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"MONOGRAFIA DE MACAU" E SUAS NOTAS

Zhao Chun Chen*

Durante os anos do reinado de Qian Long, da dinastia Qing,240 anos atrás, havia dois eruditos chineses, também funcionários locais de então, que escreveram juntos um livro intitulado Monografia de Macau, Ou-Mun Kei-Leok, o qual se tornou, posteriormente, a obra mais antiga no Mundo que descreve a Geografia e a História de Macau e também o único exemplar exclusivamente destinado ao Território de Macau entre as diversas cronografias antigas da China.

Os dois autores da obra foram Ian-Kuong Iam, do distrito de Bao Shan, ao sul do rio Yantsé (hoje pertencente a Xangai), e Tcheong Ü Lam, do distrito Xuan Cheng, da província de An Hui. Eles eram homens de letras e foram promovidos como funcionários para a província de Guang Dong, e nomeados como encarregados de Macau. Naquela altura, este cargo foi denominado de "Encarregado dos Assuntos Militares e Civis da Defesa Marítima do Governo de Cantão", estabelecido desde o 9. ō ano do reinado de Qian Long (1744), da dinastia Qing, tratando dos assuntos sobre os estrangeiros residentes em Macau e a defesa marítima. A sede da repartição estava situada no Quartel de Qian Shan, perto de Macau e subordinada ao governo de Cantão.

Durante os seus mandatos, Ian Kuong Iam e Tcheong Ü Lam acompanharam atentamente os acontecimentos locais e estavam decididos a escrever uma colecção sobre a Geografia e a História de Macau, a fim de completar a "falta de cronografias". No 10. ō ano do reinado de Qian Long (1745), Ian Kuong Iam escreveu o texto da primeira redacção durante o seu exercício oficial e entregou-o a Tcheong Ü Lam, que lhe sucedeu na sua função oficial, para concluir a edição. Porém, este texto foi extraviado por descuido até ao 16. ō ano do reinado de Qian Long (1751), em que Ian Kuong Iam foi nomeado o governador de Chao Zhou, da província de Guang Dong, onde se encontrou casualmentge com Tcheong Ü Lam, então supervisor de Transporte de Sal, também de Chao Zhou, ocasião em que os dois decidiram "buscar rascunhos extraviados" e "revê-los com grande emendas", concluindo finalmente a Monografia de Macau, que podemos ler nos dias de hoje.

A Monografia de Macau descreve a história, a geografia e o estilo social de Macau, contando com mais de 60 mil caracteres divididos em duas partes ou três capítulos. A Parte I abrange os dois capítulos respectivamente intitulados de "Aspectos Gerais", descrevendo as condições topográficas, recantos montanhosos e marítimos, bem como as marés e os ventos, e de "Administração", descrevendo como o governo da dinastia Qing regia Macau com a nomeação de funcionários e como os portugueses passaram a estabelecer--se neste Território. Sendo "encarregados" de Macau, Ian Kuong Iam e Tcheong Ü Lam podiam aproveitar materiais de primeira mão arquivados. Além disso, eles coligiram as informações durante as suas visitas e investigações nas ilhas e entre os habitantes chineses e estrangeiros, o que valorizou enormemente as suas descrições históricas, que se tornaram materiais valiosos para comprovar o exercício do direito de soberania do governo da China sobre Macau e para estudar a sua história nos primeiros anos da sua existência.

Por exemplo, os capítulos "Aspectos Gerais" e "Administração" confirmaram que a dinastia Ming estabeleceu em Macau três repartições como "Ti-Diao","Bei-Wo" e "Xun Ji". A dinastia Qing instalou em Macau uma Supervisão Alfandegária e uma Fiscalização. Os governos das dinastias Ming e Qing promulgaram, em muitas ocasiões, decretos para reger e administrar os portugueses residentes em Macau, estabeleceram o cargo de "encarregado" de Macau, transferiram a sede do governador de Xiang Shan para a aldeia Mong Há,"exclusivamente tratando de todos os processos judiciários chineses e estrangeiros" exercendo o poder de julgamento.

