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Pe. RÉGIS GERVAIX GRANDE HISTORIADOR FRANCÊS DE MACAU

Pe. Manuel Teixeirae. Manuel Teixeira*

DADOS BIOGRÁFICOS

O Pe. Jean-François Régis Gervaix nasceu a 2 de Dezembro de 1873 em Lautriac (Haute Loire), diocese de Puy, França.

Ingressou no Seminário das Missões Estrangeiras de Paris da Rue du Bac, sendo ordenado sacerdote a 24 de Setembro de 1898, o único ordenado por Mons. Condot, bispo de Lemipre.

A 16 de Novembro de 1898 partiu de Marselha para Cantão, chegou a Hong Kong a 19 de Dezembro e a Cantão a 21.

Estudou a língua chinesa em Cantão e a 23 de Março de 1899 foi trabalhar na Missão de Tsong Pa e depois na de Fat-Kong, onde foi atacado pelos bandidos.

A 23 de Dezembro de 1900, foi nomeado para Tsang-Shing. A 23 de Julho de 1904, para Lola Fong. A 10 de Dezembro de 1904, Mons. Jean-Marie Mérel, vigário apostólico de Cantão, nomeou-o para Shiu--hing, para onde partiu a 21 desse mês.

A 7 de Fevereiro de 1907, foi para o Colégio do Sagrado Coração de Cantão.

A 8 de Janeiro de 1908, Mons. Mérel telegrafou-lhe de Nantes a nomeá-lo secretário do Bispado.

A 8 de Outubro de 1907, demitiu-se de secretário por falta de consideração do bispo para com ele.

A 10 de Outubro de 1909, Mons. Mérel dá um distrito a este missionário.

A 5 de Novembro, o bispo suspende-o a divinis por insubordinação.

A 24 do mesmo mês, Mons. Mérel, abraçando-o, retira-lhe a suspensão e diz-lhe que vá celebrar no arrabalde de Oeste, de que ele o nomeia titular.

A 29 de Novembro, Mérel manda chamar Gervaix e propõe-lhe ficar na residência episcopal; o bispo tinha intenção de o enviar à Escola de Línguas em substituição de Gourdial.

A 10 de Abril de 1910, nomeia-o, efectivamente, para esta Escola, onde ele recebia um salário que ia submergir-se na bolsa episcopal.

A 2 de Janeiro de 1911, devido a um incidente à mesa, em que o procurador, Pe. Thomas, apoiado por Mons. Mérel, lhe queria fazer beber vinho já envinagrado, Mons. Mérel disse diante de todos os missionários: "se não estais contente, ide para o vosso lugar".

A 3 de Janeiro, foi para Sai-Kuan, onde dispendeu 1100 piastras para se alojar.

Já antes, nos postos precedentes, sem receber um avo da Missão, ele havia dispensado em TsangShing $700; em Shiu-Hing $600, em Sai-Kuan $1100 = 2400 piastras.

A 18 de Abril de 1913, ele recebia de Mons. Mérel a nova injunção de ter, no prazo dum mês, de deixar Sai-Kuan para partir para Tsing Hoi. Ele obedeceu.

Em 1914 separou-se de Cantão o novo Vicariato Apostólico de Suraton; Mons. Adolphe Rayssac foi nomeado seu primeiro Vigário Apostólico a 17 de Julho de 1914 e sagrado em Hong Kong a l de Maio de 1915 por Mons. Dominique Pozzoni, V. A. de H. K. (1905 -1924).

O Pe. Gervaix, que era amigo do seu confrade Rayssac, publicou em Missions Catholiques, 2 - 2 -1915, pp.63 - 65, um artigo intitulado: "Dieu aidant! Un nouveau Vicariat Apostolique en Chine".

Em 1916, foi para junto de seu amigo, trocando o Vicariato de Cantão pelo de Suraton. Missionou em Teng-Hai e Tchao-Tcheu.

Nesse mesmo ano de 1916 abandonou a Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris, vindo para a Diocese de Macau.

ESCRITOR

O Boletim Eclesiástico de Cantão chamava-se Hirondelle ("Andorinha"). Dada a queda que o Pe. Gervaix tinha para escritor, foi-lhe dada a direcção dessa pequena revista ou jornal.

Ora o Pe. Gervaix era acintoso e não poupava ninguém. Os missionários chamavam-lhe o "jornal do Pe. Gervaix".

Um missionário escreveu em 1902 uma carta a um seu amigo a perguntar a sua opinião sobre o jornal de Pe. Gervaix. A resposta não se fez esperar: "Hirondelle? autres disent Hari-delle! Je me déplais ces esprits grincheux". Quer dizer: "Andorinha? Outros chamam-lhe 'Haridelle' (cavalo magro e mau) a mim não me agradam estes espíritos caturras."

Além de missionário, Gervaix era escritor, continuando a sê-lo quando deixou Cantão. Em Macau enchia as páginas do "Boletim Eclesiástico da Diocese". Mons. Mérel dá-lhe este elogio no seu relatório de 1910 - 1911: "O Pe. Gervaix, além de se ocupar da cristandade do lado de oeste, escreve, para as enviar para dois hemisférios, páginas que contribuem para fazer amar a nossa vocação missionária e leva, aos generosos benfeitores das nossas obras, as notícias dos países para os quais se voltam sem cessar os seus corações."

POETA

Além de escritor, o Pe. Gervaix era também poeta e deixou poesias dispersas por livros, jornais e revistas, incluindo o "Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau".

O editor do seu opúsculo "Grisailles", A. Monestier, escreve à guisa de prefácio:

"Como verdadeiro poeta que é, Eudore de Colomban havia mal calculado os transportes da sua inspiração...

Arrebatado pelo divino tormento dos seus infinitos, a ave que nele voa de alma plena teve de rasgar as nuvens terrestres para levar a sua canção de oiro aos cumes puros, onde resplandecem as eternas claridades do Ideal.

Sem dúvida que a Melancolia, doce como o pranto amigo duma ferida mal fechada, acompanha em surdina a sua canção errante.

Mas, qual um rasto luminoso, a Fé exalta-o das fanfarras do amor e de vida, dispersando todas as brumas."

No mesmo ano que chegou a Macau, Gervaix publicou em O Progresso, de 16 de Julho de 1916, os seguintes versos em honra de Camilo Pessanha:

    "Je ne sais que ton nom, j'ignore ton visage, 
    Qu'on dit celui d'un sage, 
    D'un poete, sacré par le choix merité 
    Delaposterité... 
    Car ton nom passera lumineaux d'âge en âge, 
    Comme un feu qui sumage
    A l'orizon qui fuit sur l'abîme agité
    De l'immortalité..."

NUM MOMENTO DE CRISE

A 13 de Julho de 1904, Gervaix escreveu ao bispo Mérel:

"Monseigneur,

Aprés avoir, devant Dieu et ma Conscience, réfléchi sur les graves devoirs qui incombent à tout missionaire je me sens dépourvu des qualités suffisantes pour remplir avec fruit mon sacré ministère.

J'ai le regret de déposer entre vos mains autorisés ma démission de missionaire apostolique de Kouang-tong.

(Ass.) R'Y Gervaix."

Tradução desta carta: "Depois de ter, diante de Deus e da minha consciência, reflectido sobre os graves deveres que incumbem a todo o missionário, sinto--me desprovido das qualidades suficientes para desempenhar frutuosamente o meu sagrado ministério.

Lamento ter de depor nas vossas mãos autorizadas a minha demissão de missionário apostólico de Kouang-tong.

(Ass.) R'Y Gervaix."

Ainda continuou a missionar até 1916, mas a sua vocação era mais de escritor do que de missionário.

Foi em Macau que se realizou plenamente. Mas não avancemos.

A SUA VIDA MISSIONÁRIA

É ele o mesmo que no-la descreve em "Lettres à ma cousine". Embarcou em Marselha em 16 de Novembro de 1898, passando 30 dias sobre as águas do mar, mas sempre enjoado e de cama.

Que dizer da viagem descrita por tantos turistas? Nada, porque nada viu. Que suplício! Dizem-lhe: "Levanta-te! É imaginação! — Santa Rússia!! imaginação!"

E ele levantou-se ao chegar a Hong Kong a 19 de Dezembro. Do cais dirigem-se à casa das M. E. P.,"ao templo dos antepassados, situado em 34, Caine Road, velha casa que viu passar todos os que o precederam, missionários de Cantão e doutras partes.

Embarca no Po Wan, e em 8 horas chega a Cantão, a 20 de Dezembro.

É apresentado ao bispo Chause, seu compatriota."De estatura acima da média, em hábito chinês, o prefeito apostólico dá-me a princípio a impressão dum verdadeiro chinês pelo seu acento nasal, seus olhos ligeiramente em amêndoa brilhantes de malícia e de bom senso. O seu andar um pouco lento acusa bem os seus 60 anos.

Duma simplicidade antiga, duma austeridade claustral, junta, diz-se, a um espírito de discernimento o maior zelo das almas.

É um tipo de fé cavaleiresca...

Esta tarde, pôr-me-ão um rabicho postiço dum chinês completo; calçar-me-ão de pantufas de estofo, chamar-me-ão Ip Ka shang e dormirei lá em cima, a sonhar com as estrelas."

A 29 de Março de 1899, o bispo ordena-lhe que vá evangelizar 5 distritos: Tsong-fa, Tsing-yung, Fat--Kong, Tséong-ning e Yong-yun; irá acompanhado duma "feiticeira" (neófita de Tsong-fa) que sabe o caminho.

Instala-se a 30 de Março na aldeia de Chankong, a 12 léguas de Cantão. É saudado pelos neófitos e pelas crianças, que lhe perguntam pelo país da "Grande Lei".

Note-se que França, em chinês, diz-se Fat-kuok, isto é,"País da Lei".

"Oh! as belas horas dos meus 25 anos! Oh! as águas claras sobre as alturas! Viva Deus!"

A 10 de Outubro de 1899 escreve de Fat-Kong, a 30 léguas de Cantão, dizendo que se sente muito doente, quase a morrer e cita Lamartine: "Qu'est-ce-donc que des jours pour valoir qu'on les pleure? Un soleil, un soleil, une heure et puis une heure. Celle qui vient ressemble à celle qui s'enfuit; Voila le jour, puis vient la nuit."

