Atrium

INTRODUÇÃO
OS MARES DA ÁSIA (1500-1800): sociedades locais, portugueses e expansão europeia

Jorge Manuel Flores*

OS MARES DA ÁSIA (1500-1800), é parcela de uma moda, velha de uma década: a das visões e reflexões globais sobre o Oriente e os seus mares.

Em 1979 publicava-se The Age of Partnership: Europeans in Asia before Dominion1. Alguns anos depois, em 1987, duas importantes sínteses eram dadas à estampa: India and the Indian Ocean, 1500-18002; The Indian Ocean: Explorations in History, Commerce and Politics. 3 Em simultâneo, começam a proliferar obras que, propondo igualmente uma reflexão global sobre os Mares da Ásia, privilegiam a discussão em torno de um fundo temático comum. Um dos exemplos mais eloquentes deste modo de pôr os problemas é a obra dirigida por Denys Lombard e Jean Aubin, Marchands et hommes d' affaires asiatiques dans l'Océan Indien et la Mer de Chine, 13e-20e siècles, 4 graças à qual nos é hoje possível comparar com rigor a fisionomia dos mercadores e homens de negócios de áreas tão diversas como o mundo Swahili e o Mar Roxo, o Golfo Pérsico e as regiões marítimas da Índia, a Insulíndia, a China e o Japão. No mesmo quadrante temático haveria de surgir, muito recentemente, Merchants, Markets and the State in Early Modern India, editado por Sanjay Subrahmanyam5. Alguns mais dariam relevo às cidades portuárias6, enquanto que outros preferiram pôr o acento na Ásia Portuguesa7. As iniciativas pululam e esta breve resenha corre o risco de se tomar desactualizada num curto espaço de tempo.

A vantagem destas obras colectivas parece evidente e indiscutível. Numa época em que se assiste a um espartilhar do campo de investigação -- reflexo da progressiva e irreversível atomização do objecto do historiador8 -- é necessário, de tempos a tempos, ponderar sobre o todo, mas, é bom de ver, sem a preocupação de fornecer ou impor uma cartilha. Trata-se sobretudo de privilegiar uma perspectiva ampla, capaz de explicar, mediante a comparação de situações, fenómenos que, tendo ocorrido nos mais díspares lugares, apresentam todavia traços comuns. Não há muitos anos, a propósito da problemática do Estado no Sul da Índia e na Ásia do Sueste, Sanjay Subrahmanyam notava e lamentava a falta de diálogo entre os especialistas das duas regiões9. A sua preocupação mantém-se ainda hoje.

O período e o espaço de que nos ocupamos são vastos, perigosamente vastos. No entanto, a preocupação central não é a de tudo tocar, de abranger todas as áreas, focar todos os problemas. É ao leitor que caberá estabelecer conexões entre os trabalhos apresentados, apontar lacunas, aprofundar pistas, percorrer novos caminhos. A ideia, naturalmente, não foi fazer uma história global e definitiva, ao jeito das antigas histórias nacionais, nem sequer imitar Fernand Braudel. É certo que procurar fazer com o Índico o que Braudel fez com o Mediterrâneo é sempre uma tentação.10 Mas a reflexão sobre o oceano Índico, e sobre os inquéritos a que este deve submeter--se numa perspectiva de história marítima, mostra bem como as duas realidades são diferentes e como o modelo de Braudel não é mecanicamente transponível para a área que nos ocupa: os Mares da Ásia não têm uma unidade semelhante à do Mediterrâneo. Não há um só Mundo Asiático, comparável a esse Mundo Mediterrânico que Braudel admiravelmente desmontou.11

Porquê 1500-1800? O volume trata das sociedades dos Mares da Ásia e da(s) expansão(ões) europeia(s). Ainda que outras balizas possam ter toda a acuidade, o facto é que aquilo que nos norteia -- o Seminário de História Indo-Portuguesa -- lida, no essencial, com problemas dos Séculos XVI a XVIII. Não faria sentido, portanto, recuar mais no tempo. No outro extremo, os finais do Século XVIII significam o fim da Age of Partnership (feliz a expressão de Blair King e Michael Pearson12): a Idade da Colaboração, a pré-colonização europeia, dá então lugar à Idade do Confronto, da dominação, dos impérios verdadeiramente coloniais gerados por uma Europa industrializada. O impacto ocidental é, a partir de agora, muito mais forte e a grelha de problemas a colocar seria forçosamente outra.