Quanto ao facto de que os portugueses de então pagaram uma renda ao governo chinês, o capítulo "Administração" descreve claramente que "a renda anual em quantia de 500 liangs (aproximadamente 18 750 gramas) de prata por causa da concessão dos terrenos de Macau é cobrada pelo distrito de Xiang Shan". E continua:"Compulsando a História da Dinastia Ming, encontramos que o rendimento anual proveniente dos direitos de Macau era de 20 000 liangs (750 000 gramas) e o foro de 500 liangs (aproximadamente 18 759 gramas), não se sabendo porém, qual a sua origem."

"A Dinastia registou-o nos Livros Completos de Estatística. Estes livros, por terem sido impressos no reinado de Wang Li (1573 - 1620) constituem uma autoridade no assunto e não se afastam muito, quando fixaram a época de estabelecimento da cobrança do foro de Macau, para meados desse reinado."

Isto comprova que o governo chinês concedeu Macau aos portugueses para se estabelecerem sob a forma de arrendamento.

A primeira parte da Monografia de Macau é ilustrada com onze gravuras: Mapa Geral da Defesa Marítíma, Quartel Militar de Qian Shan, Ilha Verde, Repartição do Magistrado Distrital, Macau Visto da Lapa, Repartição da Alfândega, Repartição de Fiscalização, Edifício do Senado, Templo da Barra, e Porta-Tigre. As ilustrações foram perfeitamente desenhadas e localizaram correctamente a posição geográfica de Macau, a disposição de habitantes, as repartições oficiais, as características arquitetónicas, inclusivé as fortalezas e as igrejas. Por exemplo, os desenhos Macau e Macau Visto da Lapa descrevem claramente a Repartição de Alfândega instalada pelo governo da dinastia Qing em Macau, e os três postos alfandegários respectivamente situados no Grande Porto, no Templo da Barra e em S. Francisco, além de localizar correctamente as áreas onde viviam portugueses por arrendamento, inclusivé as muralhas por eles construídas desde as Portas do Campo e de S. Paulo até Patane.

A Parte II da Monografia de Macau é intitulada de "Estrangeiros de Macau", destinada predominantemente aos portugueses residentes neste Território. O livro descreve com pormenores as suas características físicas, roupas e peças ornamentais, vida quotidiana, hábitos e costumes, produtos e utensílios, barcos e canhões, língua e letras, bem como suas instituições administrativas, igrejas e fortalezas. O texto concede também umas páginas a apresentar brevemente outros países e regiões ocidentais que se dedicavam ao comércio com a China em Macau.

Como Macau foi um centro para o comércio e o contacto sino-ocidental durante as dinastias Ming e Qing, e uma janela por onde os intelectuais chineses podiam contemplar o mundo de fora e a cultura ocidental, estas descrições mostram vividamente não só a vida social de Macau dos primeiros anos, como também os intercâmbios económico e cultural entre a China e o Ocidente naquela altura. Exemplo disto foi o registo dos costumes de comer e de beber de portugueses residentes em Macau:

"Quanto à comida e à bebida, gostam do doce e picante usando bastante açúcar cristalizado para com o alho fazer uma massa consistente. Todas as vezes que comem, tocam o sino e colocam a comida em recipientes de vidro colocados em cima dum pano branco. Cada indivíduo tem várias peças. Espalham essência de rosas e esfre-gam-se com flores de ameixoeira. Não usam bancos, mesas ou faichi (pauzinhos que servem de talheres). Os homens e as mulheres assentam-se de mistura uns com os outros e os escravos negros servem-lhes a comida que é levada à boca com garfos de prata. Comem sempre primeiro os assados e sentam-se, tendo todos a mão direita estendida por baixo duma almofada sem a empregarem. Chamam a isto tch'ôk-sâu (mão imóvel). Quando comem comida muito misturada empregam infalivelmente a mão esquerda, tirando-a com os dedos. Primeiro, quebram vários ovos crus de galinha e chupam-nos. Depois, trincham os assados e usam de um pano branco para limparem as mãos e, de cada vez que as limpam, põem--no de parte para o mudarem por um novo. Comem também bolos e pastéis e todos os sete dias matam o boi uma vez e, durante cinco dias, comem carne. Jejuam dois dias, não comendo nem carne de vaca nem de porco, não lhes sendo porém proibido comer camarões e hortaliça. Lançam os sobejos da comida num recipiente parecido com uma mangedoura. Os escravos, quer homens quer mulheres, tiram-nos então com a mão para os comer."

