P. I. Tchaikovsky: Concerto para Violino e Orquestra em Ré Maior, op. 35
Esta peça é um clássico do repertório mundial para violino e um dos concertos para violino mais tocados até à data. Aos olhos dos aficionados da música clássica, esta peça está entre os “quatro maiores concertos para violino do mundo”, juntamente com os criados por Beethoven, Mendelssohn e Brahms. A peça foi escrita em 1878, quando o compositor terminou um casamento infeliz e vivia na Suíça. Inspirado na Symphonie Espagnole para violino e orquestra do compositor francês Édouard Lalo (“não procurando profundidade ou sendo convencional”), Tchaikovsky acabou de criar este Concerto com a ajuda do seu amigo próximo e violinista Iosif Kotek. O compositor dedicou inicialmente a peça ao grande violinista Leopold Auer e planeava convidá-lo para fazer a estreia da obra, mas o violinista declinou, achando que o concerto tinha muitos defeitos em termos de execução técnica. A peça acabou por ser estreada em Viena em 1881 pelo violinista Adolph Brodsky.
Este concerto demonstra o excepcional talento melódico e genialidade do compositor em transformar artisticamente a linguagem da música folclórica russa e também representa um grande desafio técnico para violinistas solistas. A obra toma a estrutura convencional do concerto em três andamentos. Na época de Tchaikovsky, o primeiro andamento já não se limitava à forma de sonata de duplas exposições como num concerto clássico, e o compositor tratou o início desta peça com mais liberdade e variedade, especialmente na introdução do solista. O concerto conduz à participação do violino através de uma secção de construção do clímax da orquestra que transita de dinâmica fraca para forte, de cores brilhantes para escuras e de emoções plácidas para intensas, e o primeiro e o segundo temas são caracterizados pela musicalidade e lirismo típicos do Período Romântico. A peça é cheia de flutuações e contrastes estimulantes, dando ampla oportunidade ao violinista solista de exibir técnicas deslumbrantes. O segundo andamento em Sol menor é relativamente curto e repleto de nostalgia sombria. O andamento foi intitulado “Canzonetta” pelo compositor, que foi originalmente uma forma italiana de música vocal secular no Renascimento e é usada para representar o sabor melodioso do andamento e o tom semelhante a uma ária que contrasta fortemente com o primeiro e o último andamento. A música então entra ininterruptamente no emocionante e esplêndido terceiro andamento que apresenta o material temático de um forte sabor folclórico russo, tal como o tema principal alegre e ardente que decorre da dança russa Trepak, e o tema estável e equilibrado do episódio subsequente que nos lembra canções folclóricas ucranianas.
P. I. Tchaikovsky: Sinfonia n.º 1 em Sol menor, op. 13 (“Devaneio de Inverno”)
O compositor russo P. I. Tchaikovsky (1840-1893) foi o compositor mais versátil do século XIX. Tendo criado uma variedade de géneros, em cada um deles podem encontrar-se obras-primas atemporais. A sua música está intimamente ligada a elementos da música folclórica russa e, como um dos primeiros compositores russos profissionais com formação de conservatório, absorveu totalmente as técnicas musicais da Europa Ocidental, criando um estilo original que combina uma “linguagem internacional” com características russas.
Escreveu seis sinfonias ao longo da sua vida, além da programática Sinfonia Manfred e da Sinfonia incompleta em Mi bemol Maior. A Sinfonia n.º 1 em Sol menor foi criada em 1866 quando o compositor era professor no Conservatório de Moscovo, a convite de Nikolai Rubinstein, logo depois de se formar no Conservatório de São Petersburgo e de começar a sua nova vida com o cuidado fraterno e a ajuda de Rubinstein. Esta sinfonia encontrou grandes dificuldades e forte crítica dos seus ex-professores Nikolay Zaremba e Anton Rubinstein (o irmão mais velho de Nikolai Rubinstein). Após a sua conclusão, a obra foi gradualmente apresentada ao público: o terceiro andamento foi tocado em Moscovo no dia 10 de Dezembro de 1866 e recebeu uma resposta pouco entusiasta; o segundo e terceiro andamentos foram tocados em S. Petersburgo em Fevereiro do ano seguinte e receberam aclamação pela primeira vez; a peça não foi tocada na íntegra até à sua estreia, em Fevereiro de 1868, sob a batuta de Nikolai Rubinstein, que foi saudada como um grande sucesso. A peça não seria tocada pela segunda vez até 15 anos depois. Em 1874, o compositor publicou a obra após efectuar algumas pequenas afinações e dedicou-a a Nikolai Rubinstein. A versão final acabou por ser estreada em Moscovo em 1883.
Tchaikovsky chamou à sua primeira sinfonia “Devaneios de Inverno” e incluiu títulos similares para os dois primeiros andamentos. O primeiro andamento “Devaneios numa Viagem de Inverno”, representa não apenas a experiência pessoal de viajar sozinho de S. Petersburgo a Moscovo durante o lúgubre Inverno russo, mas também uma típica cena russa nos seus imaginários culturais e artísticos. Neste andamento baseado na sonata, o jovem compositor retrata com vivacidade e delicadeza a cena de uma carroça galopando num vasto campo de neve com um toque fresco, onde os sons prateados sopram ao vento por entre as melodiosas e simples canções folclóricas do cocheiro. O segundo andamento “Terra de Trevas, Terra de Bruma” (em Mi bemol Maior) transmite a preferência do compositor pelo “inefável clima sombrio”. Partindo de uma emocional e sombria introdução baseada no tema amoroso da fantasia sinfónica do compositor, A Tempestade (op. 80, 1865), a peça é então completada pela solidão ao estilo russo transmitida por oboés ecoados e envoltos em fagotes e flautas – que posteriormente se tornou típica do estilo maduro de Tchaikovsky. O terceiro andamento (em Dó menor) foi o primeiro a ser concluído e baseou-se em alterações substanciais ao terceiro andamento da obra do compositor dos seus tempos de escola – a Sonata para Piano em Dó sustenido menor, substituindo o trio original por um novo tema ao estilo de valsa, e esta é a primeira valsa orquestral extraordinária escrita por Tchaikovsky. O quarto andamento é o mais longo e o mais dramático de todos com as maiores flutuações e os sons mais ricos e grandiosos. Tanto a introdução como a exposição fazem referência à canção folclórica russa “Распашу ли я млада, младeшенка” (Raspashu li ya mlada, mladeshenka). Contrapontos semelhantes a fugas permeiam este andamento, especialmente na secção de desenvolvimento. No final, a peça conclui com um clímax magnífico transmitido por todos os instrumentos.
Por Danni Liu
Traduzido do chinês