Sobre

Macau, um espontâneo museu cultural sino-lusófono

Quis o acaso que Macau se desenvolvesse historicamente como ponte de ligação entre a China e os Países de Língua Portuguesa e abrisse um diálogo cultural entre ambas as línguas. Quebrando barreiras geográficas e linguísticas, o poder da cultura estendeu-se através da Ásia até à Europa, permitindo uma bem sucedida amizade sino-portuguesa estabelecida no âmbito de uma vastíssima fusão cultural. Nas ruelas de Macau sente-se a atmosfera de ligações românticas entre chineses e portugueses, tais como as descritas no livro A Trança Feiticeira, enquanto nos jardins se cruzam, de um lado, ópera cantonense e, do outro, dança folclórica portuguesa. Cenários como estes perfazem uma paisagem cultural única nascida desta ponte de ligação entre dois mundos que é a cidade de Macau.

O “Encontro em Macau - Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa” tem lugar em Macau neste Verão, abrangendo cinco grandes eventos destinados a evocar momentos das relações históricas entre a China e os Países de Língua Portuguesa ao longo de vários séculos, dando a conhecer os primeiros encontros culturais entre ambos. O programa do Festival inclui a projecção de filmes, a apreciação de histórias de Macau arquivadas na Torre do Tombo em Portugal, um serão cultural de grande escala de demonstração de vários costumes populares, um fórum académico que reúne promotores culturais internacionais e uma exposição anual de arte da China e dos países de língua portuguesa a realizar em vários locais de Macau, justapondo o antigo ao moderno e gostos refinados à cultura popular, a fim de abrir em Macau um novo capítulo no intercâmbio cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Fazendo da cultura um elo de ligação e da arte um meio de transmissão, a primeira edição do “Encontro em Macau - Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa” propõe-se expor a aura, o carácter e o charme de ambas as culturas, bem como a tendência histórica de coexistência ao longo dos anos entre as duas culturas sem perda da sua identidade. Estamos certos de que todos os participantes e membros do público serão inspirados e ganharão conhecimentos enquanto desfrutam do festival, e contribuirão com os seus conhecimentos e capacidades para aprofundar a amizade e a cooperação no âmbito do intercâmbio cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Em Julho de 2018, encontramo-nos em Macau.

Contexto
Macau, um elo de convergência cultural entre as culturas chinesa e portuguesa

Desde a chegada dos portugueses à China no início do século XVI, Macau foi-se tornando progressivamente num elo de comunicação directa entre essas duas grandes civilizações do ocidente e do oriente. Ao longo dos trezentos anos das dinastias Ming e Qing, Macau foi-se convertendo na mais importante janela de compreensão entre a China e o ocidente. Nessa época, Macau era o centro da missionação católica no Extremo Oriente, gerando assim um ambiente multicultural de predominância da cultura chinesa com características da cultura portuguesa. A coexistência harmoniosa entre culturas do oriente e do ocidente fez de Macau uma cidade absolutamente única, deixando-nos um valioso legado de arquivos e vestígios históricos e culturais.

O Centro Histórico de Macau distingue-se pela sua ampla área e imagem distinta, encontrando-se bem preservado, abrangendo um conjunto coeso de construções estilisticamente variadas e reflectindo a concretização da coexistência e respeito mútuo entre diferentes povos. O Centro Histórico é uma testemunha privilegiada da convergência das culturas chinesas e portuguesas em Macau, sendo igualmente um poderoso indício da vitalidade e inclusão da cultura chinesa. No dia 15 de Julho de 2005, o Centro Histórico de Macau foi inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO, comprovando-se assim o seu valor histórico e a sua profunda importância.

No dia 30 de Outubro de 2017, a colecção das “Chapas Sínicas” [Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886)] foi inscrita oficialmente no “Registo da Memória do Mundo”, fruto de uma candidatura conjunta do Arquivo de Macau e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Portugal. Este acervo apresenta um retrato fiel da posição e do papel especiais de Macau no mundo naquela época em que era o principal eixo do comércio e das interacções da China com o exterior; ao estabelecer ligações com o resto do mundo através do tráfego marítimo e outros meios de contacto, transformou-se num local de encontro de navios estrangeiros e, assim, num ponto de convergência entre as culturas oriental e ocidental. Para além do seu elevado valor histórico, as “Chapas Sínicas” proporcionam ainda, tendo Macau como plataforma, novas oportunidades de cooperação e intercâmbio cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Macau possui uma relação extensa e profunda não só com Portugal como também com outros países de língua portuguesa. Actualmente, Macau acolhe um grande número de naturais do Brasil, Angola e de outros países de língua portuguesa, sendo possível assistir-se aqui a actuações de capoeira ou de apaixonantes danças de Moçambique. Para as pessoas destes países, Macau é tanto uma terra acolhedora como um lugar distante cheio de oportunidades. Aqui não existem barreiras linguísticas nem complicações no dia-a-dia; edifícios de estilo arquitectónico português erguem-se por toda a cidade e pastéis-de-nata e pratos de origem portuguesa podem ser saboreados a qualquer momento, fazendo com que estas pessoas se sintam em casa. Foram ainda criadas em Macau uma rede de negócios e uma ampla rede de recursos humanos entre a China e os Países de Língua Portuguesa; graças a talentosos profissionais nas áreas linguística, cultural, política, económica e jurídica, Macau permite uma melhor compreensão da China e a entrada neste país, oferecendo ainda a possibilidade de aproveitar as oportunidades históricas resultantes do acelerado desenvolvimento da China e de compartilhar dos seus sucessos económicos.