Quanto ao casamento de portugueses, o livro diz: "As bodas não são realizadas por intermediários. Os rapazes e as raparigas se sentirem mútua simpatia podem unir-se. No dia do casamento, os pais e as mães levam-nos a igreja para se ajoelharem em frente dum padre que, depois de recitar uma oração, pergunta aos dois nubentes se concordam e, com as suas mãos, une as do rapaz e da rapariga, acompanhando-os, em seguida, até fora da porta da igreja. Chama-se a isso káu-iân (troca de sinetes ou alianças)."

Quanto às importações de produtos ocidentais, o livro define estes em cinco classificações: vegetais, aves e animais, bichos e peixes, géneros alimentícios e utensílios, inclusivé vinho, fumo, ópio, jóias, panos de lã, moedas, relógios, armas, instrumentos musicais, vidros etc. O texto apresenta ainda a introdução de técnicas ocidentais de fabrico na China, inclusivé principalmente o calendário ocidental, a fundição no fabrico de canhões, a medicina ocidental e a pintura. Quanto à pintura, o livro escreve: "No mosteiro de S. Paulo existe uma colecção completa de mapas de mares e oceanos, pinturas em papel, pinturas em couro, pinturas em toda a espécie de objectos de vidro."

"Olhando para os andares, terraços, palácios, casas, pessoas e objectos dessas pinturas, a uns dez passos de distância, se as portas desses edifícios estivessem abertas, poderiam contar-se os degraus dos seus andares que são completamente semelhantes aos das nossas grandes moradias. Nas figuras humanas, as sobrancelhas e os olhos são ainda mais naturais. Há ainda quadros de figuras e paisagens em esmalte formando colecções de várias espécies de histórias e quadros com flores bordadas."

Aos finais da parte "Estrangeiros de Macau", segue-se a secção de tradução dos termos portugueses usados em Macau, fonetizados com caracteres chineses e divididos em cinco partes: Céu e Terra, Homens e Coisas, Vestuário, Instrumentos e Palavras de Uso Diário, contando 395 vocábulos. Alguns especialistas conferiram este vocabulário e consideraram que a fonética é bastante correcta. Por exemplo, a "Porta de Cerco" é fonetizada em "pó-tá sué-lou-ku","Casa Branca" em "ká-tchi pá-láng-ku","Ilha Verde" em I-láp yân-lit-tei","Macau" em "má-káu","Governador" em "ló-uái-tó-lou","Procurador" em "pei--lá-ku-lou-to-lou". Trata-se de uma transcrição fonética de português, típica de Macau, mais antiga que a de inglês, e um material valioso para a história de traduções entre a língua chinesa e as ocidentais.

A Parte II da Monografia de Macau é também ilustrada, com os dez desenhos seguintes: Homem Estrangeiro, Mulher Estrangeira, Jesuíta da Igreja de S. Paulo, Dominicano, Franciscano, Agostinho, Palanquim Rígido, Palanquim Flexível, Palanquim para Senhoras e Barco Estrangeiro. Estes desenhos são vívidos, descrevendo as visíveis características de estrangeiros com os olhos afundaddos e o nariz salientado, bem como o vestuário típico.

Foram registados no texto da Monografia de Macau muitas poesias, cujos autores foram Ian Kuong Iam e Tcheong Ü Lam, assim como outros poetas das dinastias Ming e Qing, inclusivé Sêk Kâm Tchông, Chan Kong Yin, Leong Pai Lan, Fang Tchin Yuan, e Tch'ak Tch'ak. Tendo conteúdos variados, estas poesias são notas e explicações sobre o texto, e ao mesmo tempo, peças artísticas que merecem uma apreciação. Por exemplo, Sêk Kâm Tchông escreveu na poesia Macau:

"O porto onde os barcos de Cantão atracam com mais frequência é o de Macau.

Os estrangeiros frequentes vezes provocam hostilidades.

Os Portugueses há muito que escondem, neste sítio, tropas e armamentos.

Os soldados estão pesarosos por ver a eficácia do armamento dos bárbaros.

Os demónios que aguardam oportunidade para devorar, andam planando no espaço.

Mas, desde que se lhes ensinem o que é a amizade, não haverá complicações."

