Joseph Koo / Arr. Ng Cheuk-yin: O Bund
A versão original é o tema musical da série de televisão homónima e um clássico da música pop cantonense.
Wang Danhong: As Nuvens, as Montanhas e os Gansos Distantes
Criada em 2005 por encomenda da Orquestra Chinesa de Guangdong, As Nuvens, as Montanhas e os Gansos Distantes foi concebida em torno de um popular tema de Chaozhou intitulado Dezoito Canções de Uma Flauta Nómada. Partindo da melodia principal desta peça para Zheng, este nóvel trabalho reconstrói-o e desenvolve-o, alcançando novas dimensões, permanecendo contudo fiel ao seu tema principal, reproduzido inteligentemente no seu climax. Incorporando as relações de desenvolvimento dos modos “seis pesados” (zhongliu) e “seis leves” (qingliu), presentes na música de Chaozhou, esta peça procura também reavivar o imponente estilo da música das dinastias Han e Tang e a magnificência da música de Chaozhou.
Liu Changyuan: Concerto para Erhu Libertado num Sonho
Esta peça foi criada em 2011, por encomenda da Orquestra Chinesa de Xangai, assumindo o título “Libertado num Sonho” sugerindo dois sentidos: interpretar sonhos vários e ilustrar os mesmos através da música.
Esta peça de dez secções será executada sem interrupção, correspondendo cada secção a um sonho diferente:
1. Saudade
2. Alegria
3. Carinho pelo amante
4. Terror
5. Lutando contra o poder da contenção, em atrito com o destino
6. Lamentos, suspiros e queixumes plangentes
7. Fantasia
8. Lamento pela vida
9. Saltando com exuberância
10. Oscilando entre o torpor dos sonhos e a vigília
Wang Chenwei: Postais de Macau
Os postais apresentam imagens simbólicas de um lugar. No verso dessas imagens impressas, geralmente os turistas escrevem sobre vivências que pretendem transmitir a familiares e amigos. Num espírito semelhante, recorri a temas musicais que de alguma forma podem simbolizar a cidade para conseguir um retrato musical único da cultura e da história de Macau.
O primeiro andamento, Templo de A-Má, evoca a história do templo mais emblemático de Macau. De facto, o nome de Macau deriva de a-maa-gok, o nome original do templo.
1. Em Melodia das Ondas, procurei retratar o cenário natural pitoresco da costa de Macau, recorrendo a figurações da melodia cantonense Lua de Outono sobre o Lago Calmo.
2. Em Tufão no Mar a sugestão dum navio de Hokkien (ou Fujian) que enfrenta um tufão nas águas de Macau, é dada com motivos da canção folclórica de Fujian, Céu Carregado.
3. Em Milagre de A-Má, os glissandi produzidos pelo guzheng simbolizam a aparição da divindade tutelar dos marinheiros, perto da Colina da Barra, guiando o navio para lugar seguro.
4. Em Culto a A-Má, trabalhei os temas de melodias cantonenses e de Fujian em contraponto, para representar os gratos marinheiros que decidiram erigir um templo para a sua salvadora.
O segundo andamento, Fortaleza do Monte, narra a batalha de Macau de 1622, usando material motívico de duas peças para órgão, uma de um compositor holandês, a outra de um compositor português, ambas do final da Renascença.
1. Na Invasão dos Holandeses, recorri a temas da Fantasia Cromática e da Toccata em Lá menor de Jan Pieterszoon Sweelinck (1562-1621), para exprimir a ambição holandesa de capturar Macau por forma a garantir o comércio na Ásia Oriental.
2. Em Defensores de Macau quis destacar as pessoas de todas os quadrantes da sociedade macaense que se uniram contra os invasores, uma vez que Macau não possuía guarnições militares. O tema que utilizei foi extraído do Primeiro Tento do Primeiro Tom, do compositor português Manuel Rodrigues Coelho (o tento foi uma forma musical cultivada pelos organistas portugueses e espanhóis na Renascença).
3. Na Batalha de Macau, o confronto das duas facções é simbolizado através da justaposição contrapontística dos temas da Toccata e o do Tento.
4. Repulsa dos Invasores coloca o motivo do Tento em confronto com o motivo descendente da Fantasia Cromática, representando a vitória de Macau sobre o inimigo claramente mais poderoso. O andamento termina num espírito de comemoração, com cadências interpretadas pelo naipe dos sheng, como se de um órgão se tratasse.
