Noite de Macau

Orquestra Chinesa de Macau

Programa

Joseph Koo (1931-2023) / Arr. Ng Cheuk-yin
O Bund

Wang Danhong (1981- )
As Nuvens, as Montanhas e os Gansos Distantes

Liu Changyuan (1960 - )
Concerto para Erhu Libertado num Sonho
Erhu: Lu Yiwen

Intervalo

Wang Chenwei (1988- )
Postais de Macau
I. Templo de A-Má
1. Melodia das Ondas
2. Tufão no Mar
3. Milagre de A-Má
4. Culto a A-Má
II. Fortaleza do Monte
1. Invasão dos holandeses
2. Defensores de Macau
3. Batalha de Macau
4. Repulsa dos Invasores
III. Praça do Senado
1. Introdução
2. Saudade
3. Transição
4. Fusão

E. Watson (1946- )
Festa – Noites em Macau (Estreia mundial)

I. Albéniz (1860-1909) / Arr. Qi Haodi
Astúrias (Lenda) para handpan e orquestra chinesa
Handpan: Zheng Yu

Zou Hang (1975 - )
Buda Salta o Muro

Notas ao Programa

Joseph Koo / Arr. Ng Cheuk-yin: O Bund

A versão original é o tema musical da série de televisão homónima e um clássico da música pop cantonense.


Wang Danhong: As Nuvens, as Montanhas e os Gansos Distantes

Criada em 2005 por encomenda da Orquestra Chinesa de Guangdong, As Nuvens, as Montanhas e os Gansos Distantes foi concebida em torno de um popular tema de Chaozhou intitulado Dezoito Canções de Uma Flauta Nómada. Partindo da melodia principal desta peça para Zheng, este nóvel trabalho reconstrói-o e desenvolve-o, alcançando novas dimensões, permanecendo contudo fiel ao seu tema principal, reproduzido inteligentemente no seu climax. Incorporando as relações de desenvolvimento dos modos “seis pesados” (zhongliu) e “seis leves” (qingliu), presentes na música de Chaozhou, esta peça procura também reavivar o imponente estilo da música das dinastias Han e Tang e a magnificência da música de Chaozhou.


Liu Changyuan: Concerto para Erhu Libertado num Sonho

Esta peça foi criada em 2011, por encomenda da Orquestra Chinesa de Xangai, assumindo o título “Libertado num Sonho” sugerindo dois sentidos: interpretar sonhos vários e ilustrar os mesmos através da música.

Esta peça de dez secções será executada sem interrupção, correspondendo cada secção a um sonho diferente:
1. Saudade
2. Alegria
3. Carinho pelo amante
4. Terror
5. Lutando contra o poder da contenção, em atrito com o destino
6. Lamentos, suspiros e queixumes plangentes
7. Fantasia
8. Lamento pela vida
9. Saltando com exuberância
10. Oscilando entre o torpor dos sonhos e a vigília


Wang Chenwei: Postais de Macau

Os postais apresentam imagens simbólicas de um lugar. No verso dessas imagens impressas, geralmente os turistas escrevem sobre vivências que pretendem transmitir a familiares e amigos. Num espírito semelhante, recorri a temas musicais que de alguma forma podem simbolizar a cidade para conseguir um retrato musical único da cultura e da história de Macau.

O primeiro andamento, Templo de A-Má, evoca a história do templo mais emblemático de Macau. De facto, o nome de Macau deriva de a-maa-gok, o nome original do templo.

1. Em Melodia das Ondas, procurei retratar o cenário natural pitoresco da costa de Macau, recorrendo a figurações da melodia cantonense Lua de Outono sobre o Lago Calmo.
2. Em Tufão no Mar a sugestão dum navio de Hokkien (ou Fujian) que enfrenta um tufão nas águas de Macau, é dada com motivos da canção folclórica de Fujian, Céu Carregado.
3. Em Milagre de A-Má, os glissandi produzidos pelo guzheng simbolizam a aparição da divindade tutelar dos marinheiros, perto da Colina da Barra, guiando o navio para lugar seguro.
4. Em Culto a A-Má, trabalhei os temas de melodias cantonenses e de Fujian em contraponto, para representar os gratos marinheiros que decidiram erigir um templo para a sua salvadora.