Ian Kuong Iam escreveu na Noite Lunar de Macau:

    "Ao nascer a lua, 
    O fosso revela-nos os espelhos. 
    Que iluminam, limpidamente, 
    O mar e o céu. 
    Borbotam as perlíferas bolhas das ondas, 
    Que surgem como o dragão que coleia. 
    Os elevados pavilhões e a cidade erguem-se, 
    Tão altos que chegam a tocar na Via Láctea. 
    As estrelas, baixas, 
    Querem vogar como os barcos. 
    A fina poeira voa, 
    Sem poder alcançar a Lua. 
    Quem será o génio do Palácio Lunar?"

Sêk Kâm Tchong descreveu costumes de portugueses residentes em Macau:

    "Presta-se o culto no templo de S. Paulo. 
    A autoridade estrangeira é um padre. 
    Fatos vistosos e de cores garridas, 
    São usados pelos diabinhos. 
    As damas dos bárbaros ostentam preciosos cabelos. 
    O papagaio pensa feliz. 
    As baleias expelem luz nocturna. 
    Com o dinheiro compram-se alciãozinhos. 
    Dez dos tectos são circulares e quadrados."

Tch'k-Tch'ak descreveu o Mosteiro Budista da Seita Esotérica (hoje o Templo de Buda Misericordioso de Mong Há):

    "As crianças estrangeiras conseguiram falar em chinês, 
    Devido à sua longa permanência. 
    Pois, ainda mamando, 
    As mães ensinaram-nas a bulbuciá-la. 
    A luz das montanhas mergulha
    No espelho do mar, com duas praias. 
    O som dos sinos mistura-se com o dos órgãos, 
    Às seis horas."

Tcheong Ü Lam descreveu a força militar dos portugueses com os versos seguintes:

    "O chefe de uma centúria, 
    Ocupa a extremidade para transmitir o seu poder. 
    Alinhadas as peças, 
    De longe comanda com competência. 
    Tornando segura a muralha, 
    Esgrimindo lanças, levam também arcos. 
    Com diligência vós defendeis a pequena baía, 
    Os jovens juntam-se para poderem ser fortes."

Au Uâi Sôi disse na poesia Armas de Fogo:

"Há armas do tamanho de um côvado que saem dos barcos que se encontram na ilha./ Todas essas armas têm o feitio de pistolas./ Disparadas produzem pouco fumo./ As suas diversas partes são ligadas e as suas peças adaptadas umas às outras./ Derretem o ferro para fazerem os eixos./ Ligam-nos, mantendo-os em comunicação./ A coronha é curta e o cano pequeno e comprido./ Há neles caracóis, revolventes como cermes enrolados, e peixes curvados uns nos outros./ O gatilho e o cão corrrespondem-se mutuamente cuspindo pedra e metal em pequenas partículas misturadas e, sem necessidade de fogo, inflamam-se, disparando essas armas e causando destruições como se fosse em resultado dum sortilégio./ Os tiros alcançam rapidamente uma braça sem falhar mais pequena cousa./ O pesado objecto interior atinge com precisão o que está na sua frente, despertando um clarão./ Estas insignificantes "pontas de lança" impõem respeito./ Transformam os vivos em mortos deitados sobre a esteira do caixão e que não sabem que a inteligência e a confiança se encontram em si mesmos./ O ferro sagrado constitui o envólucro./ Os homens superiores receiam não acertar nos impostos."

Leong Têk, por sua vez, descreveu o órgão da Igreja de S. Paulo de Macau:

"O órgão é semelhante ao sâng (gaita) do alcião./ Com as suas duas asas pouco falta para se parecer com o alcião./ Os seus tubos verdes e dourados estão em lugar de pedaços de bambu./ Curtos e compridos, grandes e pequenos, alternam-se mutuamente./ A madeira substitui a cabeça e o fole é de couro./ Já levantando, já comprimindo, o vento gira sendo expelido./ Quando se produz o vento, agitam-se as palhetas, saindo os sons pelos buracos./ As teclas de marfim comprimindo o ar produzem fortes sons musicais./ Tocando a música no andar superior de S. Paulo, dentro e fora de dez lis (medida chinesa: 500 metros por um li) se ouvem os sons./ Os sons não são semelhantes aos produzidos pelos instrumentos de cordas de seda, de madeira, mas de metal ou de pedra./ Ao entrarem são fracos mas quando saem são fortes, cheios e límpidos./ Espalham-se ouvindo-se em toda a ilha, sendo grande a sua perfeição./ É também subtil a lei que rege a construção dos órgãos."

