Long Yu e a Orquestra Sinfónica de Xangai

Programa

N. Rimsky-Korsakov (1844-1908)
Abertura de A Noiva do Czar

S. Rachmaninoff (1873-1943)
Rapsódia sobre um Tema de Paganini, op. 43
Piano: Zee Zee

Intervalo

W. A. Mozart (1756-1791)
Concerto para Violino n.º 5 em Lá Maior, K. 219 “Turco”
I. Allegro aperto
II. Adagio
III. Rondeau. Tempo di Menuetto
Violino: Liu Ming

L. Bernstein (1918-1990)
Abertura de Candide

Notas ao Programa

N. Rimsky-Korsakov: Abertura de A Noiva do Czar

Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908) é um compositor representativo da música nacionalista russa do século XIX. Embora o seu grande reconhecimento no mundo da música ocidental se deva sobretudo às suas esplêndidas obras orquestrais, como as conhecidas suítes sinfónicas Scheherazade e Capriccio Espagnol, Rimsky-Korsakov dedicou a maior parte da sua energia criativa à ópera, tendo escrito 15 ao longo de toda a sua vida, nas quais se revelam plenamente o seu apuramento técnico enquanto compositor orquestral com um gosto especial em convocar diversos estilos vocais.

A ópera em quatro actos A Noiva do Czar é a décima obra operática do compositor, constituindo uma adaptação da peça homónima do dramaturgo russo Lev Mey. Baseada em factos históricos, a peça narra a tragédia amorosa de uma mulher comum de nome Marfa, durante o reinado de Ivan Vasilyevich (também conhecido como “Ivan, o Terrível”), em meados do século XVI, envenenada pouco tempo depois de se ter tornado na terceira mulher do notório tirano. A produção foi estreada na Rússia em 1899, na Ópera Privada, uma companhia fundada em 1885, por doação do empresário russo Sava Mamontov. A abertura abrange dois temas com uma forte aura russa. O primeiro tema, apreensivo e dinâmico, sugere um conflito emocional e a morte que acaba por sobrevir, sendo o segundo tema lento e cantábile, representando o romance belo, intenso, mas efémero, da protagonista.

Por Danni Liu
Texto originalmente escrito em chinês


S. Rachmaninoff: Rapsódia sobre um Tema de Paganini, op. 43

Embora a sua música seja frequentemente considerada do “romantismo tardio”, Sergei Rachmaninoff afastou-se muito dos seus compositores contemporâneos. No final do século XIX, ao invés de optar pelo frenesim poético representado por Richard Strauss ou pela ilusão utópica de Gustav Mahler, Rachmaninoff optou por uma reflexão auto-imersiva sobre o mundo espiritual da humanidade. No início do século XX, apesar de ser confrontado com novas formas musicais complexas, a introdução de novas técnicas de composição, incluindo a “atonalidade” e a “dodecafonia”, a influência de diversos estilos musicais, como o impressionismo, o expressionismo e o neoclassicismo, Rachmaninoff aderiu ao profundo lirismo e romantismo dramático herdados de Tchaikovsky. Em virtude do seu lirismo intrínseco, típico das melodias folclóricas eslavas, Rachmaninoff é aclamado como a “última glória do romantismo russo”.

O talento composicional de Rachmaninoff foi frequentemente ignorado durante a sua vida devido ao fascínio que causava enquanto pianista virtuoso. No entanto, é possível vislumbrar a sua personalidade singular, desenvolvida no contexto romântico a partir das suas composições, desde miniaturas como os 24 Prelúdios e os Études-Tableaux, a grandes obras como óperas, sinfonias e os seus quatro concertos para piano. Apesar de ter sido composta em 1934, entre as duas Guerras Mundiais, a Rapsódia sobre um Tema de Paganini evidencia poucos vestígios do primeiro conflito. Considerada o “quinto concerto para piano” do compositor, a obra é uma majestosa combinação de técnicas sinfónicas com o sofisticado virtuosismo exigido a um solista em concerto, toda ela envolta na magnificência e narratividade lógica das rapsódias. As variações ao longo do andamento único tendem, visivelmente, a assumir a forma de uma suíte, evidenciando as 24 variações do tema uma incindível coesão ao longo do desenvolvimento contínuo e enérgico dos três conjuntos de variações vagamente intervalados, como se de três andamentos se tratassem. O âmago desta rapsódia, nomeadamente o tema que dá origem às 24 variações, foi inspirada no Capricho n.º 24 de Paganini, evocando límpidas gotas de orvalho a cair sobre um tabuleiro de pedra, espalhando-se em todas as direcções através de um diálogo entre a orquestra e o piano.

