron, "De la Sagesse, Trois Livres", 1601, Réimpression de l'édition de Paris, 1824, Genève 1968, Vol. I, p. 318; neste contexto vd. E. JoriBen, "Das Japanbild", op. cit., especialmente capítulo 6º: "Von kannibalen, Chinesen und Japanern", pp. 106-133.

66 Valignano, "Adiciones del Sumario de Japon", p. 349. A seguir vou indicar só as páginas respectivas no texto.

67 A missão jesuítica era dividida nas três partes do "Ximo" [Shimo, ou Sul da ilha central Honshu], de Bungo [em Kyushu] e do "Meaco" [Miyako, a região da capital].

68 Vd. Schütte, "Introduzione storica e critica del testo", em: "Advertimentos", pp. 82-83ss.

69 Fróis, Tratado, op. cit., XIV. 35, 36, pp. 258-259.

70 Neste contexto, vd. também o comentário do professor Matsuda, vd. Matsuda Kiichi, Buarinyano, op. cit., pp. 153--154.

71 Neste contexto vd. a análise de George Elison no seu livro: "Deus Destroyed. The Image of Christianity in Early Modern Japan", Harvard University Press, Cambridge Mass, 1973, especialmente no capítulo 3º: "The Accomodative Method: The Jesuit Mission Policy and Cultural Contribution", pp. 54-84.

72 "CHRISTIANI PVERI INSTITVTIO, ADOLESCENTIAEQVE perfugium: Ioanne Bonifacio SOCIETATIS IESV. cum libri unius, & reru accesione plurimaru. Cum facultate Superiorum apud Sinas, in Portu Macaensi in Domo Societatis IESV. Anno 1588"; Edição anastática do exemplar da Biblioteca da Ajuda em Lisboa com um estudo prévio por Manuel Cadafaz de Matos, Instituto Cultural de Macau, 1988.

73 Vd. aqui: "Adiciones", op. cit., pp. 558-559 e a nota minuciosa de J. L. Alvaro-Taladriz p. 558.8.

74 Vd. J. F. Schütte, "Introductio", op. cit., p. 57.

75 Vd. Schütte, Josephus Franciscus Schütte S. J., "Introductio ad historiam Societatis Jesu in Japonia 1549--1650. Ac prooemium ad catalogos Japoniae edendos ad edenda Societatis Jesu monumenta historica Japoniae propylaeum", Romae 1968, pp. 428-433; para as razões deste aumento vd. p. ex. Gonoi, "Nihon Kirisutokyoshi", op. cit., pp. 188-190.

76 Vd. Gonoi, "Nihon Kirisutokyoshi", op. cit., pp. 189--190.

77 Vd. p. ex.: Neil S. Fukita, "Japan's Encounter with Christianity. The Catholic Mission in Pre-Modern Japan", Paulist Press, New York + Mahwah, N. J. 1991, pp. 132-133.

78 Com respeito aos primeiros bispos do Japão vd. Michael Cooper, S. J., "Rodrigues the Interpreter. An Early Jesuit in Japan and China", New York, Tokyo 1974, especialmente o capítulo 5º: "The Arrival of the Bishop", pp. 105-119.

79 "Apologia".

80 Com respeito à terceira visita vd. por exemplo a apresentação no já citado livro do professor Matsuda, Buarinyano, op. cit., pp. 154-163: "Daisanji Nihon junsatsu" (A terceira visita ao Japão), à qual também me referi entre outros textos aqui.

* Doutor em Filologia Românica e Japonês; Professor Associado da Universidade de Kioto de Estudos Estrangeiros.

desde a p. 49
até a p.