E o que são os Mares da Ásia? Etiqueta bem cómoda, para designar esse mundo descomunal que se estende da costa oriental africana e dos "Estreitos" ao Mar Amarelo e ao Mar do Japão. De outro modo, como falar, com alguma unidade, das águas que banham a Ásia? O oceano Índico não vai além dos Mares do Arquipélago Indonésio13 e a fronteira que o separa do Pacífico é ténue, irregular, difícil -- senão impossível ou irrelevante, do ponto de vista histórico -- de precisar. Para mais, ao mundo em que se entrelaçam as águas dos dois oceanos é hoje reconhecida uma identidade bem própria, expressa na utilíssima designação e noção de Mediterrâneo Sueste-Asiático.14

De resto, e à semelhança do Mediterrâneo -- seguramente com mais frequência que no Mediterrâneo -- cada recanto dos Mares da Ásia é passível de constituir um pequeno mundo, portador de um conjunto de características que o diferenciam de tudo o resto.15 Os Mares da Ásia são, pois, a soma de uma miríade de "pequenos mares", realidades complexas que não cabem nas grandes divi-sões dos geógrafos. Os exemplos são inúmeros: o Mar de Ceilão16, o Estreito de Malaca, o "Boqueirão da Sunda"17, ou, se procurarmos os ainda mais diminutos e discretos, a boca do Ganges, o delta do rio das Pérolas... Mundos que, na sua maioria, continuam à espera de um historiador; melhor, de uma equipa interdisciplinar que, habilmente, conjugue os dados da história, da geografia (tanto que há a fazer no domínio da geografia histórica!), da economia, da arquitectura e do urbanismo, da antropologia, da literatura: os inquéritos a propor dependem do engenho de quem os propõe.

As vinte e quatro contribuições reunidas em Os Mares da Ásia (1500-1800), sociedades locais, Portugueses e expansão europeia, materializam uma ambição inicial de fazer deste volume um lugar de encontro de gerações e de formações. Nomes consagrados e nomes que despontam; historiadores atentos ao pormenor e historiadores que privilegiam os fenómenos globais; os que põem a tónica nos textos orientais e os que manuseiam com à vontade os documentos europeus; os que privilegiam o estudo das técnicas e os que se mantêm fiéis aos homens. Algo mais parece ainda de assinalar: o aparecimento, depois de alguma estagnação, do embrião de uma nova vaga de orientalistas portugueses, em boa parte associados ao Mestrado de História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Despertos para a importância das fontes locais, entusiasmados com a aprendizagem das línguas orientais, atentos ao trabalho científico que se produz no exterior, estes investigadores têm trabalhado sob o estímulo e a orientação de Luís Filipe Thomaz e, dentro de alguns anos (não muitos), compor um volume deste género com contribuições maioritariamente portuguesas será tarefa fácil.

Os primeiros capítulos -- "Cidades Portuárias e Redes de Comércio; Mercadores; Rotas e Navios" -- procuram pôr em evidência alguns dos filamentos da vida comercial-marítima do horizonte geográfico que nos ocupa. Neste contexto, Roderich Ptak compara as redes de comércio e de navegação de Chineses e Portugueses nos Mares da Ásia, mostrando como a fronteira entre o período europeu e o pré-europeu pode ser ténue e inútil.

