R. Schumann: Sinfonia N.o 4 em Ré Menor, op. 120
Robert Schumann (1810-1856), compositor romântico alemão do século XIX, escreveu um total de quatro sinfonias ao longo da vida. A primeira versão da Sinfonia N.º 4 foi composta em 1841 e executada pela primeira vez pela Orquestra Gewandhaus de Leipzig em Dezembro do mesmo ano, num concerto que acabou por se revelar um fracasso. Uma década mais tarde, o compositor submeteu a peça a uma revisão substancial e publicou a nova versão como a sua quarta sinfonia (embora, por ordem cronológica de criação, corresponda à sua segunda sinfonia). A versão revista estreou sob a batuta do próprio compositor em Düsseldorf, a 30 de Dezembro de 1852, tendo sido muito bem acolhida pelo público.
Em muitos aspectos, esta sinfonia contém alguns dos elementos mais inovadores da música orquestral de Schumann. Em primeiro lugar, apesar de ter uma estrutura tradicional de quatro andamentos, estes foram criados para serem executados de modo contínuo, o que raramente acontecia em sinfonias anteriores. Em segundo lugar, os materiais temáticos dos quatro andamentos estão intrinsecamente ligados, tecendo uma dinâmica teia de relações entre os motivos musicais de cada um deles. Três ideias musicais no primeiro andamento desempenham um papel importante na sinfonia: a primeira é o tema sinuoso no registo médio, interpretado no seu início pelas cordas e pelo fagote e que surge também no segundo andamento e no trio do scherzo; a segunda ideia é o primeiro tema dinâmico após o início do allegro, que se torna a base para o início e o fim do scherzo e se repete na transição para o final; a terceira ideia é a melodia anunciante das trompas, tocada aliás por todo o naipe de madeiras e metais, que se desenvolve até culminar no tema principal do final. As ideias musicais centrais apresentam transformações e variações engenhosas de cada vez que ocorrem na sinfonia. Desde a melancolia inicial ao alegre final triunfante, a obra revela um contexto narrativo majestoso e completo, enriquecida por uma ampla emotividade. Todas estas abordagens assinalam o conceito criativo de Schumann: independentemente de apresentar andamentos únicos ou múltiplos, uma composição deve evidenciar uma forma narrativa coesa e conter uma reflexão sobre a música do passado, avançando, ao mesmo tempo, em direcção a um objectivo predefinido. Estas técnicas reflectem igualmente um novo ideal de estrutura organizada e de unidade orgânica por parte dos compositores sinfónicos do século XIX.
Por Danni Liu
Texto originalmente escrito em chinês
J. Hisaishi: A Saga da Viola
A Saga da Viola é uma peça que estreou no concerto O Futuro da Música-Vol. 9 em 2022, tendo sido, entretanto, reconfigurada como concerto para viola e orquestra. O termo Saga refere-se à condição humana de cada um, às suas disposições inatas ou aos hábitos e costumes. Simultaneamente, a palavra Saga está igualmente associada às lendas heróicas da literatura nórdica medieval, sugerindo aventuras épicas. Embora o título tenha sido originalmente escolhido de forma um tanto arbitrária, acredito que esta escolha se adequa perfeitamente à obra.
A composição consiste em dois andamentos: I. um divertimento animado, movido por ritmos vivos, e II. uma peça um tanto emotiva, caracterizada por harmonias dispersas. Sobretudo no segundo andamento, pretendi compor uma peça facilmente acessível que pudesse ser executada como encore. No entanto, o ritmo é bastante complexo e a sua interpretação não é simples.
Por Joe Hisaishi
L. v. Beethoven: Sinfonia N.o 5 em Dó Menor, op. 67
A Sinfonia N.º 5 em Dó Menor, também conhecida como “Sinfonia do Destino”, é talvez a mais conhecida entre as nove sinfonias escritas pelo grande compositor clássico alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827). Esta peça representativa do seu período intermédio foi composta em 1804-1808 e apresentada pela primeira vez no Theater an der Wien, em Viena, no dia 22 de Dezembro de 1808. O primeiro de quatro andamentos desta sinfonia baseia-se totalmente no familiar “motivo do destino” de quatro notas (“o destino a bater à porta”); o poderoso primeiro tema desencadeia uma aura persistente e indomável, seguindo-se a entrada anunciante das trompas, que transmite o heterogéneo tema do destino e desemboca no segundo tema, de cariz luminoso e lírico. O segundo andamento (em Lá bemol maior) é uma variação dupla: o primeiro tema das violas e dos violoncelos distingue-se pela sua índole ampla e profunda, enquanto o segundo tema dos clarinetes e fagotes incorpora o imponente carácter heróico, sendo que ambos se alternam em seis variações subsequentes. O terceiro andamento, em forma ternária, abrange uma primeira secção composta por dois factores contrastantes: o tema baixo, oprimido e ligeiramente hesitante das cordas e o tema das trompas interpretado pelos sopros com base no padrão rítmico do “motivo do destino”. O trio é escrito no estilo contrapontístico de uma fuga, evocando uma força irreprimível. O final da recapitulação conduz directamente ao glorioso final, o qual assume a forma de uma sonata, em que o primeiro tema arranca com uma marcha triunfal e o jubiloso segundo tema é sobretudo caracterizado pelo ritmo tercinado. O tema das trompas do terceiro andamento reaparece imperceptivelmente quando a secção de desenvolvimento termina. Vários materiais temáticos anteriores são retomados na coda épica, que encerra a sinfonia com 29 acordes de alta intensidade (forte) em Dó maior.
Por Danni Liu
Texto originalmente escrito em chinês