Macau tem uma profunda ligação com os Países de Língua Portuguesa e mantém os mesmos laços estreitos a nível económico, comercial, cultural, turístico, jurídico e social, entre outros. Macau distingue-se por ter um ambiente linguístico onde coexistem as línguas chinesa e portuguesa, tendo ainda a vantagem de possuir recursos humanos bilingues. Por outro lado, Macau tem transmitido e preservado as tradições culturais e os costumes populares da China e dos Países de Língua Portuguesa e, ao mesmo tempo, acolhido a essência destas culturas, tornando assim a cidade num espontâneo museu cultural sino-lusófono.

Em meados do século XVI, Macau constituía já o eixo da "Rota Marítima da Seda", um ponto marítimo de intersecção bastante movimentado que não só promovia o comércio entre o oriente e o ocidente, como também desempenhava um papel activo no intercâmbio entre ambas as culturas. Em linha com a estratégia “Uma Faixa, Uma Rota” que o governo chinês tem vindo a promover, Macau, como ponto de articulação crucial da “Rota Marítima da Seda do Século XXI”, irá continuar a assumir um papel de grande relevância como janela de intercâmbio cultural e plataforma de serviços para a cooperação comercial, a fim de incentivar o intercâmbio cultural e a cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa e de potenciar o desenvolvimento industrial diversificado.

O “Desfile Internacional de Macau”, o “Festival da Lusofonia” e a “Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa”, entre outros, permitem reunir em Macau grupos artísticos, artistas populares e profissionais da área cultural do Interior da China, de Macau e dos países e regiões da língua portuguesa, enriquecendo ainda mais a mistura cultural sino-lusófona característica de Macau através de uma série de espectáculos típicos culturais e artísticos, música, dança, gastronomia e artesanato tradicional, etc. Após vários anos de trabalho e dedicação, estes eventos proporcionaram suficiente experiência prática para o estabelecimento oficial de um mecanismo de cooperação e intercâmbio cultural e artístico entre a China e os países de língua portuguesa que tem Macau como plataforma.

Organização do "Encontro em Macau - Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Lingue Portuguesa"
No dia 11 de Outubro de 2016, no âmbito da cerimónia de abertura da 5.ª Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, o Primeiro-Ministro chinês Li Keqiang anunciou dezoito novas medidas relativas aos Países de Língua Portuguesa, salientando o papel de Macau enquanto “Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, propondo a criação de um “Centro de Intercâmbio Cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa” em Macau, reiterando e realçando a importante função da cultura para o desenvolvimento da cooperação económica e comercial entre os países participantes do Fórum, e preconizando a realização de estudos de viabilidade e a criação de um mecanismo de incentivo à cooperação para o intercâmbio cultural entre os países participantes no Fórum.

Perante a crescente cooperação económica e comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, o intercâmbio cultural tornou-se numa motivação crucial para um desenvolvimento sustentável a longo prazo. Em complemento à estratégia política nacional, o Governo da RAEM tem vindo a implementar as instruções do Primeiro-Ministro, pondo em evidência o papel de Macau como ponte de ligação entre a China e os Países de Língua Portuguesa, bem como o seu charme como cidade multicultural; o Relatório das Linhas de Acção Governativa para o ano financeiro de 2018 refere claramente que o Governo da RAEM irá promover a criação de um“Centro de Intercâmbio Cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa” em Macau bem como organizar, através de reuniões e fóruns culturais de alto nível, eventos culturais, espectáculos artísticos e exposições de artesanato, entre outros, estabelecer um mecanismo de regulação do intercâmbio cultural, reforçar o papel de Macau como centro de cooperação e intercâmbio cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa e expandir ainda mais a importância de Macau enquanto plataforma de cooperação cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa, de modo a acompanhar os trabalhos de criação de “um Centro” e “uma Plataforma”.

Além disso, após décadas de rápido desenvolvimento da tecnologia da informação e da consequente globalização de elevado grau, o mundo de hoje entrou numa fase de pós-globalização centrada na busca pela autonomia individual e pela diversidade cultural. No âmbito desta estrutura multipolar, torna-se imperativo estabelecer interacções culturais multifacetados que tenham como fim o entendimento mútuo entre povos e regiões, bem como o desenvolvimento pacífico da sociedade humana. A cultura é essencial para a união dos povos. Em Macau, como eixo fundamental da “Rota Marítima da Seda do Século XXI” e local de convergência da riqueza cultural luso-chinesa, é oficialmente criado um mecanismo de cooperação e intercâmbio cultural e artístico entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Através do fortalecimento do entendimento cultural, da atenuação das diferenças culturais e do reforço da comunicação e confiança mútuas, gerar-se-ão as condições ideais para a criação de uma comunidade sino-lusófono com um destino comum. Nesta base, Macau poderá criar uma nova plataforma de intercâmbio cultural e artístico que satisfaça necessidades dos tempos: o Festival de Arte e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa, subordinado ao tema “Encontro em Macau”.