Vai restabelecer-se a Hong Kong à Casa de Betânia, que é ainda hoje o sanatório das M. E. P.

A 25 de Dezembro de 1989 escreveu de Hong Kong comparando a sua doença à de Lázaro.

A 17 de Maio de 1900 escreve de Fat-Kong e diz que para mostrar que já estava de todo bom, fez a pé, a marchas forçadas, o caminho de 140 Km., por uma terra montanhosa, de Cantão a Fat-Kong, em dois dias, com uma noite de repouso em Tsong-fa.

Ao cair da tarde, teve de levar às costas o seu criado!!!

Oh! o vigor dos 25 anos!

A 16 de Junho de 1900, festa do seu padroeiro S. Régis, regozija-se por ter baptizado nesse dia alguns camponeses.

A 29 de Agosto de 1900 escreve de Cantão, contando um ataque de piratas quando se dirigia de Fat-Kong para o distrito de Tséongning, em 23 desse mês. Às 7h da manhã é cercado por oito bandidos mascarados, que lhe vibram um golpe de espada na omoplata; atam-lhe as mãos atrás das costas com um fio de ferro, dão-lhe pauladas nas tíbias e ameaçam precipitá-lo na ribeira com os seus companheiros. Contentam-se em tirar-lhe o passaporte e deixam-no nu. Cobriu-se com uns trapos e foi assim que reentrou em Fat-Kong.

Em Cantão, o bispo Chausse chalaceia, o cônsul francês Hardouin telegrafa e o Sr. Beau, ministro em Pequim, avisa.

"O mais belo da história é que falhei o martírio e perdi uma bela ocasião de não incomodar mais pessoa alguma."

Ele queixou-se ao Ministro da França em Pequim, exigindo uma compensação do Governo Chinês. O cônsul francês de Cantão, Charles Hardouin, respondeu ao bispo Mérel a 5 de Agosto de 1901: "O Sr. Ministro da França em Pequim informa que o pedido do Pe. Gervaix não pode ser compreendido no total das indemnizações que devem ser pagas pelo Governo Chinês.

Os princípios e as regras adoptadas pelo Corpo Diplomático não lhe permitem (a ele, ministro) dar seguimento ao seu pedido em razão da natureza benigna das feridas recebidas."

Gervaix foi restabelecer—se no sanatório de Betânia das M. E. P..

A 13 de Outubro de 1900, escreve de Hong Kong: "Mons. Chausse morreu ontem à tarde em Betânia de Hong Kong, com 62 anos, alquebrado pelas emoções. É uma grande perda para a Missão de Cantão e, para mim, em particular, pois era um guia e um pai...

O velho bispo de Tenedos, de pé diante dos restos de seu colega, lança uma primeira água benta e com a sua mão de pontífice traça uma cruz no ar sobre o defunto.

Nós desfilámos todos, missionários, leigos e cristãos e, a seguir, fecha-se para sempre a tumba do Reverendíssimo e Chorado Senhor Bispo de Capso, Augustin Chausse, prefeito apostólico de Kuong--tung (n. ō 1838, bispo 1886 -1900)."

Note-se que o bispo titular de Tenedos era Mons. Fenouil, nascido em 1821, vigário apostólico de Yun-nam de 1881 a 1907.

Em 28 de Outubro de 1900, Gervaix escrevia de Cantão acerca dos boxers que, lá para o Norte fizeram tantas vítimas em Julho deste ano.

Em Cantão reina a calma, graças ao espírito conciliador do vice-rei Tak-shou e às 8 canhoneiras europeias estacionadas no rio das Pérolas para proteger os europeus. Justamente, a 27 desse mês, reuniu-se um conselho de oficiais para bombardear Cantão; mas o V. R. fez propostas amáveis que conjuraram o perigo. Depois deu ordens para reprimir a perseguição contra os cristãos.

Pela morte de Chausse, foi nomeado um Superior interino em Cantão que transferiu Gervaix de Fat--Kong, onde fora ferido, para Tsang-shing, distrito vizinho.

A 19 de Maio de 1901, escreve de Tsang-shing a dizer que por intermédio do seu amigo P e Laurent, lhe fora concedida uma indemnização para reparar as perdas sofridas no ano anterior no ataque dos bandidos.

Nova carta de 20 de Julho de 1901: "Soube da nomeação do novo bispo de Miri-nópolis, Jean-Marie Mérel, de 47 anos, que ele não conhece."

Diz-se que é um homem valente e que é muito alto, excedendo todos os seus colegas.

A 2 de Setembro de 1901 escreve de Tsong-fa: "Do meu antigo distrito conservo ainda a cristandade fronteiriça de Tsé-ku-shan (Montanha das Perdizes)... Os trabalhadores que a compõem são dos Akka, isto é, dos emigrantes de Kiang-sé, cuja característica é serem mais simples e vigorosos que os seus hospedeiros, os cantonenses (Pun-ti ou raça da terra)."

Carta de Cantão, a 6 de Outubro de 1901: "Hoje teve lugar a sagração do bispo de Mirinópolis...

Como convém a um representante da democracia igualitária e puritana, o cônsul dos Estados Unidos é o único que não está recamado de decorações e de galões.

O nosso cônsul francês, Sr. Hardouin, é deslumbrante, com a sua esbelteza grega, o seu sorriso e a sua espada: dir-se-ia um académico.

Primeira página da 1ḁ edição do "Resumo da História de Macau" do Pe. Régis Gervaix (Eudore de Colomban).

O de Portugal é gentil, o da Inglaterra, sonhador. Falta o Vice-Rei de Cantão; mas em seu lugar, que é o de honra, temos o marechal tártaro, homem gordo, franzindo o olho de boi, que observa as cerimónias católicas à maneira dum burguês assistindo às Variétés."

Os outros mandarins subalternos arregalam os pequenos olhos sobre os acólitos que levam caldeirinhas de água benta, cruzes, faixas e mitras e isto alegra-os visivelmente...

Mons. de Vintimilhos é o consagrante; é um pequeno velhote todo redondo, gordo e grave, que pontifica como um Aarão; é assistido por dois colegas, de inegável envergadura, Mons. de Picalasso e Mons. de Clazobarra...

Ainda o novo prelado não se havia escapado das mãos do seu consagrante e já ressoa subitamente às portas da Basílica uma panchonada de estoiros contínuos que te juro que anularia a voz grave dos órgãos de S. Pedro e os tenorinos.

O prelado, visivelmente comovido, começa a falar. Desde as primeiras palavras percebe-se que não é senhor do assunto, tal é a emoção que sufoca, tal é o espectáculo que o eleva acima do seu pensamento e lhe faz perder o fio.

Então, bem inspirado andou o Pe. Fourquet, que tinha o manuscrito e lhe soprou detrás do altar: espírito santo de orelha, muito oportuno nesta circunstância...

Seguiu-se um banquete, em que foram proferidos calorosos brindes por Mons. de Vintimilhos e pelo cônsul de França.

Este último teve unção e muita elegância. Foi aplaudido; mas os chineses de fora, tomaram estes aplausos por um sinal e, de repente, uma nova panchonada interrompeu o cônsul, reduzindo-o, finalmente, ao silêncio."

A 24 de Novembro de 1901 escreve de Long--mun: "É pela terceira vez que percorro o país de Long-mun (Porta do dragão) é uma vasta subprefeitura que limita ao nordeste a de Tsang-shing. Aqui, quando se diz subprefeitura, entende-se um território de extensão média dum pequeno departamento francês...

Esta viagem a Long-mun foi-me muito útil para completar as notas geográficas a dar ao nosso cônsul Hardouin que as reclama e alguns detalhes etnográficos sobre esta região pouco explorada."

Fala da possibilidade de ataques de bandidos e acrescenta: "Ainda que estes reencontros sejam indesejáveis, não deixam de alegrar um pouco o caminho e a paisagem.

Pois a terra seria bem insípida se nela não houvesse mais do que meirinhos, médicos e advogados!

E para que um horizonte seja agradável não será necessário a mistura dos três reinos animal, mineral e vegetal?"

Carta de 6 de Janeiro de 1902 de Yeung-kong: "Yeung-kong é uma grande cidade de 60 mil almas, porto fluvial situado a alguns quilómetros da embocadura do Mok-yeung. O seu comércio é considerável por causa da sua posição costeira entre Macau, Hong Kong e Kuang-tchau-Wan.

A sua exportação consiste sobretudo em artesanato de vime e aves de capoeira."

Carta de Tsang-shing de 8 de Maio de 1902: vendo passar um cortejo de noivos, faz uma bela descrição dum casamento chinês com todos os pormenores.

Outra carta do mesmo local de 12 de Agosto de 1902. Fala dos suicídios na China e cita casos interessantes.

O suicídio não é infamante, mas honroso. O primeiro imperador da dinastia tártara suicidou-se bem como o último da Ming.

Muitos suicídios devem-se à inferioridade em que se acham as mulheres na família. Quando os filhos se casam, continuam a viver sob o tecto dos pais e às vezes há 10 ou 15 mulheres na mesma família. As querelas são frequentes por tudo e por nada; chega-se aos palavrões, aos insultos e a um furor extremo. Após estas "barrigadas de cólera", como lhe chamam os chineses, a mulher, cega, sufocada pela raiva, comete o suicídio.

Havia um pagão rico, cuja irmã, viúva com dois filhos, ofereceu um festim em sua casa; chegaram os parentes que ofereceram de presente, uns 300, outros 500 e outros 100 sapecas. Estes presentes serão retribuídos quando eles oferecerem outro festim.

A viúva comprara um porco gordo e dera de caução metade do preço. Mas sobreveio um comprador que ofereceu um preço mais elevado e levou-o.

A viúya, que nada tinha a oferecer aos seus hóspedes, envenenou-se com ópio. O mandarim chegou para verificar o suicídio e multou o culpado, que teve de pagar 10 vezes mais.

Uma noiva que se suicida quando lhe morre o noivo antes do casamento, é digna de louvor. O mesmo se diga dos soldados vencidos.

Na guerra sino-japonesa de 1894, após a destruição da frota chinesa, suicidou-se o almirante Ting com numerosos oficiais.

A Corte imperial premeia os mandarins bons e castiga os maus. Para os mais altos, a pena de decapitação é substituída pelo suicídio.

