A Longa Viagem Artística

Em 2023, o 33.º Festival de Artes de Macau será dedicado ao tema “A Longa Viagem Artística”, com vista a promover formas inovadoras de expressão artística da nossa época através de um variado leque de programas de qualidade excepcional, convidando o público a apreciar a beleza da arte e a olhar colectivamente para o futuro com um enfoque local e uma visão global, assim como a explorar os diversos aspectos da existência humana através de reflexões ilustradas por meio de diferentes géneros artísticos. Inspirada na bússola, a imagem central desta edição do Festival transmite a ideia de “guiar o caminho e iluminar os corações”, incentivando o público a tornar a vida mais bela e a ir mais longe através da convivência com a arte.

Este ano, o Festival de Artes de Macau arranca com o espectáculo A Sagração da Primavera, uma produção da conceituada bailarina chinesa Yang Liping. Desde a estreia de A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, em Paris, há mais de um século, têm-se sucedido inúmeras reposições geniais desta obra-prima. Com esta produção criada em colaboração com vários artistas internacionais e contando com vários anos de experiência coreográfica acumulada, Yang pretende descobrir novos caminhos artísticos através da combinação de elementos ocidentais e orientais.

O encenador chinês Liu Fangqi, conhecido pelas suas peças de grande sucesso, irá envolver o Festival de Artes de Macau num amplexo de luz aconchegante com a sua adaptação de uma das três obras-primas de Keigo Higashino: Os Milagres dos Armazéns Namiya. Esta produção meticulosa não deixará de deslumbrar o público com a sua história fantástica e música comovente e com as suas actuações desafectadas, tendo sido prestigiada com uma dedicação do autor do romance original: “Gosto de espíritos desassossegados e de espíritos perplexos”. Esta é uma peça que apazigua as mentes inquietas do nosso tempo.

Com o retomar das viagens entre Macau e o exterior, o Festival de Artes de Macau tomou a iniciativa de convidar a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo para interpretar um bailado criado pelos conceituados coreógrafos Vasco Wellenkamp e Miguel Ramalho, os quais se propuseram a verter poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen para a linguagem da dança, de modo a deixar que os corpos e movimentos dos bailarinos nos iluminem a vida e a alma.

Qualquer viagem tem de chegar ao fim, independentemente de todos os obstáculos enfrentados. Várias obras-primas de artistas famosos que não puderam ser apresentadas em Macau devido à pandemia, vêm finalmente ao encontro do público que as aguarda com grande expectativa. Entre essas obras, contam-se Eu Sou Uma Lua, uma peça de teatro da autoria da jovem dramaturga Zhu Yi, que revela os desejos e segredos dos habitantes da cidade; a antiga tragédia grega Electra, co-produzida pelo Centro de Artes Dramáticas de Xangai, uma companhia de teatro profissional chinesa, e por uma equipa de produção grega; o espectáculo de dança Xiao Ke, resultante da colaboração entre uma bailarina chinesa e um coreógrafo francês; a peça A Nova Estalagem Dragão, apresentada pela Companhia de Teatro Jingju de Xangai, que atribui igual importância à tradição e à inovação; e a Ópera Cantonense Experimental Adeus Minha Concubina (Nova Adaptação) produzida pelo Centro Xiqu, Distrito Cultural de West Kowloon. Entre o local e o internacional, a tradição e a inovação, o Festival desencadeará o poder infinito das artes cénicas.

O Festival de Artes de Macau tem vindo, desde sempre, a promover a criação artística e cultural e as produções locais, as quais representam metade da programação deste ano, prometendo um grande impacto emocional com uma combinação de criatividade, tecnologia, reflexão e considerações humanistas.

Inspirada no tema “o ser humano e a cidade” e incorporando a experiência de realidade virtual (RV) em teatro imersivo, a Associação de Arte Teatral Dirks, uma companhia de teatro local, associou-se a uma equipa criativa de Hong Kong para produzir m@rc0 p0!0 endg@me 2.0, um programa que propõe uma reflexão sobre o impacto da civilização digital no mundo humano, transcendendo a fronteira entre o virtual e o real. E, como a criatividade não conhece limites, depois de F’art for U, o versátil Estúdio de Arte PO propõe-se novamente a abrilhantar o Festival de Artes de Macau com Lift Left Life Live, uma peça de “pseudo-teatro de viagem”, que arrebatou o público no Festival Fringe da Cidade de Macau e que será agora recriada numa produção intrigante que combina a experiência de viajar e uma meditação sobre a cidade.

Stella e Artistas, uma companhia local dedicada à dança contemporânea, apresentará Clube Solidão em colaboração com a companhia de dança TOTAL BRUTAL, de Berlim, usando linguagem corporal e movimentos para explorar os temas do amor e da solidão, os quais existem em diferentes regiões e culturas do mundo. Dedicada à produção de peças originais, a Dream Theater Association criou um teatro quase documental intitulado O Vestido Fica-lhe Bem, baseando-se em entrevistas da sua equipa criativa com indivíduos psicóticos para explorar um mundo sensorial insólito por entre fragmentos de texto, sons e vídeos.

A Associação de Ópera Cantonense Zhen Hua Sing transformou as memórias dolorosas do Tufão Hato na Ópera Cantonense Multimédia Completa Ligações de Hato, a fim de elogiar a nobreza e o carinho da população de Macau pela cidade. O Teatro em Patuá é uma tradição exclusiva de Macau, sendo classificada como património cultural intangível nacional e mantendo-se viva graças ao Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau, único no seu género. Esta companhia de teatro tem vindo a comentar, de forma hilariante, todas as grandes questões desta pequena cidade ao longo de décadas, e celebra agora o seu 30.º aniversário. Aguardemos com expectativa Chachau-Lalau di Carnaval (Oh, Que Arraial!), o programa de encerramento que o Grupo produziu para o Festival de Artes de Macau deste ano.

A Orquestra de Macau, um dos agrupamentos musicais profissionais locais, irá proporcionar mais uma vez ao público um extraordinário festim musical. Sob a batuta do genial maestro Lio Kuokman, a Orquestra de Macau subirá ao palco com o conceituado violinista Chen Xi para apresentar o concerto Cordas Embriagadas em homenagem ao grande compositor Tchaikovsky.

A perseverança é o segredo do progresso duradouro em qualquer percurso artístico, devendo o sentido estético ser cultivado desde cedo. O Festival de Artes de Macau tem vindo, desde há décadas, a acompanhar as crianças ao longo do seu crescimento, apresentando, este ano, produções de múltiplos estilos. O vídeo-artista local Bernardo Amorim apresenta o teatro de imagens mágicas para famílias Neste Lado de Macau – Em Busca da Verónica, revelando ideias fantásticas inspiradas nos edifícios locais. Transformando um pequeno teatro numa enorme casa de cartão, as Produções Charlotte Congelada, juntamente com O A.S.K., propõem uma peça minimalista, mas altamente imaginativa, com o título Paperbelle, que deixará certamente as crianças de boca aberta. Por sua vez, a DKS Xangai irá abrir as portas do mundo sensorial aos mais pequenos com o programa O Oceano, um musical interactivo imersivo recheado de música clássica. Já a Mostra de Espectáculos ao Ar Livre será, uma vez mais, realizada nos bairros de Macau, a fim de promover a arte em toda a cidade.

Além disso, o excepcional programa do Festival Extra Projecções Seleccionadas de Espectáculos Internacionais apresentará gravações de espectáculos de companhias artísticas de topo da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos, quebrando fronteiras geográficas para permitir ao público assistir a algumas das melhores produções a nível internacional.

A paixão pela vida será finalmente libertada após três anos de pandemia. O Festival de Artes de Macau convida toda a população a reflectir sobre as suas experiências ao longo do caminho e a descobrir em conjunto a beleza da paisagem de Maio.

Leong Wai Man
Presidente do Instituto Cultural do Governo da Região Administrativa Especial de Macau