Comparada com outras adaptações da peça de Paganini, tais como as Variações sobre um Tema de Paganini de Brahms e os Grandes études de Paganini de Liszt, esta recriação de Rachmaninoff assemelha-se a uma árvore de grande porte: o tema, representando o tronco, é semelhante ao original, na medida em que incorpora tanto a sua delicadeza como a sua pujança; novos rebentos de originalidade crescem a partir das variações, tal como representados na técnica de inversão utilizada na melodia harmoniosa da Variação 18, a qual cativa o coração com pureza como a luz refrescante do céu. Os frutos que absorvem a essência do universo introduzem um marcado sentido ritualístico ao citar o hino medieval Dies Iræ (Dia do Juízo Final).

Ao longo da história, alguns académicos consideraram as obras de Rachmaninoff um mau exemplo, declarando que “lhe faltava criatividade e talento, pois imitava o estilo de Tchaikovsky e seguia conservadoramente as técnicas de composição que prevaleceram no final do período romântico” e que as suas obras “são imitações emotivas, superficiais e vulgares do modernismo”. Alguns críticos chegaram mesmo a acreditar que “as suas obras seriam rejeitadas e ignoradas em menos de meio século”. Apesar de todas estas críticas, constatamos hoje que a importância de Rachmaninoff superou o teste do tempo.


W. A. Mozart: Concerto para Violino n.º 5 em Lá Maior, K. 219 “Turco”

Foi depois de ter abandonado o seu cargo na corte de Salzburgo e de se ter tornado um “músico livre” que Mozart compôs o Concerto para Violino n.º 5 em Lá Maior. Rígida e requintada, a composição transmite um abrupto contraste entre as secções fortes e delicadas. Utilizando técnicas altamente engenhosas, o compositor realça o timbre e o papel central do solo de violino, produzindo uma aura ágil e vigorosa com notas agudas de grande exuberância. Este concerto põe à prova o nível geral dos intérpretes no domínio do seu instrumento, dado o grau de exigência das técnicas típicas das obras de Mozart, incluindo a atenção à dinâmica sonora, velocidade estável, secções de bloco e contrastes de volume.


L. Bernstein: Abertura de Candide

Na década de 1950, Leonard Bernstein impressionava o mundo operático, tanto a partir do pódio, dirigindo icónicas companhias como o Teatro alla Scala de Milão, bem como a partir da sua mesa de trabalho, compondo novas óperas de dimensão diversa. Em 1953, a dramaturga Lillian Hellman sugeriu que Bernstein levasse a obra Cândido de Voltaire à cena e Bernstein convenceu-a a adaptar este conto para uma opereta neoclássica, ao invés da peça de teatro com acompanhamento musical que ela inicialmente havia ponderado. Este conto filosófico e satírico relata a série de infortúnios vivenciados pelo gentil e inocente Cândido e a sua amada, colocando em causa o optimismo leibniziano (“este é o melhor de todos os mundos possíveis”).

A estreia nova iorquina de Candide em 1956 não teve muito êxito, provavelmente devido ao tema, excessivamente rebuscado para o público. Mais tarde, Bernstein adaptou-a para diversas versões, a fim de serem apresentadas em diferentes locais, mas foi a abertura que granjeou popularidade a nível mundial. Em 26 de Janeiro de 1957, Bernstein iniciou um concerto da Filarmónica de Nova Iorque com esta abertura, convertendo-a instantaneamente numa das peças favoritas para abrir espectáculos orquestrais.

Célebre pela sua esplêndida orquestração e excelente percussão, a abertura de Candide é composta por três partes: o início, altamente expressivo, a secção central lenta e lírica e a emocionante coda.