O escopo dos seis textos que se seguem é o de contribuir para o conhecimento rigoroso da relevância das cidades marítimas na vida material dos Mares da Ásia18. Geneviève Bouchon descreve a fisionomia de Calecute à entrada do Século XVI; Sanjay Subrahmanyam revela a opulência da cidade de Thatta - situada no delta do Indo - nos Séculos XVI e XVII; John Villiers estuda a pujança comercial de Ayutthaya no mesmo período; Luís Filipe Thomaz e Claude Guillot ocupam-se de duas cidades/entrepostos do Mediterrâneo Sueste-Asiático, confrontadas com a presença ou a dominação portuguesa: Malaca e Banten. Manuel Bairrão Oleiro apresenta uma cidade mercantil-marítima de matriz portuguesa à entrada do Século XIX: é o retrato de Macau, no momento da passagem da Idade da Colaboração para a da Dominação. A série encerra-se com uma reflexão global de R. J. Barendse sobre as cidades portuárias do Índico ocidental nos Séculos XVI e XVII, que coloca problemas tão importantes como o da relação entre a cidade que se alimenta do comércio marítimo e o seu hinterland.

Depois das cidades, os mercadores. Om Prakash discute a participação de mercadores europeus e mercadores asiáticos no comércio "da Índia para a Índia" e reflecté sobre a base documental que permite esmiuçar as suas práticas; a propósito de um manual de comércio e de navegação do começo do Século XVII - o Tung Hsi Yang K'ao, composto por Chang Hsieh - Leonard Blussé e Zhuang Guotu põem em evidência a fortuna dos mercadores de Fuchien e do porto de Yuehkang; Sinnappah Arasaratnam mostra a relação entre as pujantes comunidades mercantis do Coromandel, o poder político e a concorrência europeia na segunda metade do Século XVII; Catherine Manning põe a claro as ligações entre os mercadores do Coromandel - Hindus e Muçulmanos, Arménios e Portugueses -, a Compagnie des Indes Orientales e os mercadores privados franceses (1720-1750); Ashin Das Gupta mostra a importância do intermediário no movimento comercial de Surate nos anos quarenta do Século XVIII; Ernestina Carreira esmiuça a carreira de Pierre Blancard, um negociante de Marselha das últimas décadas do Século XVIII cujos interesses se estendiam até Cantão. Um trabalho que vem lembrar o interesse da biografia para o estudo dessa massa humana que, ao longo dos séculos que nos ocupam, deu vida aos Mares da Ásia. É que a biografia não é mais sinónimo de panegírico: a carreira de um homem pode ajudar a compreender os anseios e os comportamentos de um grupo largo e suficientemente representativo.19

Por último, os navios e as linhas de circulação. Lotika Varadarajan fala do encontro, no Índico, de métodos de navegação regionais e ocidentais, mostrando como é errado escamotear o rigor dos primeiros. José Alberto Barata analisa a Peregrinação sob uma perspectiva inovadora: a obra de Fernão Mendes Pinto é, de facto, recurso imprescindível para o estudo dos navios e da vida a bordo dos navios dos Mares da Ásia. Afinal, "boa parte da Peregrinação passa-se a bordo"...

Ao longo desta quinzena de trabalhos, os Portugueses não são, quase nunca, os protagonistas. Aparecem aqui e ali, fomentando ou contrariando a fortuna desta ou daquela cidade mercantil, comerciando ao lado de mercadores locais e de outros mercadores europeus. O fenómeno é intencional e as vantagens são óbvias. A expansão portuguesa no Oriente percebe-se melhor se confrontada com as outras vagas da expansão europeia e, sobretudo, quando diluída nos diversos mundos locais, tantas vezes mais influenciados e tonificados pelo segundo fôlego do Islão20 do que, propriamente, pela chegada dos primeiros Europeus. Trata-se de demonstrar que, à chegada dos Portugueses, existiam já, nos Mares da Ásia, cidades mercantis comparáveis às do Mundo Mediterrânico ou da Europa do Norte; mercadores que, nos seus negócios, usam de práticas tão sofisticadas quanto as dos Europeus; homens que exibem uma enorme perícia na arte de navegar; enfim, sociedades organizadas para quem, muitas vezes, os recém-chegados pouco significam. Uma Ásia de todo transformada desde a aparição dos primeiros Europeus é uma imagem que não quadra com a realidade.

