33.º Festival de Artes de Macau

Teatro em Patuá Chachau-Lalau di Carnaval (Oh, Que Arraial!)

Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau

Personagens e Elenco

(por ordem de entrada em cena)

Mano: Armando Sales Ritchie
Aniceto: Aleixo Siqueira
Verónica: Rita Cabral
Mafalda: Sónia Palmer
Chicho: Joel Sousa Nunes
Milú: Marina de Senna Fernandes
Frida: Joana Freitas
Tomás: José Basto da Silva
Jaquim: José Carion Júnior
Danny: Leon Lou Pui Leong
Wang: Ray Cheang Sin Hou
Angel-Baby: Helena Leong Choi U
Maurício: João Picanço
Susana: Agurtzane Azpiazu Cordeiro
Tito: José Luís Pedruco Achiam

Figurantes (por ordem alfabética)
Ariel Denise Chacim Mendonça, Betty Leong Cheng Man, Carolina Cai Wenyu, Diogo Carlos Bosco Sales Ritchie, Izara Oane Marques Chon, Jino José Rosa Duque Sousa Nunes, Matilda Faulon, Mel Pun, Pedro Lobo Durães e Tiago Araújo

Sinopse

Macau, na era pós pandemia, volta a abrir as portas aos turistas. Um novo programa cultural de revitalização dos bairros é criado e um bairro é seleccionado como experiência piloto, onde terá lugar um arraial a culminar com um espectáculo de variedades. A notícia é recebida com muito bom agrado e todos se prontificam para aderir à festa, oferecendo-se para actuações diversas. Todavia, para atrair o maior número de pessoas e para espanto do bairro, é contratado um artista de fora para abrilhantar a festa…

Acerca do Patuá

O Patuá ou língu maquista (língua de Macau) é o crioulo que deriva sobretudo da língua portuguesa arcaica, misturando configurações de palavras de várias línguas, em que se incluem o malaio, espanhol, canarim (de Goa) e, mais tarde, o inglês. Crê-se que o crioulo terá sido formado em pleno séc. XVII. Pelo menos, a partir do século XIX, o chinês cantonês passou a ter, indubitavelmente, uma influência decisiva na formação de novos vocábulos e expressões idiomáticas.

Utilizado essencialmente em ambientes restritos, como nos bairros e em família, o Patuá começou a cair em desuso, quando passou a ser considerado como português malfalado, motivo de desprezo social.

Todavia, permaneceu no mundo feminino, em que as mulheres, segundo os padrões de outrora, passavam mais o seu tempo em casa, sem a necessidade social de se relacionarem com terceiros. Por isso, houve quem dissesse, talvez com razão, que se trata de “uma língua de mulheres”.

Ora, se o Patuá sofreu o seu declínio, todavia não deixou de ter utilidade. Ele passou a ser a língua de escárnio e de maldizer, o veículo de crítica social, a voz do povo contra os poderosos. E é no teatro maquista que o Patuá reassume a sua pujança, fazendo rir, dizendo nuas e cruas verdades.

Património Centenário: Teatro em Patuá

O Teatro em Patuá teve origem em Macau, constituindo um género de teatro cómico que combina as características do teatro de revista e operetas. Maioritariamente apresentado em patuá, uma língua exclusiva de Macau, estima-se que este género teatral exista há mais de um século, tendo em conta o mais antigo argumento publicado, o qual foi levado à cena no dia 18 de Fevereiro de 1925.

Todas as produções de Teatro em Patuá são peças originais inspiradas em elementos de Macau, incluindo costumes populares, intercâmbio cultural sino-ocidental, assuntos de destaque da comunidade local e estilos de vida de Macau, o que confere a estas produções a qualidade de teatro comunitário. Realizada essencialmente com participantes macaenses, esta forma de expressão artística reflecte um variado leque de experiências de vida por meio das falas humorísticas e dos movimentos exagerados.

A história do desenvolvimento do Teatro em Patuá divide-se em três fases, sendo a fase “Era Inicial” representada por peças como Nora Modera, Cavá Tufang ’74, Os Viúvos e Lolita; a fase “Era Moderna” representada por peças como Cabo Tamém Sã Gente, Qui-Nova, Chencho?; Mui-Mui Sua Neto e Nhum Vêlo. Peças representativas do Teatro em Patuá na “Era Contemporânea” incluem Pápi Tá Ferado, Vila Paraíso, Qui Pandalhada! e Unga Chá di Sonho (Um Chá de Sonho).

