Macau é um ponto de encontro histórico.
Na década de 1550, os portugueses, tendo atravessado meio mundo, desembarcaram em Macau. Um dos passageiros escreveu aqui um poema épico dedicado ao primeiro império mundial – falamos de Luís de Camões e d'Os Lusíadas. Mais de três décadas depois, em 1591, um outro poeta e dramaturgo, Tang Xianzu, passou por Macau e verteu inovadoras histórias decorridas aqui n'O Pavilhão das Peónias, um dos maiores clássicos do teatro chinês da sua autoria, onde a paisagem de Macau penetrou pela primeira vez no teatro chinês.
Tang Xianzu registou também as histórias testemunhadas em Macau em poemas, e num deles descreve uma rapariga que admirava: “Quando o orvalho se depositava nas rosinhas no início do dia, uma bela e exótica rapariga estrangeira de cerca de 15 anos de idade, cujo vestuário ondeava ao vento suave, era que nem uma bela lua pendurada sobre o extremo do mar do ocidente, exalando um aroma perfumado.” O “extremo do mar do ocidente” refere-se certamente à localização de Portugal no extremo ocidental da Europa, equivalente à famosa descrição de Camões n'Os Lusíadas: “Onde a terra acaba e o mar começa”.
Historicamente, este é um ponto de encontro inacabado. Foi graças ao destino que os trouxe a Macau que estes dois grandes poetas do séc. XVI completaram as suas respectivas obras de referência da literatura chinesa e portuguesa. No seguimento do ressurgimento da China após séculos de declínio e após o impressionante crescimento económico de Macau, durante a fase inicial da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, o surgimento do “Centro de Intercâmbio Cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa” deu-se de forma natural. Criado no âmbito deste centro, o “Encontro em Macau - Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa” permite-nos reunir em Macau artes e cultura representativas dos países de língua portuguesa formados durante o período dos Descobrimentos bem como da China, estabelecer mecanismos de cooperação e intercâmbio relevantes, ligar contextos históricos, unir as pessoas, compartilhar os frutos da prosperidade e trocar o prazer da cultura. Em termos de desenvolvimento cultural e artístico, esta ocasião sem precedentes é aguardada com expectativa; numa perspectiva de construir uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade, tem valor para marcar uma nova era.
O programa da primeira edição do “Encontro em Macau - Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa” inclui o Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa, a Exposição ‘“Chapas Sínicas' - Histórias de Macau na Torre do Tombo” e palestras, o Serão de Espectáculos entre a China e os Países de Língua Portuguesa, o Fórum Cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa e a Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa. As “Chapas Sínicas”, inscritas no Registo da Memória do Mundo da UNESCO no ano passado, registam as comunicações oficiais entre a China da dinastia Ming e Portugal durante cerca de 200 anos, reflectindo as circunstâncias da sociedade de então e sendo ainda um testemunho do importante papel de Macau enquanto centro de intercâmbio entre a China e o ocidente para a promoção do comércio internacional e das trocas culturais. Tomando esta épica “memória do mundo” que atravessa o passado e o presente e une a China e o ocidente como prelúdio do Festival de Artes e Cultura, revelamos profundas origens históricas. Por seu lado, a “Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa” apresenta obras de arte contemporânea representativas da China e de oito países de língua portuguesa, bem como locais de exposição espalhados por Macau, levando obras de arte pública para junto da comunidade e levando o espírito do Centro de Intercâmbio Cultural a todos os cantos da cidade.
O estabelecimento de um mecanismo de intercâmbio cultural e artístico entre a China e os Países de Língua Portuguesa levou a um convívio cultural que atravessa quatro séculos e une quatro continentes, tendo pois um significado extraordinário. O poeta inglês do séc. XIX Matthew Arnold considerava a cultura no ideal do pensamento humano, definindo-a como “resplandecência e prazenteio” – a cultura assim resplendece-se por causa do seu prazenteio enquanto se prazenteia por causa da sua resplandecência. Cremos que, ao dar continuidade a intercâmbios culturais e artísticos e com base numa nova sinergia na elevação do bem-estar da população, teremos perspectivas de desenvolvimento mais brilhantes e criaremos em conjunto uma era mais magnífica.
Finalmente, em nome do Instituto Cultural do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, gostaria de expressar sinceros agradecimentos ao Ministro da Cultura e Turismo da República Popular da China, Luo Shugang, e ao Ministro da Cultura da República Portuguesa, Luís Filipe Castro Mendes, pela sua presença neste “Encontro em Macau - Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. Gostaria de agradecer ainda aos artistas participantes bem como ao pessoal da organização pelos vossos esforços incansáveis para nos proporcionar um festival de artes e cultura tão enriquecedor.
Macau é sobretudo um ponto de encontro em progresso.
A Presidente do Instituto Cultural do Governo de R.A.E. de Macau
Mok Ian Ian