As Lendas

Joe Hisaishi e a Orquestra Sinfónica Japonesa do Século

Programa

R. Schumann (1810-1856)
Sinfonia N.o 4 em Ré Menor, op. 120
I. Ziemlich langsam. Lebhaft
II. Romanza: Ziemlich langsam
III. Scherzo: Lebhaft
IV. Langsam. Lebhaft

J. Hisaishi (n. 1950)
A Saga da Viola

Intervalo

L. v. Beethoven (1770-1827)
Sinfonia N.o 5 em Dó Menor, op. 67
I. Allegro con brio
II. Andante con moto
III. Scherzo. Allegro
IV. Allegro

Notas ao Programa

R. Schumann: Sinfonia N.o 4 em Ré Menor, op. 120

Robert Schumann (1810-1856), compositor romântico alemão do século XIX, escreveu um total de quatro sinfonias ao longo da vida. A primeira versão da Sinfonia N.º 4 foi composta em 1841 e executada pela primeira vez pela Orquestra Gewandhaus de Leipzig em Dezembro do mesmo ano, num concerto que acabou por se revelar um fracasso. Uma década mais tarde, o compositor submeteu a peça a uma revisão substancial e publicou a nova versão como a sua quarta sinfonia (embora, por ordem cronológica de criação, corresponda à sua segunda sinfonia). A versão revista estreou sob a batuta do próprio compositor em Düsseldorf, a 30 de Dezembro de 1852, tendo sido muito bem acolhida pelo público.

Em muitos aspectos, esta sinfonia contém alguns dos elementos mais inovadores da música orquestral de Schumann. Em primeiro lugar, apesar de ter uma estrutura tradicional de quatro andamentos, estes foram criados para serem executados de modo contínuo, o que raramente acontecia em sinfonias anteriores. Em segundo lugar, os materiais temáticos dos quatro andamentos estão intrinsecamente ligados, tecendo uma dinâmica teia de relações entre os motivos musicais de cada um deles. Três ideias musicais no primeiro andamento desempenham um papel importante na sinfonia: a primeira é o tema sinuoso no registo médio, interpretado no seu início pelas cordas e pelo fagote e que surge também no segundo andamento e no trio do scherzo; a segunda ideia é o primeiro tema dinâmico após o início do allegro, que se torna a base para o início e o fim do scherzo e se repete na transição para o final; a terceira ideia é a melodia anunciante das trompas, tocada aliás por todo o naipe de madeiras e metais, que se desenvolve até culminar no tema principal do final. As ideias musicais centrais apresentam transformações e variações engenhosas de cada vez que ocorrem na sinfonia. Desde a melancolia inicial ao alegre final triunfante, a obra revela um contexto narrativo majestoso e completo, enriquecida por uma ampla emotividade. Todas estas abordagens assinalam o conceito criativo de Schumann: independentemente de apresentar andamentos únicos ou múltiplos, uma composição deve evidenciar uma forma narrativa coesa e conter uma reflexão sobre a música do passado, avançando, ao mesmo tempo, em direcção a um objectivo predefinido. Estas técnicas reflectem igualmente um novo ideal de estrutura organizada e de unidade orgânica por parte dos compositores sinfónicos do século XIX.

Por Danni Liu
Texto originalmente escrito em chinês

J. Hisaishi: A Saga da Viola

A Saga da Viola é uma peça que estreou no concerto O Futuro da Música-Vol. 9 em 2022, tendo sido, entretanto, reconfigurada como concerto para viola e orquestra. O termo Saga refere-se à condição humana de cada um, às suas disposições inatas ou aos hábitos e costumes. Simultaneamente, a palavra Saga está igualmente associada às lendas heróicas da literatura nórdica medieval, sugerindo aventuras épicas. Embora o título tenha sido originalmente escolhido de forma um tanto arbitrária, acredito que esta escolha se adequa perfeitamente à obra.

A composição consiste em dois andamentos: I. um divertimento animado, movido por ritmos vivos, e II. uma peça um tanto emotiva, caracterizada por harmonias dispersas. Sobretudo no segundo andamento, pretendi compor uma peça facilmente acessível que pudesse ser executada como encore. No entanto, o ritmo é bastante complexo e a sua interpretação não é simples.