O delegado imperial chega, lê-lhe a condenação à morte e dá-lhe a opção, ou decapitação ou suicídio. O mandarim escolhe o segundo, envenenando-se.

A gente do povo suicida-se por duas razões: ou por se ver arruinada ou por se vingar dum inimigo.

Dois comerciantes fazem concorrência um ao outro: o que perde, toma ópio e vai morrer em frente da loja do seu rival.

Carta de Tsang-shing, de 22 de Fevereiro de 1903: sobre os adivinhos. A classe mais vulgar é a dos leitores ou anunciadores da buena-dicha. Começam por se informar miudamente das vidas das pessoas que os vêm consultar. Só a seguir é que pronunciam os seus oráculos, respondendo a tudo.

As suas especialidades são: astrologia, frenologia, hieromancia ou adivinhação pelos livros sagrados e clássicos.

O astrólogo tem sempre o seu calendário na mão para tirar os horóscopos. É consultado para os casamentos, adopções, escolha duma profissão e anos de vida.

Os adivinhos prometem sempre riquezas, honras, sucessos no comércio e nos estudos; adivinham a causa das doenças e das mortes.

O frenologista possui uma imensa carta, na qual está pintada uma bela cabeça dividida em pequenos compartimentos, em cada um dos quais está escrito um carácter. O operador compara a cabeça da pessoa com o modelo e explica-lhe a sorte que terá nos exames, negócios, vida pública e privada. Os melhores frenologistas são os cegos. Agitam uma caixa de bric-à-brac e informam a pessoa de tudo o que deseja saber. Convidam o consultante a meter a mão numa caixa misteriosa para tirar uma palha, um prego, um botão, etc; e continuando com as suas pesquisas, eles fazem girar um objecto nos dedos; após todos estes disfarces, dão os seus prognósticos.

Os quiromantes por um estudo comparado das duas mãos, estudo este acompanhado duma conversa animada sobre todas as circunstâncias da vida social do cliente, obtêm um conhecimento completo da sua situação e estão aptos a dar-lhe conta do seu futuro sucesso.

A seita dos advinhos letrados divide-se em duas classes: a 1.ḁ baseia-se apenas nos clássicos e explica a maneira como os chineses têm vivido e pensado do princípio até hoje; a 2.ḁ deixa de lado os textos e explica tudo pelas causas materiais.

Em geral os adivinhos são pobres diabos que procuram viver sem trabalhar nem mendigar.

É tudo um verdadeiro charlatanismo.

Carta de Cantão, de 21 de Abril de 1904. Descreve um jantar na residência episcopal oferecido ao almirante Marechal e ao seu Estado Maior, em que tomou parte o cônsul francês e muitos dignitários.

Entre oficiais da Marinha a conversa recai sobre o Ministro da Marinha. A dada altura, alguém disse que ele promovera um oficial medíocre, porque este era "filho do arcebispo!"

Foi uma bomba. Risinhos sufocados, todos comprometidos com vontade de sair quanto antes e ir respirar o ar livre.

O incidente espalhou-se por todo o Cantão, Pequim e até pela França. Gervaix termina: "Viva o celibato para os arcebispos."

Carta de Tseng-ning, de 4 de Maio de 1904: com um confrade vai visitar o mandarim local, de 60 anos de idade, que acham muito simpático.

Carta de Peitam, de 8 de Abril de 1905: O bispo Mérel vai lá confirmar os cristãos. Depois, Gervaix convida o bispo a ir visitar A-mei, o velho da montanha, que vive isolado numa montanha como um monge da Tebaida. Diz Gervaix que nunca encontrou tão grande fé como daquele homem de 56 anos.

Carta de Chao-king, de 16 de Janeiro de 1906. A 20 de Dezembro de 1906, o bispo transferiu-o para Shiu-Hing ou Chau-King, antiga capital de Kuangtung e residência do vice-rei dos dois Kuangs — Kuangtung e Kuangsi. Ela abrigou o padre Ruggieri, S. J., o primeiro missionário católico que lá chegou em 1582. Em 1583 o Pe. Mateus Ricci fundou ali a primeira Missão Católica.

Como nas épocas medievais esta cidade está eriçada de torres e de fortes.

Ao passar pelas ruas parece-lhe ver Ricci vestido de bonzo."Oh! Como é doce marchar sobre os traços dum tal gigante do apostolado!"

Carta de Chao-king, de 19 de Outubro de 1906: Descreve a sua visita missionária durante 46 dias às cristandades de Sai-ning, Tung-on, Sen-hing, Yung-tsang, Lo-ting e Ko-Yu.

Nesta visita Po-pin, onde a religião se conserva devido às virgens catequistas chinesas. Gervaix faz estas reflexões ainda hoje válidas: "Uma cristandade na China é condenada a desaparecer em breve, quando o elemento feminino não ocupa ali um lugar preponderante...

O que falta à nossa Missão de Cantão é um colégio de catequistas para (catequizar) as mulheres catecúmenas; e era esta a preocupação do seu primeiro bispo Guillemin, em 1858, de a dotar desta instituição; mas ai! nessa época a obra era difícil.

Depois fizeram-se esforços, mas, seja por causa de dificuldades de recrutamento, seja por economia, nada ou quase nada resultou.

Contentam-se ainda com enviar ao fundo das províncias alguma boa velha ensinar as orações às mulheres do campo.

Um dia virá, e não está longe, em que os protestantes inundarão as campanhas de diaconizas pregadoras; e nós, os católicos, contentar-nos-emos com esperar o único socorro do alto."

A 8 de Setembro de 1906, o Pe. Gervaix missionário de Shiu-Hing, Ocidental, margem direita do rio Si-kiang, remeteu ao seu bispo, as estatísticas do seu distrito nesse ano:

    Baptizados cerca de...................................1000
    Baptismos de adultos....................................17
    Baptismos de crianças pagãs...............................4
    Baptismos de crianças cristãs.............................8
    Confissões..............................................963
    Comunhões..............................................849
    Casamentos...............................................3
    Extrema-Unções............................................6
    Escolas..................................................2
    Alunos...................................................18
    Alunas...................................................12
    Catequistas..............................................2
    Capelas...................................................4

Concluía assim o seu relato: "Vós compreendeis que não insisto em face dos padres lusitanos que me vão substituir vantajosamente nestas regiões, por onde eu apenas passei."

Carta de Chao-king, de 7 de Novembro de 1906: "Subiu a montanha de Pak-ling, de cerca de 1000 metros de altitude; ao pé dela, as Sete Estrelas, sete eminências de mármore branco, que se erguem ali como pólipos carnudos no fundo da planície.

Passo a descrever as Sete Estrelas de mármore com suas cavernas, os seus pagodes, com seus bonzos, as suas grutas de estalactites, os seus labirintos, os seus carreiros em zigzag, as inscrições gravadas nas rochas.

As Sete Estrelas de Chao-king formam um panorama dos mais dantescos e ao mesmo tempo dos mais graciosos."

Carta de Oraka, de 19 de Janeiro de 1907: Gervaix deixou Shiu-Hing, que passou para a diocese de Macau em troca de Hainam, que passou para a de Cantão.

Em 9 de Janeiro ele foi visitar o Japão. É como um turista, fugitivo, volúvel, inconstante que, querendo ver tudo, nada vê; uma andorinha duma hora voando por cidades exóticas; uma abelha a borboletear em volta dos cálices das flores. E repete muitas vezes a palavra Arigatô, que acha extremamente melodiosa.

Diz que, se exceptuarmos a Grécia e Roma, não há povo nenhum com a audácia das virtudes heróicas e do refinamento do orgulho e o espírito de conquista como o japonês.

Descreve os costumes japoneses e admira as belezas da natureza.

Carta de Cantão,19 de Fevereiro de 1907: Adeus montes e cavalgadas! Ei-lo professor do Colégio do S. Coração de Cantão; fundado em 1904 por Mons. Jean-Marie Mérel, M. E. P., conta duzentos alunos chineses que estudam inglês e francês e outras matérias.

Além de professor de francês, o bispo nomeou-o propagandista da Missão de Cantão na França e no estrangeiro para angariar fundos para a Missão. Pediu-lhe que visitasse os pagodes e os teatros e fizesse descrições para a revista Missions Catholiques, devendo recolher todos os pormenores de arqueologia e de história, lendas e superstições.

Ei-lo nas suas sete quintas, no seu papel de jornalista e escritor.

Carta de Cantão,8 de Maio de 1907: Além do mais, é agora nomeado secretário do bispo. Vai ser ele o redactor da correspondência do bispo.

Começa por dirigir um apelo em favor de Cantão ao rei da Bélgica, que se supõe ser rico e generoso.

"— Mas está muito bem, meu filho, exclama o bispo de Mirinopolis; isto está muito bem!..." E S. Ex.ḁ assina e põe o selo das suas armas.

E a carta segue para o palácio de Saeken!

Amanhã será outra para outra Majestade ou uma simples Excelência...

Mas, depois de tudo, não é o autor que assina... e um bispo olha bem para um rei...!

Carta de Cantão,21 de Agosto de 1907: tendo tomado parte num jantar chinês oficial, fala das aves que comeu e detém-se a relatar longamente os célebres "ninhos de andorinha", que tão saborosos são, contando a sua origem e a sua história.

Carta de Cantão,16 de Outubro de 1907: volta a falar dos jantares chineses de 36 pratos; e diz que o europeu se deve adaptar aos costumes orientais: "rir sem necessidade, mentir por dever, parecer sem ser... e... comer... sem fim nem fome...!"

Carta de Cantão,2 de Novembro de 1907: Visita o cemitério do "Vale de Ouro" e medita sobre a morte e a ressurreição.

Carta de Cantão,2 de Dezembro de 1907: Vai ao teatro ver a famosa comédia chinesa o Avaro, que ele relata longamente.

Carta de Cantão, l de Janeiro de 1908. Lembra que faz 10 anos que deixou a sua França bem amada, sans espoir de retour! Sente uma tremenda nostalgia; mas os padres das M. E. P. vão para as Missões, condenando-se a um exílio perpétuo. Assim Mons. Fe-nouil, bispo de Yuan-man partiu de França em 1847, há quase 60 anos e não mais voltou; Mons. Jarrige tem 70 anos consecutivos de Missão. O homem habitua-se a novos sóis, a novos climas e novas gentes, produzindo-se no coração uma anestesia relativa.