Apresentação do programa
A fim de assegurar um planeamento e implementação mais abrangentes e eficazes do mecanismo de cooperação e intercâmbio cultural e artístico entre a China e os Países de Língua Portuguesa, bem como de corresponder às comemorações do 20º aniversário da Transferência da Administração de Macau para a China e ao “6.º Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa” a realizar no próximo ano, a primeira edição do “Encontro em Macau - Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa” terá lugar de 6 a 15 de Julho de 2018. Como parte organizadora, Macau irá marcar um encontro anual com personalidades do sector cultural e artístico do Interior da China e de oito países de língua portuguesa. Numa era polivalente, irá usar as artes para expandir horizontes, permitir a profissionais demonstrarem o seu talento, intensificar a cooperação através de relações de amizade, escrevendo assim em conjunto um novo capítulo no intercâmbio cultural e artístico entre a China e os Países de Língua Portuguesa. O Festival irá abranger um leque variado de programas, incluindo filmes, arquivos históricos, espectáculos, fóruns culturais e exposições anuais de arte, entre outros, atravessando tradição e modernidade, ligando o clássico à vanguarda e escrevendo um novo capítulo nas relações culturais entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa
A mostra inclui obras cinematográficas contemporâneas e de grandes realizadores da China e de Países de Língua Portuguesa e filmes filmados em Macau por realizadores de ascendência portuguesa. Entre um total de 24 filmes em 23 sessões de projecção, o filme mais recente e altamente antecipado do novo realizador chinês, Yukun Xin, bem como a primeira longa-metragem do grande cineasta português, Manoel de Oliveira, irão inaugurar e encerrar o Festival, respectivamente, sendo complementados ainda com seminários pós-projecção e palestras relativas a filmes a eles ligados, entre outras actividades.

Exposição “Chapas Sínicas - Histórias de Macau na Torre do Tombo”
Conforme anunciado pela UNESCO no dia 30 de Outubro de 2017, a candidatura conjunta do Arquivo de Macau, sob a égide do Instituto Cultural, e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Portugal, da colecção denominada “Chapas Sínicas” [Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886)] foi inscrita com sucesso no Registo da Memória do Mundo. Em comemoração da inscrição bem-sucedida das “Chapas Sínicas” no Registo da Memória do Mundo, o Arquivo de Macau irá organizar a exposição "Histórias de Macau na Torre do Tombo" bem como palestras, enquanto a Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações irá emitir selos comemorativos, a fim de partilhar com o público documentos que evocam acontecimentos históricos passados em Macau não só relacionados com a China e Portugal mas que também evidenciam importantes momentos da história mundial. A exposição irá dar a conhecer mais aprofundadamente ao público o papel e a posição especial de Macau na história mundial. Os documentos da colecção conjuntamente com materiais gráficos e escritos da Dinastia Qing apresentam de forma vívida a diversidade de Macau naquele período.

Serão de espectáculos entre a China e os Países de Língua Portuguesa
O grupo artístico da Província de Gansu e vários profissionais e companhias artísticas de oito países de língua portuguesa virão até Macau para apresentar ao público o desenvolvimento cultural e artístico dos países e regiões participantes, realçando ao mesmo tempo o importante papel de Macau como plataforma de intercâmbio cultural e artístico entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Fórum Cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa
A multiculturalidade de Macau caracteriza-se por uma predominância da cultura chinesa na qual se incorporam elementos da cultura ocidental. Ao longo de vários séculos, diferentes línguas, crenças religiosas e costumes culturais têm coexistido de forma harmoniosa no território. Este fórum é dedicado ao tema “diversidade cultural”, convidando numerosos especialistas e académicos do sector cultural da China e de Países de Língua Portuguesa para, através de uma série de palestras, visitas de estudo, seminários de intercâmbio, entre outros, oferecer uma plataforma de comunicação, promover o intercâmbio cultural e o diálogo entre os dois lados, e reforçar o posicionamento histórico e a missão de Macau enquanto plataforma para esse intercâmbio cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa
A Exposição visa dar a conhecer a arte contemporânea mais representativa do Interior da China, Macau, Hong Kong, Portugal, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Brasil, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. A primeira edição da Exposição Anual de Arte em 2018 será subordinada a um tema específico, propondo uma exploração do intercâmbio entre diferentes culturas através da realização de exposições em várias salas e galerias de Macau. Está ainda prevista a exibição de obras de arte públicas para junto das comunidades locais a fim de permitir a residentes apreciarem arte contemporânea da China e de Países de Língua Portuguesa à porta de sua casa, despertar o gosto pela apreciação das artes e criar uma atmosfera artística em Macau, evidenciando assim a posição única de Macau como plataforma de intercâmbio cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa.