Prefácio

Tempo e Dedicação que Compensam

- No 30.º aniversário do Festival de Artes de Macau

 

Em 2019, o Festival de Artes de Macau celebra o seu 30.º aniversário.

Nos últimos 30 anos, fizemos uma viagem extraordinária. De um cliché associado à ideia de “deserto cultural” a cidade transformou-se em “Macau cultural”. O Plano de Desenvolvimento para a Grande Área da Baía de Guangdong - Hong Kong - Macau estabelece a nossa cidade como uma base de intercâmbio e cooperação, onde “a cultura chinesa é a dominante e coexiste a diversidade cultural”, reconhecendo o nosso papel na história e determinando a vitalidade da nossa missão futura.

Nos últimos 30 anos, grandes actuações foram levadas ao palco do Festival, expandindo os nossos horizontes, melhorando a nossa qualidade de vida e promovendo o intercâmbio cultural entre Macau e outras latitudes. Sem dúvida que esta abordagem aperfeiçoou as capacidades dos nossos grupos performativos, melhorando as habilidades artísticas e aprimorando os gostos estéticos do público.

O 30.º aniversário marca um importante ponto de transição. Sob o tema “um tributo aos clássico”, o Festival de Artes de Macau apresenta 22 programas ecléticos, num total de cerca de 100 espectáculos e actividades junto da comunidade. Enquanto apreciadora de obras-primas, é meu desejo cultivar o respeito e a admiração pelos trabalhos icónicos de tempos idos, para que as suas duradouras imagens intemporais possam continuar a imbuir a nossa cidade de uma inesgotável vitalidade cultural, incentivando à criação de novos clássicos.

O Festival abre com a impressionante Vertikal, produção que reúne a criatividade de um célebre coreógrafo francês e a destreza da sua companhia de dança de hip hop, uma das melhores do mundo. Superando as leis da gravidade, dez dançarinos encantam-nos com elegantes e etéreos movimentos verticais. Neste início de Verão, a companhia de dança belga Rosas vai “salpicar-nos” com Rain (chuva). Será apresentada uma recriação desta obra, 18 anos após a sua estreia, acentuando a estética menos é mais, com uma coreografia simples e límpida, perfeitamente concebida para a música minimalista de Steve Reich. Este é, sem dúvida, um trabalho clássico já testado pelo tempo e que aguarda o nosso aplauso. Adaptado do épico homérico, Odisseia - Uma viagem errante baseada em Homero é uma ideia do encenador alemão Antú Romero Nunes e centra-se no encontro entre os dois filhos do herói. Com apenas dois actores, o trabalho inflama uma obra clássica com um espírito contemporâneo.

Para comemorar o aniversário dos 120 anos do nascimento de Lao She, o Festival apresenta O Sr. Ma e o Filho, peça adaptada a partir do seu romance homónimo. Esta obra do emblemático escritor chinês ilustra, com a inteligência e sabedoria esperadas, as diferenças culturais entre duas nações antigas: a China e o Reino Unido. Muitas vezes, ouvimos as pessoas a dizerem: “As palavras de Lao She fazem-me rir e chorar”. É exactamente isso que eu sinto, agora que estamos prestes a testemunhar o encanto universal das diferentes perspectivas civilizacionais através do olhar deste escritor. Apresentar em Macau, uma cidade onde o Oriente encontra o Ocidente, esta expressiva “metade Pequim, metade Londres”, é uma homenagem maravilhosa e profundamente significativa aos clássicos.

Um dos objectivos do Festival aquando da sua criação há 30 anos, foi constituir uma montra e uma plataforma de intercâmbio para os grupos artísticos locais. Na época, as produções locais já correspondiam a metade dos espectáculos apresentados.

Durante estas três décadas, o Festival nunca esqueceu o propósito da sua génese. Ao mesmo tempo que se empenha nas produções locais, tem vindo a introduzir espectáculos de maior qualidade, reforçando a sua influência internacional e atraindo intercâmbios que fomentem o crescimento dos grupos artísticos do território. Impulsionar o desenvolvimento da arte local através da internacionalização é já uma tradição do Festival.

E, este ano, muito mais pode ser esperado. Os espectáculos de grupos locais Pronto-a-Vestir, A Viagem de Curry Bone 2019, Wonder.Land e Mau Tan, Kat Cheong, vão abordar temas actuais sob uma nova perspectiva, retratando o tecido urbano e o espírito da nossa cidade. Uma co-criação de um encenador francês, de um grupo de teatro local e de artistas de diferentes regiões da Ásia, Caleidoscópio assume memórias pessoais da infância à idade adulta para levar a cabo uma exploração da terra, da história e da identidade. £¥€$ (LIES), produção da companhia belga Ontroerend Goed e dos festivais de artes de Hong Kong e de Macau, apresenta um jogo a dinheiro soberbamente interpretado por actores de Macau e Hong Kong. Todos estes trabalhos revelam a vitalidade criativa dos nossos talentos locais na concepção de novos clássicos. Acreditamos firmemente que, com tempo e empenho, grandes obras se seguirão.

E, no entanto, os clássicos precisam de ser transmitidos.

Em 30 anos, uma geração de público amadureceu e a geração está a ser criada. À medida que esta dinâmica continua a fluir, alinhámos um impressionante e inspirador programa para as famílias e público jovem com O Samurai de Uma Polegada, Flutuando e Adeus, Pequeno Príncipe.

2019 marca o décimo aniversário da inscrição da ópera cantonense na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO. Celebrando a ocasião, o Festival preparou um grand finale e leva à cena a singular ópera cantonense A Alma de Macau. Adaptada a partir de uma obra original de um escritor de Macau e produzida por actores locais e da Trupe de Ópera Cantonense de Foshan, esta comovente actuação evoca um importante momento histórico, como que desvendando uma fascinante pintura do sul da China É costume dizer-se “assista a uma ópera e conhecerá uma cidade”. A Alma de Macau é a confirmação desta verdade popular!

Um clássico não se cria da noite para o dia. Da mesma forma, o Festival de Artes de Macau precisa de tempo para prosperar. Tenho a honra de convidar o público a apreciar os clássicos, a desfrutar de obras primas arrebatadoras e a partilhar momentos maravilhosos

Mok Ian Ian
Presidente do Instituto Cultural do Governo da R.A.E. de Macau