Não se trata, evidentemente, de negar o impacto dos Portugueses. Como esquecer, afinal, o seu papel no agigantamento do reino de Cochim ou na promoção dos Paravas, casta de pescadores do Sul da Índia, assim como a sua intervenção nessa admirável metamorfose dos Mappilla do Malabar que, num curto espaço de tempo, passaram de mercadores a guerreiros com ambições a conquistar o poder político? E isto para darmos apenas exemplos da Península Indiana. A influência da "primeira expansão europeia" sobre os rumos deste ou daquele reino ou sobre o trajecto desta ou daquela comunidade é inquestionável e constitui, sem dúvida alguma, um dos domínios mais aliciantes para o historiador orientalista. Mas em muitos outros aspectos, o impacto deve ser relativizado.

Axiomas da novíssima história da expansão portuguesa no Oriente. Não se conhece a história da presença portuguesa no Oriente se não se estudar a história das regiões contaminadas ;21 não se conhece a história dessas regiões se se ignorarem os textos portugueses. Jean Aubin e o grupo de Mare Luso--Indicum são, numa percentagem tangível, responsáveis por tudo isto. A revista começou a publicar-se no começo da década de setenta22 e sempre privilegiou o estudo das sociedades locais com as quais os Portugueses tiveram contactos através de uma hábil conjugação dos documentos portugueses -- tidos, de entre os europeus, como os mais frescos e próximos da realidade23 -- e dos textos orientais, até então mais menosprezados do que aproveitados pelos historiadores do Ocidente.24

Os dois últimos núcleos temáticos tratam, em exclusivo, dos Portugueses nos Mares da Ásia. A história das relações diplomáticas entre Portugal e o Ceilão é esmiuçada em dois artigos essenciais: C. R. de Silva ocupa--se da primeira metade do Século XVI e dos laços com Kotte, enquanto António Vasconcelos de Saldanha reflecte sobre o período subsequente, pondo em evidência o problema jurídico-político da incorporação dos diversos reinos de Ceilão na Coroa portuguesa. João Paulo Costa fala do Japão de Oda Nobunaga e da sua relação com os Portugueses; George Winius ajuda a delinear os contornos desse "Império Sombra" do Golfo de Bengala, a outra face de Goa; Mark Vink põe a claro, apoiado na documentação holandesa (com a qual muitos orientalistas não estão ainda suficientemente familiarizados), os efeitos, no estratégico Estreito de Malaca, da entente cordiale entre Portugueses e Ingleses logo após a Restauração; Carmen Radulet lida com as perspectivas diplomáticas do Estado da Índia ao tempo do Marquês de Pombal, a partir do testemunho de D. António José de Noronha.

As restantes contribuições permitem lançar o debate em torno de um problema até agora quase ignorado. Muito (talvez demasiado) se tem escrito sobre o Outro, sobre o modo como o Português viu o Asiático, mas pouco se tem feito sobre a relação inversa, isto é, sobre o Português visto pelo Asiático25. A. Jan Qaisar, deixando o campo do documento escrito, mostra os Portugueses retratados nas pinturas Mogóis do tempo de Akbar, enquanto que K. C. Fok parte dos textos chineses para dar a conhecer o modo como os Ming viram o estabelecimento dos Portugueses em Macau. Um caminho a explorar, entre tantos outros.

NOTAS

1. Editado por Blair B. King e M. N. Pearson, The University Press of Hawaii, Honolulu.

2. Editado por Ashin Das Gupta e M. N. Pearson, Oxford University Press, Calcutá.

3. Editado por Satish Chandra, Sage Publications, Nova Deli.

4. Editado por École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris, 1988. A completar com o recente Emporia, Commodities and Entrepeneurs in Asian Maritime Trade, C. 1400-1750; Ed. Roderich Ptak e Dietmar Rothermund; Franz Steiner Verlag, Estugarda, 1991.