Carta de Cantão,12 de Junho de 1908: Sendo secretário do bispo, ele tem de servir de cicerone às visitas, o que é do seu gosto: de manhã à noitinha lá vai ele pela grande Babilónia de Cantão a mostrar as "coisas que eles não viram".

No dia anterior foi o vigário apostólico duma Missão entre os selvagens, Mons. de Troglodipoulassos.

Primeiro, o "Templo dos 500 génios", onde está Marco Polo, barbudo, de chapéu redondo e aspecto grave... Segue-se a Mesquita do século VIII aonde entram descalços, o Pagode "dos 5 andares", donde se vê toda a cidade, o local do Estado Maior dos Aliados quando tomaram Cantão em 1857.

Carta de Cantão, de 19 de Novembro de 1908: Espera que os chineses sacudam o jugo dos tártaros. A morte da velha imperatriz Tseu-hi e a do impotente Kuong-Su vão precipitar a ocasião; a subida ao trono da frágil criança Suen-tong, sob a regência de seu pai, é um laço frágil para ligar o passado ao presente.

Carta de Cantão,25 de Julho de 1909: Relata as cerimónias dos casamentos citadinos, enchendo muitas páginas.

Cartas de Cantão,19 de Março e 14 de Agosto de 1910: Transcreve cartas de alguns padres chineses a agradecer aos benfeitores da França.

Segue-se uma série de Cartas sobre a revolução de 1911 que derrubou a monarquia manchu, substituindo o imperador tártaro pelo presidente da república.

Vamos dar um breve resumo dessas cartas duma testemunha ocular.

27-8-1910: Cantão está em fogo e sangue; o palácio do vice-rei em cinzas; a fuzilada mistura--se ao canhão. O Kuomintang prepara-se para devastar tudo: os soldados fiéis ao vice-rei tombaram em grande número.

A porta de Oeste está fechada e Gervaix não pode ir leccionar na Universidade.

26-4-1911: A revolução continua: os marinheiros do almirante Ly-Tsuen, fiel à monarquia, entraram na parte da cidade tártara para proteger a guarda.

Os do Kuomintang têm bombas e fuzis em grande número; todo o bairro vizinho da Escola Pichon está coberto de ruínas e sangue; há 500 a 600 cadáveres em frente do Yamen ou palácio do grande Tesoureiro.

Durante o dia foram decapitados 100 rebeldes, mas estes vendem cara a vida.

29-4-1911: Soldados guardam as ruas e revistam quem passa; cadáveres e sangue por toda a parte; traços de balas de todos os calibres; contam-se 46 cadáveres diante do palácio do vice-rei, todos de rebeldes; os milicianos fiéis patrulham a cidade. O palácio do vice-rei sofreu pouco do incêndio, não morrendo mais de 200 pessoas. O vice-rei Tchang--Meing-Ki é um homem de rija têmpera.

Os de Kuomintang tomaram as cidades Sam--soi e Waichan e aqui mataram um general.

31-5-1911: O golpe de audácia de 27 de Abril pelo Kuomintang e a sua repressão pelo vice--rei causaram um abalo profundo na população.

O golpe só foi reprimido pelo auxílio prestado ao vice-rei pelo general Ly-Tsuen, que havia emprestado a sua casa ao vice-rei após um incêndio do seu palácio.

Agora veio Kuang-si o general Lung, amigo do vice-rei com um reforço de tropas e parece que vai tomar o lugar de Ly como favorito do vice-rei.

O vice-rei nomeou outro seu amigo, Kong--Ha, chefe das tropas, ficando igual a Ly, que vê nele mais um rival.

21-6-1911: Grande manifestação popular reclamando a proibição do jogo, partiu às 9h da manhã de junto do templo dos "cem génios", atravessou a rua do Marechal Tártaro e regressou ao ponto de partida; havia mais de 100 000 espectadores. O vice-rei proclama a proibição do jogo sob pena de morte ou de 10 anos de galera.

25-10-1911: Às 3h p. m. chega ao cais o novo marechal de Cantão, Fong-shan; dirigia-se com a sua escolta para o Yamen quando, apenas tinha dado alguns passos na Rua de Tchongtsin, uma dinamite explodiu e o reduziu a migalhas. Dele não restaram senão as botas e uns farrapos molhados de sangue que foram levados para o Yamen. Foram ainda mortos ou feridos de 25 a 40 oficiais e soldados manchus e gente que passava; algumas casas vizinhas arderam.

26-10-1911: A população está com os revolucionários e espera-se um governo provisório, em que se conta com Liang ting-fang e Kiang-fu-hing.

Registo fotográfico dos elementos constituintes do efémero Instituto de Macau, congregador da maior geração cultural deste século em Macau. O Pe. Régis Gervaix é o quinto a contar da direita para a esquerda, entre o Dr. Morais Palha e José Vicente Jorge.

29-10-1911: No dia anterior, grande vitória dos rebeldes contra os imperiais no norte. Organiza-se em Cantão uma gigantesca manifestação em favor da República; mas o vice-rei Tchan Ming-ki manda as suas tropas, o cortejo desfaz-se e regressam desiludidos a suas casas.

31-10-1911: Um édito imperial proclama a nomeação de Tseung-lok para novo marechal tártaro de Cantão. O general Long tsi Kuang manda guardar as posições do Norte da Cidade.

Há negociações das autoridades de Cantão com os delegados dos rebeldes em Hong Kong. Finalmente, a República é proclamada em Cantão a 9 de Novembro de 1911.

ESPÍRITOS INTRIGUISTAS

O Pe. de Bellaing, M. E. P., missionário da Indochina, foi passar a Hoi-hao, Hainam, uns dias com o Pe. Louis-Julan-Baptiste Michel Pénicaud, M. E. P., mais tarde bispo de Pakhoi (1928).

Por seu turno, Pénicaud foi passar uns dias em Cantão com Mons. Mérel; à mesa não se coibiu de dizer mal de Bellaing, intrigando-o perante o prelado e os colegas. O Pe. Gervaix, que ouviu a conversa, foi logo intrigar Pénicaud, contando tudo a De Bellaing. Eis a carta de Gervaix a Bellaing em 20 de Maio de 1910.

"Para me recordar de vós, eu não precisava do incidente que se passou à mesa episcopal de Cantão, onde se achava o Pe. Pénicaud, de Hoi-hao, de passagem por aqui desde há três dias. Este bravo Padre, que foi um amigo, porque é piedoso, não se esqueceu de dizer de vós todos as palavras seguintes: 'Ah, eu vi o Pe. Bellaing, que passou onze dias comigo!... Ele disse-me belas coisas sobre Cantão!... mas coisas espantosas!... (espanto do bispo e dos confrades). Oh, aliás, o Pe. De Bellaing é tocado (aqui o narrador põe o dedo na testa), é um doido, é um desiquilibrado etc...; ele partiu para o mato, para um distrito não designado pelo seu bispo!...' (surpresa)." E acrescenta logo: "Mas ele causou-nos boa impressão aqui o ano passado!..."

"— Mas sim, replica Mons. Mérel, mas sim!..."

E o piedoso Pe. Pénicaud retoma a mais bela das suas antífonas: "O que ele contou das histórias sobre Cantão e os missionários etc."

Após o jantar, Monsenhor, intrigado, toma o Pe. Pénicaud à parte e questiona o vosso admirador.

"Eu sei que Mons. disse a este propósito que o Pe. de Bellaing lhe havia parecido muito sério e inteligente." Não se conhece o resto da conversa; sei somente que o Pe. Pénicaud repetiu a S. Ex.ḁ tudo o que vós dissestes ao Pe. Pénicaud.

"Eu estaria muito interessado em conhecer estas coisas, se a vossa memória é fiel, e peço-vos, caro Padre, que mas envieis sem receio, pois, longe de vos ter por um doido, conservo sempre a opinião que sois não só um padre sério e fino, mas também um homem gentil e qualificado, que são os atributos dum francês de boa família.

Recordo-me ter sido, aquando da vossa passagem por Cantão, levado a contar-vos alguns mal-entendidos com o meu chefe, mal-entendidos dissipados presentemente, mas que a conversa idiota do meu simplório e mau confrade esteve em perigo de reavivar brutalmente, etc. e de fazer revelar mais ou menos a inútil recordação."

Ao receber esta carta, De Bellaing escreveu, a 29 de Maio de 1910 uma longa carta ao bispo a protestar-lhe o seu respeito e a desfazer os mal-en-tendidos.

Como se vê, dois intriguistas, Pénicaud e Gervaix.

GERVAIX VERSUS MONS. MÉREL

A 31 de Dezembro de 1912, o bispo mandou que dessem ao Pe. Gervaix a conta das suas receitas e despesas, esta mostrava despesas débito no montante de $816.11 e um $73.65. A 28 de Fevereiro de 1913, Gervaix escreveu ao bispo:

"Agradeço a V. Ex.ḁ ter querido, como havieis feito a respeito do Pe. Clauzet, deduzir da minha suposta dívida os atrasos da minha residência na casa episcopal.

Mas esta decisão de justiça que vos honra não faz mais que sublinhar ainda a vossa intenção de me reconhecer com dívidas.

Ora, diante de Deus e dos homens que querem certificar-se dos números, eu posso testemunhar que esta dívida não existe. Eu paguei-a há cinco anos pela minha pena e também por Fong-in, muito além. Eu estou pronto a demonstrá-lo em qualquer ocasião. Por conseguinte, a retenção que se me faz, cada ano, de $50 é uma injustiça gritante. Eu não posso pois aceitar as contas presentes, que peço a V. Ex.ḁ as guarde nos arquivos da Missão."

A 23 de Março de 1913, o Pe. Gervaix escrevia a Mons. Mérel:

"V. Ex.ḁ não compreende como eu tinha podido contrair uma dívida e dispender tão grande soma — 800 piastras.

Vou-vos dizer: Em Yang-shing eu fiz construções por 600 piastras; em Shiu-Hing por 600 piastras; enfim, em Sai-shan por 1 000 piastras.

Vós dizeis que eu guardei todo o dinheiro enviado pelos manchus.

Lamento dizer-vos que ainda o não recebi; como, pois, o podia guardar?

Em segundo lugar, eu escrevi para os meus manchus, não para todos.

Tenho eu o direito de receber somas que a minha pena pede aos benfeitores?