Preservação e Continuidade

O patuá é um crioulo de base portuguesa mesclado com idiomas de diferentes continentes, tendo sido classificada como “língua criticamente ameaçada” pela UNESCO, o que exige que seja dada atenção urgente à preservação e continuidade deste património cultural intangível. Os espectáculos de Teatro em Patuá tornaram-se dormentes no final da década de 1970, tendo sido, felizmente, retomados por um grupo de macaenses em 1993, o qual fundou o Dóci Papiaçám di Macau, um grupo de teatro com vista a apresentar espectáculos anuais. A fim de elevar o interesse do público por esta forma tradicional de teatro, o Dóci Papiaçám di Macau tem modificado a sua forma de apresentação e temas, integrando novas tecnologias, estilos de encenação, bem como alargando a gama de artistas e participantes para integrar não apenas a comunidade macaense, mas também diversas outras comunidades culturais de Macau.

As produções contemporâneas de Teatro em Patuá preservam a tradição do teatro, revelando a cultura optimista dos macaenses e incorporando formas de representação tradicionais, como mudanças de tom, linhas humorísticas e movimentos corporais extravagantes. Ao mesmo tempo exibindo a diversidade cultural harmoniosamente albergada pela sociedade de Macau, através da introdução de falas em chinês, português e inglês.

Para estimular a curiosidade dos jovens relativamente ao Teatro em Patuá, este espectáculo incorpora várias curtas-metragens, de modo a proporcionar uma melhor experiência ao público e dar a conhecer este género teatral tradicional de Macau de forma mais aprofundada.

O Teatro e o Público

O Teatro em Patuá foi inscrito na Lista Nacional de Elementos Representativos do Património Cultural Intangível da China em 2021. As cenas dramáticas e bem-humoradas do Teatro em Patuá oferecem um entendimento aos interessados em compreender a história e os vários tipos de culturas em Macau. A sua intrigante estrutura de história e temas criados em relação à cidade proporcionam ao público uma experiência inesperadamente cativante e maravilhosa.

Por Elisabela Larrea
Investigadora da Cultura Macaense, fundadora e presidente da Associação de Estudos da Cultura Macaense, criadora de “Belamaquista: Cultura Macaense para Todos” e “Unchinho di Língu Maquista”.

 

Este artigo foi traduzido do chinês

Notas Biográficas

Miguel de Senna Fernandes, Dramaturgia, Encenação, Composição, Letras e Arranjo Musical

Advogado de profissão, co-fundador do Grupo de Teatro Dóci Papiáçam di Macau, é auto-didacta no que respeita a artes performativas. Antigo actor, autor e encenador de, praticamente, todas as peças que o Grupo apresentou durante os seus 30 anos de existência. Acérrimo defensor do Patuá como língua aglutinadora da comunidade macaense, um sério investigador do dialecto, tendo publicado, com a colaboração do Professor Alan Baxter, Maquista Chapado: vocabulário e expressões do crioulo português de Macau, em 2001, uma compilação de vocábulos e expressões do doce falar de Macau. Acredita que o teatro continua a ser a forma mais eficiente para difundir e despertar o interesse no crioulo, num momento em que este se encontra em evidente estado de precariedade.

Sérgio Perez, Realização do Vídeo

É natural de Macau e licenciou-se em Portugal, na Escola das Artes da Universidade Católica. Profissionalmente é realizador e criativo de publicidade, tendo o seu trabalho em realização sido exibido e destacado em vários festivais de curtas-metragens portuguesas e festivais de cinema locais. Desde 2005 que realiza vídeos e curtas-metragens para os Dóci Papiaçám di Macau.

Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau

Em 30 de Outubro de 1993, um grupo de carolas dava início a um projecto que não se imaginava viesse a ter continuidade. Sob o lema “Revival for Survival”, os Dóci Papiaçám di Macau, davam os primeiros passos na arte de estar em palco. Para além do puro arrojo, ninguém possuía qualquer formação artística, mas nada demoveu o ânimo e entusiasmo deste grupo. “Fazer primeiro e aprender depois” teria sido das primeiras palavras de ordem que ditaram um rumo de 30 anos.

Desde a primeira récita na língu maquista Olâ Pisidenti, num espaço pequeno do emblemático Teatro D. Pedro V, em 1993, até os dias de hoje, no Grande Auditório do centro Cultural de Macau, o Grupo alcançou um público cada vez mais numeroso e diversificado. Se no início o espectáculo era concebido exclusivamente para a assistência macaense e portuguesa, ele é hoje direcionado para o público em geral, notando-se cada vez mais acentuadamente a presença do espectador chinês ou de outra nacionalidade. O que demonstra bem o interesse crescente que o humor macaísta vem alimentando.