Por Joe Hisaishi

L. v. Beethoven: Sinfonia N.o 5 em Dó Menor, op. 67

A Sinfonia N.º 5 em Dó Menor, também conhecida como “Sinfonia do Destino”, é talvez a mais conhecida entre as nove sinfonias escritas pelo grande compositor clássico alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827). Esta peça representativa do seu período intermédio foi composta em 1804-1808 e apresentada pela primeira vez no Theater an der Wien, em Viena, no dia 22 de Dezembro de 1808. O primeiro de quatro andamentos desta sinfonia baseia-se totalmente no familiar “motivo do destino” de quatro notas (“o destino a bater à porta”); o poderoso primeiro tema desencadeia uma aura persistente e indomável, seguindo-se a entrada anunciante das trompas, que transmite o heterogéneo tema do destino e desemboca no segundo tema, de cariz luminoso e lírico. O segundo andamento (em Lá bemol maior) é uma variação dupla: o primeiro tema das violas e dos violoncelos distingue-se pela sua índole ampla e profunda, enquanto o segundo tema dos clarinetes e fagotes incorpora o imponente carácter heróico, sendo que ambos se alternam em seis variações subsequentes. O terceiro andamento, em forma ternária, abrange uma primeira secção composta por dois factores contrastantes: o tema baixo, oprimido e ligeiramente hesitante das cordas e o tema das trompas interpretado pelos sopros com base no padrão rítmico do “motivo do destino”. O trio é escrito no estilo contrapontístico de uma fuga, evocando uma força irreprimível. O final da recapitulação conduz directamente ao glorioso final, o qual assume a forma de uma sonata, em que o primeiro tema arranca com uma marcha triunfal e o jubiloso segundo tema é sobretudo caracterizado pelo ritmo tercinado. O tema das trompas do terceiro andamento reaparece imperceptivelmente quando a secção de desenvolvimento termina. Vários materiais temáticos anteriores são retomados na coda épica, que encerra a sinfonia com 29 acordes de alta intensidade (forte) em Dó maior.

Por Danni Liu
Texto originalmente escrito em chinês

Notas Biográficas

Joe Hisaishi, Maestro

Hisaishi é natural de Nagano, Japão. O seu interesse pela música minimalista despertou quando estudava no Conservatório de Música de Kunitachi. A sua carreira a solo teve início em 1982 com o lançamento do álbum Information. Desde então, Hisaishi lançou quase 40 álbuns, incluindo Minima_Rhythm (2009), Melodyphony (2010) e o mais recente Minima_Rhythm IV (2021).

Desde o início da década de 1980 que Hisaishi foi conquistando o seu lugar enquanto compositor de música para cinema, tendo trabalhado em estreita colaboração com o realizador de filmes de animação Hayao Miyazaki, para quem compôs dez bandas sonoras, incluindo os filmes Nausicaä do Vale do Vento (1984), O Meu Vizinho Totoro (1988), A Princesa Mononoke (1997) e As Asas do Vento (2013). Também ganhou destaque internacional com as suas bandas sonoras para filmes de Takeshi Kitano, como De Volta às Aulas (1997) e Hana-Bi (1998). Em geral, esteve envolvido na produção musical de mais de 80 filmes em todo o mundo. As suas obras têm sido amiúde galardoadas, incluindo o Prémio de Melhor Música para Cinema da Academia Japonesa, em sete ocasiões.

Hisaishi é também requisitado como pianista e regente de orquestra. Em Julho de 2004, assumiu o cargo de director musical principal da Orquestra Sonhos do Mundo da Filarmónica Novo Japão. Os seus ciclos de concertos “Joe Hisaishi apresenta o Futuro da Música” e “Clássicos Orquestrais do Futuro” granjearam-lhe uma enorme popularidade. Durante vários anos, Hisaishi regeu também concertos de música clássica e compôs obras contemporâneas como Sinfonia das Terras de Este (2016), A Fronteira Concerto para 3 Trompas e Orquestra (2020), Sinfonia N.º 2 (2021), Metafísica (Sinfonia N.º 3) e A Saga da Viola (2022).

O compositor trabalhou com vários artistas, incluindo Philip Glass, David Lang, Nico Muhly e Mischa Maisky, bem como com orquestras notáveis, desde a Filarmónica de Hong Kong e a Sinfónica de Melbourne à Orquestra Sinfónica de Londres. Hisaishi é professor visitante no Conservatório de Música de Kunitachi, parceiro musical da Filarmónica do Novo Japão, principal maestro convidado da Orquestra Sinfónica do Século do Japão e compositor residente da Sinfónica de Seattle desde 2023. Em 2009, foi agraciado com a Medalha com Faixa Roxa, uma distinção de mérito concedida pelo governo japonês. O seu contributo único para a música contemporânea e a sua incessante criatividade musical são extremamente valorizadas em todo o mundo.

