33.º Festival de Artes de Macau

Na Substância do Tempo

Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo

Programa

Em homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX, este serão de programa triplo entrelaça as imagens em movimento irradiadas da sua poesia com as leis da gravitação interna dos passos de dança. As três belas peças – Em Redor da Suspensão, Outono para Graça e Requiem – criam o momento em que o discurso coreográfico se assume como uma metáfora. Vejamos como os bailarinos e coreógrafos ecoam a poesia de Sophia e mergulham no mundo visível da dança.

Notas do coreógrafo

Na obra que criarei inspirado na poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen começarei por incutir no processo criativo o sentimento que a sua poesia me instiga, incitando os bailarinos a espantarem-se e a deixar que a sensação vivida no interior das nossas condições ontológicas irradie imagens em movimento que, entretecidas com as leis da gravitação interna dos passos de dança, surjam como substância transfigurada.

E, sendo cada passo a sequência lenta ou acelerada do passo anterior, é no encadeamento de todos eles que a obra se edifica, se amplia e ganha vida própria.

Esse é o momento em que a técnica de dança, estando lá, se dilui na maquinaria do corpo e na força dos músculos para dar passagem à emoção inicialmente incutida.

Aqui, é o momento em que o discurso coreográfico se assume como metáfora. Imaginemos a figura frágil que baila em redor da suspensão; um grupo de gente angustiada e cingida dentro de um feixe mínimo de luz; o voo que atravessa o espaço com o ímpeto de um salto; o personagem que desliza até ao chão por uma rampa imaginária; aquele que abraça para falar de amor, ou que, num gesto de abandono e desalento, se deixa simplesmente cair.

Saint-Exupéry disse, um dia, dos homens, “(…) Só são homens aqueles que o cântico ou o poema ou a oração alindaram, aqueles que se acham construídos no interior (…)”. É por aqui que caminharemos ao coreografar esta obra: viver no interior das nossas condições de artistas o eco da poesia de Sophia, e deixarmo-nos alindar e construir no mundo visível da dança.

Por Vasco Wellenkamp

Na Substância do Tempo: Um Poema Dinâmico e Uma Canção Lírica sobre o Amor e a Vida

Em 2019 assinalou-se o centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, tendo a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo criado a obra encomendada Na Substância do Tempo, a fim de homenagear esta grande poetisa portuguesa. Da autoria do conceituado coreógrafo português Vasco Wellenkamp e do coreógrafo residente da Companhia, Miguel Ramalho, esta produção leva os bailarinos a mergulhar no mundo poético concebido por Sophia. Na Substância do Tempo abrange três peças: Em Redor da Suspensão, uma celebração da juventude; Outono para Graça, um dueto que envolve o público na complexidade de uma relação amorosa; e Requiem, uma peça comovente e trágica, em que os jovens em palco parecem ter regressado à época anterior ao 25 de Abril de 1974, um dia glorioso para Portugal.

Por Tomas Tse
Natural de Hong Kong e formado pelo Departamento de Filosofia da Universidade de São José, Tse tem-se dedicado à escrita e ao trabalho editorial, tendo acumulado vários anos de experiência como actor. Actualmente, dirige o Theatre Aether, uma companhia de dança dedicada ao Butô.

 

Excerto de um artigo escrito originalmente em chinês

Notas Biográficas

Vasco Wellenkamp, Coreógrafo

Iniciou os estudos de bailado em 1961 com Margarida de Abreu e Fernando Lima, no Grupo Verde Gaio. Em 1968, ingressou no Ballet Gulbenkian.

Em 1973, foi bolseiro do Ministério da Educação, em Nova Iorque, na Escola de Dança Contemporânea de Martha Graham, onde se formou em dança contemporânea. Ainda em Nova Iorque, frequentou o curso de composição coreográfica de Merce Cunningham e trabalhou dança clássica com Valentina Pereyaslavec, no American Ballet Theater.

Em Setembro de 1975, foi nomeado Professor da Escola de Dança do Conservatório Nacional, em Portugal, com o objectivo de introduzir no currículo da escola, pela primeira vez, a disciplina de Dança Contemporânea.

De 1978 a 1996, desempenhou as funções de Coreógrafo Residente, Coreógrafo Principal, Professor de Dança Contemporânea e Ensaiador do Ballet Gulbenkian. Em Janeiro de 1997, fundou com Graça Barroso a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo.

Na sua qualidade de coreógrafo, Wellenkamp tem sido regularmente convidado por várias companhias estrangeiras. Em 1994, foi condecorado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, pela prestação de relevantes serviços na expansão da cultura portuguesa em Portugal e no estrangeiro.

Miguel Ramalho, Coreógrafo

Iniciou a sua formação na Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional, em Lisboa, onde concluiu o seu curso. Ingressou de imediato na Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo sob direção de Vasco Wellenkamp onde esteve três anos e onde dançou alguns dos maiores sucessos da companhia, nacional e internacionalmente.

Muda-se então, para a Companhia Nacional de Bailado onde ainda permanece e onde dançou todo o repertório da companhia tanto a nível clássico como contemporâneo. De realçar o prémio de bailarino do ano 2012 pela imprensa portuguesa.

Na sua qualidade de coreógrafo, Ramalho criou para a Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional, Companhia de Dança Contemporânea de Évora e Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo, participando actualmente num grande número de outras obras.

 

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