O terceiro andamento, Praça do Senado, refere-se à famosa praça que marca o centro da vida cultural e política da cidade desde a sua abertura como porto.
1. Introdução cita um motivo do fado-marcha Lisboa é assim, cantada pelos macaenses em Assí sâm Macau (Isto é Macau) com nova letra em Patuá. Esta citação incorpora o significado principal destes Postais de Macau – transmitir o sentido de “Isto é Macau” através da música.
2. Saudade cita o motivo de abertura de Macau Terra Minha, uma canção do autor macaense Rigoberto Rosário Jr. escrita em 1970. Essa emoção tão presente na cultura portuguesa, cujo nome é frequentemente considerado intraduzível, representa uma profunda nostalgia ou melancolia.
3. Transição é uma secção em jeito do tradicional fado. A melodia acelera e ilumina-se, como um filme que muda de monocromático para colorido.
4. Fusão é um fado-marcha que inclui motivos das melodias cantonenses Trovoada na Secura e Lua de Outono sobre o Lago Calmo. Este híbrido de música portuguesa e cantonense dá corpo à confluência das duas culturas em Macau e leva a peça a um grandioso final.
Por Wang Chenwei
Texto originalmente escrito em chinês
E. Watson: Festa – Noites em Macau
A noite é uma criança, a emoção está no ar, expressa nas luzes brilhantes, nos restaurantes, as multidões, os sons distantes da música são irresistíveis e todos sentem que ganham vida, atraídos pela atmosfera festiva da noite. Tudo em volta, os sons, os olhares, nos incitam a celebrar!
Esta obra divide-se em três partes. Após uma breve e tranquila introdução que expõe o material harmónico da obra, a primeira parte acelerada ilustra e retrata a emoção e a atmosfera de um festival contemporâneo realizado no clima de agitação de uma cidade moderna com todo o glamour e brilho e o ritmo inquieto que tipicamente acompanha a ocasião. Após algum tempo, a música estabiliza-se numa melodia lírica expansiva até atingir um clímax que vai gradualmente perdendo ímpeto e força à medida que afrouxa na colorida segunda parte, mais lenta e tradicional. Este segmento lembra-nos que a actual cidade é de facto histórica, plena de significados, que com entusiasmo viveu a voragem dos séculos, oferecendo contudo espaços de tranquilidade e oásis de paz, onde o ritmo incessante serena, ainda que momentaneamente, com uma caminhada ao longo de uma travessa do velho mundo ou à beira do mar intemporal ao luar e, quem sabe, um encontro casual, um contacto reencontrado ou até mesmo um romance... Entrando, na parte final, os sons distantes, o fascínio da vida nocturna, acenam-nos e, uma vez mais, somos rapidamente tomados pela atmosfera, renovados pela breve incursão ao passado, fazendo com que nos juntemos de novo à festa.
By Eric James Watson
Texto originalmente escrito em inglês
I. Albéniz / Arr. Qi Haodi: Astúrias (Lenda) para handpan e orquestra chinesa
Originalmente escrita como o prelúdio da obra para piano em três andamentos Cantos de Espanha, a peça foi mais tarde incluída na Suíte Espanhola e intitulada “Astúrias (Lenda)”. Embora a obra tenha sido originalmente escrita para piano, o arranjo para guitarra tornou-se mais popular, provavelmente porque a versão original foi modelada na técnica da guitarra.
Esta versão é a primeira do género a ser adaptada para handpan e a tradicional orquestra chinesa. A peça caracteriza-se por uma bela melodia e por uma enorme expressividade, tirando partido da singular sonoridade etérea do handpan. Começando com um elegante e onírico tema inicial, a peça apresenta uma certa placidez na sua secção intermédia, embora com um certo calor emocional (evocando a catacteristica alma espanhola), atingindo um delicado lirismo na recapitulação. A peça atinge assim um novo zénite de expressividade com esta novel associação do handpan com a sonoridade de uma tradicional orquestra chinesa.
Zou Hang: Buda Salta o Muro
Nome de uma iguaria chinesa, “Buda Salta o Muro” deriva de um ditado popular que refere que nem mesmo os monges budistas resistem à tentação deste prato. Inspirado por esta obra-prima culinária, o compositor elaborou esta composição para gongos e tambores, baseando-se na música tradicional de Chaoshan. Utilizando técnicas de composição contemporâneas, a obra reflecte bem o dinamismo e a diversidade cultural da China.
Nota ao programa escrita originalmente em chinês e providenciada pela Orquestra Chinesa de Macau (excepto notas sobre Festa – Noites em Macau)