Três foram as fases do percurso do Grupo. A primeira, de 1993 a 1999, é marcadamente saudosista, na linha tradicional das récitas macaístas do passado, em que estava bem presente a memória do saudoso José “Adé” dos Santos Ferreira.

A segunda fase inicia-se em 2000 até 2005. Embora continuasse na linha saudosista, o teatro revoluciona-se com a introdução do elemento chinês. Era a primeira vez que se ouvia o cantonense numa récita em Patuá, bem como se inaugurava o uso da legendagem no teatro em Macau.

A terceira fase inicia-se em 2006 até 2015. O uso pleno da multimédia e a produção videográfica como complemento do espectáculo, vem introduzir uma nova imagem do grupo, na arte do entretenimento. Também nesta fase assistimos a uma mudança temática nas peças. Os enredos são compostos de situações do dia-a-dia, sobre anseios do quotidiano. E com isso se recuperou a faceta mais típica do teatro macaísta que é o escárnio e a crítica social contundente.

Não obstante, pode-se dizer que a partir de 2016, o Grupo alcançou um novo patamar com a inclusão do elemento musical, iniciando-se uma quarta fase. A partir de músicas originais compostas para os espectáculos, viemos a completar o que o tradicional teatro macaísta possuía: uma comédia satírica com música.

30 anos de humor, foram também de grande amizade e de aprendizagem colectiva. Muitos passaram pelo Grupo, alguns dos quais singraram efectivamente na carreira artística.

Mas acima de tudo, é o seu contributo para um maior conhecimento e interesse pela cultura macaísta. Se hoje se fala e se estuda a nível académico o fenómeno do Macaense e da sua língua, muito tem que ver com o que os Dóci Papiaçám têm dado no palco. O Grupo é, aliás, a entidade de salvaguarda do Teatro em Patuá, o qual desde 2021 está incluído na Lista Nacional de Itens Representativos do Património Cultural Intangível da China.

“Patuá é a alma do grupo e Macau, a sua justificação”, continua ainda a ser um lema tão nobre e tão actual do Grupo.

Armando Sales Ritchie, Actor (como Mano)

Nascido em Macau e emigrado para o Brasil em 1972, Armando está reformado e regressou à sua terra natal. Foi membro fundador da Casa de Macau em São Paulo, desempenhou várias actividades no campo social, e na divulgação da cultura e gastronomia macaense. Foi eleito presidente na gestão de 2000 a 2002. É um desportista entusiasta, com particular interesse pelo hóquei em campo. É também um dos fundadores do conjunto musical local The Thunders.

Aleixo Siqueira, Actor (como Aniceto)

Este voluntário da Cruz Vermelha de Macau, gosta muito do Patuá, tendo ingressado no grupo em 2012, onde se dedica ao trabalho com grande entusiasmo. Este é a sua 12.ª representação com o Dóci Papiaçám di Macau.

Rita Cabral, Actriz (como Verónica)

Funcionária aposentada dos Correios de Macau, é assídua praticante de ginástica e natação e reconhecida cozinheira de comida macaense. O Patuá está presente na sua vida desde a infância. Estreou-se na peça Vila Paraíso, em 2006, e desde então entrou em todas as peças do Grupo.

Sónia Palmer, Actriz (como Mafalda)

Co-fundadora do Grupo de Teatro Dóci Papiaçám, assume um papel vital na administração do mesmo. Estreou-se no Teatro em Pátua na récita Olá Pisidente (1993), tendo participado depois em várias produções até à presente data. Com o Grupo, actuou nas digressões a S. Francisco (EUA), em S. Paulo (Brasil), no Porto, no Festival de Teatro de Expressão Ibérica, (FITEI) em Lisboa, e em Malaca, na inauguração da “Galeria de Macau”.

Joel Sousa Nunes, Actor (como Chicho)

Nado e criado em Macau, Joel participou várias vezes como mestre de cerimónias em actividades escolares e em peças de teatro. Interessou-se pelo teatro e teve a oportunidade de participar pela primeira vez na família Dóci Papiaçám em 2016. Desde então, tem desenvolvido ainda mais o seu interesse pelo teatro, continuando a treinar as suas capacidades de representação e a aprender Patuá. Este ano, será a terceira vez que sobe ao palco como actor.

Marina de Senna Fernandes, Actriz (como Milú)

Marina é uma das veteranas do Dóci Papiaçám di Macau, estreando-se na récita Mano Beto Vai Sai Ieong em 1994 e desde então participou em quase todas as actividades do grupo, quer em palco quer nos bastidores. Adora o palco e toda a adrenalina que dele advém, as situações de nervosismo, dos improvisos, das brancas e dos calafrios. Sendo o Patuá parte integrante da cultura macaense, acredita que a divulgação da Lingu Maquista através do teatro é um dos melhores veículos para a sua salvaguarda, permitindo não só sensibilizar todo o tipo de pessoas da comunidade, em especial, a camada mais jovem, como também despertar no público em geral, o interesse na perservação deste dialecto tão singular.