Notas ao programa originalmente escritas em chinês e gentilmente cedidas pela Orquestra Sinfónica de Xangai (excepto notas sobre “Abertura de A Noiva do Czar” )

Notas Biográficas

Long Yu, Maestro

Yu nasceu em Xangai, no seio de uma família de músicos, e formou-se na Hochschule der Künste Berlin na Alemanha. É o director artístico titular da Orquestra Filarmónica da China, director musical da Orquestra Sinfónica de Xangai, director musical honorário vitalício da Orquestra Sinfónica de Cantão, maestro principal convidado da Orquestra Filarmónica de Hong Kong, vice-presidente da Associação de Músicos Chineses e presidente da Liga das Orquestras da China da Associação de Músicos Chineses.

Foi nomeado Pessoa do Ano de 2010 no Campo das Artes e recebeu o Prémio de Artes da China em 2013. No mesmo ano, também foi premiado com o título de Académico Honorário do Conservatório Central de Música pela sua grande dedicação ao desenvolvimento musical da China. Foi reconhecido como “a figura mais poderosa no panorama da música clássica ocidental da China” pelos meios de comunicação social estrangeiros e recebeu a distinção de “Cavaleiro da Legião de Honra” do governo francês, o Prémio Cidadão Global do Concelho Atlântico e a Medalha Sanford da Escola de Música de Yale.

Zee Zee, Piano

Zee Zee é uma pianista imaginativa e impressionante reconhecida pelos média como “cheia de entusiasmo e glamour, irradiando o vigor da juventude” e por “uma representação poderosa, apaixonada e convincente de pura arte”. Colaborou com muitos maestros e orquestras de renome, no país e no exterior, e deu recitais no Wigmore Hall no Reino Unido, no John F. Kennedy Centre for the Performing Arts e no Lincoln Centre, nos Estados Unidos. Também se apresentou em festivais, como o BBC Proms, Festival de Lucerna e Festival de Artes de Hong Kong.

Depois de ingressar no Universal Music Group em 2019, gravou um álbum em colaboração com a Orquestra Filarmónia de Londres sob a regência do reconhecido maestro Paavo Järvi, lançado pela editora de música clássica Deutsche Grammophon. Em Maio de 2022, o seu álbum a solo Journey foi lançado por outra editora de música clássica, a Decca Records.

Liu Ming, Violino

A jovem violinista chinesa Liu Ming foi admitida no Conservatório de Música de Xangai em 2014, onde estudou com a conceituada violinista e educadora Vera Tsu. Desde Setembro de 2020, é concertina da Orquestra Sinfónica de Xangai.

Liu distinguiu-se em várias competições internacionais, incluindo o segundo Concurso Internacional de Violino de Hong Kong e o primeiro Concurso Internacional de Violino Isaac Stern de Xangai, tornando-se a única chinesa a chegar à final deste último, o que chamou a atenção dos meios da música clássica. Em 2019, Liu recebeu o primeiro prémio na categoria de violino no segundo Concurso Internacional de Música de Harbin. Em 2022, participou no documentário Melodias Judaicas Deixadas em Xangai, produzido pelo Shanghai Media Group, e apresentou o concerto Legados Hebraicos. Em Junho de 2023, actuou como violinista solo no concerto de encerramento da temporada 2022-23 da Orquestra Sinfónica de Xangai.

Orquestra Sinfónica de Xangai

Anteriormente conhecida como Banda Pública de Xangai, fundada em 1879, viria a receber o nome de Orquestra Municipal de Xangai em 1922. Foi finalmente denominada Orquestra Sinfónica de Xangai em 1956, sendo assim a orquestra sinfónica com a história mais longa da Ásia. Para além de ser o primeiro ensemble a apresentar extensivamente a música ocidental, executar peças orquestrais chinesas, cultivar o talento musical e desenvolver um público para a música sinfónica, a Orquestra Sinfónica de Xangai foi também a primeira orquestra chinesa a apresentar-se no Carnegie Hall, nos Estados Unidos, na Berliner Philharmonie, na Alemanha e no Festival de Lucerna, na Suíça, bem como a primeira orquestra chinesa a ter os seus álbuns lançados mundialmente pela editora de música clássica Deutsche Grammophon.

