O. Messiaen: Quarteto para o Fim do Tempo
Quarteto para o Fim do Tempo é uma obra extraordinária do compositor francês Olivier Messiaen (1908-1992). Em 1940, Messiaen foi capturado pelo exército alemão e detido num campo de prisioneiros de guerra em Görlitz, onde conheceu três músicos cativos: o clarinetista Henri Akoka, o violinista Jean le Boulaire e o violoncelista Étienne Pasquier. Foi para esses três companheiros de cativeiro e para si mesmo que Messiaen compôs este quarteto de oito andamentos para clarinete, violino, violoncelo e piano. Os quatro músicos apresentaram a obra, pela primeira vez, no campo de prisioneiros a 15 de Janeiro de 1941.
Esta peça inspira-se e tem o mesmo título que o 10.º capítulo do Livro do Apocalipse: “Então o anjo que eu tinha visto de pé, em cima do mar e da terra, levantou a mão direita para o céu, jurou por aquele que vive por todo o sempre, que criou o céu, a terra e o mar e tudo quanto neles existe, e disse: «Não haverá mais demora!»” O primeiro andamento retrata o despertar de pássaros, de madrugada. O clarinete e o violino representam, respectivamente, os gorjeios dos melros e dos rouxinóis, enquanto o violoncelo e o piano transmitem a calmia do céu por meio de ostinatos. No segundo andamento, o espectáculo da revelação do anjo e do seu grande poder é representado no início e no final, sendo o som inalcançável do céu representado na secção intermédia. No terceiro andamento interpretado pelo solo de clarinete, o “abismo” referido no título é, nas palavras do próprio compositor “o Tempo, com a sua tristeza e o seu tédio. Os pássaros são o oposto do Tempo, evocando o nosso desejo de luz, de estrelas, de arco-íris e de canções jubilosas”. O quarto andamento é um scherzo executado pelo violino, pelo violoncelo e pelo clarinete, evidenciando uma personalidade diferente dos demais andamentos. O quinto é um dueto para violoncelo e piano, em que a expressão “infinitamente lento no violoncelo realça com amor e reverência a eternidade de Jesus, “cujo tempo nunca termina”. O sexto andamento apresenta os ritmos mais distintos, em que os quatro instrumentos representam em conjunto a terrível cena do juízo final: seis anjos trombeteiam o desastre iminente enquanto o sétimo anjo anuncia que foi cumprido o mistério de Deus. Ecoando o segundo andamento, o sétimo representa, uma vez mais, o espectáculo da aparição imponente do anjo, sobretudo o arco-íris pairando acima da sua cabeça, simbolizando paz e sabedoria. O oitavo andamento é um dueto para violino e piano, em que o longo solo de violino ecoa o solo de violoncelo do quinto andamento. Se o quinto andamento celebra Jesus como “palavra de Deus”, o final louva-o enquanto “ser humano”.
La Monte Young: Composição 1960 #7
O minimalismo surgiu nos Estados Unidos na década de 1960, caracterizando-se pelo uso de repetições frequentes através de materiais e técnicas o mais simples possíveis. Sendo um dos primeiros ícones da música minimalista, La Monte Young (nascido em 1935) é um compositor não convencional, fortemente influenciado por John Cage (1912-1992), um proeminente compositor de música aleatória. Música aleatória é um género musical, em que o compositor renuncia propositadamente ao controlo sobre certos elementos primários de uma composição, deixando-os ao puro acaso, numa determinação objectiva, como forma de imprimir à música um certo grau de incerteza, sendo a composição 4’33”, a peça aleatória mais clássica de Cage. Seguindo os passos do mestre, Young criou a série experimental Composições 1960, que incluía algumas peças que evocavam claramente as artes performativas. Por exemplo, a #2 é assinalada com a nota “incendiar o público”, sendo por sua vez a #5, assinalada com “soltar uma ou várias borboletas no palco”. A #7 apresentada neste concerto é a peça mais frequentemente interpretada desta série. A partitura de toda a composição é simplesmente uma quinta tonal perfeita, abrangendo um Si e um Fá sustenido, sendo o intérprete instruído a manter o intervalo durante um longo período de tempo. Porém, o compositor não especificou o instrumento a utilizar, nem a duração do intervalo, o que significa que a execução da Composição 1960 #7 envolve uma grande incógnita e abertura, deixando-nos na expectativa de como será apresentada neste concerto.
L. Andriessen: Sindicato de Trabalhadores
O compositor neerlandês Louis Andriessen (1939-2021) escreveu Sindicato de Trabalhadores em 1975 para a orquestra neerlandesa De Volharding (Perseverança), onde trabalhava como pianista. Esta peça é muito semelhante à Composição 1960 #7 em certos aspectos: instrumentação incerta, “para qualquer grupo de instrumentos de alto volume”; e duração indeterminada tendo o compositor deixado a indicação de que “qualquer interpretação deverá durar pelo menos 15-20 minutos”. Ao mesmo tempo, a peça opõe-se também à Composição 1960 #7 noutros aspectos, uma vez que esta partitura apresenta um tom fixo, mas nenhum ritmo particular, ao passo que Sindicato de Trabalhadores não tem um tom específico, mas apresenta um ritmo bem definido. A única linha na partitura representa o registo médio dos instrumentos dos intérpretes, assinalando-se simplesmente que os sons devem ser reproduzidos acima ou abaixo deste registo médio, mas que “não deve ser executada qualquer escala ou qualquer figuração tradicional”. A peça inteira é composta por uma série de fragmentos com este tipo de instruções, não sendo indicado um número fixo de repetições para cada fragmento. Nas palavras de Andriessen, “Esta peça é uma combinação de liberdade individual e disciplina severa”. “A obra terá sucesso apenas quando cada intérprete executar a sua parte de tal forma que esta se torna essencial; tal como acontece na actividade política”.
Por Danni Liu
Versão original escrita em chinês