Tenho eu o direito pelo mesmo título que os Pes. Nicouleau, Lévèque, Douspis, Drucis, Roy e outros missionários, que escrevem no mesmo jornal (Les Missions Catholiques) e que obtêm recursos que vós lhes deixais evidentemente?

Vós dizeis que eu contraí uma dívida o ano passado; muito bem,34 piastras de livros em Xangai para os alunos. Há um simples mal-entendido do procurador, eis tudo. Nada há, pois, de se inquietar.

Vós dizeis que eu falto ao respeito aos meus confrades à mesa; não o creio; mas visto que é assim que se interpretam as minhas palavras de través, comprometo-me, desde hoje, a não dizer mais nada à vossa mesa, diante de vós, a não ser que vós me interrogueis.

Vós dizeis que 'eu quero ser um anjo ao altar'; Deus quer certamente que eu o seja; mas até agora eu não tenho sido um Lourenço, pois quem faz o anjo faz a besta.

Vós assegurais que me deixais a minha dívida sem me dardes razões válidas. Peço uma vez mais a V. Ex.ḁ que não me retenha as 50 piastras do meu subsídio, de que preciso para viver e fazer obras; pois que não é o dinheiro da S. Infância que me ajuda; há já 8 anos que não recebo daí um avo."

Quatro dias depois, a 27 de Março, o Pe. Gervaix voltava à carga contra Mérel: "Permiti-me que vos diga o meu espanto por V. Ex.ḁ, à mesa, publicamente, diante de confrades, muitos estrangeiros à nossa Missão, me ter infligido censuras ásperas, como aquela que me dirigistes na quarta-feira passada à mesa: — Oh! a Missão não dispendeu um soldo com os leprosos".

"Foi dito em tom de cólera contra os meus escritos nas Missions Catholiques; eu não pude responder e contive os meus nervos.

Efectivamente, a Missão não deu um soldo para o sustento dos leprosos. É a verdade. Não insisto.

De futuro, Monsenhor, ficar-vos-ia reconhecido pelo seguinte:

1. Não me ferir sem razão e em público;

2. Não reter as $50 piastras do meu subsídio, sob pretexto que eu tenho dívidas, quando eu paguei 10 vezes mais do que as ditas dívidas;

3. Não ficardes ofendido por eu não beijar o vosso anel; se eu omito esta rubrica, é porque não tenho a virtude de S. Francisco Xavier: não posso beijar o vosso anel depois dos leprosos.

4. Crer-me bastante leal, bastante padre para vos considerar como meu chefe legítimo, a quem se deve respeito e obediência; mas também bastante homem para estar sujeito à irritação, aos nervos, em ocasiões menos felizes em que sou objecto das vossas palavras picantes, ou seja, as vossas punições.

5. De não prestar atenção às acusações de Sorin, de Frayssinet, de Levéque, de Thomas, pois todos me vêem com maus olhos em Cantão e não têm cessado de me encher de vinagre.

Quero salvar a minha alma, crede-o bem e peço a V. Ex.ḁ, que não me tome isto muito difícil, semeando no meu espírito mil gérmens de perturbações.

Confio no futuro; dignai-vos esclarecer-me, aplanando todas as rugosidades da vida. Se é fácil ferir e escorregar, eu não quero escorregar à la Verdeille.

Eu sou padre e padre quero permanecer aconteça o que acontecer."

A 18 de Abril, Gervaix regeita o epíteto que Mérel lhe dá da falta de delicadeza.

A 2 de Maio de 1913, Gervaix dizia que o seu bispo o havia transferido de Sai-Kouan para Tsing--hoi; "e, como que para acrescentar mais e mais à medida ditatorial, S. Ex.ḁ escrevia uma frase que constitui para o subordinado a mais monstruosa das injustiças e o mais aviltante dos crimes".

A 13 de Julho de 1913, Gervaix escrevia ao bispo: "Na vossa carta de ontem,12 do corrente, V. Ex.ḁ dirigiu-me injúrias muito gratuitas, às quais a caridade de N. Senhor me aconselha a não responder. Aliás, não me convém, na situação grave a que está reduzido o meu organismo, agravar o seu estado por um acréscimo de sobreexcitação nervosa que me proibe a Faculdade (dos médicos)."

A 16 de Junho de 1913, o Pe. Robert informa o Bispo que Gervaix escrevera a Roma, acusando o prelado de que a sua administração "era irregular nas somas que lhe eram enviadas e que elas não chegavam aos destinatários".

Esta informação irritou o prelado.

A 18 de Junho de 1913, Gervaix escreve ao bispo Mérel: "Eu não conheço suficientemente o meu Direito Canónico para especificar em seus pormenores as prerrogativas dos padres em matéria disciplinar, mas sei bastante claramente tudo o que diz respeito à minha reputação pessoal e sou bastante zeloso para a defender.

Venho, pois, hoje trazer a V. Ex.ḁ um facto entre todos, cuja gravidade excepcional é capaz de prejudicar aquele, a quem foi imputado há já nove anos(1904).

Refiro-me a uma acusação escrita levada à Propaganda contra o vosso servidor por um desconhecido.

Eis aliás os factos com suas circunstâncias e datas...

Em Julho de 1904, eu desci a Cantão para certos negócios, e a 13 desse mês V. Ex.ḁ chamando--me, deu-me secamente 'a ordem de partir amanhã para Este', sem outra fórmula explicativa.

Surpreendido por uma tão pronta decisão, procurei informar-me dos motivos, mas em vão; e, finalmente, desanimado, apelei aos vossos sentimentos de mansidão; e por uma carta escrita a lápis de Lao-long nos quisestes suspender a medida administrativa, mantendo-me no distrito de Tsang-Shing.

Um ano depois, exactamente a 7 de Dezembro de 1905, eu desci mais uma vez de Tsang-Shing a Cantão para certos negócios, entre outros a questão da supressão de $100 piastras para a St.ḁ Infância.

Eu estava singularmente enervado por esta supressão que prejudicava as minhas obras de evangelização; para não me envolver em explicações aborrecidas com o meu superior sobre esta matéria, resolvi ficar essa tarde em casa dum confrade, afim de diminuir o ardor do 'meu ressentimento'.

Qual não foi a minha estupefacção quando, na aurora do dia seguinte,8 de Dezembro de 1905, recebi, ao entrar em vossa casa para vos saudar, este cumprimento que cito textualmente: Fizeste bem em vir; estava a ponto de vos suspender a divinis!"

Efectivamente, uma hora depois, sem que saiba as razões desta punição, vós entregastes-me um papel, que eu li ao Pe. Etienne, e em que eu era suspenso a divinis por insubordinação.

E — pormenor penoso a assinalar — na tarde, véspera deste dia, isto é, a 7 de Dezembro, o Pe. Fourguet dizia ao Pe. Fouque no Colégio do Sagrado Coração: 'O Pe. Gervaix será suspenso amanhã'.

Estas palavras foram até ouvidas por um leigo, Sr. Marceau, que mas repetiu, assim como por alunos do colégio.

Durante dois dias, eu sofri a minha dor em silêncio até à hora em que este mesmo Pe. Fourguet chegou para me levar à presença de V. Ex.ḁ.

Mas a reversão do meu castigo foi tirar-me dum golpe a posse do meu posto de Tsang-Shing, sendo eu nomeado para Shiu-Hing, para onde parti a 19 de Dezembro. Antes de partir, soube vagamente pelo Pe. Kammerer que, se eu tinha sido transferido em 1904 e enfim em 1905, era porque eu tinha dificuldades graves no distrito de Tsang-Shing, e que ele, Pe. Kammerer, me podia elucidar sobre este assunto, se eu fosse a Pak-Hoi.

Com o coração ulcerado de dor, temendo qualquer calúnia odiosa, fui para Shiu-Hing e o assunto foi esquecido.

Mas eis que em Outubro de 1909, tendo surgido novas dificuldades com o meu superior, em seguida à minha demissão de secretário, V. Ex.ḁ escreveu-me esta coisa espantosa: 'devido às acusações dos cristãos de Tsang-Shing em 1904, que se queixavam da vossa dureza para com eles, o cardeal Gotti pediu-me um relatório sobre a vossa conduta em Tsang-Shing; por afeição por vós, eu não respondi à carta do Cardeal'.

Ao receber esta comunicação, eu exprobei V. Ex.ḁ por não ter feito o relatório e por me deixar na ignorância desta acusação e deixar arrastar a minha reputação pela lama.

Do Pe. Fourguet, com quem falei do assunto,recebi a reflexão seguinte: 'Monsenhor falou-vos disto? Pois então ele fez mal'.

A questão parou ali, deixando a vítima, sempre benigna e ignorante, passar uma tão monstruosa injustiça.

Foi só ontem,17 de Junho de 1913, que esta mesma vítima tomou, pela primeira vez, conhecimento dos factos seguintes, que me revoltam de indignação.

Num bilhete recente eu pedi ao Pe. Kammerer que me respondesse aos 4 quesitos seguintes:

1) Quem vos informou das acusações que fizeram contra mim em 1904 os Cristãos de Tsang-Shing?

2) Porque vos proibiram de me falar disso a mim, o único interessado?

3) De que é que tratava a acusação dos cristãos de Tsang-Shing?

4) Fizeste alguma vez conhecer, desde 1904, o autor e o teor desta acusação?

Recebido este bilhete, o meu confrade respondeu-me lealmente o que se segue, que eu cito textualmente aqui:

1) Foi o Pe. Fourguet, que me pôs ao corrente duma acusação, não dos cristãos de Tsang-Shing, mas dum confrade contra vós. (Em nota, diz Gervaix que conhece quem foi o acusador.)

2) Escreveram-me confidencialmente, suponho que para evitar inimizades entre confrades.

3) Tanto quanto me recordo, acusam-vos de ter feito prender os vossos cristãos.

4) Nunca vos fiz conhecer o teor nem o autor da acusação.

A prova é que vós crieis até hoje que ela vinha dos vossos antigos cristãos... Inútil de vos dizer que foi para vosso bem que o Pe. Fourguet me fez intervir."

(Ass) C. Kammerer.

Pak-Hoi; 12-6-1913.