Desde a sua fundação, há mais de um século, a orquestra sempre seguiu a visão internacional e ampla inclusão da cidade de Xangai, cumprindo a missão de ligar o mundo através da música. Está determinada a tornar-se uma orquestra de classe mundial que reúne artistas de topo e mostra a mais elevada capacidade de interpretar música chinesa, empenhando-se em facilitar o intercâmbio entre as culturas chinesa e ocidental. O presidente titular da orquestra é Zhou Ping, sendo Long Yu o director musical.

Orquestra Sinfónica de Xangai

Director Musical
Long Yu

Director Honorário
Chen Xieyang

Maestrina Residente
Zhang Jiemin

Maestro Assistente
Zhang Lu

Concertinos
Li Pei
Liu Ming

Concertino Associado
Zhang Songjie

Primeiros Violinos
Yoonso Cho
Huang Na
Li Wenting
Liu Lei
Ma Qianyi
Pan Yi
Shi Zhenyu
Su Ting
Sun Lanyue
Wang Chunhao
Wang Wei
Xiong Yu
Yu Renchao
Zhang Yanan
Zheng Tao

Segundos Violinos
Miao Lejun *
Zhu Wenjia *
Du Yi **
Chen Yi
Huang Hong
Huang Yilu
Li Xia
Liu Sha
Luo Chang
Tian Junjun
Wang Nana
Wang Yun
Wu Aolie
Xu Qing
Yang Can
Yen Tochia
Yin Yuefeng

Violas
Ba Tong *
Shi Zhenli **
Chen Yue
Guo Weiqi
Li Xiang
Ma Ke
Piao Hong
Qiao Dan
Sun Zehao
Wang Bochun
Wang Guan
Wang Lin
Yu Haifeng
Zhang Siyuan

Violoncelos
Huang Beixing *
Zhu Lin *
Chen Shaojun
Chen Xihui
Hu Cunyuan
Huang Yunyan
Jhao Changhong
Liu Yuching
Lu Jinhu
Xu Jiajia
Zhao Liyuan
Zheng Shuyi
Zhou Runqing

Contrabaixos
Zhang Ming *
Qian Bowen *
Haruna Ashizawa **
Qi Jiandong
Qu Xudong
Shen Yunxuan
Wang Xiaorui
Wu Jinrong
Zhang Kaixuan
Zhu Shunhua

Flautas
Hu Zhe *
Bartolomeo Audisio *
Zhang Zejing **
Liu Lin (e Flautim)
Huang Fangyu (e Flautim)

Oboés
Zhang Xin *
Man Jingyi **
Chen Yiling (e Corne-inglês)
Sheng Zhongyuan (e Corne-inglês)

Clarinetes
Dai Le *
Sun Junnan **
Wu Yuru (e Clarinete em Lá Maior)
Li Cong (e Clarinete Baixo)

Fagotes
Chan Tingyuen *
Cheng Min *
Chen Juichieh **
Hu Yu (e Contrafagote)
Lan Yingchieh (e Contrafagote)

Trompas
Guo Zhongbao *
Peter Solomon *
Shi Jieliang
Zhong Zhuoning
Lin Jun
Chu Yiyu

Trompetes
Xia Fei *
Stefano Flaibani *
Yao Tianhao **
Li Xiaonan
Wang Zhen

Trombones
Hao Jie *
Lin Chiahsien **
Zhang Huaming **
Cao Chensen (e Trombone Baixo)

Tuba
Alexander Filippov

Timbales
Enrico Calini *

Percussão
Gu Kai
Zheng Wei **
Fang Qi (e Teclas)
Fu Yifei
Shi Chunli
Wang Kang
Zhang Xinru

Harpa
Sun Zhiyang (e Teclas)
Chen Lei (e Teclas)


* Chefe de Naipe
** Chefe de Naipe Assistente
Chefe de Naipe Assistente e Responsável pelo Naipe

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