Por Lin Bing Bing, crítico de teatro de Macau, crítico de arte do 16.º Festival Fringe da Cidade de Macau e do XVIII Festival de Artes de Macau
Em 2018 assinala-se o 200.º aniversário do nascimento de Karl Marx, cujo clássico O Capital foi publicado há 150 anos. Será hoje uma obra obsoleta? A peça Das Kapital, concebida pelo Centro de Artes Dramáticas de Xangai e inspirada no livro homónimo de Karl Marx, apresenta o famoso texto de teoria económica sob a forma de um musical tipo Broadway, com uma abordagem cómica e satírica. A peça transforma essas teorias aparentemente impenetráveis em várias apresentações na vida quotidiana. No contexto social actual, o criador combina a realidade e a ficção e desfigura o seu limite de uma maneira absurda e humilde. Até o público tem um papel a desempenhar, ao tornar-se um elemento do espectáculo e uma parte do capital
Nesta peça, o sonho do herói é criar um espectáculo de classe mundial mas tal exige dinheiro e investimento de capital. Para isso, tem de recorrer ao capital de risco, de todas as maneiras possíveis. À medida que ele capta mais investimento, a acumulação de capital, que deveria ser apenas um meio de realizar o seu sonho, torna-se o próprio objectivo a perseguir e, eventualmente, opõe-se ao seu sonho inicial. É o capital ou o sonho que perseguimos tão cegamente? Nesta época obcecada pelo capital, como é que o mercado e a arte deveriam ser equilibrados?
O encenador de Das Kapital, He Nian, consagrou-se o rosto da comunidade dramática de Xangai. Quase todas as suas produções atraíram um grande número de espectadores, o que lhe granjeou o epíteto de “querido das bilheteiras”. O dramaturgo Yu Rong Jun é altamente produtivo e famoso pelo seu estilo alternativo, tendo já arrecadado vários prémios. Conta, até há data, com mais de 10 trabalhos em digressão por festivais internacionais de teatro. Com novos desenvolvimentos a serem continuamente adicionados à peça, Das Kapital não deixará de o satisfazer, mesmo que nunca tenha lido uma página de O Capital.
Excerto de um artigo escrito originalmente em chinês