"Desta peça se conclui:

1. Que fui acusado a Roma por um confrade e não pelos meus cristãos, contrariamente às afirmações de V. Ex.ḁ;

2. que nunca me fizeram conhecer esta acusação;

3. que esta acusação diz respeito ao facto de eu ter feito prender os meus cristãos...;

4. que esta acusação foi comunicada primeiro por V. Ex..ḁ a um dos vossos simples missionários, Pe. Fourguet;

5. Que este mesmo pe. Fourguet, em vez de a comunicar ao primeiro interessado e ao único acusado, escreveu a um terceiro, Pe. Kammerer, de que eu não podia, a priori, suspeitar de indiscrição, mas que realmente não tinha nenhum direito de receber tais confidências tão prejudiciais à dignidade do meu sacerdócio e à minha honra de cidadão.

Doutra parte, segue-se da carta de V. Ex.ḁ de Outubro de 1909:

1. Que vós atribuistes aos cristãos de Tsang-Shing a paternidade duma acusação feita contra um dos vossos missionários;

2. Que vós não fizestes o relatório pedido por Roma sobre a minha conduta em Tsang-Shing;

3. Que foi por afeição por mim que vós não fizestes um relatório que, ao contrário do que vós pensais, teria talvez sido uma peça de reabilitação da minha honra. Resulta ainda que, devido esta cusação a Roma, V. Ex.ḁ, em lugar de me pagar, se aproveitou para me condenar sem me ouvir:

1) a deixar o distrito de Tsang-Shing;

2) a acoimar-me de insubordinado por eu ter recusado sair deste distrito, sem razão plausível, e enfim de suspender a divinis

Peço, pois, a V. Ex.ḁ queira:

1. Nomear um comité de padres para tirar a limpo o objecto da minha acusação de 1904.

2. Estabelecer sobre provas evidentes a minha participação nas penas criminais que eu, por suposto, fiz sofrer aos meus cristãos.

3. Declarar o direito de V. Ex.ḁ a comunicar a outros, e não ao acusado, as peças da acusação a Roma.

4. Declarar o vosso pedido de recusar um relatório pedido pela Propaganda sobre a minha conduta.

5. Declarar o vosso direito de me transferir dum distrito e de me suspender a divinis por razões que eu sou o único a ignorar.

6. Enviar à Propaganda as conclusões, quaisquer que elas sejam, do julgamento feito por este comité de padres designados por vós mesmos e que terão discutido com toda a liberdade todos os assuntos preceituados."

A 20 de Junho de 1913, Gervaix escreve a Mérel: "O livro da Imitação (de Cristo), que vós me propondes é belo, mas eu encontro o do Evangelho mais belo ainda, onde se diz que, quando surge um litígio, é preciso tratá-lo entre a Igreja e vós. Este vós, nesta ocasião, sou eu acusado de 1904, eu, o acusado pelos cristãos infames, eu o acusado por um confrade!!

E V. Ex.ḁ admira-se de que eu me revolte sob a injúria caluniosa, sem a prova que me condenou sem me ouvir, e além disso, suspendendo-me a divinis sem razão motivada previamente; mais, o meu superior transfere-me pela décima vez em 10 anos dum posto que eu não escolhi, qualquer que seja.

A vossa carta de ontem,19 de Junho, contém duas graves inexactidões:

1.ḁ, eu pedi-vos comité de padres para me julgar não 'um tribunal de quatro padres'. Como é que vós torceis assim os termos da minha carta?

2.ḁ, eu persisto a negar que o Cardeal Gotti não haja sido instruído da acusação de 25 de Novembro de 1905, pois que foi em 1904 que o Pe. Kammerer recebeu aviso do Pe. Fourguet desta acusação. Peço-vos que rectifiqueis as vossas datas.

Além disso, eu devo dizer-vos que foi 10 dias antes de me haverdes transferido para Ting-hay que eu vos acusei a Roma de desvio de dinheiro. Não foi, pois por agitação ou despeito que o fiz.

Vós dizeis-me que 'vós não aprovais os autores da minha acusação a Roma, autores que vos são desconhecidos'.

Como é que vós pudestes informar o Cardeal Gotti sobre a verdade das queixas que lhe havam sido submetidas?

E de lhe aplicar, como me dizeis, o remédio conveniente? Tudo isto é perfeitamente curioso e contraria, sobretudo, as mais elementares noções da prudência humana e da caridade cristã.

Resta, pois, Monsenhor, acordar no seguinte:

1. Que em 1904, uns cristãos, segundo vós, um confrade, segundo o Pe. Fourguet, me acusaram ou me acusou a Roma de concussões.

2. Que eu, o acusado ignorei absolutamente tudo até 17 de Junho de 1913.

3. Que eu fui a vítima muda duma inquisição surda,10 vezes mais odiosa que na Idade Média, pois que o único interessado foi ferido sem ser ouvido.

4. Que, apesar da vossa recusa de me julgar um grupo de confrades, escolhidos por vós, tenho o direito, perante um facto novo (carta do Pe. Kammerer) de apelar à justiça dos homens, esperando a de Deus e a do seu Vigário."

A 21 de Julho de 1913, Gervaix escreveu ao bispo: "Há já três meses que vós me retirastes os poderes por 3 vezes, o que surpreendeu e emocionou e fez sorrir os meus cristãos de Sai-Kuan.

Eu sofri um prejuízo na minha reputação primeiro e depois na minha saúde. Peço a V. Ex.ḁ, maisuma vez, que acredite que eu não me divirto com esta questão e que os meus nervos estão exaustos; eu não posso aceitar senão parcialmente o encargo moral da minha cristandade em vista da fraqueza do meu espírito.

Há poucos dias escreveste-me dizendo que a minha cara alma estava muito doente e esta carta partiu para Roma...

Agora e já V. Ex.ḁ, fica advertido que estes poderes que me prorrogastes em 21 de Julho, três dias depois de mos haverdes retirado, não me dão o seguro contra a surpresa da minha neurastenia aguda."

A 22 de Agosto de 1913, Gervaix escrevia ao bispo: "Repito-vos mais uma vez que a acusação que me fizestes cai em falso e que eu vou instruir imediatamente um tribunal competente."

A 27 de Dezembro de 1913, Gervaix escrevia num tom irónico ao bispo sobre a maneira de converter os padres refractários, que ele chamava apóstatas. Propunha que cada um subscrevesse o seguinte abaixo-assinado:

"1. Pedimos que se tenha confiança em todos os padres sem excepção.

2. Que não sejam mais molestados, desconfiados, deslocados sem razão grave e motivada.

3. Que se lhes pague integralmente o seu magro subsídio, bem como o suplemento concedido por Mons. Chausse.

4. Que uma indemnização da Obra da St.ḁ Infância seja igualmente concedida a todos, proporcionalmente às necessidades reconhecidas.

5. Que todos tenham o direito de receber as somas que tenham solicitado dos benfeitores.

6. Ou então que seja abolida a regra de se tirar $50 àqueles cujas obras estejam em dívida.

7. Que todos os grandes empreendimentos,que possam influir consideravelmente sobre os destinos da Missão, recebam, senão a aprovação dos missionários, mas ao menos sejam conhecidos deles previamente.

8. Que seja possível a Mons. Mérel escolher entre os 70 confrades, homens experimentados e competentes que presidam aos serviços de que depende o bom funcionamento duma Missão.

9. Que isto seja, duma maneira geral, regulamentado, legislado sempre segundo o espírito, muitas vezes segundo a letra, do Regulamento da Sociedade das Missões Estrangeiras, aprovado por Roma, pelos Bispos e pelos Directores da mesma sociedade.

N. B. Esta peça não é uma provocação, nem mesmo uma provocação. Ela é toda de lealdade. A maioria dos missionários pode assiná-la."

Resultado de tudo isto: o Pe. Gervaix deixou a Missão de Cantão e a Sociedade das M. E. P. e veio trabalhar na Diocese de Macau.

Para ele houve só um grande bispo em Cantão, o 1. ō, Zephirin de Guillemin, cuja vida ele escreveu.

A 7 de Abril de 1914, o Pe. Gervaix escrevia ao bispo: "Visto que V. Ex.ḁ não deseja que no futuro eu conduza na cidade cenas cinemetográficas que vós tínheis permitido exibir muitas vezes no Colégio e no adro da vossa Catedral (a maior parte dos vossos missionários tinham-me pedido, quer no retiro quer em todo o tempo de lhes prestar este serviço), prometo-vos que me absterei, e, sobretudo, dizei aos vossos detectives de nunca mais, para vos agradar, fazer entorses à verdade...

Se aos outros é permitido ir ao cinema, eu não irei, mesmo que seja para agradar a estes confrades curiosos de comédia."

O bispo transferiu-o de Cantão para um novo posto, mas ele recusou ir.

O bispo ordenou-lhe que se tratasse, ou no hospital de Hong Kong ou no de Ting-hoi; mas ele recusou também e escreveu 3 cartas ao Cardeal Ledockowski em Roma a expor as suas razões:

"Eminência, nas minhas cartas precedentes de 19 e 26 de Março, solicitei uma prorrogação para ir para o meu novo posto, esperando que um repouso num meio calmo, longe das contrariedades dum hospital, me tomariam depressa apto para o meu ministério.

Ora, por uma carta daqui, de 6 de Abril, Mgr. Mérel ameaça-me com as penas de suspensão a divinis se, persistindo sempre na minha desobediência às vossas instruções,"eu me recusar a ir para o hospital de Hong Kong" (carta de 6 de Agosto de 1914).

Há dois anos, este mesmo prelado dizia publicamente diante dos seus missionários, que ele não podia obrigar os seus missionários a ir para o hospital, se eles não quisessem...

Assim, pois, Eminência, eu serei brutalmente arrancado do altar que alegra a minha juventude; na manhã de 13 de Abril, véspera do grande dia da Ressurreição, eu serei, pobre farrapo humano que pede presentemente ao bom ar da campanha, onde vivo na solidão onde me comprazo, longe das discussões pueris dos homens, a restabelecer um pouco os meus nervos agitados por 15 anos de provas e de perseguições de todo o género, eu serei desde já, sob pretexto de obediência, quando já protestei junto de V. Eminência a mais perfeita submissão às suas ordens, serei constrangido, como nos tempos da tirania em que se era obrigado a beber a cicuta, a encerrar--me sob os varões dum hospital, apesar da minha repugnância e em oposição a todas as minhas necessidades de ar, de movimento e de isolamento.