Que bonitos e interessantes são estes versos!

ALGUNS PROBLEMAS RELATIVOS ÀPRIMEIRA EDIÇÃO DO OU-MUN KEI-LEOK DURANTE O PERÍODO CH'IEN-LUNG

De entre as muitas edições deste livro, a mais preciosa e de maior valor para investigação é a primeira, publicada durante o período Ch'ien-Lung. Este capítulo trata, essencialmente, da diferenciação e da data e local de publicação desta edição. Segundo o Catálogo Sintético de Registos Chineses Locais (中國地方志聨合目錄), (Editora Zhong Hua,1985), há doze bibliotecas na República Popular da China que possuem a primeira edição do Ou-Mun Kei-Leok, do período Ch'ien-Lung. Esta edição encontra-se registada no Catálogo Sintético como a Edição Xilogravada do 16. ō Ano do Período Ch'ien-lung (1751). No entanto, pude verificar que os exemplares existentes nestas doze bibliotecas não são todos da mesma edição, mas sim de, pelo menos, duas edições diferentes. Uma delas é a existente na Biblioteca de Pequim (北京圖書館) e nalgumas outras bibliotecas. São exemplares com nove linhas por página, vinte palavras por linha, com quatro linhas negras formando uma esquadria, em caracteres do tipo Song, sem capa e com um carimbo no fim dizendo: "Edição pertencente ao Xi-Ban-Tsao-Tang" (西阪草堂藏版). Trata-se duma edição em dois volumes, com um prefácio escrito por Ju-Lin e um posfácio de Yin Kuang-jen. Esta edição foi citada na primeira parte de Os caracteres Tipográficos do Período Ch'ing (淸代版刻一隅), obra escrita por Huang-Shang e publicada pela Editora Qi-Lu em 1992. Os exemplares que se encontram na Biblioteca de Zhong Shang (廣東中山圖書館) e na Biblioteca da Universidade Normal do Sul da China (華南師範大學) pertencem a outra edição. Também esta tem nove linhas por página, vinte palavras por linha e quatro linhas negras formando uma esquadria, mas os caracteres são dum tipo diferente, não tem qualquer carimbo e há algumas diferenças quanto ao conteúdo. Nenhuma das edições indica a data de publicação, pelo que só com base nas diferenças a nível de conteúdo se poderá decidir qual delas foi publicada em primeiro lugar.

Há duas diferenças muito significativas quanto ao conteúdo destas edições. Uma respeita à narração da vinda do funcionário Tong Zhi (澳門同知) para Macau. A edição que referimos em segundo lugar inclui o relatório enviado por Pan Si-qu (潘思榘), um funcionário provincial de Cantão, bem como a ordem emitida pelo Governo Ch'ing; mas essas mais de 1 500 palavras não constam da primeira edição que referimos. A outra diferença encontra-se no capítulo Guan Shou (<官守篇>): no relato do episódio em que os soldados portugueses mataram alguns chineses em Macau, no 13. ō ano do período Ch'ien Lung, a primeira das edições referidas diz "Chang Ju-lin fez o que já era hábito fazer nestes casos, tendo sido criticado pelo imperador. Embora o castigo fosse menos severo do que anteriormente, foi castigado baixando de posto". Estes incidentes, de que Chang Ju-lin foi protagonista, não constam da outra edição.