O segundo andamento, Fortaleza do Monte, narra a batalha de Macau de 1622, usando material motívico de duas peças para órgão, uma de um compositor holandês, a outra de um compositor português, ambas do final da Renascença.

1. Na Invasão dos Holandeses, recorri a temas da Fantasia Cromática e da Toccata em Lá menor de Jan Pieterszoon Sweelinck (1562-1621), para exprimir a ambição holandesa de capturar Macau por forma a garantir o comércio na Ásia Oriental.
2. Em Defensores de Macau quis destacar as pessoas de todas os quadrantes da sociedade macaense que se uniram contra os invasores, uma vez que Macau não possuía guarnições militares. O tema que utilizei foi extraído do Primeiro Tento do Primeiro Tom, do compositor português Manuel Rodrigues Coelho (o tento foi uma forma musical cultivada pelos organistas portugueses e espanhóis na Renascença).
3. Na Batalha de Macau, o confronto das duas facções é simbolizado através da justaposição contrapontística dos temas da Toccata e o do Tento.
4. Repulsa dos Invasores coloca o motivo do Tento em confronto com o motivo descendente da Fantasia Cromática, representando a vitória de Macau sobre o inimigo claramente mais poderoso. O andamento termina num espírito de comemoração, com cadências interpretadas pelo naipe dos sheng, como se de um órgão se tratasse.

O terceiro andamento, Praça do Senado, refere-se à famosa praça que marca o centro da vida cultural e política da cidade desde a sua abertura como porto.

1. Introdução cita um motivo do fado-marcha Lisboa é assim, cantada pelos macaenses em Assí sâm Macau (Isto é Macau) com nova letra em Patuá. Esta citação incorpora o significado principal destes Postais de Macau – transmitir o sentido de “Isto é Macau” através da música.
2. Saudade cita o motivo de abertura de Macau Terra Minha, uma canção do autor macaense Rigoberto Rosário Jr. escrita em 1970. Essa emoção tão presente na cultura portuguesa, cujo nome é frequentemente considerado intraduzível, representa uma profunda nostalgia ou melancolia.
3. Transição é uma secção em jeito do tradicional fado. A melodia acelera e ilumina-se, como um filme que muda de monocromático para colorido.
4. Fusão é um fado-marcha que inclui motivos das melodias cantonenses Trovoada na Secura e Lua de Outono sobre o Lago Calmo. Este híbrido de música portuguesa e cantonense dá corpo à confluência das duas culturas em Macau e leva a peça a um grandioso final.

Por Wang Chenwei
Texto originalmente escrito em chinês


E. Watson: Festa – Noites em Macau

A noite é uma criança, a emoção está no ar, expressa nas luzes brilhantes, nos restaurantes, as multidões, os sons distantes da música são irresistíveis e todos sentem que ganham vida, atraídos pela atmosfera festiva da noite. Tudo em volta, os sons, os olhares, nos incitam a celebrar!

Esta obra divide-se em três partes. Após uma breve e tranquila introdução que expõe o material harmónico da obra, a primeira parte acelerada ilustra e retrata a emoção e a atmosfera de um festival contemporâneo realizado no clima de agitação de uma cidade moderna com todo o glamour e brilho e o ritmo inquieto que tipicamente acompanha a ocasião. Após algum tempo, a música estabiliza-se numa melodia lírica expansiva até atingir um clímax que vai gradualmente perdendo ímpeto e força à medida que afrouxa na colorida segunda parte, mais lenta e tradicional. Este segmento lembra-nos que a actual cidade é de facto histórica, plena de significados, que com entusiasmo viveu a voragem dos séculos, oferecendo contudo espaços de tranquilidade e oásis de paz, onde o ritmo incessante serena, ainda que momentaneamente, com uma caminhada ao longo de uma travessa do velho mundo ou à beira do mar intemporal ao luar e, quem sabe, um encontro casual, um contacto reencontrado ou até mesmo um romance... Entrando, na parte final, os sons distantes, o fascínio da vida nocturna, acenam-nos e, uma vez mais, somos rapidamente tomados pela atmosfera, renovados pela breve incursão ao passado, fazendo com que nos juntemos de novo à festa.