5. The Indian Economic and Social History Review; Oxford University Press, Nova Deli, 1990.

6. Brides of the Sea: Port Cities of Asia from the 16th-20th centuries; New South Wales University Press, Kensington, 1989; The Southeast Asian Port and Polity. Rise and Demise, ed. J. Kathirithamby-Wells & John Villiers, Singapore University Press, Singapore, 1990.

7. Roderich Ptak (ed.), Portuguese Asia: Aspects in History and Economic History (16th-17th centuries); Franz Steiner Verlag, Estugarda, 1987.

8. O novíssimo trabalho de Denys Lombard -- Le carrefour javanais. Essai d' histoire globale, 3 vols. (I. Les limites de l'occidentalisation; II. Les réseaux asiatiques; III. L' héritage des royaumes concentriques), ed. EHESS, Paris, 1990 -- constitui prova de que, sem sacrificar a especialização, o historiador orientalista pode ocupar-se de grandes horizontes temporais e espaciais. Outro bom exemplo, curiosamente para o mesmo mundo, é a obra de Anthony Reid, Southeast Asia in the Age of Commerce, 1450-1680, I (The Lands Below The Winds), Yale University Press, New Haven-London, 1988.

9. "In fact, Historians of this period of pre-colonial history in the two areas tend to ignore the existence of another potentially useful historiography, from which elements and ideas might be drawn, even if a single 'unified theory' is not generated" : Aspects of state formation in South India and Southeast Asia, 1500-1650, in The Indian Economic and Social History Review, 23/4 (1986), p. p. 357-377 (361-362).

10. Océan Indien et Mediterranée (SEVPEN, Paris, 1964) deixa antever, logo no título, essa preocupação de pôr lado a lado os dois mundos. K. N. Chaudhuri ensaiou, de certa forma, a aplicação do modelo Braudeliano ao Índico em Trade and Civilisation in the Indian Ocean. An Economic History from the Rise of Islam to 1750 (Cambridge University Press, Cambridge, 1985). O seu trabalho foi alvo de uma crítica severa (porventura demasiado severa) de John Villiers (cf. Braudel, Chaudhuri and the Indian Ocean, in The Indian Ocean Review, 1/1, Março 1988, pp.4 e 18-22).

11. Michael Pearson, um dos orientalistas que mais tem reflectido sobre o Índico enquanto objecto histórico, demonstra-o em dois ensaios fundamentais: The Indian Ocean and the Portuguese in the sixteenth century, in Actas do II Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa, ed. Luís de Albuquerque e Inácio Guerreiro, Lisboa, 1985, pp. 101-117; id., Introduction I: the States of the Subject, in India and the Indian Ocean, cit. supra (nota 2), pp.1-24.

12. Cf. supra, nota 1.

13. Se bem que haja já quem defenda um conceito muito mais lato do Índico: para esses, o oceano corresponde, com a excepção do Extremo-Oriente, aos nossos Mares da Ásia. Sobre este assunto, veja-se Sanjay Subrahmanyam, Improvising Empire: Portuguese Trade and Settlement in the Bay of Bengal, 1500-1700; Oxford University Press, Nova Deli, 1990, p. XIII.

14. A paternidade deste conceito (que engloba também o Mar da China) pertence a Denys Lombard e é ferramenta que tem utilizado na generalidade dos seus estudos sobre a Ásia do Sueste.

15. O problema dos mares estreitos do Mediterrâneo foi, claro está, explorado por Braudel, O Mediterrâneo na época de Filipe II, trad. port., I, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1983, pp. 126 sg.

16. Cf. Jorge Manuel Flores, Os Portugueses e o Mar de Ceilão, 1498-1543: trato, diplomacia e guerra; Dissertação de Mestrado em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa a apresentar à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa ainda este ano.