'Ou Hospital de Ting-hai', escreve-me, sem querer esperar pela vossa resposta, solicitada desde 15 de Março, a qual, qualquer que seja, me livrará de toda a responsabilidade para ocupar um posto que a minha saúde, as minhas aptidões e o sentimento geral de todos os meus confrades me asseguram, que não pode deixar de periclitar.

Mais uma vez, Eminência, peço-vos que afasteis de mim um cálice a transbordar; eu estou pronto a aceitá-lo sem pestanejar, sem murmurar; mas ouso pedir que se examinem as circunstâncias que sobrevieram, seis meses depois, a mudar o ponto de vista em que V. Ex.ḁ se colocou para ditar a solução de 3 de Fevereiro último e ver a oportunidade que há em manter a vossa solução intacta ou em modificá-la, concedendo-me, se julgar conveniente, uma prorrogação que facilitará singularmente a minha tarefa apostólica.

Mas de agora e já eu protesto contra a ideia de desobediência que me imputa o meu bispo e também contra as penas disciplinares que me inflige mesmo antes da chegada da vossa resposta ao meu último recurso de 19 de Março de 1914."

A 1 de Maio de 1914, o bispo Mérel remeteu uma circular a todos os missionários ordenando-lhes que na Missa rezassem a oração pro vitanda mortalitate a fim de terminar a peste que ceifava muitas vidas.

O Pe. Gervaix respondeu ao bispo a 7 de Maio: "De grace, tenho que suportar já bastantes dores psíquicas sem que vós venhais agora a acrescentar a ironia às vossas perseguições, que são indignas dum galante "Laurance", que eu vos julgava.

Não podendo eu celebrar a Missa que vós me haveis retirado contra toda a justiça, vós enviais-me a circular junta que me manda acrescentar às orações ordinárias da Missa a Pro vitanda mortalitate. Devolvo-vos esta peça e a outra junta dirigida aos cristãos, de que eu já não estou encarregado.

Evitai, eu vo-lo peço, Monsenhor, arrelias que me fazem mal e me fazem crer que não tenho em vós um pai, mas um justiceiro implacável.

Vosso muito aflito em N. S.

Regis Gervaix"

Em 1914, o Pe. Gervaix publicou num jornal de Cantão um apelo para angariar dinheiro para a fundação duma escola francesa.

Mérel apressou-se a escrever, em 26 de Maio de 1914, ao Pe. Melbon, um dos directores das M. E. P., reprovando o projecto: "Disseram-me que o Pe. Gervaix, num jornal de Gauloir, fez um apelo ao povo francês em favor da fundação duma escola em Cantão e que ele fez dissiminir este apelo por meio de anúncios nos meios de Paris.

Apresso-me a dizer-vos que este apelo e esta obra são inteiramente estranhas à Missão de Cantão. Queira ter a bondade de prevenir o Rev. Superior do Seminário (das M. E. P.)."

E acrescenta em P. S.: "O Pe. Baldit pode dar-vos sobre o Pe. Gervaix todas as informações necessárias..."

A 19 de Junho de 1914, o bispo Jean-Marie Mérel, prefeito apostólico de Cantão, impôs ao padre Regis Gervaix a pena de suspensão: Apesar das vossas promessas, ainda não partistes para Hong Kong nem para Ting-Hai. A vossa demora prova uma obstinação irredutível em recusar obediência às instituições da Sagrada Congregação da Propaganda. Ordens, exortações, bondade não têm poder sobre o vosso espírito ou sobre o vosso coração.

Forçais-me, pois, a servir-me do único modo que me resta de vos chamar à observação e obediência para com os vossos superiores, ou seja, retirar--vos a faculdade de celebrar a St.ḁ Missa e de administrar os Sacramentos aos fiéis.

Assim, pelas presentes, declaro-vos suspenso a celebratione Missa et a Sacramentis Fidelibus ministrandis a partir da recepção desta carta até ao dia em que ponhais o pé no solo de Hong Kong para entrar no Sanatorium de Betânia e de lá a Ting-Hay, vosso distrito."

O Pe. Gervaix achava-se em Say Shan, em Cantão.

Em 1914, Gervaix publica coisas que desagradaram A. R. Conty, ministro plenipotenciário da França na China. Sobre o assunto, o cônsul da França escreveu a Mons. Mérel a 4 - 2 - 1914: "Tenho a honra de acusar a recepção da carta de V. Ex.ḁ de hoje.

Como já sabeis certamente, o missionário em questão é o Pe. R. Gervaix: e tive de o avisar, em virtude das instruções telegráficas que recebi, da emoção e do desgosto causados ao Sr. Ministro da França em Pequim por algumas das suas publicações na imprensa.

O Pe. Gervaix enviou sobre o assunto explicações que eu transmiti imediatamente, como ele me pedia, ao Sr. Conty.

Estou profundamente aborrecido pela tristeza que este incidente causou a V. Ex.ḁ."

EM MACAU

Em Macau foi bem acolhido pelo bispo D. João Paulino d'Azevedo e Castro e depois por D. José da Costa Nunes, por quem teve sempre grande admiração e por quem foi nomeado membro do Padroado Português no Extremo Oriente em 28 de Junho de 1919.

Foi por ele nomeado professor de francês no Seminário de S. José e eu fui seu aluno nos anos de 1924 - 25. Falava mal o português e isto era uma vantagem para os seus alunos, pois ele falava sempre francês e assim aprendíamos mais.

O seu mau génio acompanhou-o sempre e quando embirrava com um aluno, este era reprovado no fim do ano.

— "Messieur Sousá apanhará uma raposá;Messieur Pirés apanhará uma raposá", dizia ele. E assim sucedeu: tanto o Sousa como o Pires, meus companheiros, apanharam raposa no fim do ano.

Como dedicava todo o seu tempo à história, não dava temas ou exercícios nem os corrigia. Fazia o ditado da sua cabeça sobre qualquer acontecimento local. No fim, um de nós ia ao quadro e escrevia o seu ditado; havendo qualquer erro, ele corrigia-o e os outros corrigiam os seus ditados pelo quadro preto.

Dava ainda aulas de grego aos teólogos.

Durante o Inverno nunca tomava banho e nós tínhamos que aturar o seu bodum.

HISTORIADOR

Vivia só para a história e cada mês aparecia um trabalho seu no Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau; é raro encontrar um número sem um artigo ou uma poesia, pois era também um grande poeta. Usava o pseudónimo de Eudore de Colomban.

No seu tempo (1916 - 1925) era ele o único historiador das coisas de Macau.

E quando o governador Rodrigo Rodrigues (1922 - 24) abriu em Maio de 1923 um concurso para aprovação duma história dedicada ao ensino nas escolas, o único concorrente foi o Pe. Gervaix.

O Cap. Jacinto de Moura relata: "Aquele concurso durou três meses apenas, tempo este insuficiente para uma perfeita coordenação e revisão de trabalhos e estudos de tal natureza. Um único concorrente se apresentou ao concurso. Foi o filho da nobre e heróica França, que se oculta sob o pseudónimo de Eudore de Colomban.

Apesar de mal conhecer a língua de Camões, Colomban, nos anos que viveu em Macau, consagrou-se, com todo o fervor de uma alma apaixonada pelos belos feitos dos lusos, ao ingrato e exaustivo trabalho da investigação histórica sobre nossa Província Ultramarina, onde o tempo voraz, que tudo consome e altera, tornou cariosos e imperceptíveis muitos pregaminhos do quase desencaminhado tesoiro dos arquivos."

No entanto Rodrigo Rodrigues foi demitido do seu cargo e o Pe. Gervaix partiu para Pequim em 1925, a ocupar o cargo de professor de literatura francesa na Universidade do Governo.

O seu trabalho não seria aqui publicado se não lhe tivesse acudido o Cap. Jacinto Moura, segundo este confessa: "Como português e amigo de Colomban, não podia conformar-me com a perda do seu pequeno trabalho, que, se não era perfeito, representava, além do seu valor intrínseco, um alto exemplo de apreço por assuntos, que a nós, portugueses, mais que a ele, deviam interessar.

Solicitei-lhe, portanto, insistentemente a publicação do seu trabalho.

Colomban acedeu, por fim, sendo-me, porém impostas as condições de o aperfeiçoar e de lhe dar o meu nome, sem fazer a mais leve referência ao seu.

Se a primeira delas era quase insuportável, a segunda era-me absolutamente impossível aceitar.

Colomban, vencido pela amizade, consentiu por fim, que o seu nome ocupasse o devido lugar, cabendo-me a mim não só refundir e aumentar o seu trabalho como todos os encargos e direitos...

Assim, e apenas com os obséquios e conselhos de alguns amigos, a quem fico muito reconhecido, surgiu o presente livro."

Foi publicado em 1927 com o título: Resumo da História de Macau.

No ano seguinte publicou ele em Pequim a Histoire Abregée de Macau, em 2 volumes.

EM PEQUIM

Gervaix era um patriota exaltado e amava, como poucos, a sua cara França.

Por isso, quando o Delegado Apostólico do Papa em Pequim, Mons. Celso Constantini, tratou de abolir o protectorado francês sobre as Missões da China, Gervaix saiu em defesa da França e atacou duramente o delegado Pontifício na imprensa. Ele tinha uma pena brilhante e quando a molhava nos humores do seu génio endiabrado, ai de quem lhe caísse debaixo! Esmagava-o.

O único remédio para fazer calar essa voz incómoda foi afastá-lo de Pequim.

Constantini recorreu à Congregação da Propaganda, de que era Prefeito o Cardeal Van Rossun. Este pediu ao bispo D. José da Costa Nunes que o recebesse de novo na Diocese de Macau, mas este recusou.

Então foi expulso da China. O bispo de Cantão, Mons. Antoine Pierre Jean Fourguet (1923 - 1948),ofereceu-lhe os seus préstimos, mas Gervaix respondeu-lhe em 18 de Janeiro de 1923: "Se Deus quiser, eu encontrarei no meu caminho bastantes almas leigas para conseguir ficar na China e aqui morrer".

Nada conseguiu e nesse ano regressou a Paris; ali reingressou nas M. E. P., sendo nomeado arquivista desta sociedade e ali faleceu em Novembro de 1940 com 67 anos de idade.

— BIBLIOGRAFIA DO PE. GERVAIX Livros

Mgr. Guillemin.