By Eric James Watson
Texto originalmente escrito em inglês


I. Albéniz / Arr. Qi Haodi: Astúrias (Lenda) para handpan e orquestra chinesa

Originalmente escrita como o prelúdio da obra para piano em três andamentos Cantos de Espanha, a peça foi mais tarde incluída na Suíte Espanhola e intitulada “Astúrias (Lenda)”. Embora a obra tenha sido originalmente escrita para piano, o arranjo para guitarra tornou-se mais popular, provavelmente porque a versão original foi modelada na técnica da guitarra.

Esta versão é a primeira do género a ser adaptada para handpan e a tradicional orquestra chinesa. A peça caracteriza-se por uma bela melodia e por uma enorme expressividade, tirando partido da singular sonoridade etérea do handpan. Começando com um elegante e onírico tema inicial, a peça apresenta uma certa placidez na sua secção intermédia, embora com um certo calor emocional (evocando a catacteristica alma espanhola), atingindo um delicado lirismo na recapitulação. A peça atinge assim um novo zénite de expressividade com esta novel associação do handpan com a sonoridade de uma tradicional orquestra chinesa.


Zou Hang: Buda Salta o Muro

Nome de uma iguaria chinesa, “Buda Salta o Muro” deriva de um ditado popular que refere que nem mesmo os monges budistas resistem à tentação deste prato. Inspirado por esta obra-prima culinária, o compositor elaborou esta composição para gongos e tambores, baseando-se na música tradicional de Chaoshan. Utilizando técnicas de composição contemporâneas, a obra reflecte bem o dinamismo e a diversidade cultural da China.


Nota ao programa escrita originalmente em chinês e providenciada pela Orquestra Chinesa de Macau (excepto notas sobre Festa – Noites em Macau)

Notas Biográficas

Liu Shun, Maestro

Liu é um conhecido educador musical e maestro, professor e orientador de doutoramentos no Conservatório de Música da China, director musical e maestro da Orquestra de Câmara da Cidade Proibida, director musical e maestro principal da Orquestra Chinesa de Guangdong.

Ao longo de décadas de dedicação às áreas da educação, investigação, conservação e divulgação da música orquestral chinesa, tendo absorvido a essência da cultura tradicional através da comparação entre várias culturas, Liu alcançou conquistas notáveis na sua exploração e prática inovadoras de investigação. O programa de “Música de Câmara Chinesa Contemporânea”, que encetou em 1995, preencheu uma lacuna que existia a nível nacional na educação musical.

Liu foi convidado a participar em festivais de música conceituados e a dirigir orquestras em dezenas de países e regiões. Foi também convidado a participar no diálogo criativo entre a música de câmara chinesa e ocidental, tendo co-criado diversas obras peças com vários compositores. Liu trabalhou com conservatórios de música de renome, incluindo o Instituto de Música Curtis e o Conservatório de Música da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos.

Lu Yiwen, Erhu

Lu é intérprete e professora de erhu no Conservatório de Música de Xangai, desempenhando ainda o cargo de directora da Associação de Intérpretes de Instrumentos de Cordas de Arco Chineses da Associação de Músicos Chineses e de directora do Comité Profissional de Huqin da Associação de Música Chinesa. Lu venceu o Prémio de Melhor Interpretação de Erhu no âmbito da 4.ª edição do Prémio Wenhua em 2012 e conquistou o ouro em Erhu, no âmbito da 10.ª edição dos Prémios de Música da China Sino Dourado em 2015.

Tendo estudado primeiro com Wang Xiangyang, depois com Liu Jie, Chen Chunyuan e a virtuosa do erhu Min Huifen, Lu é uma das jovens figuras principais dos meios do erhu, distinguindo-se pela sua notável técnica de interpretação e pelo seu potencial de desenvolvimento. A artista tem actuado em palcos musicais nacionais e internacionais como intérprete individual de erhu e colaborado regularmente com vários músicos e orquestras, tanto a nível nacional como internacional. Lu é conhecida pelo seu virtuosismo, bem como pela sua musicalidade natural, presença em palco e carisma artístico, sendo uma intérprete exímia de obras de diferentes temas e géneros.

