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ABERTURA

O Instituto Cultural de Macau, apoiando a realização do VI Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa em Macau, resolveu associar-se ainda a tão prestigiada sessão cultural com a edição de um número da Revista de Cultura especialmente dedicado ao tema genérico -- Os Mares da Ásia (1500-1800).

Dentro de tão vastas latitudes geográficas, temporais e materiais, os mais destacados especialistas internacionais deste universo histórico abordam e aprofundam uma série de questões, que resultam na análise do impacto e consequências das sucessivas "expansões europeias" nas sociedades locais, do extremo ocidental do Índico às extremo-orientais regiões dos Mares da China e do Japão.

Dos Portugueses do Século XVI, disse Maeterlinck que saíram para o Mundo disparados como balas de canhão. Com mais justa propriedade se aplicará a imagem à irradiação dos lusitanos pelos mais remotos recantos dos mares asiáticos.

Protagonistas da primeira expansão europeia no Oriente, os Portugueses -- aventureiros, andarilhos e exploradores de mares, de rios e de continentes -- surgem--nos omnipresentes, mesmo quando pressupostos ou átonos nos textos em que a tónica incide na acção de outros povos. Com isto justificamos o sub-título: "sociedades locais, portugueses e expansão europeia".

Orgulha-se o Instituto Cultural de Macau na edição desta valiosa selecta de estudos, consonante com a pesquisa e objectivos culturais dos mais destacados investigadores deste universo histórico nos últimos dez anos. Dela esperamos que seja um valioso instrumento de trabalho e um modesto contributo para melhores compreensão mútua, diálogo e aproximação, entre duas metades do Mundo que se conheceram e se relacionaram depois em desigualdade de forças.

Vendo a Política como consequente da Cultura, e pensando nestas recentes explorações convergentes dos historiadores de um e do outro lado do meridiano, queríamos augurar um vaticínio. Que ao Período da Colaboração (iniciado com a primeira expansão, dos Portugueses) e depois da Era do Domínio historicamente passada (a segunda expansão das potências industrializadas da Europa), uma nova Era da Colaboração se desenvolva, entre um Oriente e um Ocidente que tanto ainda se desconhecem, e onde a activação do eixo Macau-Lisboa irá por certo desempenhar importante papel na conexão do Extremo-Oriente à Europa.

Por vocação, e quase sempre na sua história, Macau foi um dos mais activos nós comerciais da densíssima rede de comércio entretecida pelos povos dos mares asiáticos e densificada e sofisticada pelos povos europeus. Confiamos na fidelidade futura de Macau à sua mais primacial vocação de sempre, continuando e progredindo nesta área como charneira e entreposto do comércio de produtos e de culturas.

Editorialmente. Um número desta envergadura material não podia deixar de ser seriado como número duplo. Justifica-se a edição bilingue com várias razões. Em primeiro lugar com a exigência dos autores de serem publicados na língua de redacção original, garantindo-se legitimamente de não serem deturpados nas traduções. Depois porque, não só é cada vez mais frequente esta forma em publicações culturais congéneres, como ainda escolhemos esta edição da RC para a sua promoção internacional, que o será também para Macau.

Queria terminar agradecendo e felicitando quantos contribuíram para esta Revista de Cultura, destacando todos os colaboradores e muito especialmente o Dr. Jorge Flores, a quem foi confiada a organização científica da edição.

E expressar particular agradecimento a Sua Excelência o Senhor Presidente da República por nos ter honrado com esta Mensagem, que nos alenta e confirma neste trabalho cultural.

Carlos Alberto dos Santos Marreiros

Presidente do Instituto Cultural

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