Pelas diferenças de conteúdo entre as duas edições, pode verificar-se que a primeira (a "edição pertencente ao Xi-Ban-Tsao-Tang" existente na Biblioteca de Pequim) foi publicada primeiro, sendo a verdadeira primeira edição do Ou-Mun Kei-Leok. A edição que se encontra na Biblioteca de Zhong Shan e na Universidade Normal do Sul da China não é, pois, a verdadeira edição. O Catálogo Sintético refere que o Ou-Mun Kei-Leok foi publicado pela primeira vez no 16. ō ano do período Ch'ien-Lung, mas isso não é verdade: o 16. ō ano do período Ch'ien-Lung foi o ano em que Ian Kuong Iam e Tcheong Ü Lam terminaram o livro, o prefácio e o posfácio, e não o ano em que aquele foi publicado. Foi em Chao Zhou (潮州), ou seja, Feng Cheng (鳳城) que eles acabaram o livro, o prefácio e o posfácio. Segundo pude apurar, nem o Ou-Mun Kei-Leok foi publicado em Chao Zhou nem lá havia qualquer Xi-Ban-Tsao-Tang, o que prova que o Ou-Mun Kei-Leok não foi publicado imediatamente após ser concluído. Além do mais, Ian Kuong Iam e Tcheong Ü Lam deixaram ambos Cantão e regressaram pouco tempo depois às suas terras natais: Xuan Cheng, na província de An Hwei (安徽省宣城) e Bao Shan, em Kiangsu (江蘇寳山). Creio, portanto, que o Ou-Mun Kei-Leok deve ter sido publicado pela primeira vez após os autores terem regressado às suas terras natais, ou seja, após o 16. ō ano do período Ch'ien. Posteriormente, o Ou-Mun Kei-Leok foi registado no Catálogo-Geral de Ssu-Ku Ch'uan Shu (《四庫全書總目》). Este Catálogo-Geral foi publicado no 54."ō ano do período Ch'ien-Lung. Por conseguinte, a primeira edição foi impressa antes de 1789. Mais rigorosamente, diríamos que a primeira edição da obra data de meados do período Ch'ien-Lung, ou seja, entre 1751 e 1789.

Quanto ao local de publicação, terá sido na província de Kiang Su (江蘇省) ou de An Hwei (安徽省), terras natais dos autores. Era esta a opinião de Chen Kun (陳坤), o funcionário Tong Zhi de Macau durante o período Kuang-hsu (光緒). No posfácio que escreveu para a nova edição do Ou-Mun Kei-Leok publicada em Cantão, afirma ele: "Ouvi falar no Ou-Mun Kei-Leok, mas não consegui encontrá-lo. Posteriormente, descobri-o em Kiangnam (江南). incluindo An Hwei e Kiang Su, pois foi publicado após o regresso dos autores às suas terras. Outra prova do que dizemos é que, quando o Ou-Mun Kei-Leok foi registado no Catálogo Geral de Ssu-Ku Ch'uan-Shu, se mencionava que o livro fora enviado pelo Governo da província de An Hwei (安徽巡撫), o que indica o local da sua publicação. Não será possível determinar com exactidão, e definitivamente, qual o local de publicação, a não ser que se descubra onde ficava Xi-Ban-Tsao-Tang, pelo que será necessário proceder a mais investigações.

ALGUMAS PREVENÇÕES

A Monografia de Macau tem um valor cultural e histórico tão importante que sempre foi alvo de consideração pelo público desde a sua publicação. O texto foi distribuído em dez edições variadas e a mais antiga foi a dos anos do reinado de Qiang Long, (1751 - 1789) publicada logo após a conclusão da última revisão a cargo de Ian Kuong Iam e Tcheong Ü Lam. Actualmente, este exemplar é raramente visto. O texto facilmente achado é o da edição do 5. ō ano do reinado de Jia Qing (1800) e a outra do 6. ō ano do reinado de Guang Xi (1880). Além disso, existem ainda outras edições do reinado Dao Guang, do 10. ō ano do reinado Guang Xi (1884), do 16. ō ano do reinado Guang Xi (1890), e da época da República Nacionalista. A "Monografia de Macau" selecionada na Colectânea de Cronografias Locais da China e na Colectânea da História da China, ambas editadas na década de 60 em Taiwan, foi tele-copiada segundo aquelas edições referidas em circulação. Outra fonte diz que a Monografia de Macau foi traduzida em japonês e português. É pena que o autor do presente artigo nunca tenha visto estas edições em línguas estrangeiras. Em comparação com os exemplares da primeira edição do reinado de Qiang Long, os exemplares actualmente em circulação têm mais lapsos e são mais reduzidos. O exemplo disso foi a edição do reinado de Dao Guang, com dispensa de poesias, de notas, comentários e ilustrações, considerando-se somente um texto seleccionado daquela obra.