Antoine Tamestit, Viola

O violista Antoine Tamestit é reconhecido internacionalmente como um importante solista, recitalista e músico de câmara, apreciado pela sua técnica inigualável e pela tão elogiada beleza do seu tom de grande abrangência tímbrica. O seu amplo repertório abrange música desde o barroco à actualidade, e a sua forte aposta na música contemporânea reflecte-se em inúmeras estreias de novas obras.

Na temporada 2023-24, Tamestit continua a desenvolver a sua actividade musical a nível internacional, incluindo uma digressão europeia com a Staatskapelle Dresden, a sua estreia com a Filarmónica de Berlim, e concertos com a Filarmónica de Nova Iorque e a Orquestra do Concertgebouw em Amsterdão, a participação como artista residente no Festival Internacional de Música de Tongyeong na Coreia, bem como a estreia de A Saga da Viola de Joe Hisaishi. Tamestit actua regularmente com grandes maestros, incluindo Daniel Harding, Paavo Järvi, Klaus Mäkelä, Antonio Pappano, Kirill Petrenko, etc.

Natural de Paris, Tamestit estudou com Jean Sulem, Jesse Levine e Tabea Zimmermann, tendo recebido vários distinções, incluindo o Primeiro Prémio para Viola no Concurso Internacional de Música ARD, em 2004. Tamestit usa a primeira viola fabricada por Antonio Stradivarius em 1672, generosamente concedida pela Fundação Habisreutinger.

Orquestra Sinfónica Japonesa do Século

Fundada em 1989 pela Prefeitura de Osaka, a Orquestra Sinfónica Japonesa do Século (OSJS) tocava inicialmente sob o nome de Orquestra Osaka do Século. A orquestra adoptou o seu nome actual em 2011, depois de se ter tornado independente dessa edilidade, estando agora prestes a celebrar o seu 34º aniversário já este Dezembro. Actualmente, a OSJS trabalha com três maestros. Norichika Iimori, como maestro principal, Kazuyoshi Akyiama, consultor musical, enquanto Joe Hisaishi se juntou à instituição como maestro principal convidado em 2021. A OSJS dá nove concertos anuais na Sala de Concertos de Osaka, actuando também regularmente no Centro de Artes Performativas Toyonaka da cidade, onde apresenta a sua “Série Obras-primas”. Para além disso, a orquestra tem-se dedicado à “Maratona Haydn”, um projecto que almeja tocar e gravar todas as sinfonias do compositor austríaco, tendo sido bastante reconhecida pelas suas interpretações elegantes e precisas.

Orquestra Sinfónica Japonesa do Século

Primeiros Violinos
Naoto Sakiya (Concertino Convidado)
Aiko Kamishikiryo
Fumitaka Sato
Harumi Seki
Tomomi Iwasaki
Chika Hirotsu
Tomoko Shitaya
Noriko Michihashi
Ayane Miyashita
Haruna Yamamori

Segundos Violinos
Emi Ikehara
Munehisa Takahashi #
Mika Ozaki
Junichi Hibi
Hibiki Nakaya
Masami Nakatani
Mutsuyo Okuya
Megumi Miwa

Violas
Atsushi Nagaishi *
Yuki Masunaga #
Takashi Iida
Yuko Nagamatsu
Kanaho Kida
Saho Yamamoto

Violoncelos
Daisuke Kitaguchi
Mari Suenaga
Hiroaki Takahashi
Toshiko Mochizuki
Dangaku Watanabe
Hisashi Ichiraku

Contrabaixos
Kazuyuki Murata
Kenichi Naito #
Kanako Tanzawa
Shuhei Mitsui

Flautas
Mayuko Nagae
Yoriko Fushida
Shin Endoh

Oboés
Yoshie Miyamoto
Daichi Kawahito

Clarinetes
Shuichiro Mochimaru
Kanae Yoshioka

Fagotes
Yuhi Yasui
Nina Shakudo
Shota Takashima

Trompas
Aoi Nishimoto *
Risako Iwai
Megumi Yano
Sotetsu Mimura

Trompetes
Toshiyuki Komagari
Motoaki Sato

Trombones
Natsuki Nishimura *
Takeshi Mikubo

Trombone Baixo
Nozomi Kasano

Tímpanos
Tomoaki Yasunaga

Percussão
Yuji Hirokawa
Shoya Furukawa

Harpa
Minako Nakano

Piano
Erica Numamitsu


Chefe de Naipe
# Assistente Chefe de Naipe
* Chefe de Naipe Convidado

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