Zheng Yu, Handpan

Jovem percussionista, intérprete de segunda classe a nível nacional, Zheng é professor externo na Escola Secundária Afiliada ao Conservatório de Música da China, director tanto da Sociedade das Artes de Percussão (China) como da Associação de Música Tradicional Chinesa de Pequim. É ainda especialista distinto das orquestras chinesas da Universidade de Pequim e da Universidade da China de Segurança Pública Popular.

Zheng formou-se pelo Conservatório de Música da China, tendo concluído um mestrado na mesma instituição. Estudou com os conceituados percussionistas e pedagogos Fang Guoqing, Jiao Shanlin e Wang Yidong. Em 2012, venceu o Prémio de Melhor Interpretação na categoria de Agrupamento de Instrumentos Tradicionais no 4.º Concurso Nacional Juvenil de Interpretação de Instrumentos Chineses, tendo também conquistado o primeiro prémio no Concurso Internacional de Música de Osaka. Participou nas cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008, tendo colaborado na gravação de várias bandas sonoras para cinema e televisão. Zheng realizou múltiplos recitais de percussão por toda a China, tendo ainda actuado em vários países no exterior, incluindo nos Estados Unidos, na Alemanha, em Itália e em Espanha.

Orquestra Chinesa de Macau

A Orquestra Chinesa de Macau foi fundada em 1987. Defendendo o princípio “sediada em Macau, abraçando o mundo e promovendo a cultura com repertório do Oriente e do Ocidente”, a Orquestra tem vindo a apresentar música tradicional chinesa que reflecte o espírito dos tempos, trazendo excelentes obras aos melómanos de Macau, permitindo um acesso fácil do público a este género, ao mesmo tempo que projecta uma imagem da cidade para o mundo. Desde 1 de Fevereiro de 2022, a Orquestra é gerida e operada pela Sociedade Orquestra de Macau, limitada, que é integralmente detida pelo Governo da Região Administrativa Especial. No futuro, a Orquestra continuará a aprimorar o profissionalismo e a apresentar ao público variados tipos de música chinesa.

Orquestra Chinesa de Macau

Gaohu
Zhang Yueru (Concertino)
Sun Huaran
Cai Feng
Zhang Xinyue
Yang Jingyi

Erhu
Liu Xinran *
Dong Lizhi
Jiang Xiaodong
Tian Jie
Jia Xuefei
He Siwen
Li Kailin
Guo Yougen
Kam Ka Lung
Choi Hio Lam

Zhonghu
Li Feng *
Xie Bowen
Xu Huizi
Xia Jun
Wang Chi
Cai Yujie

Violoncelos
Han Yang *
Chan Soi Ieng
Leong Chon Hang
Leong Wengsam

Contrabaixos
Yao Yuanzheng **
Yao Yao

Yangqin
Li Kewei *
Chan Hio Iong

Liuqin
Wei Qing *
Tian Yue

Guzheng
Sou Man Ieong

Pipa
Deng Le *
Li Tong

Zhongruan
Lin Jie *
Zhou Siyu
Liu Fangfei
Ai Fangshu

Daruan
Choo Boon Yeow

Sanxian
Lam Chak Yin

Harpa
Leong Cheok Wun

Bangdi
Wei Zi Dong **

Qudi
Qian qin
Su Tzuliang

Xindi
Lin Chia-Ho

Sheng Soprano
Jia Lei *
Chung Chia-Lin

Sheng Contralto
Li Mingyang

Sheng Baixo
Leung Yan Chiu

Suona Soprano
Tian Ding *
Guo Shuangxi

Suona Contralto
Zhang Kai

Suona Baixo
Zhang Hong

Guan Baixo
Wu Yaxin

Percussão
Li Chang *
Wang Juan
Kuong Pou In
Ho Ka Ieng
Kao Shou-Yueh
Lin Chen-Jun


* Chefe de Naipe
** Chefe de Naipe substituto
Músico convidado

Aviso Legal
O Instituto Cultural do Governo da Região Administrativa Especial de Macau assegura apenas a comunicação e apoio técnico ao projecto. Quaisquer ideias/opiniões expressas no projecto são da responsabilidade do projecto/equipa do projecto e não reflectem necessariamente os pontos de vista do Instituto Cultural.