17. Designação dos textos portugueses para o estreito que separa a ilha de Samatra da de Java.

18. Linha de investigação que tem dado os seus frutos, sobretudo no que concerne à história urbana da Ásia do Sueste (cf. Archipel, 36, Villes de l'Insulinde, 2 vols., 1988). Ver também supra, nota 6.

19. Como paradigma de sólida biografia de uma figura proeminente do Mundo Asiático, veja-se o exemplar estudo de David Shulman e Sanjay Subrahmanyam, Prince of Poets and Ports: Citakkati, The Maraikkayars and Ramnad, ca. 1690-1710, comunicação apresentada na ASAA Conference (Julho de 1990). Para os Portugueses, e para além de um magnífico conjunto de biografias de homens ligados aos primórdios da expansão portuguesa no Golfo do Bengala traçada por Luís Filipe Thomaz (G. Bouchon e L. F. Thomaz, Voyage dans les deltas du Gange et de l'Irraouaddy, Relationportugaise anonyme, 1521: Paris, 1988, p. p. 365-413), veja-se o trabalho de Charles Boxer, Francisco Vieira de Figueiredo, A Portuguese Merchant-Adventurer in South-East Asia (1624-1667), Nijhoff, Haia, 1967. Virá muito em breve a lume uma obra colectiva dirigida por Kenneth McPherson e Sanjay Subrahmanyam que, seguramente, contribuirá de modo decisivo para reforçar a imagem da biografia como instrumento essencial da história social (From Biography to History: Essays in the Social History of Portuguese Asia, 1500-1800, a editar simultaneamente em Português e em Inglês).

20. Assim o demonstrou, entre outros, Denys Lombard, Y a-t-il une continuité des réseaux marchands asiatiques?, in Marchands et hommes d' affaires, cit. supra (nota 4), p. p. 11-18.

21. Já em finais da década de quarenta, Vitorino Magalhães Godinho lembrava que "para compreender qualquer movimento de expansão é necessário equacionar (...) as condições internas (...) do paciente" (História Económica e Social da Expansão Portuguesa, tomo único, Terra Editora, Lisboa, 1947, p.9). Em última instância, tudo isto tem a ver com um fenómeno mais lato: o da "relativização da história europeia", ligado ao interesse por outras civilizações e sociedades (cf. François Furet, A oficina da história, trad. port., Gradiva, Lisboa, s. d., p. 35).

22. Publicaram-se, infelizmente, apenas quatro números (1971 -1980). Mas o projecto continua, agora sob a designação de Moyen Orient & Océan Indien, XVIe-XIXe S. (I,1984).

23. Cf. Jean Aubin, Quelques remarques sur l' étude de l' Océan Indien au XVle siècle, Agrupamento de Estudos de Cartografia Antiga, Junta de Investigações do Ultramar, sep. LXXV, Coimbra, 1972.

24. Entre os melhores exemplos desta maneira de fazer história, veja-se Geneviève Bouchon, Les Musulmans du Kerala à l'époque de la découverte portugaise; in Mare Luso-Indicum, II (1973), p. p. 3-59; Jean Aubin, Le royaume d' Ormuz au début du XVI siècle, ibid., p. p.77-179.

25. Entre as escassas e mais notáveis aproximações a este problema, veja-se Geneviève Bouchon, Luís Filipe Thomaz e João Paulo Costa, Les miroirs asiatiques, in Lisbonne hors les murs, 1415-1580: l'invention du monde par les navigateurs portugais; Autrement, Séries Mémoires, nº.1, Paris, Setembro 1990, p. p. 253-266; Sanjay Subrahmanyam também aflora esta questão em Through the looking glass: some comments on Asian views ofthe Portuguese in Asia, 1500-1700, comunicação apresentada justamente no VI Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa.

* Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mestrando em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Assistente da Universidade de Macau. Foi o responsável técnico-científico pela concepção deste número especial da Revista de Cultura.

desde a p. 9
até a p.