Como existem problemas acima-mencionados nos exemplares actualmente em circulação, os leitores devem examiná-los e conferi-los com a maior prudência, para ler correcta e completamente este livro. Por isso, com base na primeira edição do reinado de Qiang Long, como o autor do presente artigo, consultei outros materiais das dinastias Ming e Qing e conferi exemplares actualmente em circulação. Com o texto corrigido, entreguei em 1988 o meu trabalho à Editora de Ensino Superior de Guang Dong para que este fosse editado. Porém, a confrontação poderá somente tirar a inconveniência de leitura com lapsos e defeitos corrigidos e não será suficiente para ajudar os leitores a entender o conteúdo do texto e estudar os factos históricos nem pesquisar profundamente as questões a que o texto se refere. Para o efeito, com base nas confrontações feitas, escrevi, nos últimos anos, mais de mil notas sobre a Monografia de Macau. Esta colecção de notas abrange os termos seguintes:

I. Revisão sobre importantes factos históricos, principalmente sobre os defeitos que não correspondem a outros registos históricos. Por exemplo, quanto à chegada da primeira frota de portugueses para comércio com a China, o capítulo "Administração" diz: "Durante o reinado de Jing Tai da dinastia Ming, os fái-lóng-kei (portugueses) entraram subita e desordenadamente em Cantão. Considerando esta entrada um acto ilegal, a guarnição da China não lhes concedeu o acesso." Segundo outros registos, porém, da dinastia Ming, os funcionários locais de Cantão ofereceram-lhes um atendimento bastante amistoso, sem expulsá-los. Por outro exemplo, a Parte II "Estrangeiros de Macau" diz: "fái-lóng-kei, baptizado posteriormente como kan-sut-Iat, é hoje fai-long sei ou fac-long sei." Na realidade,"Portugal" foi chamado por chineses de fái-long-kei durante a dinastia Ming. Kan-sit-iat é Espanha enquanto fai-long-sei é a França. Este livro confundiu estes três países.

II. Notas sobre denominações de localidades. A Monografia de Macau reúne muitos lugares com denominações chinesas e estrangeiras, e muitas das quais não correspondem ao nome usado de hoje. Por exemplo, Macau foi baptizado nos primeiros anos como hou-kéang (espelho do fosso). A ilha da Taipa foi kâi-tcheang neste livro, a ilha de Coloane em kou-ou (nove cais), a ilha Xiao Heng Qin, hoje do Município de Zhu Hai, em Tómei (leme) etc. E, ainda, algumas denominações estrangeiras também foram confundidas, tais como,"Portugal" em fái-long-kei ou bor-er-tu-ke-er, "Espanha" em tai-lu-song ou kan-sit-iat, Holanda em ho-lan ou he-lan, ou hong-mau-fan, "Dinamarca" em lian, "Tailândia" em Sian-ló. Com as notas referidas, os leitores poderão entender melhor as localidades registadas no livro, sem confundir os conceitos.

III. Personagens. A Monografia de Macau apresenta muitos homens, inclusivé personalidades chinesas e portuguesas que desempenharam certo papel na história de Macau e homens de letras que escreveram poesias e artigos sobre Macau. Com todos os esforços, as notas reúnem os seus curriculuns para os leitores.

IV. Explicações sobre os produtos especiais, os documentos e regimes dificilmente entendidos, e os desenhos e livros citados. Por exemplo, a Parte II "Estrangeiros de Macau" regista uns vegetais, animais, aves, bichos, peixes e utensílios importados do Ocidente, e ainda os artigos e regimes chineses existentes em Macau naquela época, bem como alguns livros referidos na Monografia, pelo que as notas concedem as explicações correctas.

V. REVISÃO DE LAPSOS.

Hoje em dia, com o enorme apoio do Instituto Cultural de Macau, esta colecção de notas foi editada neste Território pelo que apresento sinceros agradecimentos aos amigos de Macau que se dedicaram a esta publicação. Ao mesmo tempo, espero sinceramente que esta anotação possa ajudar os leitores e fornecer um alicerce para desenvolver ainda mais a pesquisa sobre a Cultura e a História de Macau.

(Traduzido do Chinês)

* Professor do Departamento de História da Universidade de Jinan, Cantão.

desde a p. 95
até a p.