Silhoutes Portugaises d'Asie. Conference donnée à l'Institut de Macau dans sa Scèence du 19 Février 1921. Macau, Typographie des PP. Salésiens,1921,25 p., il 24 cm.

Hommes et choses d'Extréme -Orient. Macau, Imprimerie de l'Orphelinat de l'Immaculée Conception,1919,2 vols.,25 cm.

Grisailles (1.ḁ série). Pekin, La "Politique de Pekin",1924.

Brimborians.

Resumo da História de Macau, refundido e aumentado pelo editor Jacinto José do Nascimento Moura. Macau. Tipografia do Orfanato da I. C.,1927,148, pp., il.22,5 cm.

Histoire abregée de Macao. Pekin. Imprimarie de la Politique de Pekin,1928,2 vols.142/133 p., il.21 cm.

Note-se que as obras do Pe. Gervaix aparecem todas com o pseudónimo de Eudore de Colomban.

CARTAS

Publicou muitas cartas na revista de Paris, Missions Catholiques.

Extraímos a lista dessas cartas da Biblioteca Sínica, par Henri Cordier, vol. V, Suplement et Index, pp.3702 - 3703.

— Letre sur Macao. (Miss. Cath, XXXVII,24 nov.1905, pp.555/556).

— Lettre. Les Ouailles de la mission de Pait-tam. (Ibid, XXXVIII,6 Juillet 1906, pp.315/316).

— Lettre. (Ibid, 17 août,1906, pp.385/387).

— Lettre. (Ibid, XXXIX,25 Janv.1907, p.40). Noces d'argent de Mr. Auguste Joseph Lanoue, parti pour Chineen 1881.

— Lettre. Canton.19 mars 1907. Ordinations sacerdotales et Baptême de cloche à Canton. (Ibid., 3 mai 1907, pp.203/205).

— Lettre de Canton. (Ibid., 5 juillet 1907, p.316).

— Troubles et Massacres en Chine. Lettre communiquée par Mgr. Mérel, préfet apostolique du Kouang-toung. (Ibid., 25 oct.1907, p.505).

—Lettre de Canton,29 Sept.1907. (Ibid, 8 nov.1907, p.531).

— Lettre de Canton. (Ibid., 29 Janvier 1909, p.54).

— Impressions et Souvenirsd'un Missionaire Chinois. Lettre de M. Régis Gervaix des Missions Etrangères de Paris. — Canton,20 déc. et 21 déc.1908. (Miss. Cath.,18 Juin 1909, pp.297/299; 25 de Juin, pp.309/311; 2 Juillet, pp.321/323, fig.9 Juillet pp.330/334, fig.16 Juillet, pp.346/347; 23 Juillet, pp.357/359, fig.30 Juillet, pp.369/371.

Idem. Par M. Gervaix des Missions Etrangères de Paris, missionaire au Konang-toung. (Ibid., 8 Sept.1911, pp.429/431; 15 Sept., pp.439/442, fig.; 22 Sept, pp.451/453.

L'oeuvre de la presse en Chine par M. Régis Gervaix, des Missions Etrangères de Paris, missionnaire à Canton. (Ibid. 5 Nov.1909, pp.529/530). Canton,17 Mai 1909.

— A propos de Madame Nénuphar. — Lettre de M. Régis Gervaix, des Missions Etrangères de Paris. (Ibid., 4 Fév.1910, pp.49/52).

— Parmi les Pies par M. Gervaix, des Missions Etrangères de Paris, Missionnaire au Kouang-toung (Chine). (Ibid., 24 Juin 1910, pp.294/297, fig.; ler Juillet, pp.306/309. fig.; 8 Juillet, pp.320/322, fig; 15 Juillet 1910, pp.331/333).

— Lettre de Canton,4 Fév.1911. (Ibid., 24 Mars 1911, pp.135/136; portr.).

— Mes Heures et mes Jours. — Par M. Gervaix, des Missions Etrangères de Paris, missionaire à Canton. (Ibid., 31 Mars 1911, pp.145/148; fig. et portr.).

— Lettre de Canton, ler Mai 1911. (Ibid., 2 Juin 1911, p.256).

— Journées Rouges. — Lettre de M. Régis Gervaix. des Missions Etrangères de Paris, missionaire à Canton. (Ibid., 16 Juin 1911, pp.277/279).

— Le Dimanche en Chine. — Lettre de M. Gervaix, missionaire à Canton. (Ibid., 27 Oct.1911, pp.505/507).

— La Révolution en Chine — Lettre de M. Gervaix, des Missions Etrangères de Paris, missionaire à Canton. Canton, le 9 Novembre 1911. (Ibid., 8 déc.1911, p.577).

—Lettre de Canton,21 Oct.1911. (Ibid., 24Nov.1911, p.557).

— Lettre de Canton,26 Oct. (Ibid., ler déc.1911, pp.508/ 569).

— Lettre de Canton,26 Oct. (Ibid., ler Déc.1911, pp.508/569).

— Profonde détresse d'un Missionaire (Stéphane Cellard) au Kouang-toung. Lettre de M. Gervaix, des Missions Etrangères de Paris, missionaire à Canton. (Ibid. 15 Déc.1911, pp.590/591; portr.).

— Lettre de Canton, ler Janvier 1912. (Ibid., 26 Janvier 1912, p.39).

— La Révolution en Chine. — Lettre de M. Régis Gervaix, des Missions Etrangères de Paris. Canton,2 Fév. (Ibid. 8 Mars 1912, pp.109/110).

— La Chine nouvelle. — Lettre de M. Régis Gervaix, des Missions Etrangères de Paris, missionaire au Kouang-toung. (Ibid. 23 Février 1912, pp.85/87; portr.).

— Esquisses jaunes — Voyage autour de l'horizon cantonnais. Par M. Régis Gervaix, des Missions Etrangères de Paris, missionaireà Canton. (Ibid., 22 Mars 1912, pp.139/142, fig.; 29 Mars, pp.150/153, fig.: 5 Avril, pp.161, fig.; (19 Avril, p.188); 26 Avril, pp.198/201, fig.; 3 Mai, pp.210/213, fig.; 10 Mai, pp.223/226, fig.; 17 Mai, pp.236/237, fig.; 24 Mai, pp.248/250; 31 Mai, pp.262/264; 21 Juin, pp.293/294, fig.; 28 Juin, pp.308/ 310, fig.; 12 Juillet, pp.330/331, fig.; 19 Juillet, pp.343/345, fig.; 26 Juillet, pp.358/359; 2 août, pp.371/372; 16 août, pp.391/392, fig.; 23 août, pp.401/ 405.

— Une Réception à l'Evéché de Canton (Chine). — Lettre de M. Gervaix, Canton,30 Mai 1912. (Ibid.,5 Juillet 1912, pp.316/317; portrait de Sun-Yat-sen.

— Pour les Mandchoux, s. v. p. — Lettre de M. Régis Gervaix, des Missions Etrangères de Paris, missionaire à Canton. Canton, le 21 août. (Ibid., 27 Sept.1912, pp.457/458.

— Lettre. — Canton,24 Déc.1912. (Ibid., 7 Février 1913, p.66).

— Un an après. Lettre de M. Régis Gervaix, des Missions Etrangères de Paris. (Ibid., 24 Janvier 1913, pp.37/39; fig.) Canton.

—Futur prêtre. Lettre de M. Gervaix, des Missions Estrangères de Paris. (Ibid., 14 Mars 1913, pp.122/123; 2 portraits d'A-yae).

— Lettre. (Ibid., 25 Avril 1913, pp.195/196; portr.).

— A la Lorgnette. Par M. Régis Gervaix, des Missions Etrangères de Paris, missionaire à Canton (Chine). (Ibid., 27 Juin 1913, pp.304/306, fig.; 4 Juillet, pp.317/318, fig.; 11 Juillet, pp. 334/336; 18 Juillet, pp.340/342, fig; 25 Juillet, pp.353/356, fig.; ler août, pp.365/366; 8 août, pp.376/379, fig.; 15 août, pp.394/396; 22 août, pp.402/404, fig.; 29 août, pp.414/417; 5 Sept., pp.428/429; 12 Sept., pp.438/440, fig.; 19 Sept, pp.452/453, portr.; 26 Sept., pp.461/ 464, fig.).

— Lettre de Canton. (Ibid., 27 Juin 1913, pp.303/304; portrait de M. Druais, Supérieur du Séminaire de Canton).

— Graves nouvelles de Canton. — Lettre de M. Gervaix, des Missions Etrangères de Paris. Canton,2 août 1913. (Ibid., 29 août 1913, p.413).

— Lettre de Canton,7 août 1913. (Ibid.,5 Sept.1913, p.423).

—Lettre de Canton,17 Oct.1913. (Ibid., 14 Nov.1913, p.546).

— Mes devanciers. — Lettre de M. Régis Gervaix, des Missions Etrangères de Paris, missionaire à Canton. (Ibid., 7 Nov.1913, pp.529/531).

— Lettre. Centenaire de lanaissance de Mgr. Guillemin (16 Mars 1914). Ibid., 3 Avril 1914, pp.157/159; portrait de Mgr. Guilleminetvue de la Catédralede Canton).

— Lettre de Canton. Dieu aidant! Un nouveau Vicariat Apostolique en Chine. (Ibid., 5 Février 1915, pp.63/65; portrait de Mgr. Adolphe Rayssac, Vicaire apostolique de Tchao-tcheou).

— Lettre de Hong Kong (Ibid., 11 Juin 1915, p.279).

— Lettre. — Mes deux introducteurs. (Ibid., 13 août 1915, pp.390/393; ill. et portr).

— Choses vues par M. Régis Gervaix, de Missions Etrangères missionnaire au Swatow (province de Kouang-Toung). Ibid., 1916, pp.8/11,21/24,30.33,41/45,54/56,66/67; ill).

— Lettre de Teng-hui,22 Déc.1915. (Ibid.,1916, pp.87/90).

— Lettre sur Tchao-Tcheou. (Ibid., pp.134/136).

*Historiador de Macau, da presença portuguesa e da Igreja no Oriente, com mais de uma centena de títulos publicados. Membro de várias instituições internacionais, v. g. a Associação Internacional dos Historiadores da Ásia. Grande Colar e Sócio da Academia Portuguesa de História.

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