Joana Freitas, Actriz (como Frida)

Nascida no Porto, Joana veio para Macau em 2010. Praticante de artes marciais chinesas durante mais de uma década, frequentou a Universidade de Desporto em Pequim, mas foi em Jornalismo que se formou, e trabalhou como jornalista e editora. Joana é também a vocalista da banda local Concrete/Lotus. Esta é a quarta vez que sobe a um palco de teatro, após estrear-se nas peças Tirâ Pai di Putau, Patrám pa Unga Dia e Lorcha di Amor.

José Basto da Silva, Actor (como Tomás)

Licenciado e Mestre em Engenharia Informática pela Universidade de Coimbra, José é dirigente da Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial, integra o coro litúrgico da Sé Catedral de Macau, é elemento activo do grupo internacional de especialistas voluntários do Project Management Institute e faz teatro com os Dóci Papiaçám desde 2013. A participação no teatro é especialmente importante já que a comunidade macaense é pequena e os falantes de Patuá são ainda menos. Ademais, José considera que o trabalho desenvolvido pelo grupo é fundamental para mostrar as características de Macau.

José Carion Júnior, Actor (como Jaquim)

Há anos nestas andanças das récitas do grupo da Doci Papiaçam di Macau, José acredita que, embora sejam longos meses de ensaio e preparação, é gratificante saber que o público gosta, ouvindo as suas gargalhadas e palmas.

Leon Lou Pui Leong, Actor (como Danny)

Leon gere a sua própria empresa de produção para a comunicação social há anos e foi membro da Associação de Representação Teatral Hiu Koc. Participou sobretudo em actividades fora do palco, mas nos anos recentes foi actor em vídeos de promoção do governo, de formação e de educação, assim como apresentador convidado em programas de turismo da TDM. Leon juntou-se ao Dóci Papiaçám em 2004 como convidado, e desde então tem participado em todas as peças.

Ray Cheang Sin Hou, Actor (como Wang)

Ray é um actor de teatro veterano e é actualmente membro da Associação de Representação Teatral Hiu Koc e da Associação de Cultura e Arte Macau. Participou também em vários espectáculos de teatro em Patuá. Depois da sua última actuação com o Dóci Papiaçám di Macau em 2018, Ray regressa para participar na produção deste ano. Nos últimos anos, também actuou noutras produções teatrais como Sonho sobre o Pavilhão “Ronglu” e Xiao Tian.

Helena Leong Choi U, Actriz (como Angel-Baby)

Helena é membro do conselho fiscal e responsável pela publicidade da Associação de Representação Teatral Hiu Koc. Completou cursos de formação em teatro e maquilhagem de palco na Escola de Teatro do Conservatório de Macau, bem como cursos de formação para instrutores de grupos infantis e formação de interacção social. Helena tem trabalhado em diferentes organizações como o Conservatório de Macau e outros centros de artes, como formadora em actividades de teatro, de treino corporal, de encenação de peças de teatro, produção de vídeo e organização de projectos, entre outros.

João Picanço, Actor (como Maurício)

João nasceu em Águeda, Portugal, onde se formou e trabalhou em jornalismo desportivo. Vive em Macau há seis anos e é jornalista na TDM. Convidado por Miguel Senna Fernandes para se juntar ao Dóci Papiaçám, embora já entenda bastante o patuá, está ainda a aperfeiçoar a comunicação oral e a reprentação.

Agurtzane Azpiazu Cordeiro, Actriz (como Susana)

Agurtzane participou pela primeira vez numa peça do Dóci Papiaçám di Macau em 1999 e regressou aos palcos em 2019 com muito agrado, pelo que ficou realmente feliz. Muito próxima dos seus avós maternos e tios-avós macaenses, desde muito menina que se lembra de ouvir o Patuá em casa.

José Luís Pedruco Achiam, Actor (como Tito)

José Luís regressou a Macau em 2006, depois de se formar em Política e Ciências Sociais em Sidney. Desde então tem-se envolvido entusiasticamente na preservação do Patuá e da cultura macaense através da sua participação nas peças de teatro do Dóci Papiaçám, produzindo e cantando em vídeos musicais. Tem muito orgulho em ser macaense e sente grande entusiasmo no seu contributo pela promoção do Teatro do Patuá de Macau.

 

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